sexta-feira, 24 de abril de 2009
Os blogues dos outros
Ao que tudo indica Chui Sai On avança candidatura para a chefia do executivo de Macau. O jornal católico O Clarim põe-no em grandes parangonas na capa de hoje. Não é crível que o arrisque quando não haja base de sustentação. Chui Sain On é um nome de continuidade da equipa que dirije Macau, desde o fim da administração. É consensual, dialogante, bem quisto entre os tradicionais, a comunidade macaense e mesmo Portugal vê-lo com interesse. Se assim for o essencial da negociação política centrar-se-á nas segundas linhas. A China quererá ver a nova geração da "distrital" de Macau do Partido Comunista Chinês avançar para a linha da frente e rodear o chefe do executivo. Lee Peng Hong é uma escolha acertada para Secretário para a Economia. Conhecia-o há mais de 20 quando foi sugerido a Vitor Rodrigues Pessoa - meu chefe de então - para o recém-criado IPIM. É um jovem "turco" com garra e carisma. Mas há muito mais na penumbra dos gabinetes. Macau inicia a nova fase do ciclo pós-transição e isso é frutuoso para o caldo de culturas, nacionalidades e raças, que Macau sempre foi. Haverá sempre quem não goste da solução. Há quem aponte a ligação excessiva de Chui Sai On às famílias tradicionais e aos interesses empresariais locais. Terá que saber precaver-se. Sobretudo as ligações mais evidentes. Há um factor aditado ao"Macau governado pelas suas gentes". A chegada de quadros do Partido Comunista Chinês a lugares de destaque e responsabilidade. Afinal o que nós (administração portuguesa) previmos há 12 anos. Até porque sabíamos onde estavam. Houve talvez a falta de visão de não se ter começado a prepará-los mais cedo. Mas nisso há uma peça chamada Jorge Rangel. E até por isso o Nuno Lima Bastos tem razão no que escrevia esta semana no JTM.
Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho
Um sujeito estudou lado a lado com os seus colegas. Chegada a hora, os seus colegas foram promovidos, mas ele não, ele foi encarcerado. Agora, há quem queira promovê-lo. Repor a igualdade e fazer justiça, dizem alguns. Mesmo assim, ele não quer, ainda não está satisfeito. Quer a dita promoção, sim senhor, mas com efeitos retroactivos. Só assim se fará justiça, diz ele. Alega que os iguais devem ser tratados de forma igual. E vai mais longe: se não se lhe fizer a vontade, assegura que vai processar o Estado! Ou, dito por outras palavras, vai processar o povinho - só aqueles que pagam impostos, daí o sufixo "inho". Trata-se, portanto, de homem exigente. Porém, sobra-lhe em arrogância o que lhe fenece em memória: os outros, os seus colegas, nunca foram assassinos traiçoeiros! E pobre povo que tem políticos que não percebem a diferença. Ou que, percebendo-a, não lhe atribuem a devida relevância. No meu humilde entender, promover um traidor tem um nome: traição! Há uns anos era crime, agora é feitio.
VICI, MACA(U)quices
Uma das imagens de marca de Macau são os turistas chineses com os sacos beges de uma doçaria que fica ao pé das Ruínas. Confesso que ando curioso para ir espreitar o que lá vendem. Igualmente perto das Ruínas, apanhamos os vendedores de carne doce a quase nos esfregarem com ela na cara. Provei uma vez e não tenho intenção de repetir.
El Comandante, Hotel Macau
Ora agora é a vez de José Lello passar por aqui. Chega hoje. O Presidente do Conselho de Administração da Assembleia da República e Secretário Internacional do PS responsável pelas comunidades portuguesas - isto impõe respeito -, vem, segundo a imprensa local, para participar nas comemorações dos 35 anos do 25 de Abril e, não menos importante - digo eu e deve dizer o outro engenheiro - para relançar o núcleo do PS no território, que actualmente tem uns assinaláveis 25 militantes. Com 3 actos eleitorais à porta quem é que não se lembrava de relançar o núcleo, de preferência, um núcleo com uma árvore das patacas lá dentro. Eu é que não tenho vintém...
