sábado, 29 de maio de 2010
Os blogues dos outros
Para que a semana não terminasse sem maior perplexidade, temos agora o apetitoso episódio protagonizado pelo académico chinês Xu Chongde. Alguém que é tido como especialista na análise da Lei Básica, e que, nessa qualidade, é convidado a intervir num seminário em Macau, poderia publicamente apelar ao seu incumprimento?
Terá Xu Chongde dito que seria preferível a legislação da RAEM afastar-se da matriz portuguesa que a caracteriza, para se aproximar da matriz chinesa, com tal afirmação incitando à violação da Lei Básica e da Declaração Conjunta? Ontem era assim. Hoje já não é. Hoje, tudo não passou de um erro de tradução. Algo que, muito francamente, vai sendo utilizado com alguma frequência, e conveniência, em Macau. Não se mata o mensageiro, mata-se o tradutor. Mas, neste caso, até será preferível que tenha se tenha tratado de um erro de tradução. "Recados" destes, ainda que não correspondam à vontade dos dirigentes em Pequim, deixam-me sempre inquieto. Muitas razões para não ter um sono tranquilo, um fim-de-semana repousado.
Pedro Coimbra, Devaneios a Oriente
Uma das particularidades de Macau é o grande número de associações existentes, muitas com nomes bizarros e que apenas servem para sacar umas patacas ao Executivo. Eu estou a pensar em criar a “Associação dos amantes de gin tónico”
El Comandante, Hotel Macau
Há 84 anos o país acordava com um golpe de estado promovido por militares pondo fim a um ciclo de governos de meses, instabilidade social, protestos nas ruas, carestia de vida, corrupção e nepotismo e golpismo. A invés de um certo registo histórico mainstream, o golpe de Mendes Cabeçadas recolheu grande apoio popular, sobretudo da classe média, cansada com a anarquia e desgoverno e com o sob e desce dos produtos alimentares. Partidos republicano e democrático alternavam no regabofe e no leme do descalabro. 84 anos depois apetece perguntar se algo mudou nesta descrição? Provavelmente pouco ou quase nada. Seguramente Mendes Cabeçada não deixou descendente do mesmo timbre; as Forças Armadas parecem entretidas em perceber o que diz o brilhante Ministro da Defesa e a ranger os dentes pelos cortes orçamentais e das prebendas; o país prepara ufanamente as férias de Verão com o dinheiro que não tem, mas mergulhando de cabeça no crédito (ao consumo) que sabe que não vai pagar.
Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho
Quando nos pedem que, com grande empenho patriótico, abdiquemos do subsídio de desemprego para que descontámos durante décadas, e nos ocupemos na procura de um emprego que não existe, ou na criação de um negócio para que não temos capital, nem obtemos financiamento, pergunto-me se não haverá, entre os novos doze motoristas do senhor primeiro-ministro, um patriota empenhado à moda antiga, de rasgo «kamikaze»…
Luísa Correia, Corta-Fitas
"A eleição de Cavaco Silva não foi uma batalha de valores", disse esta noite um comentador alinhado com o Presidente da República num programa de televisão, procurando justificar o injustificável. Sem perceber, este comentador só dá razão a quantos criticam a leitura minimalista dos poderes presidenciais que tem sido feita por Cavaco desde que chegou a Belém: vale a pena eleger um Presidente da República por sufrágio universal se esse escrutínio não resultar de "uma batalha de valores"? A resposta é obviamente negativa. Mas não vale a pena informar disso a tribo de incondicionais do actual inquilino de Belém. Diga ele o que disser, cale o que calar, omita o que omitir, obtém sempre o aplauso caloroso dos membros desta tribo. Merecem o Presidente que têm. Mas nós, que somos mais, merecemos melhor.
