quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Que bom para eles
Tenho lido e ouvido por aí alguns comentários relacionados com os vencimentos auferidos pela malta americana da Sands e da Wynn, nomeadamente executivos e afins. É verdade que alguns destes senhores ganham qualquer coisa como 100 ou 200 mil patacas mensais, às vezes mais, mas é falso que lhes seja atribuído um subsídio de residência na ordem das 50 mil patacas. Um director de departamento de uma das concessionárias, que conheço, aufere 18 mil patacas mensais de subsídio de residência, e mesmo nos casos onde esse subsídio é mais elevado, nunca ultrapassará as 30 mil patacas. A não ser que seja alguém "encomendado" especialmente pelo sr. Sheldon Adelson ou Steve Wynn, que nesse caso consegue tudo o que quer. Mesmo assim é um exagero, pois duvido que existam no território rendas de mais de 30 mil mocas. Não estamos exactamente a falar da zona de Victoria Peak aqui ao lado em Hong Kong.
É um facto de que estes indivíduos ganham estupidamente bem, e estarão alguns dos leitores menos ambiciosos a pensar que isso é bestial, ao nível de alguns jogadores de futebol da segunda divisão inglesa, e que bastava trabalhar uns dez aninhos para atingir uma reforma tranquila. Fazendo umas contas de cabeça, 200 mil por mês mais uns bónus, dá qualquer coisinha como quase 3 milhões por ano, que ao fim de dez são uns 30 milhões, que depois dá para mandar tudo ao tal sítio. Mas para o americano ou australiano astuto e competitivo, isso não chega. Há sempre outros horizontes, promoções, e aumentos. Os directores-executivos, por exemplo, recebem ainda comissões sobre o desempenho do seu departamento. É um mundo completamente novo, diferente daquele a que estivemos habituados durante décadas, onde só reinou Stanley Ho e seus pares.
Mas há que ponderar se vale mesmo a pena tudo isto. Falamos aqui de pessoas que vivem para isto. Trabalham sete dias por semana, em alguns casos, não conhecem o significado da palavra "feriado", não se lhes aplica qualquer lei laboral conhecida, e estão sempre "on call", estejam eles de férias no mais luxuoso resort das Ilhas Maldivas, ou em casa com dor de dentes. Ficam anos sem ver a família (os que têm família), passam horas a fio em reuniões, não têm horário para comer, dormir ou socializar. Não têm tempo para namoradas ou amigos. São sujeitos a press-es enormes, têm que calcular os planos, os riscos, e têm o emprego menos garantido do mundo: um só erro pode significar a morte do artista. Vão dormir a pensar na forma de executar o próximo passo, e é também a primeira coisa em que pensam quando acordam. No fim do ano olham para a conta bancária e sorriem. Pudera, não tiveram tempo para gastar aquele dinheiro todo. Depois voltam ao trabalho, seja Natal, Ano Novo, haja tufão ou chova granizo. Quando acabam a carreira estão velhos, gastos, enrugados e impotentes. Ás vezes nem isso.
Gostamos de passar ao nossos filhos a mensagem de que devem estudar muito para um dia ser "os melhores". Queremos o melhor para eles, para que não passem as privações "que nós passámos" (eu pessoalmente não me queixo), e queremos sobretudo que eles ganhem uma boa pipa de massa para não andar a vida toda "ó tio, ó tio", que aprendam a encolher os ombros perante a desgraça alheia e que sussurrem então "...é a vida". O mais importante é aprender que se há algo que não podemos comprar é o tempo. O tempo é implacável e não espera por ninguém. Não podemos atirar uma nota de mil e comprar cinco minutos dos ponteiros do relógio. Não há nada mais precioso do que tirar algum tempo para ler uma revista, fazer umas palavras cruzadas, telefonar a um amigo, dar atenção à família, contemplar um pôr-do-sol, ou simplesmente ficar na cama quando não nos apetece ir trabalhar porque no dia anterior bebemos uns copos a mais. Se esse não é o segredo da verdadeira felicidade, anda lá perto. Ganham milhões por ano e podem comprar tudo o que quiserem. Que bom para eles. Mas será que podem mesmo?
ELES NAO SABEM O Q E' FELICIDADE
ResponderEliminarÉ, são mesmo uns pobrezinhos, coitados.
ResponderEliminarMais triste do que a vida desses gajos, só o contrário, isto é, uma pessoa matar-se a trabalhar e no fim do salário sobrar sempre mês. E cada vez há mais portugueses que sabem o que é isso. Agora, se ganharmos 20 ou 30 mil lecas e nos sobrar tempo para nós, isso é muito melhor do que a vida dessa gente que só vive para o dinheiro (ou seja, para o trabalho). Como não sou muito ambicioso, era capaz de fazer isso durante os tais 10 anos, mas depois reformava-me, enquanto ainda estivesse a tempo de gozar a vida.
ResponderEliminarEu nao acho que a vida dessas pessoas seja triste...ora imaginem la, estao num resort nas Maldivas, uma coisa brutal, com a mulher e filhos ou com amante, pouco interessa, recebe um telefonema urgente a informar que tem que ir a companhia, o aviao particular ou o aviao do patrao esta la espera, apanha o aviao, resolve o que tem que resolver, volta para o aviao e ainda vai dormir com a mulher ou tomar o pequeno almoco no dia seguinte.....e brutal....e despedido...e tem nao sei quantas empresas atras dele...e brutal...
ResponderEliminarSegundo sei, as vivendas brancas junto a paraia de Ha-Sa andam por 40 mil lecas mes!!!
ResponderEliminarTenho um T3 nos Oceans para alugar. Quanto acham que devo pedir?
ResponderEliminarO melhor é sempre o meio termo.
ResponderEliminarSe pedir 5000 patacas, eu alugo.
ResponderEliminarÉ de facto verdade que o dinheiro não compra tudo, como por exemplo o tempo. Mas os ricos sempre são ricos. Os pobres, mesmo que pudessem comprar tudo, nada poderiam comprar simplesmente porque são pobres. É a essa a mais pura das verdades. Em sã consciência ninguém gosta nem quer ser pobre.
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