Pseudo-Livreiro, A Leste da Solum
Na noite de 24 de Abril de 1974, eu escrevi e realizei as 'Últimas Notícias' da RTP e o Raul Durão apresentou-as. Após o noticiário ficámos na conversa com a senhora da maquilhagem. Já passava da meia-noite subimos do estúdio, na Alameda das Linhas de Torres, para a redacção, fizemos uns telefonemas, arrumámos a papelada, arquivámos o conteúdo do noticiário, cuja última informação dizia "O tempo está muito instável"...Como normalmente eu e o Raul, ao deixarmos a redacção já tarde, íamos até ao bar 'Metro e Meio', na Rua 5 de Outubro, tomarmos um copo, ele perguntou-me: "Paramos no escritório?". Aproximei-me dele e disse-lhe: "Tenho um segredo para ti, só para ti. Tenho uma informação de um familiar que é capitão que esta noite isto vai dar borrasca!". Desde o dia 16 de Março que se esperava qualquer coisa. De madrugada, a RTP foi ocupada por militares do Movimento dos Capitães que levaram a efeito o Golpe de Estado do 25 de Abril.
João Severino, Pau Para Toda a Obra
O Partido Comunista Português tem uma maneira muito peculiar de reescrever os acontecimentos. Há 35 anos, segundo o PCP, a "ditadura fascista" era derrubada por um golpe militar a que se seguiu de imediato um "levantamento popular", alicerçado na "aliança povo/Movimento das Forças Armadas". Qualquer arremedo de história redunda em puro mito nesta redução dos acontecimentos à medida exacta da cartilha ideológica. Uma armadilha intelectual que parece não provocar qualquer sobressalto no PCP. Para o partido de Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa, Domingos Abrantes, Ruben de Carvalho, Vìtor Dias e Odete Santos, "a Revolução de Abril – com as seus avanços e conquistas políticas, económicas, sociais, culturais, civilizacionais - afirmou-se como o momento mais luminoso da História de Portugal". É neste tom empolgado que a descreve o último editorial do Avante! Pena o "progresso histórico", tal como os comunistas o concebem, ter parado em 1976. De então para cá, e fazendo ainda fé no órgão central do PCP, a "contra-revolução" passou a dominar tudo - desde o primeiro governo de Mário Soares até hoje. Trinta e três anos de retrocesso, em que todos os governos, sem excepção, foram "vendendo pedaços da independência e da soberania nacional, numa postura de total submissão ao imperialismo norte-americano e à sua sucursal que dá pelo nome de União Europeia". Este editorial diz tudo sobre a actual posição do PCP, que deixou de ser um partido internacionalista para ancorar nos lugares-comuns mais estafados da retórica nacionalista, à semelhança do que proclama a direita radical eurocéptica, como a Libertas, do irlandês Declan Ganley, ou a Liga das Famílias Polacas. Resta perguntar: se a União Europeia é mera "sucursal do imperalismo norte-americano", por que motivo os comunistas pretendem ser sufragados para Bruxelas no dia 7 de Junho?
Pedro Correia, Delito de Opinião
É perfeitamente aceitável que uma sociedade imponha que os seus jovens tenham um determinado grau de educação. Os jovens não são independentes, as suas vidas dependem da vontade das suas famílias e se existe um consenso quanto à importância dos estudos, então todos os jovens devem tê-los, tal como têm alimentação. No entanto, considero o alargamento do ensino obrigatório para os 18 anos extremamente incoerente. No nosso país, a partir dos 16 anos é possível trabalhar e ser responsabilizado pelos actos cometidos. Ora, o grau de responsabilização que a sociedade dá a um jovem de 16 anos é incompatível com este paternalismo que exige que esse mesmo jovem tenha de estudar. Das duas, uma: ou bem que consideramos que os jovens são irresponsáveis até aos 18 anos e ilegalizamos o trabalho abaixo desta idade e deixamos de os poder responsabilizar pelos actos cometidos, ou tomamos consciência que com 16 anos um jovem já pode, aliás deve, ter um grau de responsabilidade suficiente para que, juntamente com as famílias e a escola, possa decidir quanto à escolaridade que quer ter. Doutores à força não desenvolvem um país. No máximo dão maus primeiros-ministros.
Tiago Moreira Ramalho, Corta-Fitas
"O PS deve demonstrar que quer combater corrupção", afirmava há dias João Cravinho. Ontem, na Assembleia da República, os deputados socialistas demonstraram exactamente o contrário, ao chumbarem o projecto de lei do PSD de criminalização do enriquecimento ilícito. Voltarei a este tema para a semana para demonstrar que esta iniciativa legislativa não subverte o princípio constitucional da presunção de inocência, nem coloca em causa o estado de Direito. Pelo contrário, seria uma ajuda concreta para fortalecer esse mesmo estado de Direito, cada vez em perigo com o alastrar da desconfiança e da corrupção, cancros da Democracia.
