Deixai vir a mim as criancinhas

Podia começar este post com "eu não vos disse?", mas era demasiado fácil. Na verdade, eu próprio estou um tanto ou quanto chocado com as revelações de casos de pedofilia na Igreja. Sim, eu sei, já não é nenhuma novidade, mas ultimamente não se fala de outra coisa, o que leva a que muito boa gente que tinha dúvidas começe agora a ter certezas.

É lógico que nem todos os padres são potenciais pedófilos, isso seria um perfeito disparate, da mesma forma que o trabalho da Igreja Católica em prol dos mais pobres e indefesos não deve nunca ser questionado, simplesmente por causa de uns quantos casos de polícia.

E digo casos de polícia porque é exactamente isso que se trata. A pedofilia é um delito que deve ser tratado da mesma forma independentemente dos acusados: com a prisão dos condenados, depois dos processos transitado em julgado. Só que temos muito a mania de suspeitar mais do nosso vizinho do lado, gordo, careca e de bigode, do que do senhor prior que faz festinhas na cabeça dos pequeninos e espeta beijocas nas bochechas dos bebés.

O caso do Monsenhor Raimundo, de Alagoas (ver aqui o vídeo completo) é particularmente chocante, pois tratava-se de uma personaliadade que era "tão respeitada como o Papa" no Nordeste brasileiro. Se temos aqui alguém que é um exemplo de santidade em que não se pode confiar, então vamos confiar em quem?

Ouvi hoje alguém dizer que alguns destes jovens são marginais, dependentes, internos e outras pobres almas que a Igreja tão generosamente acolheu. Não sei porquê, mas isto parece-me uma desculpa tão esfarrapada quanto despropositada: então não se podem ajudar os menos fortunados sem lhes pedir o cuzinho em troca?

Alguém falou ainda de "crise de vocação", ou da questão do celibato dos padres católicos e não sei que mais. Ora quem não tem jeitinho nenhum para o celibato e prefere o são equilíbrio de uma vida sexual normal, pode ir para canalizador, dentista, astronauta ou outra profissão qualquer considerada normal. A carne é fraca, pois é, e por isso nunca me passou pela cabeça ser padre. Sim, admito que sou fraco.

Chegou a hora da Igreja deixar bem clara a sua orientação neste sentido. Já saímos da Idade das Trevas, a Igreja tem cada vez menos poder, e as pessoas têm cada vez menos medo de falar. E depois é preciso punir os pedófilos, e arrochar-lhes com os cornos na prisão, onde eles pertencem.