quinta-feira, 29 de julho de 2010
Considerações sobre o ser e o estar em Macau, parte IV: Debaixo do pano
Macau sempre foi uma terra onde muita coisa se resolve debaixo da mesa. E já foi mais. Vício, virtude ou defeito, não sei bem, e aquilo que sei de muita "porcaria" que por aqui aconteceu foi-me transmitido por testemunhos vivos de relativa confiança. Não falo com muito conhecimento de causa; não tive muito contacto com envelopes vermelhos, vulgo "lai-si", nunca me tentaram corromper, e nunca tive nada a ver com grandes negociatas. Aquilo que fui vendo no início até considerava "normal dadas as circunstâncias" (vim para cá novinho...), e diziam que era "costumeiro dar gorjeta". E pronto, está bem.
Já não apanhei o período em que de modo a obter um serviço era preciso "cair" (no linguajar local), e aquilo que agora se chama tão cruamente "corrupção" era apenas o "óleo" que servia para fazer a "máquina" funcionar melhor. Ainda me lembro do meu sogro me contar que pagou dez mil patacas pela emissão do passaporte português, isto nos idos anos 70. Não sei a quem pagou, mas não deverá ter sido à entidade emissora, uma vez que o senhor tinha e sempre teve nacionalidade portuguesa.
Não quero com isto dizer que Macau estava "a saque", mas na administração, por exemplo, reinava um um nepotismo atroz, e vigorava um autêntico "Código dos padrinhos". Para conseguir emprego na função pública, o que era considerado para muitos "impossível", bastava ver se fulano era "bom filho", e depois deixá-lo entrar. Isto sem concursos, claro, modalidade desconhecida na altura. Escusado será dizer que os "maus filhos" ficavam de fora, naturalmente. Existia uma "taxa de urgência" quase obrigatória, e quem não "caísse" (aí está) arriscava-se a ver os seus requerimentos deixados no fundo de uma gaveta qualquer.
Os chineses foram-se habituando ao fandanguinho, num misto de zen e muitos séculos de espinha dobrada às ordens do imperador. As gerações anteriores aos anos 90 cresceram com a convicção que era "normal" pagar por serviços gratuitos, ou por "taxas" várias, algumas delas criadas com grandes doses de imaginação. E fazer o quê? Não existia CCAC, auditorias, reclamações (tal como no casino, a "casa" ganhava sempre), nada.
O maior escândalo de corrupção da história do território teve lugar já depois da transferência de soberania, quando cantavam outros intérpretes. A julgar pela dimensão da coisa, a escola do ex-secretário Ao Man Long era definitivamente outra. Longe vão os tempos em que os tigres se contentavam com umas migalhas, um "lai-si" aqui e ali, um bilhete de avião pago, umas garrafinhas de whiskey, uns casacos ou uma dentadura para a senhora. etc. Os vôos são outros.
E o cacau também. Logo, é tudo uma questão de proporcionalidade.
ResponderEliminarOuvi dizer que o Ao Man Long trabalhou na Câmara Municipal de Lisboa quando era presidente o socialista Jorge Sampaio. Será que aprendeu a escola toda em Portugal? Hehehehe :P
ResponderEliminarPois foi, e os dirigentes chineses que levam um tiro na nuca de vez em quando por crimes de corrupção em larga escala também tiraram todos cursos sobre a matéria em Portugal. E quando o presidente chinês diz que é prioritário o combate à corrupção que grassa na máquina administrativa do país, também está a referir-se apenas aos compatriotas que já foram aprenderam com os portugueses.
ResponderEliminarNunca pensei que Portugal tivesse tanta influência sobre os chineses. Obrigado, parvalhão das 12:08, por me teres iluminado!
Oh FDP das 12:21 eu so falei do Ao Man Long, não de todos os chineses. E só fiz uma pergunta, não uma constatação. Já agora a prioridade ao combate à corrupção na RPC é posterior à detenção e condenação de Ao Man Long. Topa-se a milhas a sua maneira tendenciosa de pôs as coisas seu boi do *aralho!
ResponderEliminar*de pôr
ResponderEliminarfalem bem, seus animais.
ResponderEliminarleocas, controle lá isto, pá!
eu cá gostava desse apartamento em zhuhai, um bom T6 ao preço dum T2 em Setúbal.....
