Dia Mundial do SIDA

Hoje comemora-se em todo o mundo o dia mundial da SIDA. O SIDA foi um flagelo que apareceu subitamente nos finais dos anos 70 e causou paranóia e desespero à escala global algures nos anos 80. Hoje é ocasionalmente lembrada, face à marcha impiedosa do cancro. Companhias aéreas norte-americanas oferecem viagens gratuitas a doentes com cancro, mas não a doentes com SIDA. O vírus é hoje tratado nos países desenvolvidos de forma a que os doentes possam viver mais tempo e com qualidade. Na África mata. O SIDA matou 25 milhões de pessoas até 2007, e só o ano passado morreram 2 milhões, três quartos destes em na África sub-sahariana, 270 mil dos quais crianças. A doença foi em tempos estigma dos homossexuais, e hoje é o estigma dos pobres e indigentes.

Nos países ricos está associada a comportamentos marginais: prostituição, toxicodependência, promiscuidade em geral. Nos dias de hoje as campanhas de luta contra o SIDA parecem mais peditórios para os pobres, dirigidos apenas às almas mais caridosas. O SIDA é ainda um perigo real, e causa de grande preocupação para casais com filhos adolescentes, e não só. Um recente documentário produzido pela RTP mostra que está a aumentar exponencialmente o número de idosos infectados pelo HIV. A ignorância é mesmo o pior inimigo.

Muitas das campanhas são hoje feitas de uma forma moderna e radical, dirigida aos mais jovens. Tem-se focado o uso do preservativo, e uma certa tendência para demonizar o sexo casual, aquilo em que os jovens são ou sonham ser mais prolíficos. Ainda me faz um pouco de confusão aquele ideia do “passado sexual” do indivíduo como uma forma de dirimir o apetite sexual. A mensagem parece ser muito “portem-se bem”, que é como quem diz, “sigam o sistema”. O importante mesmo é os jovens terem os cuidados necessários, e pouco importa que durmam com quem já dormiu com três, com dez ou com cem. Não somos nenhuns bichos que carregam a peste.

Podemos ser também “animais”, mas temos – ou devíamos ter – o discernimento para distinguir o bem do mal. Toda a gente sabe que não se devem partilhar seringas (que coisa tão porca), visitar o prostíbulo sem protecção ou não perceber os riscos que são uma operação, uma tatuagem ou uma transfusão de sangue. Curiosamente dos casos registados em Macau e certamente em muitas outras partes do mundo demonstram que os homossexuais são hoje um grupo menos atingido, e já ninguém se lembra daquela teoria maluca de que foi o governo norte-americano que produziu o vírus para se livrar do “problema gay” (mito da "gay-bomb").

Entretanto fico muito satisfeito quando se fala do problema de uma forma pragmática e de um ponto de vista puramente médico. E foi isso que aconteceu esta manhã no programa “Acorda Macau”, com a ilustre presença da Dra. Dulce Trindade, a maior especialista em doenças infecto-contagiosas (e não só) que já passou por Macau. É a forma desinibida de abordar o problema um dos passos mais importantes para a sua solução.

Talvez um dia, em breve, se descubra a cura contra o SIDA. Já não faz muito sentido trabalhar numa agora, que a maioria dos doentes não pode pagar a medicação, mas tenho esperança que um dia o 1 de Dezembro já não seja mais o Dia Mundial do SIDA. Ninguém dá dias especiais a doenças que já não existem. Mas enquanto não se resolve esta sinuca, vamos lembrar que hoje, 25 milhões de pessoas vivem com esta terrível doença.

PS: Hoje foi também dia da Restauração em Portugal, feriado. Não sei o que isso é e não vou aqui arranjar explicações ridículas.