quarta-feira, 16 de setembro de 2009
No reino do surreal
Estes últimos dias de campanha eleitoral têm sido marcados por acontecimentos mesmo estranhos. Mais estranhos que os virus no computador do Observatório Cívico de Agnes Lam, a tal dos “lindos olhos” (com franqueza…). Começou tudo por uns papéis colados nas paredes, passou pela internet e acabou numa verdadeira bomba. Por partes.
A deputada e candidata Kwan Tsui Hang ficou ultrajada com uns posters onde se faziam insultos à senhora, e acusavam-na de estar contra a compensação pecuniária anual (vulgo “as seis mil patacas”). Calúnias, pelos vistos, e a deputada fez queixa à polícia. Na internet espalhava-se difamação horrível por esses parasitas da sociedade: anónimos. Ora uma peta aqui, outra peta ali, e o facto de Au Kam San ser membro da Falun Gong e ser familiar de Chui Sai On ou qualquer coisa assim.
Se neste caso a internet é culpada como Judas, já no primeiro caso foram as paredes onde estavam colados os ditos insultuosos à sra. deputada. Se o cronista de serviço do jornal Va Kio acha que o que se passa na internet é "uma vergonha", eu também acho que as paredes deviam ser proibidas em Macau, pois podem-se lá afixar coisas mui injuriosas. Ou em melhor alternativa, se calhar as pessoas não deviam acreditar em tudo o que lêem. Aprendi esta lição quando era pequeno e li a Bíblia, onde se diz que somos todos descendentes de uns tais Adão e Eva.
Mas hoje deu-se o climax total de acontecimentos estranhos: um elemento do sexo feminino da Lista 15, desse mesmo Au Kam San, foi condenada a três anos de prisão por fraude e falsificação de documentos. Nesta altura, esta notícia é especialmente fantástica, pois destrói a credibilidade dos democratas a poucos dias das eleições. Hoje no regresso a casa encontrei o meu vizinho Ng Kwok Cheong, e perguntei-lhe o que se passou. Mandou-me simplesmente ir ver as notícias, que saberia de tudo. Não se sabe o que pode significar isto para o Novo Macau Democrático em termos de votos, mas não deve ajudar nada.
Em termos de acções de campanha, outras coisas estranhas. Primeiro o raspanete de David Chow, marido da candidato Melinda Chan, que convocou uma conferência de imprensa para atacar o empreendimento Windsor Arch, o tal que não viola leis nenhumas. A jornalista perguntou se o manifesto – muito bem redigido, por sinal – tinha alguma coisa a ver com a campanha. David Chow enfureceu-se e questionou se essa pergunta era justa. Ficou tudo em paz, depois. Entretanto Paul Pun, candidato e presidente da Cáritas, organizou uma festa para celebrar as contribuições que aquela associação fez às vítimas do tufão Morakot em Taiwan. Mais uma vez, nada a ver com a campanha.
Algumas lojas levaram puxões de orelhas por ter colado posters de listas nas janelas (sim, até a Farmácia Popular), mas a mão pesada não durou muito, existindo até um candidato a fazer uma campanha publicitária para a maior instituição bancária do território, onde até por acaso é gerente. Ontem encontrei uma menina filipina que trabalha para uma das listas, que muito apressadamente me entregou material de campanha, enquanto me dizia que estava "com muita pressa" pois ainda tinha muitos cartazes para entregar. Escusado será dizer que a menina nem direito a votar tem, quanto mais estar ali a trabalhar por amor à camisola.
O que não foi tão estranho é o que se passou durante o tufão Koppu. De louvar a iniciativa da lista 3 que ofereceu boleias a turistas e deu chapéus-de-chuva a residentes. Quem ficou mal visto mais uma vez foram os taxistas, que cobram quantias usurárias em tempos de tufão. Um daqueles postais de Macau. E lá vou ficando atento às “coisas estranhas”. E ainda se espera que as coisas se intensifiquem até Sábado, véspera das eleições.
TEMPO... TEMPO... dêem tempo à jovem e imatura "democracia" (parcial, entenda-se) de Macau para crescer e solidificar-se.
