sábado, 13 de fevereiro de 2010

Os blogues dos outros


A menos de um mês de regressar a Portugal, após quinze anos a viver em Macau, o jornal Ponto Final convidou-me para uma derradeira troca de impressões. Agradeço o interesse da sempre competente Isabel Castro e deste matutino onde tantas vezes partilhei o que pensava da realidade do território que foi a minha casa durante década e meia. O momento é de pausa na escrita e forte abrandamento deste blogue (o tempo não dá para tudo...), mas espero voltar paulatinamente ao teclado quando assentar arraiais na capital portuguesa. Por agora, aqui deixo os meus votos de tudo de bom para Macau - a minha terra de adopção - e, em especial, para os portugueses e amigos de todas as comunidades que aqui fazem a sua vida! Até sempre, meus amigos!

Nuno Lima Bastos, O Protesto (publicado em 19/01/2010)

Estou num país que se rege por seis calendários e celebra com grande estadão o início de três anos novos. Hoje começa o ano do Tigre chinês e a minoria de ascendência chinesa (thai-chin), particularmente visível em Banguecoque, dá largas à sua opulência promovendo festas e prestando culto aos antepassados. Os cemitérios e templos chineses recebem hoje milhões de visitas. Às campas lavadas e às oferendas depositadas - roupas, comida, fotos - seguem-se almoços com a família, jogos, cânticos e o rebentamento de milhões de petardos. Em Abril será a vez dos thai-thai celebrarem o seu ano novo, o terceiro deste ano ! Bom ano novo, pois, para os leitores de Combustões.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Há momentos em que temos de deixar o egoísmo de lado. Neste momento, os hospitais de Lisboa estão a precisar do seu sangue. Este fim-de-semana seja generoso e vá dar sangue. O elevado consumo de sangue que se tem vindo a registar provocou uma baixa acentuada nas reservas nacionais sendo a área da Grande Lisboa a região mais afectada. Para ultrapassar esta situação de carência, que poderá agravar-se durante o Carnaval, o Instituto Português do Sangue apela às pessoas em condições de dar sangue que o façam ainda hoje ou logo que possível.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

«Luis Figo terá recebido 750 mil euros da Portugal Telecom como contrapartida para aparecer num pequeno almoço em Belém, no último dia de campanha de José Sócrates.» O pãozinho e a meia-de-leite estavam assim tão maus? Ou era a companhia que não lhe interessava?

João M. Pinto, 31 da Armada

«Se depender de mim, e se for possível, divulgo as escutas para isto acalmar.»
Pinto Monteiro, PGR, Expresso, novembro. Mas então a ”violação do segredo de justiça“? , a ”desobediência a despacho do presidente do STJ“?, a “violação da privacidade“? Nada disso estaria em causa, não é? Ou só no seu caso, mas já estará se forem outros ? Estaremos por outro lado diante daquilo que Fernando Negrão chamaria de “pré-crime” ou foi simplesmente uma bravata da parte de alguém que as não deveria proferir? O que mudou entretanto? Mas é capaz de ter razão, talvez isto “acalmasse“, o que, como se sabe, é uma das funções principais de um pgr….


Gabriel Silva, Blasfémias

Qualquer Português decente tem vergonha deste Governo. Ouvir as escutas do “Sol”, onde gente ligada ao poder tem miseráveis conversas sobre como condicionar a comunicação social. Ler o "Expresso" e perceber que esteve em curso um plano global de assalto às televisões não afectas ao Governo. Ver no “Correio da Manhã” que a PT pagou 750 mil euros a um futebolista aposentado para que este, antes das últimas eleições, participasse num pequeno-almoço com José Sócrates… Ver um primeiro-ministro mentir com todos os dentes, dizendo em público que não sabe de nada, ao mesmo tempo que os seus sequazes conspiravam contra a informação livre que teimava em denunciar os escândalos em que aquele estava envolvido. Perceber que há hoje um polvo de interesses, uma máfia criminosa que está a destruir o País, a tornar Portugal uma república das bananas, dominada por gente corrupta, sem vergonha, alçada às posições mais poderosas para, livre e impunemente, atentar contra a Democracia e o Estado de direito. A que podridão chegámos… Ide ler o “Sol”, o “Expresso”, o “Correio da Manhã”. Ide ver a SIC. É penosa a realidade ali retratada. Cheira muito mal. Mas é necessário ler e ver para abrir os olhos e perceber até que ponto chegou a conspiração desta máfia. Nestes dias vale bem a pena visitar os blogs situacionistas. Como ali continuam a defender o “chefe maior”, chegando o seu despudor ao ponto de gozar com “polvo congelado”… Esta gente sem vergonha tem de ser corrida e corrida urgentemente! Se o PS já não tiver militantes decentes, com força suficiente para extirpar este cancro que tomou conta do poder executivo, só resta esperar que o PSD resolva rapidamente a questão da sua liderança e perceba bem a enorme responsabilidade que tem pela frente. De, unido, dar de novo esperança ao País, devolver dignidade ao Estado, salvar o próprio regime.
Não peço heróis. Sei bem que na política não há Santos. Basta-me pessoas decentes e honestas que tenham escrúpulos e princípios e, acima de tudo, ponham termo à loucura totalitária deste PS socrático, profundamente doente, que não respeita ninguém nem recua perante nada. Até quando permitiremos que Sócrates abuse do País? Quando teremos, finalmente, a coragem de, com um Poder Judicial verdadeiramente independente, desencadear uma operação 'mãos limpas' que vá ao osso dos 'ajustes directos', da corrupção de Estado e dos crimes de subversão do Estado de direito que, estando à vista de todos, só alguma comunicação social tem a coragem - sim a enorme coragem - de denúnciar? Como é possível termos chegado a este ponto?


