Três em um

1) Edmund Ho foi hoje à Assembleia Legislativa pela última vez como Chefe do Executivo. O homem que liderou o primeira elenco da Região Administrativa Especial de Macau veio fazer um balanço do último ano de governação, bem como um pequeno resumo daquilo que foram os primeiros dez anos da RAEM. Depois de um primeiro mandato tranquilo e que deixou uma impressão favorável junto dos mais diversos sectores da sociedade, Edmund Ho enfrentou duras críticas nos últimos cinco anos, principalmente depois da liberalização do sector do jogo, que veio dar um impulso extraordinário à economia do território e acarretou suspeitas de actos ilícitos e acusações de falta de transparência. A ida do CE à AL não foi aberta a perguntas e respostas, e a Associação do Novo Macau Democrático manifestou o seu desagrado através de um cartaz que exibiu em frente à sua bancada, onde se exigiam esclarecimentos sobre o caso Ao Man Long, provavelmente a maior mancha dos dez anos de governação do território. Edmund Ho escudou-se no segredo de justiça para não fazer comentários sobre o caso, uma vez que ainda estão a ser julgados casos relacionados com o ex-secretário caído em desgraça. Edmund Ho deixa o cargo de CE num ano em que a sua actuação foi muito discreta, e que as atenções estavam mais voltadas para a sua sucessão e para o novo elenco que vai dirigir os destinos do território nos próximos cinco (dez?) anos. Edmund Ho teve a coragem de assumir uma tarefa que não se adivinhava nada fácil, correu riscos, ganhou, mas não evitou incidentes de percurso. A história vai fazer-lhe justiça. Veja a reportagem da TDM aqui e aqui.

2) A Igreja Católica está preocupada com a corrupção. Segundo a edição de hoje do Ponto Final, o bispo de Macau José Lai terá contactado alguns funcionários católicos que integram os quadros do Governo para se insurgirem contra a corrupção. Isto semanas depois de um inquérito realizado pelo IIUM sobre a qualidade de vida da populaço, que dá exactamente a "corrupção" como a maior preocupação dos residentes. "Corrupção" é uma palavra forte que é usada de ânimo leve para uma série de outras coisas que não são assim tão difíceis de explicar. O que se passa é uma constatação de uma grande fatia da população jovem e com um nível de educação médio ou superior que no fim de contas, a vida é "difícil" e este é "um mundo cão". A tal "corrupção" a que se referem não se trata de nepotismo, tráfico de influências, favorecimentos ou pagamentos ilícitos realizados em grande quantidade e à luz do dia - se bem que é possível que isso aconteça, porque não, só é preciso que se prova, o que em Macau é sempre o mais difícil. É bem possível que a parte da população que está descontente refira-se áquilo que consideram injusto como sendo a tal "corrupção", mas esquecem-se que a mudança para uma sociedade mais transparente passa também por eles. É que muito boa gente acomoda-se e deixa-se inebriar pelo conforto quando alcança os seus objectivos, e depois, numa enorme dose de pragmatismo, já nada parece assim "tão mau como antes". Citando o famoso jornalista Toby Young: "Falamos mal da festa porque não fomos convidados para ela".

3) Realiza-se hoje a segunda mão do play-off da qualificação para o mundial na África do Sul. Portugal leva uma vantagem de um golo para Zenica, na Bósnia, onde se espera um ambiente de cortar à faca. Um encontro decisivo em muitos sentidos, e muito provavelmente o jogo do ano. Só que em Macau o jogo é transmitido em directo pela TDM às 3:45 da madrugada. Com um dia de trabalho pela frente e temperaturas na ordem dos 8/9 graus não há patriotismo que resista. Vou apoiar a selecção de todos nós em sonhos, e analisar as incidências em diferido. Boa sorte!