sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Abéis e Caims
Na sequência da campanha contra José Saramago que O Clarim iniciou aquando das declarações do escritor no lançamento do seu último livro “Caím”, foi publicado na edição de hoje do semanário da Igreja Católica de Macau um artigo de opinião da autoria de José Miguel Sardica, professor da Universidade Católica, publicado originalmente a 28 de Outubro última no website da Rádio Renascença.
O artigo é deveras interessante, e permitam-me destacar as partes mais sumarentas: “(...)De facto, a Sagrada Escritura não pode ser lida como uma narrativa textual e objectiva, e muito menos o pode ser, sob pena de anacronismo, com os nossos olhos de hoje. A Bíblia está repleta de alegorias, metáforas, simbolismos, mitos, lendas e profecias, requerendo uma exegese que saiba extrair, de cada história ali contida, o seu significado moral. No episódio de Caim e Abel, o excerto do «Génesis» que inspirou o livro de Saramago, o texto expõe o leitor a uma morte, idêntica a outras, sacrificiais, presentes no Antigo Testamento; mas a interpretação supra-literal deve remeter-nos para a escolha humana entre o Bem e o Mal e, portanto, para a condenação da violência.(...)”.
Concordo plenamente com o Dr. Sardica. É errado acusar a Bíblia de mentir, ou acusar o Deus da Bíblia de ser cruel e vingativo. Mas há quem acredite em mentiras, e quem use as mentiras em proveito próprio. É óbvio que a história de Abel e Caím é uma alegoria, uma metáfora, um mito e uma lenda, tudo ao mesmo tempo. A história de Abel e Caím é a ilustração bíblica do primeiro crime, da natureza animal e sanguinária do Homem. Assim como os pais de Abel e Caím, Adão e Eva, são a alegoria, metáfora, simbolismo, mito e lenda para o aparecimento da espécie humana, numa altura em que ninguém sabia ainda que a espécie evoluíu e continua a evoluir, assim como todo o resto. E esse é o verdadeiro anacronismo.
Alegorias, metáforas, simbolismos, mitos, lendas e profecias, que entendidos no contexto da época, providenciavam explicações para factos que são hoje mais fáceis de explicar e entender. De facto a Bíblia não é para levar a sério, e os crentes estão bem conscientes disso. Basta observar a forma como alguns auto-intitulados cristãos assumem por vezes atitudes muito pouco dignas desse nome. Deus, se realmente existe, não é vingativo, cruel ou invejoso. Esse é o Deus dos homens. E José Saramago sabe disto melhor que ninguém.
Amigo, tens razão em grande parte das coisas que escreveste, no entanto não concordo quando dizes que a Bíblia não é para ser levado a sério. O que não se pode fazer é interpretá-la literalmente, como fazem muitos dos fundamentalistas (sobretudo protestantes, através da "sola scriptura", fazendo da Bíblia a norma de conduta e de fé). Há que entender que a própria Bíblia foi escrita por imensa gente durante séculos (ela é composta por 73 livros) e a interpretação que cada uma dessas pessoas tem acerca de Deus e da religião é sensivelmente diferente, o contexto histórico é diferente, o próprio lugar é diferente, etc (revelação progressiva). Daí também existir o Novo Testamento, uma espécie de "update", que resume o viver cristão, ao contrário do Antigo Testamento que corresponde ao livro sagrado dos judeus.
ResponderEliminarO Saramago é comunista e ateu, logo não se pode esperar outra visão acerca da Bíblia, da Igreja e de Deus. Como português tenho vergonha dele também o ser, ainda que ele seja a favor da integração deste país à Espanha, como um bom traidor mesquinho que D. Afonso Henriques já previra quando elaborou a bandeira portuguesa.
Resumindo, mais um comentário sobre o comentário que a Igreja Católica fez sobre o comentário que o Saramago fez sobre a Igreja Católica. Nada de novo a assinalar ou a acrescentar na posta.
ResponderEliminarPor outro lado, opinar sobre a "minoria" muçulmana que leva ao extremo as mentiras da religião da paz e tolerância não é chão que dê uvas.
Postas e dissertações sobre o ataque dos muçulmanos às igrejas cristãs na Malásia? Moa.
Postas e dissertações sobre o ataque no dia 1 de Janeiro, ao autor das caricaturas sobre Maomé publicadas em 2005 por um muçulmano com ligações à Al-Qaeda? Moa.
Trata-se de uma "pequena minoria" que lá vai matando e atacando a um ritmo diário. Alguns deles leng chais, pá. Coitados. Perigosas são estas investidas católicas.
Mas é natural, é que não convém opinar sobre os invernos mais frios das últimas decadas e de como as pessoas, ao levarem na cabeça com os mais fortes nevões no ultimo meio século, passaram a acreditar no aquecimento global. Factos são factos. O resto são fantasias. Comentar sobre estes factos é que não ajuda a fantasia aquecimentista do bairro do oriente..