"a prioridade ao combate à corrupção na RPC é posterior à detenção e condenação de Ao Man Long"? Mas você vive em que mundo, seu ignorante? Já ouço esse discurso da presidência chinesa há mais de uma década.
ResponderEliminarOh seu animal, voce anda a ouvir coisas. É como o outro, ouve o que não é verdade! Já agora, é socialista?
ResponderEliminarSocialista, eu? Vá ofender a sua mãe!
ResponderEliminarmacau sempre foi uma terra com muita CORRUPÇÃO;herança portuguesa lá está.Os portugueses são conhecidos mundialmente por serem uns grandes corruptos.Não é por acaso que o ICAC(anti-corrupção) de Hong Kong existe desde 1973 e o CCAC de Macau só existe desde 1999,quando Macau era território portugues havia muita corrupção mas nunca era investigado NADA porque para Portugal não convinha nada investigar os muitos casos de corrupção que existiram em Macau antes de 1999.Foi preciso Macau ser entregue a China para haver uma organização que investigasse a corrupção em macau.Se o Ao Man Long fosse portugues e vivesse em Portugal seria como o Isaltino ou Fatima Felgueiras e acabava em nada,nao ia preso.Mas teve azar,é chines e apanhou muitos anos de prisão.Se fosse em Portugal nao ia preso
ResponderEliminarO "Lai Si" é um costume cultural enraizado na sociedade, como tal, não deveria ser merecedor de punição. Mas enfim, as invejas falam mais alto.
ResponderEliminarAA
O detalhe delicioso nesta crónica está no "dentadura para a senhora"....
ResponderEliminarEsse detalhe da dentadura para a senhora está realmente excelente.
ResponderEliminarSó faltava acrescentar a respectiva viagem de helicoptero para estar perfeita!
;)
pequena correcção:
ResponderEliminarAntes de 1999 existiu um orgão da Administração que foi o antecessor deste CCAC, o ACCCIA, mais C menos C.
Sinceramente a minha curiosidade vai para como Macau se aguentou tantos séculos sob administração portuguesa, se a situação era tão preta e se vivia tão mal. O próprio faroeste americano durou apenas 1 século!
É verdade, o Alto Comissariado Contra a Corrupção e a Ilegalidade Administrativa foi criado em 1992 e foi o organismo que lutou contra todos os males de Macau. Perguntem ao Mendonça Freitas, ex-advogado de Ao Man Long.
ResponderEliminarO detalhe da dentadura está relacionado com a mulher de um Governador de apelido Rocha, não está?
AA
E há a história das malas que já se falou por aqui, pela sra. esposa de um agente judiciário, vulgo PJ, que resolveu fazer contrabando de malitas falsificadas, ali atrás das Portas do Cerco, no contentor de outrem. Ahaha... Muito típico!
ResponderEliminarEssa da sra. esposa já não me lembrava! De tirar o chapéu.
ResponderEliminarTambém houve um governador que recebeu 50 mil contos da Weidelplan, empresa concorrente à construção do aeroporto, por via de um famoso fax.
AA
ah, o casal rocha vieira!!
ResponderEliminarah, os filhos do casal rocha vieira!!
ah, que gente, q saudades!
o pai corrupto, os filhos drogados, um clássico da portugalidade macauista!!
AA
Finalmente isto começa a ficar interessante.
ResponderEliminarO ultimo governador até roubou os quadros do palácio levando quase todos para Portugal.
ResponderEliminarE o soalho de teca de Santa Sancha, que está agora a cobrir o chão da sua bela casa na Quinta do Patiño. Argumentou que o soalho estava com bicho e tinha que ser mudado (quando a teca é famosa precisamente pela sua resistência à bicharada) e meteu a teca velha toda num dos muitos contentores que mandou para Portugal.
ResponderEliminarSó não ficou com a bandeira que pôs ao peitinho. Essa não lhe servia para nada e ficou engavetada em casa do ajudante de campo. Se fosse uma bandeira especial, bordada a ouro, também tinha marchado.
Finalmente começo a perceber a simpatica do sapo ao Rocha Vieira
ResponderEliminarClaro, o general, entre outras coisas, arranjou-lhe o tacho da TV Educativa.
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