Rui Crull Tabosa, Corta-Fitas

Imagine-se que o presidente do clube de futebol X, sabendo antecipadamente que o jornal W iria publicar, dias depois, uma notícia que o ligaria a determinado esquema de corrupção na arbitragem, solicitava uma providência cautelar contra esse periódico, diligentemente despachada por um juiz. A notícia não viria a público. Imagine-se que o autarca Y, sabendo de antemão que o semanário K publicaria na edição seguinte uma peça que o ligaria a uma determinada empresa de construção à qual teria prestado favores no exercício das suas funções, solicitava uma providência cautelar contra o referido jornal, prontamente despachada por um juiz. A notícia não seria publicada. Imagine-se que o banqueiro A, sabendo que uma revista especializada em jornalismo de investigação traria a lume uma cacha que o relacionaria com a eventual gestão danosa e dolosa da instituição a que presidia, solicitava uma providência cautelar contra essa publicação, expeditamente despachada por um juiz. A notícia morreria à nascença. E como a lei é supostamente igual para todos, imagine-se que a moda pegava e dez milhões de Chicos dos Anzóis e Chicas das Couves demandavam os tribunais para obterem providências cautelares que impedissem todas as publicações de imprimir os respectivos nomes. Imagine-se um país onde as "providências cautelares", substituindo-se ao defunto "exame prévio", determinassem o que seria ou não publicado na imprensa. E digam-me se gostariam de viver num país assim.

Pedro Correia, Delito de Opinião

Ainda bem que nada percebo de direito, assim tenho a vantagem de raciocinar sem ser vítima dos meus próprios enredos, por aquilo que tenho ouvido sobre a legitimidade da violação do segredo de justiça. Dizem que há valores que se sobrepõem à lei, isto é, se está em causa a democracia, tudo vale para o demonstrar. Entro em pânico só de pensar que algum português é julgado por um destes advogados, magistrados, constitucionalistas e demais especialidades que exibem, incluindo a de capitão de Abril licenciado em direito. O perdão aos que violaram o segredo de justiça faz supor que escutas seleccionadas por jornalistas e as opiniões emitidas por um juiz de instrução são prova suficiente para condenação sumária. As provas não são questionadas, os visados não têm direitos, dispensam-se juízes e advogados, conclui-se com base num qualquer magistrado cobarde que seleccionou e entregou as escutas a um jornalista sem escrúpulos e nas desconfianças de um juiz que parecia estar mais interessado em descobrir a careca a terceiros do que em defender os direitos constitucionais dos que estavam a ser investigados. Feita a prova sumária da culpa de Sócrates perdoa-se ao magistrado golpista e ao investigador manhoso que com o truque de estar a escutar amigos de amigos decidiu colocar sob escuta quem bem quis e lhe apeteceu, mais um pouco e ainda alguém se lembra de os propor para uma condecoração no dia 25 de Abril! É evidente que nenhum destes jurisconsultos questionou a legalidade das violações do segredo de justiça que têm sido feitas à luz do dia, nem o advogado capitão de Abril, esperaram pelo momento em que julgaram ter provas mal amanhadas para derrubar o governo para decretarem uma amnistia com efeitos retroactivos aplicável aos crimes praticados por todos os que de alguma forma tentaram derrubar um governo eleito pelos portugueses e confirmado nas urnas numas segundas eleições. Os fins justificam os meios. A jutiça portuguesa que, como todos sabem, é uma desgraça conseguir, de repente e por linhas tortas, ser eficaz, num país onde para há processos que se arrastam por uma década consegue-se julgar um primeiro-ministro numa semana, sem despesas com tribunais, sem advogados, sem recursos ao constitucional e e sem advogados. O mais curioso é que magistrados, advogados, constitucionalistas e outros vêm defender e dar fundamentos jurídicos ao procedimento, sem repararem que estão a afirmar publicamente a sua inutilidade. Estranha democracia esta onde tanto democrata” vem defender que a melhor forma de a defender é recorrendo a métodos fascistas, sim porque nos países fascistas também há jornalistas, magistrados, juízes, advogados, constitucionalistas. Só não há sindicalistas das magistraturas pois como se viu em Portugal durante 48 anos os juízes sempre foram felizes. Ainda bem que não sou jurista, prefiro abordar esta questão com a minha ignorância do que com a sapiência de algumas bestas quadraras que tenho lido nestes dias, mas estaria a democracia se fosse uma mera questão de interpretações jurídicas, mesmo que feitas por um qualquer furriel miliciano formado em direito.

