domingo, 16 de maio de 2010
Ora, a crise...
Tenho perdido estes últimos dias a procurar pessoas que conhecia em Portugal nas redes sociais e afins. Surpresa atrás de surpresa, lá fui encontrando gente de que quase não me lembrava. Restabeleci contactos com alguns, muita gente mudou muito, mas mesmo assim consegui marcar alguns encontros para Agosto. E do que a gente fala com pessoas que por vezes ficamos vários anos sem ver? Falamos do passado, sobretudo, fazemos umas patuscadas, contamos uma piadas (ou mentiras, ou exageros) sobre Macau, e pronto, ficamos todos entretidos.
Ao contrário do que se pensa, os nossos amigos não estão lá em Portugal “a sofrer”, ou “a passar fome”, como um leitor aqui sugeriu. Eu por exemplo vivi em Portugal desde que nasci, em 1972, até que vim para Macau, em finais de 1991. Passei por crises piores que esta, mesmo que isso não tenha tido qualquer efeito prático na minha infância ou adolescência, e nunca fui para a cama com fome, e não conheço ninguém das minhas relações pessoais que tenha ido. Quando tinha 15 ou 16 anos, cheguei a andar com cem paus (mais ou menos 5 patacas) na carteira um dia inteiro, e dias haviam que não gastava um centavo.
Quando estive em Portugal um destes anos no verão, perguntava a uma amiga minha “se a crise é assim tanta, porque estão sempre os hipermercados cheios?”. Ela respondia-me que “olha, as pessoas endividam-se”. E riu-se. E não são só os hipermercados; são as livrarias, as discotecas, os restaurantes e os cafés. Eu ia a um café uma vez por semana. A minha ideia de luxo era gastar mil paus numa noite. Livros e discos só nos aniversários. Discotecas só uma vez por mês, ou nem isso.
É perfeitamente normal que se considere “apertar o cinto”, ou fazer alguns sacrifícios uma coisa má, uma vez que desde o Eldorado do início dos anos 90, ficámos muito mal habituados. Em 1985 tinhamos em casa uma TV a preto e branco. Em 1990 tinha seis televisores a cores e cinco vídeo-gravadores (só faltava um na cozinha) em toda a casa. Tinhamos câmara de filmar, micro-ondas, máquina de lavar loiça (para quê???), duas máquinas de café, comprámos um carro novo (tinhamos o mesmo há 12 anos), foi um festim.
Hoje as pessoas pensam que precisam de um laptop, de um consola Wii ou equiparada, uma bimby, um ecrã plasma, uma mala Salvatore Ferragamo. Mas eu também caio às vezes na armadilha. Sempre que vou ao hipermercado em Portugal, é tudo “muito bom”, e chego a comprar comida que depois tenho que dar ou deitar fora. Gastar dinheiro é o melhor exercício para a alma, e o “comprar” é o verbo que mais se conjuga. Mas pelo menos a minha família e amigos lá se desenrascam, obrigado. Com ou sem o Papa.
Quem não tem dinheiro não tem vícios.Hoje em dia os centros comerciais em Portugal,estão sempre cheios de gente porque será?Fins de semana então é uma loucura,nem mexer pode.
ResponderEliminarPortugal não é um país mau para todos, só para quem tem de trabalhar.
ResponderEliminar"Ao contrário do que se pensa, os nossos amigos não estão lá em Portugal a sofrer, ou a passar fome, como um leitor aqui sugeriu."
ResponderEliminarEntão era preciso que os seus amigos começassem todos a passar fome e a sofrer para que compreendesse finalmente que Portugal está mesmo numa grave crise?
Olhe, eu faço trabalho voluntário no Banco Alimentar de Lisboa há 6 meses e digo-lhe que as pessoas que lá trabalham há anos garantem-me que nunca viram uma situação com a gravidade como aquela que vivemos hoje. A quantidade de situações de pobreza extrema e fome que tenho assistido sempre que lá vou são de provocar lágrimas nos olhos. Acredite. E isto é em Lisboa!!
As pessoas infelizmente andam distraídas com o Benfica Campeão, com a visita do Papa, com a Seleccão Portuguesa, e nem têm noção do que aí vem.
Mas é assim, Portugal já está praticamente estagnado e a perder competitividade há dez anos, em divergência com o resto da Europa.
Agora prepara-se para lançar um pacote de austeridade histórico, com um aperto do cinto na ordem dos 5 pontos percentuais (de 9.4% para 4.6%). Nem nos anos 70-80, nos tempos do FMI, com as medidas severas da altura, tivemos um aperto de cinto tão drástico como este.
E isto ainda nem foi implementado!! Isto é o que está para ser lançado pelo Governo já dentro de poucas semanas.
E eu pergunto-me, para um país como o nosso, já enterrado numa grave crise económica e endividado até ao pescoço, levar agora ainda mais com uma machadada destas, até onde tem de ir até o Leocardo perceber que isto é mesmo muito sério?
Eu acho que sou uma pessoa optimista, mas realmente tambem nao estou a ver como vamos sair desta crise nos proximos 3-5 anos.
ResponderEliminarE quem vai sofrer mais com isto vao ser os jovens
Portugal já está em crise desde a ditadura de salazar,até agora,não sei qual é o espanto,em Portugal para se ter muito dinheiro é preciso ser corrupto,ir para a politica ou então ser traficante.
ResponderEliminarTudo isso é verdade, mas também é verdade que as pessoas vivem do que não têm. Passam a vida nos cafés, nos cinemas, compram roupa que não precisam e etc.
ResponderEliminarPergunto para quê?
Há quem diga que a verdade é que o FMI não é de fiar. O Fundo Monetário Internacional acha que Portugal e Espanha estão, cito, no bom caminho. Ambas as economias encontram-se à beira da falência. Os principais responsáveis pela situação mantêm-se no poder. As respostas à situação consistem em planos de austeridade desesperados e insuficientes. Aparentemente, o "bom caminho" conduz ao fecho por insolvência. Pior que isto, só se os governos dos dois países insistissem em brincar aos comboios de alta velocidade e, por requinte suicida, apresentassem uma candidatura conjunta ao Mundial de futebol de 2018. E não é que insistem e apresentaram?
ResponderEliminarAA
denominador comum à maioria dos países em risco: governos socialistas. Continuem a votar à esquerda.
ResponderEliminarMau é aumentar o IVA nos bens essenciais. O pessoal vive sem novos telemóveis ou roupas, mas sem pão....
ResponderEliminarFilipe Lintra
Não deixa de ser curioso e de ter muita piada ler a análise da crise actual em Portugal, quase em tom de lição, e a dizer que isto não é nada grave, e tal, feita por um gajo que já deixou Portugal há mais de 10 anos e vive do outro lado do mundo. LOL
ResponderEliminarHá quase 20. LOL. Se calhar é melhor a análise dos que estão lá na Etiópia, perdão, Portugal. LOL. Como eles discutem a situação crítica no telemóvel novo, e na fila do hipermercado. LOL.
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