quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Uma questão de interpretação


Abstive-me de comentar sobre a alegada censura no fórum da CTM (a versão chinesa do Bairro do Oriente) até ler os esclarecimentos da mesma. E fiz bem. Ouvi durante o dia de ontem alguns comentários pouco simpáticos dirigidos à companhia de telecomunicações, reagindo à notícia publicada Domingo no South China Morning Post e divulgada ontem pelo Ponto Final, de que as palavras "Chefe do Executivo", na sua versão em chinês, tinham sido censuradas. Assim, sem mais nada.

Falou-se do fim da liberdade de expressão, duma atitude censória da CTM, do Apocalipse. Achei estranho que "Chefe do Executivo" sem nada antes ou depois estivesse a ser eliminado do Fórum CTM, local onde a opinião pública chinesa do território diz de sua justiça. Afinal tudo não passou de um mal-entendido, de um problema de filtragem, dizem.

Dou razão à CTM quando dizem que "não têm o dever de proporcionar liberdade de expressão", e até acho estranho que exista um fórum desta natureza no servidor da única concessionária de telecomunicações do território. Surpreende-me mais ainda que alguém tenha a coragem de ir lá e insultar os altos dignatários da RAEM, mesmo debaixo da capa do anonimato, capa essa que a CTM se encarrega de despir, caso seja necessário.

Ainda se fala de "regras" que têm que ser cumpridas no tal fórum. Regras essas que são sempre pouco claras no que diz respeito à protecção do "bom nome" das pessoas visadas (outra vez as salsichas), e como se sabe certas críticas - por muito que sejam honestas e baseadas na verdade - nunca são bem aceites. Outro problema prende-se com os próprios utilizadores, uma vez que não é necessária a apresentação de um certificado de habilitações ou de aptidão mental para se escrever nestes fórums.

Já quando o comunicado da CTM diz que a companhia "é independente, não faz fretes ao Governo nem o Governo os pede", recordo-me do recente caso do tal metereologista amador que viu a sua página no servidor local fechada pelo simples facto de prever o estado do tempo, e ainda levou um puxão de orelhas da polícia. Notícia avançada também pelo SCMP, curiosamente.

Pode ser que o tom agressivo do comunicado da CTM tenha um destinatário: aquela malta de Hong Kong que está sempre a chatear os deste lado com aquela coisa da liberdade de expressão. Só que a mim não me convencem que são assim tão independentes. Se calhar é tudo uma questão de interpretação...

1 comentário:

  1. Somos em geral demasiadamente prontos para a censura, e demasiadamente tardos para o louvor: o nosso amor-próprio parece exaltar-se com a censura que fazemos, e humilhar-se com o louvor que damos.

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