Pedro Correia, Delito de Opinião
Não alinho com os que tentam dizer aos portugueses que devem ser os ricos a pagar a crise no pressuposto de que todos os milhões de que ouvimos é dinheiro ocioso. Provavelmente há ricos que proporcionalmente esbanjam menos dinheiro que muitos pobres que conheço e muito do dinheiro dos ricos é capital investido em empresas, indispensável para criar emprego e gerar riqueza. Há quem num dia exija a criação de emprego e no dia seguinte proponha que se vá transformar o capital em receita fiscal para combater a crise, é como se a melhor forma do padeiro resolver a crise de tesouraria da padaria fosse vender o forno. Isto não quer dizer que tenha alguma simpatia pelos nossos ricos, na verdade nem os tenho em grande estima e nalguns casos até os detesto. Mas não é por não gostar do Belmiro de Azevedo e por saber quantos milhões tem o dono da SONAE que vou chegar à brilhante conclusão de que se lhe aplicar um imposto extraordinário de 20% ao seu património que resolveria o problema. Talvez tivesse nessa situação, mas uns dias depois iriam devolver o dinheiro ao Belmiro e outros sob pena de terem mais umas centenas de milhares de desempregados e sem dinheiro para o subsídio de desemprego. É evidente que a esquerda romântica que defende a apropriação colectiva dos meios de produção mas que durante cinquenta anos foram incapazes de criar um modelo económico viável, que nunca conseguiram sequer implementar um sistema de preços que substituísse os mercados em eficácia, achará o que acabo de escrever uma verdadeira heresia. A verdade é que essa esquerda foi incompetente, incapaz de acabar com a pobreza e acabou por transformar os ditos socialistas em economias de capitalismo puro e duro. Mas se sou contra a confusão entre capital, riqueza investida no país, não tenho dúvidas de que da mesma forma que se pretende combater a baixa de produtividade ou o favorecimento da preguiça estimulada por algumas medidas do nosso “estado social” também se deve combater a ociosidade do dinheiro dos mais rico e mais ainda o seu esbanjamento em bens de luxo. Se alguém que nada exporta, que não gera riqueza, que não cria emprego decide usar a sua riqueza na aquisição de bens de luxo importados eu nada tenho contra isso. Mas sucede que esse esbanjamento de recursos criados pelo país resultará num maior desequilíbrio externo e mais tarde ou mais cedo serei eu que nada beneficiei desses luxos a pagar a factura. Se o país não cria riqueza e usa que tem na aquisição de bens de luxo importados não tenho dúvidas de que seremos todos a pagar pelo luxo de alguns. Discordo de muita proposta populista que sugere que sejam os ricos a pagar a crise, passando a ideia de que confunde capitais com dinheiro ocioso. Mas não aceito que o país assista impávido e sereno a fugas de dinheiro para paraísos fiscais ou que o que compra um carro utilitário para se deslocar diariamente para o emprego pague seja tão penalizado quanto aquele que compra um anel de diamantes para oferecer à amante. Se o país quer crescer não basta falar da preguiça do trabalho, seja do trabalhador não qualificado ou do gestor, é preciso combater a ociosidade do dinheiro.
Jumento, O Jumento
Cada vez há mais analfabetos na política, apesar de alguns andarem nela há mais de trinta anos. Como é possível que oiçamos dizer que Cavaco Silva perdeu votos ao promulgar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se todos sabemos que o Presidente fartou-se de ganhar votos no centrão com tal medida. Só por analfabetismo político ou por ingratidão. É que há medalhas que não se devem dar aos burros...
João Severino, Pau Para Toda a Obra
Alegre não me alegra especialmente, mas Soares-Padrinho é a absoluta negação de independência, consciência cívica e verdade, por mais que perore. Paleio? Muito. Actos? Mais e mais paleio. Os danos provocados pelo Partido Irrespirável Socialista a Portugal, nestes quinze anos de exercício de devastação do Erário Público, não têm paralelo na história recente: dir-se-ia que os bloqueios cívicos e o défice das liberdades estão para a Ditadura Salazarista como o nosso empobrecimento e estado de bancarrota para o Socialismo sôfrego, tachista, amiguista e maçónico. É o desastre. Aqueles estômagos-Lello não perdem uma oportunidade para bolçar. Vivemos numa pseudo-democracia porque o Socialismo Maçónico é a antítese da Justiça, da Transparência: uma crassa Plutocracia dita a lei sob a qual todos amocham e merece o escarro tardio de um Povo domado. Quando Mário Soares-Padrinho parolamente promete fidelidade a uma coisa caduca e enfezada chamada Partido Socialista e reinvoca o seu estatuto de militante n.º 1, para na questão das presidenciais decidir não apoiar Manuel Alegre, estamos perante mais um exercício cínico: é o mesmo estatuto ronceiro de papa laico, cuja voz e moções supostamente deveriam arrastar apaniguados. Tristes bochechas! Triste partido degenerado, meu Deus!
Joshua, PALAVROSSAVRVS REX
A uma mensagem que enviei para uma pessoa (via Facebook), tive esta resposta:
“Boa noite caro Pedro, Este espaço não é gerido directamente pelo (…) mas sim pela equipa responsável pelo seu site oficial. Amanhã, sem falta comunicar-lhe-ei a sua mensagem. Contudo posso adiantar que… (bla bla bla…). Provavelmente será de tentar agendar outra oportunidade. Se pretender que coloque o (…) consigo, indique-me a melhor forma. Cumprimentos”
Não adianta dizer a quem pertence a página. Mas é a segunda vez que recebo uma resposta deste tipo. A graça e a força do Facebook era, até agora, a comunicação directa, espontânea, sincera, com aquele que assinava a sua página e era, até novas ordens, o próprio. Quando a coisa entra neste registo e se transforma em Páginas Amarelas, perde o sentido, a graça, e a própria lógica. Acima de tudo, perde credibilidade. Deixa de ser uma “rede social”, passa a ser uma "rede socioprofissional”. Uma pena. O que vale é que, a continuar esta tendência, alguém vai inventar outra rede onde as pessoas são as pessoas outra vez. Voltaremos a encontrar-nos todos. É assim desde o tempo dos sinais de fumo. Não vai mudar agora.
Pedro Rolo Duarte, Pedro Rolo Duarte
Em Portugal, negócio fechado passou a ser literalmente isso.
João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária
Que eu saiba isso de Macau ter muitas associações não é só exclusivamente dos chineses,aqui em Portugal também há muitas associações de todo tipo de coisas.eu faço parte de uma associacão de comes e bebes.
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