ResponderEliminarToda a gente lembra-se antigamente como eram as eleições em Taiwan, onde havia de tudo, pancadaria, tiroteiro, corrupção, máfia, compra de votos, etc etc...
No entanto, as coisas foram melhorando de ano para ano, as pessoas culpadas foram acusadas e presas, a máfia lentamente erradicada do processo eleitoral, e hoje em dia as coisas estão muito melhores. Vejam como correram as ultimas eleições onde foi eleito o actual Presidente Ma Ying-Jeou. Praticamente sem um incidentes de notar, e elogiada por todos.
Em Macau ainda não se elegem chefes do executivo, mas o percurso é na minha opinião muito semelhante.
É preciso continuar por este caminho, e dar tempo ao tempo.
Exactamente, dar tempo ao tempo. Como prova disso mesmo, um exemplo contrário: em Portugal sempre foi tudo feito à pressa e com revoluções. E veja-se no que deu aquela democracia. Ao contrário de Taiwan, a democracia portuguesa está cada vez mais podre e a máfia política a ganhar mais terreno. E nunca há culpados.
ResponderEliminarIsto da democracia é como um brinquedo novo para muitos chineses. A primeira vez que o têm, com toda a eurofia e excitação, tanto o mexem, abanam, carregam, atiram ao ar, lançam ao chão que mais tarde ou mais cedo acaba por partir-se. E o pai zanga-se, ralha, e com toda a razão.
ResponderEliminarMas depois de aprenderem a lição, quando recebem o segundo brinquedo, já têm mais cuidado, mais estima e as coisas correm melhor. E com esse bom comportamento, os pais vão tendo confiança e vão cedendo mais brinquedos e apetrechos aos filhos.
A história da democracia em Macau é o mesmo. A criança (Macau) vai recebendo pequenos brinquedos (mini-eleições) dos pais (China) de 4 em 4 anos para ir brincando. Consoante o bom comportamento, os brinquedos vão crescendo de tamanho e amplitude.
Neste momento, infelizmente, a criança ainda está muito infantil e mal comportada haha...
Só que não devia. Esta já é a terceira vez (2001,2005) que lhe dão o brinquedo, e continua a parti-lo. Se calhar é preciso ler o manual de instruções.
ResponderEliminarCumprimentos.
Realmente tem a razão Leocardo.
ResponderEliminarMas olhe que mesmo assim as coisas estão a melhorar. O CCAC está muito mais vigilante, há muito mais informação, as pessoas estão mais conscientes que o voto é secreto e ninguém as pode obrigar a votar em quem não quer, a própria organização das eleições está muito mais bem preparada.
Você deve ainda lembrar-se da vergonha que eram as eleições anteriores, onde toda a malta das empresas era praticamente obrigada a votar no seu patrão, sob ameaças de despedimentos ou castigos?
E que muita dessa gente ainda acreditava que as pessoas eram vigiadas nas urnas, e que sabia-se em quem votavam?
E lembra-se da enorme confusão que foi o primeiro dia de campanha em 2005 no Leal Senado?
E as histórias dos votos comprados em troca de vales de compras, passes de autocarro, brindes, presentes?
E aquelas cenas dos autocarros que eram alugados pelas listas para ir buscar a malta da zona norte da cidade até aos locais de voto, para depois serem encaminhados outra vez de autocarro para grandes almocaradas e "Yam Chas" de borla?
Eu sinceramente acho que as coisas podem não estar perfeitas, mas que estão melhores, isso estão.
Esta palhaçada dos cartazes difamadores e falsas noticias na internet parece-me até divertido. Mas não acho que vá afectar o resultado final significativamente.
O meu filho só deixou de estragar os brinquedos para aí a partir do vigésimo.
ResponderEliminarainda existe autocarros para levar o pessoal ao lugar de voto.
ResponderEliminarSurreal?
ResponderEliminarPensei que a palavra em Portugues fosse surrealista!
Surrealista? Não, não se está aqui a falar de pintura ou de outros movimentos artísticos. Antes de dar opiniões destas, consulte um bom dicionário.
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