Em defesa da prostituição

Deu-me um imenso prazer ler a reportagem da jornalista Alexandra Lages na edição de hoje do Hoje Macau. Nga Nga Shan tem 24 anos e coordenadora da Associação Zi Teng, sediada em Hong Kong. A Zi Teng tem trabalhado com prostitutas de Hong Kong desde 1996, e em Macau desde 2005, dando-lhes aconselhamento. Shan debruça-se sobre temas bastante interessantes e que nos passam muitas vezes ao lado. Existem em Macau centenas de prostitutas, é difícil projectar um número exacto, e são pessoas que têm uma vida e uma profissão difícil, sujeitas a todos os tipos de perigos.

Shan fala com alguma naturalidade dos podres do mundo da prostituição; de como as prostitutas são muitas vezes agredidas, enganadas e tratadas como cidadãos de segunda pela sociedade e pelas próprias autoridades policiais, que têm (ou deviam ter) a obrigação de zelar pela segurança de todos os cidadãos. A Zi Teng não é apenas o aconselhamento ou uma palavra amiga. São a única espécie de apoio que as prostitutas têm. A certa altura da entrevista Shan diz que os vizinhos deixam fezes à porta da casa das prostitutas, ou colocam-lhes papéis com frases ofensivas na parede.

Macau é uma cidade que depende do jogo e dos casinos. É hipocrisia e até mesmo burrice pensar que uma cidade como esta a prostituição pode ser "combatida" como se fosse o seu maior cancro. O ideal era assumir de uma vez por todas a existência deste tipo de negócio e não permitir que coexista com a restante criminalidade, para onde é quase sempre empurrado. Para mim a prostituição não se resume apenas às saunas, aos bordéis ou às ruas. Prostituição é obter bens materiais ou benefícios em troca de favores sexuais. Penso que a prostituição está muito mais vincada na nossa sociedade do que pensamos, e que convivemos com ela mais vezes do que é dado a entender.

O que me deixou bastante triste foram as afirmações de hoje da deputada Angela Leong na Assembleia Legislativa. A deputada eleita pela Sociedade de Jogos de Macau, quarta (?) mulher do magnata do jogo Stanley Ho, defende que a prostituição "devia ser criminalizada". Não sei em que cidade a sra. deputada vive, ou se pensa que o passatempo preferido da sociedade resume-se a chás dançantes de beneficiência e desfiles de joalheria, mas a prostituição é uma profissão que, apesar de triste, é aceite como mais ou menos comum numa sociedade normal. Deve ser um mundo muito cor-de-rosa, onde a sra. deputada vive.

Leia aqui a reportagem do Hoje Macau.