Jumento, O Jumento

Confirma-se a candidatura e o timing de apresentação. Aguiar-Branco também está no ringue. Mas este diz que vem para unir. Há o que quer mudar (Passos Coelho), o que quer romper (Paulo Rangel) e este diz que quer unir (aqui http://www.publico.pt/Política/aguiar-branco-e-candidato-para-unir_1422487 ).
Para quem diz que quer unir, as bocas a Paulo Rangel são um bom começo. E Manuela Ferreira Leite, cada vez mais com vontade de se ver livre desta tormenta, diz que "quantos mais candidatos melhor" (aqui http://www.publico.pt/Política/manuela-ferreira-leite-quantos-mais-candidatos-melhor_1422330 ). Desde que a deixem em paz....Na verdade, na confusão em que o PSD se encontra, mais um, menos um, qual é o problema?Ouvindo estas afirmações, e apesar das críticas de Marcelo Rebelo de Sousa ("candidatos em pacote") e Alberto João Jardim ("candidatos aos molhos"), Castanheira Barros também quer tentar a sorte (aqui http://www.publico.pt/Política/castanheira-barros-mantem-intencao-de-se-candidatar-a-lideranca-do-partido-faltandolhe-300-assinaturas_1422382 ).Este seria o candidato de quê? De qualquer maneira, a questão nem se põe. Pela amostra, ele quer, mas não é querido. Pode forçar. A ser assim, seria o candidato da violação. Naquele ambiente pornográfico em que vive o partido laranja, até que nem destoava.


Pedro Coimbra, Devaneios a Oriente

Sinceramente o PSD faz-me lembrar um bando de loucos em que ninguém se entende e todos procuram o poder. A candidatura de Rangel fintando o seu “amigo” Aguiar Branco é priceless. Para ser o fim da picada, só faltava o eterno Santana Lopes candidatar-se novamente à liderança…

El Comandante, Hotel Macau

Um século antes de Nietzsche e várias décadas antes do marquês de Sade foi um padre ateu, vigário de aldeia que viveu no norte da França entre os anos de 1664 e 1729 que, no manuscrito intitulado «Memória dos pensamentos e dos sentimentos de Jean Meslier», concluído em 1720, e nas Cartas aos curas, preconizou uma sociedade ideal fundamentada no ateísmo. O abade Meslier, indignado com a opressão e as injustiças sociais praticadas contra os camponeses, durante o reinado de Luís XIV, foi um autor radical, incisivo, comunista e ateu, mas manteve as suas ideias no mais absoluto sigilo, pois sabia que, não existindo vida para além da morte, devia preservar a única e irrepetível que lhe coube. Os seus escritos onde nega de forma inequívoca o dogma da criação do universo e, por conseguinte, as ideias de divindade, transcendência e ordenação divina da natureza, só foram conhecidos postumamente. Foi um revoltado, por razões políticas e sociais, com sermões materialistas, mas calcula-se o escândalo provocado pelo seu ateísmo, quando foi conhecido, e pelas diatribes contra Cristo, que descreveu como louco, fanático, ignorante e charlatão, indivíduo astuto que se aproveitou da credulidade e do desespero de pessoas ignorantes para estabelecer o seu império. Foi, aliás, imensamente crítico para com a religião, que considerou um artifício humano, nefasto expediente dos espertalhões e um eficiente instrumento de dominação utilizado por reis, sacerdotes e demais parasitas para submeterem e manipularem as populações miseráveis e abatidas pelo sofrimento. O abade Meslier é um expoente do Iluminismo francês cujo manuscrito, se não fosse tão prolixo e de estilo rebarbativo, era merecedor de ombrear com as obras de Montesquieu, Rousseau e Voltaire, na filosofia política das Luzes que originou a Revolução Francesa.

Carlos Esperança, Diário Ateísta

Gosto de me mascarar de homem invisível. mas o pior é ser preciso que nos chova em cima para que vejam que estamos (apenas) mascarados de homem invisível...

João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

1 comentário:

  1. Caro Leocardo,

    Agradeço a referência e aproveito para desejar as maiores felicidades ao Bairro do Oriente, que tentarei continuar a acompanhar em Portugal.
    Quanto a'O Protesto, permanecerá online mesmo com pouca actividade previsível para os próximos tempos, dado que tem um acervo de informação que acredito justificar a sua continuidade. Logo que possível, tentarei dar-lhe novamente mais vida.

    Um abraço!

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