domingo, 19 de julho de 2009

Multa não? Porquê?


Durante as minhas leituras de fim-de-semana deparei com um artigo de opinião num jornal local assinado por um senhor muito dono do seu nariz e que a certo ponto diz que "não lembra ao diabo pedir a quem anda a remexer no lixo (...) que pague uma multa de 600 patacas". E pergunto eu: porque não? Quer dizer, já não faltava que existam pessoas que muitas vezes passam ao lado da lei por serem ricos ou importantes, como ainda se devia extender o incumprimento a outros sectores da sociedade? E sim, muitas vezes quem anda a remexer no lixo não tem necessidade de o fazer. Macau é uma cidade pequena onde existem mil e uma instituições de caridade que providenciam pelo menos um prato de sopa, cama e roupa lavada a pessoas que se encontrem numa situação tão desesperada que "precisam" de remexer as latas do lixo, atirando o que não interessa para o passeio, que é público, e acima de tudo poluindo o ambiente. Não interessa o valor da multa, se são 100, 200 ou 600 patacas, mas uma vez multados nessa quantia que, coitadinhos, lhes faz tanta falta, pensavam duas vezes antes de repetir a gracinha. Já sei que esta opinião não é "popular", e que provavelmente os leitores que nunca se imaginaram a remexer numa lata do lixo à procura do próprio sustento vão achar "revoltante", mas a verdade é que não há mesmo necessidade nenhuma. O que acontece na maioria dos casos é que algumas pessoas que tiveram uma vida difícil não se importam de remexer no lixo alheio à procura de algo que lhes interessa e que os outros atiraram fora. Para nós, cidadãos educados e civilizados, arrepia-nos a ideia, o cheiro nauseabundo, a ideia de meter as mãos sabe-se lá em que tipo de porcarias, arriscando-se a ser mordido pelos ratos. Se em alguns casos é a doença do foro psiquiátrico que leva alguns cidadãos a fazer isto - e mesmo nesses casos podem procurar apoio - noutros casos é apenas um passatempo. E quanto a isto da multa, se a lei existe, é para ser cumprida. É engraçado como para umas coisas se apela ao cumprimento rigoroso da lei, e noutros "deixa-se passar", com a justificação de algum tipo de humanismo bacoco. Já agora fazia sentido perdoar os cidadãos que cospem no chão, limpam as fossas nasais no meio da rua sem o mínimo de respeito por quem passa a poucos centímetros, pois afinal é "cultura". Em Singapura a multa por deitar qualquer tipo de lixo para o chão é de 500 dólares SGP - perto de 3000 patacas. E não é que resulta? Enquanto não se impôr o civismo, a bem ou a mal, Macau vai continuar a ser isto.

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