quinta-feira, 29 de abril de 2010

Manual de sobrevivência em Macau - parte II


Especialistas estrangeiros defendem que em Macau existe gridlock. Nada comparado com Bangkok, várias cidades da China e outras da Ásia. Em Macau até dá para chegar a qualquer lado, mas mesmo a qualquer lado, em meia-hora, mesmo com muito trânsito. Claro que o trânsito chega a ser um problema, mas mais graças a uma série de condutores designados noutras paragens como “barbeiros”, e não propriamente pelo mau estado das rodovias, falta de acessos ou regulação deficitária. É só porque alguns gajos são umas bestas.

Lembram-se do controverso código rodoviário que saíu em Outubro de 2007? Toda a gente se lembra que o problema residia nas multas, na falta de lugares de estacionamento (que aqui chamam simplesmente “parques”), na “impossibilidade de cumprir a lei”. Outras “leis” foram impostas, e bem, como a obrigatoriedade do cinto de segurança, ou o irritável hábito de falar no telemóvel enquanto se conduz. Ainda a semana passada precisei de tirar o braço da janela e dar um toque num gajo de mota que ia caíndo para cima do meu carro, porque estava lá entretido a masturbar-se verbalmente com a namorada no telemóvel. Não há nada que justifique falar no telemóvel enquanto se conduz. Nem com o hands-free. As maiores distâncias dentro da cidade de Macau fazem-se em dez ou quinze minutos, e sem trânsito é possível chegar à Taipa no mesmo tempo. Guardem lá o que têm para dizer quando saem do carro, e se vos perguntarem porque não atenderam, respondam simplesmente: “estava a conduzir!”.

Tenho uma variante engraçada. Quando estou ao volante, penso que os peões são umas bestas, e quando estou a pé, acho que os motoristas são uns ursos. Não sei se é pelo facto de ter mau feitio ou pouca paciência, mas a forma como alguns peões atravessam a estrada desafia os meus limites do conhecimento. Alguns correm entre os carros, outros atravessam a correr com o sinal vermelho, outros não atravessam quando vêem um polícia (nem se estiver verde!), enfim, mil e um comportamentos que me fazem pensar que estão ali a jogar algum jogo de dama ou tigre, amor ou morte. Quando vou a pé, apercebo-me do valor que os automobilistas dão à passadeira dos peões. É como se tivesse sio ali pintada há minutos por algum louco, e não quer dizer nada. Não fosse eu tão preguiçoso para fazer fisioterapia, atravessava numa passadeira quando viesse a passar um carro, partia uma perna e ganhava uma pipa de massa em danos. Lixava completamente o gajo.

Um leitor sugeriu-me no post de ontem que falasse dos escapes rotos e da poluição, mas isto não é tão grave como aqui ao lado em Hong Kong, ou em cidades da China aqui perto. É claro que temos que fazer alguma coisa, optar por combustíveis menos poluentes, soluções mais verdes e menos cinzentos, tudo isso, mas sinceramente ainda não cheguei a tossir ou ficar com os olhos a arder no trânsito em Macau. Alguns veículos precisam contudo de ser repensados. A começar por aqueles camiões das obras e de carga, aqueles azuis, conduzidos por uns gajos que tiraram a carta numa aldeia da China onde a população só “sai da frente”, e que são uns autênticos assassinos ao volante. Quem são mesmo poluidores são aqueles gajos do lixo, que passam a qualquer hora com um camião muito pouco higiénico, que torna a vida num inferno a quem se apanhe a conduzir atrás deles.

Quanto aos autocarros, e se tiver a sorte de precisar de apanhar um, depara com um mundo completamente novo e excitante. Vemos nos autocarros gente de todas as designações honestas: trabalhadores, estudantes, atletas, meninas bonitas (que obviamente ainda não têm namorado, pelo menos com carro), pais e filhos, mães, avós e irmãs etc. Os motoristas são um pouco brutos e malcriados, e não respondem se lhe fizermos alguma pergunta que ele não perceba. Mas se fossem pessoas muito educadas e inteligentes, se calhar não eram motoristas de autocarro. Apanhar um autocarro é sempre uma experiência interessante, especialmente nos tempos de paranóia de gripes aviárias, suínas e afins. As janelas vão todas abertas, e quem espirrar é visto como um leproso.

