segunda-feira, 20 de abril de 2009
Ng em entrevista
A entrevista de Ng Kwok Cheong à edição de hoje do Ponto Final é provavelmente a primeira declaração de uma estratégia concertada às eleições para a AL em Setembro próximo. O deputado do Novo Macau Democrático falou sobretudo daquilo que mais percebe: a política local. Ng Kwok Cheong, deputado à AL há já quase duas décadas, era funcionário do Banco da China, e esteve na linha da frente dos protestos em Macau a propósito dos incidentes de 4 de Junho de 1989 na Praça Tiananmen, em Pequim. Ng não exerce oficialmente qualquer outra actividade remunerada. É reconhecido como o "líder" do sector democrata em Macau.
Ng deu a entender aquilo que há muito se espceculava: o NMD vai apresentar duas listas às eleições de Setembro, uma encabeçada por si próprio, outra pelo seu colega de bancada Au Kam San. O NMD conseguiu o maior número de votos nas eleições de 2005, mas o sistema eleitoral só lhes permitiu eleger dois deputados. Com a divisão em duas listas, existe uma forte possibilidade de elegerem 3 (2+1), ou mesmo 4 (2+2). Tudo depende do número de votos em ambas as listas. Fica por explicar como funcionará esta estratégia (por exemplo, em quem vão apelar ao voto), e ficam por saber quem são os restantes candidatos. Prevê-se que Paul Chan Wai Chi, nº 3 há quatro anos, seja agora o nº 2 de uma das listas.
Na entrevista Ng fala dos restantes candidatos. Diz que a lista da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, dos deputados Chan Meng Kam e Ung Choi Kun - segundos mais votados em 2005 - têm possibilidades de "crescer", uma vez que se vão dividir também em duas listas. Elogiou ainda o trabalho da Associação de Moradores, ou kai-fong e da Associação de Operários, ambas representadas por dois deputados cada na AL. Supondo que, segundo a análise superficial de Ng, o NMD e as listas de Fujian elegem 4 deputados, moradores e operários dois cada, ficariam completos os 12 assentos reservados ao voto popular na AL. De fora ficariam Angela Leong, Fong Chi Keong, e principalmente José Pereira Coutinho. Isto lendo apenas nas entrelinhas, e na mais superficial das análises.
O clima em Macau será escaldante nas semanas que antecedem as eleições, como já é habitual. A campanha poderá ser este ano mais intensa, com as partes a quererem reforçar a sua presença no hemiciclo, e outros novos querendo entrar. As 12 vagas existentes não dão azo a grandes exercícios de imaginação, e certezas existem poucas. A primeira será que David Chow não se recandidata, enfraquecendo qualquer hipótese da sua CODEM eleger um deputado (conseguiram apenas 6 mil votos em 2005, contra os 10 mil de 2001), e de que o NMD deverá vencer as eleições. Os novos eleitores recenseados (27 mil) terão uma palavra a dizer.
O NMD terá fortes possibilidades de eleger pelo menos 3 deputados. Eleger 4 seria não só uma grande surpresa, como uma grande vitória para o sector democrata de Macau. Chan Meng Kam é a grande incógnita. Passou dos zero aos 20 mil votos num ápice, elegeu dois deputados, e tem uma forte possibilidade de eleger um terceiro. É quase certo que os kai-fong, liderados pelo respeitadíssimo Leong Heng Teng, voltarão a eleger dois deputados, como já aconteceu nos dois actos eleitorais anteriores. Quanto aos operários, que na minha humilde opinião têm vindo a perder força, poderão ficar representados por apenas um deputado, na pior das hipóteses. Os restantes dois ou três lugares serão disputados por Angela Leong, com o apoio da SJM, e Pereira Coutinho, que conta com a "máquina" da ATFPM.
Uma das incógnitas será a da participação da comunidade portuguesa (leia-se portuguesa e macaense). Caso Coutinho concorra sozinho, existe uma ínfima possibilidade de eleger dois deputados. Caso a Macau Sempre avançe com uma candidatura, não elegerá qualquer deputado (mas diz "presente", o que tem sido valorizado por alguns elementos ligados à comunidade), e Coutinho não deverá ter problemas em entrar no hemiciclo. Podem ainda surgir outras candidaturas, e destas outras surpresas (Agnes Lam?), e os próximos dois meses serão decisivos para delinear o eventual mapa da AL para os próximos 4 anos. A grande incógnita prende-se com a intenção de voto da população de Macau. Como assaz dizer-se, "prognósticos só no fim do jogo", que é como quem diz, a 20 de Setembro.
Na entrevista Ng fala da importância do factor "corrupção eleitoral", da importância do voto e da tomada de consciência da população dessa importância, de uma eventual saída à rua no 1º de Maio, e do futuro Chefe do Executivo. Nesse ponto Ng Kwok Cheong é bastante vago. Considera que o apoio de Pequim será fundamental, e que a eventual eleição do procurador Ho Chio Meng poderá "magoar" os líderes de Macau. Uma frase de Ng Kwok Cheong deixou-me surpreendido. Quando Isabel Castro falou dos três possíveis candidatos e disse-lhe que parece ser opinião unânime de que nenhum deles é perfeito, Ng respondeu que "só Deus é perfeito". Ora aí está uma faceta do deputado do NMD que eu não conhecia. Leia aqui a antrevista completa de Ng Kwok Cheong.
Respeito a sua análise, mas para mim tanto os resultados da eleição do CE como a da AL são verdadeiros mistérios.
ResponderEliminarnao conhecia?
ResponderEliminaro ng ainda antes de ser deputado esteve ligado a sectores da igreja, isso é público.
Estes deputados "democratas" são uma caixinha de surpresas. A entrevista toda está aqui: http://pontofinalmacau.wordpress.com/2009/04/20/escolher-ho-chio-meng-podera-magoar-os-lideres-de-macau/
ResponderEliminarObrigado, anónimo.
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