sexta-feira, 21 de maio de 2010
Os blogues dos outros
No dia em que um governo decidir ser pessimista o melhor é ir-se embora, fazer como o Durão Barroso que começou com o discurso da tanga e acabou a tanguear-nos com a ida para Bruxelas. Mas se o governo for optimista ao ponto desse optimismo nos conduzir a uma situação de crise o melhor será irmos todos embora e, tal como sucedeu em 75, pintar um graffiti no aeroporto a dizer que "o último a sair que apague a luz". A actividade económica confronta-se hoje com a atomização crescente dos agentes económicos aumentando a imprevisibilidade dos seus comportamentos. Se é difícil de prever o comportamento de um qualquer consumidor português mais difícil será condicionar o comportamento de muitos milhões de investidores em todo o mundo. Se estes estiverem em pânico dificilmente alguém os consegue contrariar e os movimentos especulativos nas bolsas tenderão a aumentar por mais garantias que lhes sejam dadas. Isso sucede no mercado de capitais, como recentemente sucedeu com o petróleo e mesmo nas bolsas de mercadorias. O optimismo do governo deve ter como limite o bom senso e isso implica não fazer depender as decisões de cenários que dependem de variáveis que não controlamos. Decidir investimentos ou despesa pública com base em cenários de crescimento económico optimistas quando não se verifica uma retoma consistente na economia dos nossos parceiros é correr o risco de secar o acesso ao financiamento da economia. Se os investidores ainda confiam no Estado pois este aumenta a sua receita com impostos, o mesmo não sucede com as empresas que enfrentarão grandes dificuldades de acesso ao crédito. Foi bom a economia portuguesa ter crescido acima do esperado mas o facto de termos crescido acima dos nossos parceiros comerciais não permite grandes optimismos, diria mesmo que é um indicador que deveria ser esquecido, todos sabemos que para a economia portuguesa crescer essas economias terão de crescer primeiro. É bom crescer um pouco mais do que os outros, mas o facto é que esse crescimento foi pouco significativo e dificilmente é consistente. Podemos ficar agradados com o indicador do crescimento, mas manda o bom senso que não exageremos no optimismo. A crise que enfrentamos não resulta apenas de uma conjuntura adversa, não é superável no curto prazo. Se não forem adoptadas medidas a pensar no investimento é uma crise que se repetirá. Mais do que os grandes investimentos, necessários mais cedo ou mais tarde, o Estado deve ser razoável na forma como consome os recursos nacionais, deve emagrecer até ao limite do que é suportado pela economia. Mas isso não chega, para que haja investimento será necessário que os investidores considerem rentável investir em Portugal. Só será rentável investir em Portugal reformando o mercado de trabalho, estimulando a procura de emprego e eliminando os entraves burocráticos e o proxenetismo estatal em relação aos novos investimentos. Enquanto governantes e sindicatos não perceberem isto lá vamos soluçando de crise em crise.
Jumento, O Jumento
Em Agosto de 2005, Miguel Esteves Cardoso publicava nos jornais uma crónica que começava assim: Em Portugal é tudo tão repetitivo e previsível que, caso se mudassem uns nomes, poder-se-iam vender os jornais de há um ano atrás. Os incêndios, a crise do governo, a recessão, os negócios da Federação de Futebol, era num instantinho que se fazia a actualização. (...) É tanta a previsibilidade que se diria que os chamados "acontecimentos" ocorrem com a preparação cautelosa de um guião de Hollywood. Há um governo mau. O povo consegue deitá-lo abaixo, elegendo um governo bom. Todos os portugueses adoram o novo governo. Tudo o que faz o primeiro-ministro é perfeito. Umas poucas semanas depois, começa o melodrama. Do estado de graça passa-se ao estado de chalaça, seguido de um de devassa, finalmente o mais ambicionado, o mais duradouro e familiar, o da desgraça. É certinho - MEC só pecou por defeito. Se recuarmos não um ano mas dez anos (e poderíamos recuar ainda mais) verificamos que quando Pina Moura assume a pasta das Finanças do governo de António Guterres o défice público passa de 2,5% (em 2000) para 4,4% (em 2002). É nessa altura que Cavaco Silva publica o célebre