Paulo Marcelo, O Cachimbo de Magritte
Escorraçar Durão Barroso do cargo para que foi nomeado, primeiro, por ter servido de pajem os senhores da guerra, depois, por nos ter servido Santana Lopes, seria, provavelmente, se estivesse ao nosso alcance, o último levantamento patriótico capaz de me comover. O país que se fez representar por Durão Barroso na cimeira dos Açores devia ser capaz da vergonha, a vergonha de ter eleito tamanho carreirista, ou da indignação, a indignação por ter assistido ao faustoso espectáculo em que Durão Barroso se apropriou o mandato que lhe foi investido a fim de se estrear sob os holofotes da política internacional (sim, isto também é apropriação pessoal do bem público). O apoio de Sócrates a Durão Barroso poderá nada valer nas contas finais, mas tem um incontornável peso simbólico: 1- enquanto afirmação da falta de dignidade patriótica de que se diz porta-estandarte; 2- como expressão da estreiteza de um patriotismo que se regozija com qualquer notoriedade "dos seus"; 3- como emblema do confrangedor provincianismo com que do Rato se olha para a construção europeia. Por quem responde o Vital Moreira dos cartazes?
Bruno Sena Martins, Avatares de um Desejo
Uma jovem imigrante trabalha num café supostamente cosmopolita. Um dia um dos seus colegas sente-se mal, com dores agudas. Ela pede ao patrão para chamar uma ambulância. Este recusa. Ela insiste. O patrão esbofeteia-a e nos dias seguintes adverte os colegas para não comunicarem com ela. Uma adolescente lésbica é agredida em casa quando é descoberto que tem uma namorada. Ajudada por alguém de fora da “família”, o caso é apresentado à protecção de menores. A rapariga é colocada numa instituição da Igreja, impedida de ir à escola, obrigada a ir à missa e não pode ver ninguém a não ser a… “família”. De protegida passou a sentir que está a ser punida - pela sua sexualidade. Este tipo de horror acontece todos os dias e em silêncio. Poderia escrever posts e posts sobre os relatos que me chegam (e não sou nem técnico nem dirigente associativo, apenas professor, com alun@s que sabem poder partilhar comigo), desde a mais cruel homofobia familiar, ao mal-estar que os não-nacionais sentem aqui, passando pela prepotência dos empregadores de precários. A esses relatos poderia acrescentar as histórias de técnicos e técnicas que, sendo supostos ajudar, reproduzem - nas palavras com as vítimas, ou nos actos - racismos, sexismos e homofobias vários. Técnic@s que não têm qualquer treino para a complexidade das discriminações (complexidade?). Acima e à volta deles e delas, um sistema que tudo permite, contentinho por ir fazendo passar algumas leis piedosas, mas deixando-as por aplicar. Ainda mais “à volta”, uma cultura que depois acha que nada de particularmente grave se passa aqui, tranquila e cordial pastagem da tolerância e dos bons costumes… Como sempre, o silêncio é a grande arma que mantém vivo este Portugal de conto de Dickens adaptado à pós-modernidade.
Miguel Vale de Almeida, Os Tempos que Correm
O Cardeal Patriarca de Lisboa diz que o preservativo “é um meio falível”, apoiando a leitura de Bento XVI. E tem razão, não há volta a dar-lhe. O preservativo é um meio falível. Certo, reduz em mais de 98 por cento as chances de contrair uma doença mortal, mas é falível. D. José Policarpo é um homem sensato. Simplesmente, em abono da verdade, devia também dizer que a fidelidade ou a castidade são meios ainda mais falíveis. Fico à espera.
Rui Zink, Rui Zink versos Livro
Otelo Saraiva de Carvalho admite recusar a promoção de coronel e pode processar o Estado, "Para já, estou a pensar seriamente em recusar esta promoção e os 48 mil euros. Recuso, assim não, não quero". Há gente que não tem mesmo vergonha na cara. O facto de teres feito o 25 de Abril não te iliba de toda a merda que fizeste a seguir e o caminho para o qual quiseste levar esta país. Quem acredita que ele não tinha nada a ver com as FP25 que levante o braço.
Francis, O Dono da Loja
Sem comentários:
Enviar um comentário