Os mais endinheiras podem apanhar o táxi. Quando cheguei a Macau a bandeirada era 7 patacas, e por menos de uma nota de dez estava-se da Almirante Lacerda no Leal Senado. Hoje as pessoas queixam-se dos taxistas por uma variedade de motivos. Começemos pelos infundamentados. Os táxis em Macau não são sujos, como se diz. Experimentem apanhar um táxi na Tailândia, Filipinas, Vietname ou Malásia, ou mesmo aqui lado em Zhuhai, e vão ver o que é bom. A limpeza dos táxis em Macau está ao nível de Hong Kong, e na Ásia talvez apenas atrás do Japão, Coreia e Singapura. Quanto aos fundamentados – e infelizmente são muitos – começemos pelo facto dos taxistas se terem tornado nuns gajos muito “finos”. Nos tempos de crise são super-simpáticos, e até param à sua frente se levantar o braço para ver as horas. Em tempos de prosperidade, como estes que vivemos, são uns cabrõezinhos difíceis de apanhar, matreiros e arrogantes. Se tentar telefonar para a Rádio Táxi durante a hora de ponta, só tem transporte se disser que vai de Macau para a Taipa ou Coloane, ou outra distância que justifique a corrida.

Se tentar apanhar um táxi perto das seis horas, há uma “mudança de turno” (que raio de hora se haviam de lembrar). Existem táxis a rodos junto dos hotéis, no terminal marítimo do Porto Exterior ou no aeroporto, mas estranhamente não há táxis no terminal marítimo do COTAI. É verdade que os taxistas em Macau recomendam restaurantes, bares ou saunas, mas nisso não são muito diferentes dos restantes taxistas asiáticos. Se quiser apanhar um táxi em Macau, aprenda pelo menos o nome dos sítios onde quer ir. Se não aprender mais chinês nenhum, pelo menos aprenda o nome das ruas, edifícios, monumentos ou lugares históricos. Só para lhe tornar a vida mais fácil.

15 comentários:

  1. Não é querer ser chato mas corrija lá o "começemos"

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  2. Esqueceu-se de referir os taxistas finos que não saem do táxi para o ajudar a colocar ou retirar as malas da bagageira. Já me aconteceu muitas vezes. A melhor resposta para esse comportamento é mesmo deixar a bagageira aberta quando saímos do táxi :-)

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  3. Então vamos a uma experiência pessoal para enfatizar a ideia de aprender os nomes dos locais para onde queremos deslocar-nos.
    Quando cheguei a Macau, há quase 15 anos, a minha prima pediu a uma amiga para me preparar um daqueles cartões com os nomes dos principais locais, em língua chinesa, para eu mostrar aos taxistas.
    Pediu-lhe que lá escrevesse os principais pontos, como o Leal Senado, o Hospital, o IFT (onde então trabalhava)e "a minha casa"(sic).
    A rapariga lá preparou o cartão, muito bonito, plastificado e tudo.
    Quando entrei no táxi, no dia seguinte, na Coronel Mesquita, mostro o cartão ao taxista e aponto para os caracteres que designavam (assim o julgava) a minha morada.
    O tipo começa a berrar, apontava para o cartão, berrava mais, eu berrava com ele, o tipo dizia que eu era doido (a linguagem gestual é universal!) e fez menção de me pôr fora do táxi.
    Lá percebi que havia problema sério e decidi ir até ao Leal Senado.
    O tipo condescendeu, mas foi o caminho todo a murmurar umas coisas (agora já sei o que eram, na altura só desconfiava!).
    Quando cheguei ao Largo do Senado, fui ter com a minha prima e a amiga, contei o sucedido, e foi aí que o mistério ficou esclarecido - ela tinha escrito, literalmente, a minha casa!
    Achou estranho o pedido da minha prima, mas fez-lhe a vontade.
    Agora imagina quantas vezes o taxista não disse "tiu" ao ler aquilo!
    Cumprimentos

