terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Inverno


Em Macau fazem falta lugares bons para se pescar no Inverno. Pescar é uma técnica de relaxamento que fazia muito com os meus amigos, e mesmo que não mordesse peixe, ficávamos ali horas a falar. Nas tardes de Sábado em que os juniores jogavam fora, montávamos a bicicleta e iamos para o rio pescar, fizesse chuva, fizesse sol. Curiosamente nunca pescávamos no Verão, quando havia mesmo sol. Aí era só mesmo nadar.

Outro local de reunião interessante na época do frio era o cemitério, a meio da tarde, onde reinava o sossego dos defuntos e às vezes suas viúvas sôfregas, mas silenciosas. O tempo nublado e chuvoso combinava tão bem com o branco-pálido e cinzento das campas e jazigos. A urze ganhava um encanto mágico com as primeiras chuvas, e o Outono era uma época linda lá no cemitério. Aproveitava para namorar ou namoriscar com as amigas, e apesar de não nos livrarmos da má-língua da terra, sempre passávamos uma tarde descansada e sem os melgas que habitavam fora dos cemitérios.

Em Macau os cemitérios são apertados, e não há banquinhos giros onde sentar. É só um local onde se encontram alguns monumentos giros, e as pessoas vão só lá para sofrer. Ainda ninguém me explicou bem o que estão a fazer aqueles pedintes, na sua maioria idosas, a pedir esmola à porta do Cemitério de S. Miguel.

Saí de casa à dez minutos para comprar umas bebidas no 7-11, e no caminho encontrei uma família que montou o estaminé à porta da loja e jogava mahjong enquanto via televisão. Comovi-me, pois lembrei-me daquelas noites frias do Ribatejo em que trazíamos a mesa e o televisor para o quintal e "comíamos fora", literalmente. Sempre com o quentinho do fogareiro, de onde brotavam chouriços e codornizes assadas. São saudades que nem as castanhas assadas do Largo do Senado ou aquela batata doce chochinha que se compra por aí matam.

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