artigo intitulado "O Monstro", em que alerta para a necessidade de emagrecer a Administração Pública para conter a despesa do Estado. Na sequência das legislativas antecipadas de 2002 o novo governo PSD/ CDS-PP, liderado por Durão Barroso, depois de prometer um choque fiscal durante a campanha, acabou por dizer que o país estava de tanga e por ter deixado Manuela Ferreira Leite, então ministra das Finanças, aumentar o IVA de 17% para 19%. Para conseguir apresentar a Bruxelas um défice dentro dos 3% do PIB, MFL alienou património, vendeu a rede fixa da PT e as portagens da CREL à Brisa. Também congelou os salários da Função Pública por dois anos e colocou um travão ao endividamento das autarquias. No XVI governo, chefiado por Santana Lopes entre 2004 e 2005 e com Bagão Félix na pasta das Finanças, o Orçamento do Estado apresenta tal derrapagem, que motiva duras críticas do Banco de Portugal. O défice externo deve agravar-se mais de 60% - publicava o Diário Económico em Novembro de 2004. A crónica de MEC termina no mesmo tom irónico: Se é certo que as coisas não vão bem, também é verdade que só excepcionalmente arrepiam caminho. Já estamos assim - péssimos - há tantos anos que tudo indica que, se não dermos grandes voltas, teremos um longo futuro à nossa frente. O facto de ser previsível e bastante miserável não deverá demover-nos. Ou mesmo mover-nos minimamente. Num registo bem diferente, o Diário de Notícias, a pretexto da avaliação do Banco de Portugal que alertou, através do Boletim Económico de Setembro de 2004, o país inteiro para o espalhanço das Finanças Públicas, faz um artigo de balanço, cujo enunciado transcrevo: O desequilíbrio das contas públicas nacionais é histórico. As sucessivas "exigências" da União Europeia acabaram por ser o grande "incentivo" para que sucessivos ministros das Finanças fossem introduzindo algumas medidas, que se mostram frágeis sempre que o País é confrontado com situações de recessão. O artigo faz este balanço a partir de 1987, ano em que Cavaco Silva ganha a primeira maioria absoluta e Portugal apresenta um défice de 10%.
Teresa Ribeiro, Delito de Opinião
Nestes dois dias, a administração fiscal deve ter andado mais à toa que uma galinha sem cabeça. Quando o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (SEAF) disse que o novo IRS se aplica ao rendimento de todo o ano, disse uma evidência. Business as usual. Ora veio o PM que, pelos vistos, percebe tanto disto como eu de física quântica, dizer que não, não senhora só conta a partir de Junho ou Julho (não sei bem a partir de que mês se referia e suspeito que ele também não). Imagino que tanto o SEAF como os funcionários da DGCI e muito especialmente os que cuidam do sistema informático, hão-de ter estado à beira de um colapso ao ouvi-lo. Mas resolveu-se à portuguesa e lá veio o pobre do Ministro das Finanças desenrascar o Engenheiro Sócrates. Afinal o aumento da taxa não é de 1%, é de 0,58%. Ou seja: dividiram o aumento por doze meses e multiplicaram-no por sete – Junho a Dezembro. Para vocês para quem a aritmética é uma chatice aqui vai: (1/12)x7=0,58. Esta merda é de ir às lágrimas. De riso ou de choro. Já agora, o Governo aumentou a Taxa Autónoma em 2009, taxa (é na realidade um imposto porque não corresponde a serviço nenhum) que incide sobre despesas como ajudas de custo, refeições, compras de automóveis, estadias, etc, com efeitos retroactivos a Janeiro de 2008. Na altura, não me lembro onde andavam as virgens ofendidas com a pretensa retroactividade do IRS, que não existiria a não ser que fosse aumentado para os rendimentos do ano anterior. Mas pimenta no cu dos outros é rebuçado, não é meninas?
Helder, O Insurgente
Sintomas: défices públicos descontrolados, dívidas públicas a atingir a estratosfera, taxas de juro em crescendo;
Diagnósticos oficiais: a culpa é dos especuladores, dos bancos e das agências de rating;
Terapêutica: proibir o short-selling, regular a actividade de rating (leia-se, “formar” as agências nas técnicas socretinas da aldrabice), aumentar a tributação sobre os bancos, restringir a actividade financeira com regulação mais apertada, aumentar impostos. Existe a crendice generalizada que estas medidas farão desaparecer os sintomas acima referidos.