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  4. De uma forma geral, tenho boas experiências com o taxis de Macau, ainda que uma vez por outra, sobretudo quando não tinha dinheiro trocado, tenha levado com alguns com vontade de me baterem. E quando não percebiam a legenda que eu arranjava em chinês...ai senhor. é o carmo e a trindade

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  5. os motoristas em Macau ate são uns gajos com sorte comparados com os motoristas de autocarro em Lisboa.Aqui em Lisboa é normal os motoristas de autocarros levarem porrada dos pretos,ou serem assaltados,eu por exemplo moro em Lisboa,os pretos aqui quando entram num autocarro quase todos entram sem bilhetes e passes e ai do motorista que pedir bilhetes ou passes,leva logo porrada ou é esfaqueado,infelizmente Lisboa é Àfrica,e os pretos fazem aquilo que querem.A culpa é do Salazar e do Sócrates,agora temos que levar com os pretos a toda a hora.

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  6. No outro dia apanhei um que, ao perceber a conversa com a minha mulher, até fez questão de dizer "obrigado". Mas há essas bestas que não mexem o rabo para ir à bagageira; o melhor é, realmente, deixar-lhes o tampo aberto...

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  7. Em Macau existe de tudo um pouco, no que respeita à boa conduta dos táxistas.
    Nos dias de hoje as coisas já estão muito melhores do que à anos atrás.
    Comigo, e sabendo eu falar o dialecto cantonense tive alguns problemas com os táxista e algumas das vezes, estando eu fardado e desejando ir para o Terminal Mar'timo do Porto Exterior, o tipo berrou comigo uma duas e três, e eu sempre dizendo-lhe o destino, resultado, já que ele ou não me queira levar, não porque não entende-se o que lhe dizia, respondi-lhe vai para a C.... da tua mãe, e swem mais palavras lé me conduzio ao terminal marítimo.
    Mas houves outrs epi'sódios igualmente de bradar aos céus.
    Macau san assim.

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  8. a educação devia começar nas escolas...aquele bando de crianças mal educadas que nao sabem esperar pela sua vez ... nem tiram a porcaria da mochila das costas e empurram toda a gente como se fossem gado...

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  9. Para mim o maior problema não está nos taxistas, porque pessoas sem educação é o que não falta na cidade, mas sim nas empresas de Táxis. Porquê? Porque simplesmente apenas deixam correr o fluxo dos seus pupilos pelos sítios que lhes dá mais jeito. Apanhar um táxi em Macau é um martírio. Quando não tenho carro, ou vou a butes ou de autocarro. Já esqueci a quanto está a bandeirada. Convém referir igualmente que é lamentável que os taxistas de Macau não saibam o mínimo de inglês (já nem vou ao português). Numa cidade que se diz turística, ó meus amigos, é uma vergonha.


    AA

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  10. Por acaso uso o táxi algumas vezes e tenho uma ideia contrária em relação à facilidade ou dificuldade em arranjar táxi. Tenho sempre conseguido arranjar um, seja a que horas for e em qualquer local. Não estive em muitos sítios onde considere que seja tão fácil arranjar um táxi como em Macau. Já quanto ao facto de quase nenhum taxista saber os nomes dos sítios em inglês ou português, isso sim é uma vergonha numa cidade que vive à custa do turismo. Tal pobreza linguística nunca vi em mais lado nenhum.

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  11. Aqui os taxistas em Portugal tambem não sabem ingles.

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  12. Há gajos com uma grande pancada.

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  13. Essa dos nomes a aprender é realmente importante. O primeiro taxi que apanhei, tive 10 minutos a dizer ao gajo que queria ir ao leal senado. Ele dizia que não sabia onde era. Eu pensei: "Que degredo, nem sabe onde fica um dos pontos turisticos da cidade. Tá a gozar comigo". Mas depois lá fomos ter ao SanMalo

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  14. Anónimo das 02.01: eu não peço que os taxistas saibam inglês, mas apenas que saibam os nomes dos sítios em inglês ou português, porque nenhum turista que não seja chinês consegue decifrar os nomes chineses, escritos em caracteres. Como é óbvio, esse problema em Portugal não existe.

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