Mas boa. Esta posta perfila-se uma boa candidata à participação que tem faltado nos últimos tempos. Nada como retomar uma formula de sucesso, ainda que rebatida, repisada e sem nada de novo. Mas compreende-se o delírio ao ter a chance de garantir poucos comentários que seja.
Este último faz-me lembrar um amigo meu, que diz que os cartoons americanos do tipo Simpsons e South Park só atacam os católicos, porque têm medo dos islâmicos. A ele digo-lhe que esses cartoons visam criticar a sociedade que os rodeia, e não outras a milhares de quilómetros de distância.
ResponderEliminarEu não tenho medo de islâmicos, e antes pelo contrário. Gostei dos três únicos países islâmicos que visitei, onde fui impecavelmente tratado e não assisti a cenas de barbárie. A Malásia é um exemplo de sucesso, e como tal até um tribunal civil decidiu a favor da Igreja Católica. Só que o Superman, o Batman e o Spiderman não vivem na Malásia, e não podem impedir que um grupo de fanáticos ataque uma igreja.
Quanto ao post que dediquei ao terrorismo no outro dia, penso que o leitor não percebeu bem a carga de ironia do "leng chai". Fiquei mais uma vez triste que mujahideens e afins, pessoas que não representam o Islão ou mais nada que não seja simplesmente o terrorismo, voltem à carga e ponham o mundo em sobressalto. Como diz um amigo meu islâmico (da Palestina): "essas pessoas têm que ser julgadas pelos seus crimes".
Quanto ao aquecimento global, por um lado mostra-me vagas de frio e nevões, típicas do inverno do hemisfério norte. Por outro lado no hemisfério sul tivemos cheias no Brasil, secas e incêndios em vários outros pontos do mundo. Pontos a favor dos dois.
Finalmente, não sei se reparou, mas não tenho tido muito tempo para trabalhar no blogue. Durante o mês de Janeiro publiquei apenas 28 posts, quando noutros meses por esta altura já tinha publicado mais de 50 posts. É normal que não tenha tempo para falar de tudo, mas já sabe que arranjo sempre um tempinho para os meus amigos católicos ;)
Cumprimentos.
Já cheira mal, essa formula mais que batida de ir lançando aqui e ali uns posts a atacar a Igreja Católica sempre que é preciso espicaçar a secção de comentários...
ResponderEliminarE a seguir, não tarda nada, deve vir aí outro da Christina Chan (que este fim de semana também está na baila) com o mesmo fim.
Será que não consegue imaginar outros assuntos mais interessantes da actualidade que possam alcançar o mesmo efeito, e fomentar a discussão inteligente sem recorrer contantemente à mesma mediocridade intelectual?
Este blogue não é apenas sobre a Igreja Católica ou sobre a Christina Chan, antes pelo contrário (e se eu quisesse que fosse?). Se por acaso só esses temas lhe chamam a atenção, então parece-me que o problema é seu. Ou não?
ResponderEliminarCumprimentos.
Fraquinho. Nem assim.
ResponderEliminarAnónimo das 9:33, a Igreja Católica interessa sempre a muitas pessoas sejam elas católicas ou não e essa é que é uma grande verdade. Acredito até que os que são contra ela têm até muitos mais motivos para se interessarem por ela...
ResponderEliminarDos minaretes suíços todos se lembram. Foi um vendaval de indignação que soprou por este blog, tendo o leocas saltado como uma mola em defesa da "liberdade religiosa".
ResponderEliminarRechinou, rasgou as vestes e bateu com os punhos no peito, enfim foi um ai jesus.
Há dias sete cristãos coptas foram assassinados no Egipto. Na Malásia, o governo e as forças vivas querem à viva força (literalmente) proibir o uso da palavra "Alá", pela minoria cristã.
Na Arábia Saudita a lei proíbe quaisquer outros cultos que não o Islão. No Irão cristãos, judeus, bahaiis, etc, são presos às centenas e há tempos um casal de cristãos foi apedrejado até à morte.
Em vários países islâmicos, a apostasia é punida com a morte e a milenar comunidade cristâ de Belém desapareceu completamente, a partir do dia em que a Autoridade Palestiniana tomou conta do local, isto para não falar da paulatina destruição de igrejas nos poucos locais muçulmanos onde ainda estão de pé.
Face estes casos menores, o silêncio do leocas indignado dos minaretes só se pode explicar por manifesta falta de tempo.
Onde é que eu me indignei com a questão dos minaretes? No máximo achei graça. É engraçado que dê exemplos como o Irão e a Arábia Saudita e depois compare-os com o que aconteceu na Suíça. Deve ser a mesma coisa. Enfim...
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