A verdadeira doença: o Estado Social, construído no pós-guerra sobre 2 frágeis alicerces (défice e dívida) e que agora estão a ruir sob o seu peso avassalador. É uma doença que ninguém quer reconhecer e tratar. Por isso a civilização ocidental entrou em decadência irreversível.
Luís Rocha, Blasfémias
Os ricos que se preparem. Pedro Passos Coelho acaba de afirmar que qualquer dia não haverá dinheiro nem para pagar os salários. Bem me parecia por que é que a venda de armas ilegais tem aumentado. Se um dia não há dinheiro para o salário, não haverá dinheiro para o arroz, para a massa, para o leite, para o pão, para o filho, para nada. E a isso chama-se guerra civil porque alguém irá pagar... a tiro.
João Severino, Pau Para Toda a Obra
É muito revelador ver um deputado do Bloco de Esquerda a resmungar por causa da compra dos submarinos (dando de barato que o negócio possa ter sido mal feito em virtude da habitual corrupção) e lembrar Francisco Louçã frente à Embaixada dos EUA (crise de Timor), depois de me cumprimentar e a um jornalista com quem eu conversava, afirmar: "ainda bem que vocês estão aqui que é para ver se estes gajos (virando o nariz para o edifício da embaixada) fazem alguma coisa". Porque pensaria Louçã que "os gajos" teriam força para fazer alguma coisa? Por fabricarem aspirinas?
Riodoiro, Fiel Inimigo
Ganhe ou não a final da Champions, José Mourinho é um sopro de alento para Portugal. É, praticamente, a 8ª maravilha, um motivo de espanto e de esperança. Fantástico, de facto. Fantástico como um país pode produzir gente desqualificada, ávida e de beiços grossos e besuntados, sedenta do dinheiro dos outros, gente mentirosa, pequenina, trapalhona, gente que traveste o melhor fato Armani numa geringonça dos Fanqueiros, gente incompetente e irresponsável, venal, relapsa e contumaz, gente baixinha, vermiforme, pusilânime, medíocre, gente ignorante porém soberba, incapaz porém vaidosa, desonrada porém ufana, gente tonta, pretensiosa, cobarde e possidónia, preguiçosos e chicos-espertos, gente desonesta, miserável e mesquinha, gente sem categoria, nem curriculum, nem cultura, nem carácter, delinquentes, pobres diabos esfaimados, néscios e quadrilheiros, pequenos e grandes gatunos, gente voraz e sem espinha ... E, no entanto, produzir um homem e um profissional desta capacidade, desta classe e desta inteligência.
José Mendonça da Cruz, Corta-Fitas
Ontem à noite, na ponta final do telejornal da RTP 1, vi uma reportagem sobre um grupo de cidadãos, assumidamente católicos apostólicos romanos, que se deslocam diariamente para a porta de uma clínica de «abortos», em Lisboa. E, aí, rezam com afinco e fé, de rosário na mão. «Pai-nosso que estás no céu…» diziam uns, enquanto outros respondiam: «Ave-Maria cheia de graça…». Ri como há muito tempo não me ria. E sabem porquê? Aqueles devotos eram os mesmos que há duas semanas chamaram todos os nomes à iniciativa de outro grupo de cidadãos que lhes passou pela cabeça distribuir preservativos à saída das missas celebradas por «sua santidade». Os caminhos da fé são, para mim, insondáveis. E os caminhos da intolerância, também.
Tomás Vasques, Hoje há Conquilhas, Amanhã não Sabemos
Agora que o Papa se foi embora, a semana católica passou, e o casamento gay foi enfim aprovado, cabe-me fazer o seguinte esclarecimento: nascido em 1961, em Lisboa, na freguesia da Pena, heterossexual não praticante…
Rui Zink, Rui Zink versos livro
Obrigado pelo destaque. Abraço
ResponderEliminarOra cá está o "obrigado pelo destaque" do costume...
ResponderEliminarSe toda a gente fizesse o mesmo, o "Os blogues dos outros" passaria a ter mais comentários do que os posts sobre futebol ou religião. Cambada de ingratos, aprendam com o Severino!