segunda-feira, 30 de março de 2009

TDM de prata


Quando cheguei a Macau a TDM ainda transmitia algumas horas por dia, e apostava sobretudo na escassa produção local, séries estrangeiras antigas e alguns programas "da República" já um pouco fora de prazo. Entre a meia-noite e a hora de almoço tinhamos a mira técnica, com o som providenciado pela Rádio Macau ou pela Antena 1. Já existiam dois canais, o português e o chinês. Quando a TDM começou as suas emissões, em 1984, era um canal único.

Com o evento da RTPi na Ásia, passamos a ficar a um clique do que se fazia em Portugal. Sempre achei a RTPi um desconsolo, com enlatados para emigrantes e elementos da diáspora, com uns rasgos esporádicos de qualidade. A TDM, apesar dos ameaços, não esmoreceu. Apesar da escassez de meios, conta com profissionais de qualidade e a carolice de quem não é profissional de televisão, mas dá o corpo ao manifesto.

A informação continua a ser a grande bandeira da estação que tem as suas velhinhas instalações na Francisco Xavier Pereira. Entram pela nossa casa duas vezes por dia e trazem-nos de forma independente e concisa tudo o que aconteceu em Macau e um pouco pelo mundo. Não é culpa deles que Macau não seja sempre uma cidade excitante onde sempre se justifica o directo e a reportagem "exclusiva". É provável que seja um dos maiores canais informativos do mundo, atendendo à exiguidade do território.

Gosto especialmente do TDM Desporto, apresentado há mais de duas décadas (uma espécie de recorde) pelo inevitável Vítor Rebelo, que é amigo de toda a gente. É sem querer um dos melhores programas humorísticos que já vi, tratando com seriedade as incidências às vezes hilariantes do desporto que se faz por cá. Quase toda a gente que deu um pontapé, um murro ou uma stickada na bola já passou pelo programa. É um luxo ter um programa desportivo feito de Macau, por gente de Macau e para Macau.

A restante produção local consegue ter muita qualidade atendendo a que se pauta quase sempre pelas "boas intenções". Assim de cor lembro-me da "Sopa de fitas", "Montra do Lilau", ou mais recentemente "Música em movimento", apresentado pelo Jorge Vale, um dos jovens valores da rádio que dá uma "mãozinha" na TV. A TDM, com as limitações que se lhe conhecem, traz-nos cinema e séries portuguesas e internacionais, tudo devidamente legendado e sem censura. Roei-vos de inveja, puristas de Hong Kong.

As críticas que se fazem às transmissões em directo dos jogos de futebol podem ser legítimas, mas são também injustas. Primeiro tendes jogos de graça para ver, e segundo estes comentadores podiam muito bem ficar em casa a dormir em vez de irem para ali sozinhos, às vezes a altas horas da madrugada, a relatar as incidências do esférico rolando pela relva na Liga dos Campeões ou do campeonato italiano. E é preciso não esquecer que não são profissionais pagos a peso de ouro como os da RTP, SIC ou Sport TV, que também dizem o seu quinhão de asneiras.

A TDM é um dos nossos maiores patrimónios, que muitas vezes não sabemos dar valor. É a TV de Macau. Vive com dificuldades, não nos oferece mares de publicidade de dez em dez minutos como as suas irmãs mais velhas e mais ricas da ATV e TVB, não oculta a verdade, dá lugar à diversidade de opiniões. Comemora agora 25 anos, uma bonita idade. Tem a vida toda pela frente, e cabe à nossa população não a deixar morrer tão jovem. É preciso apoiá-la e acarinhá-la, pois está ainda numa idade em que pode fazer muitas asneiras. E o que seria de nós sem a nossa querida TDM?

8 comentários:

  1. Em tempos foi sugerido a um responsável da estação o rcurso a publicidade para reforçar o seu financiamento (o mecenas do costume parece q não estava disponível). Pergunta o sonso: mas publicidade a quê? E q tal a empresas de construção? Não há palavaras para descrever a reacção...

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  2. um bem haja 'a TDM mAcau

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  3. Longa vida à TDM!
    Continuo a acreditar que ainda há espaço para mais produção local e julgo ser este o melhor caminho a seguir para a TDM.

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  4. TDM = Televisao De Merda.

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  5. Quando se fala da TDM, fala-se de poucos recursos, que "faz-se o que se pode", que "é feita à dimensão do território", etc, etc. Pois bem. Já alguém pensou que a TDM é um "produto"?

    Quando digo "produto", digo também "marca". O que a TDM produz, o que mostra a Macau e à China Continental, onde exporta ocasionalmente programas em "intercâmbios" com outras regiões (vejo isto constantemente no canal chinês) é o mostrar o quão pobre a produção local é. E é pobre não por falta de meios, nem mesmo por falta de talento: falta, sim, vontade e visão de quem pode definir o rumo. Falta, por exemplo, vontade de dar voz aos mais novos, de lhes dar condições de fazer mais e melhor. Quem são esses mais novos? Os que este ano, e nos anos anteriores, participaram no Festivcal Internacional de Cinema de Macau, por exemplo. Ou até mesmo aqueles produtores, espalhados por aí, que vivem à custa do ocasional anuncio Governamental ou da cobertura de eventos, que dariam pulos de alegria se apostassem neles para desenvolver conteúdos de ficção ou de entretenimento para a Televisão (como fazem a RTP e a maioria dos canais por esse mundo fora).

    Actualmente, mais e mais se é possivel produzir com recursos mínimos- voltemos aos Festival Internacional de Cinema de Macau, que, pelo que vi nos anos anteriores, apresenta produções de grande criatividade e interesse. Qualquer uma das produções Locais seleccionadas, tendo em conta o que a TDM produz na àrea do entretenimento, seria uma mais valia para a programação dos Canais. Porém, convém não confundir ficção com informação. Existe um erro comum, o de se confundir produção de entretenimento, com produção de informação. A TDM produz excelente informação, tendo nos seus quadros excelentes profissionais na área. Mas, atenção, um Jornalista não é um "entertainer" em si, um criador de programas de entretenimento, ou de conteudos para além de informação. Não é a sua formação, o seu "know how"- Analize-se a estrutura dos Canais de teleivsão por este mundo fora. Existe uma diferenciação evidente entre a Direcção da programação e da Informação. Pode-o ser, mas a sua competência e formação para tal é equivalente a qualquer criativo, designer, arquitecto, engenheiro, etc.

    Todos somos juizes dos conteudos de uma televisão. Todos sabemos "ver" um programa, e gostar dele, ou não. Mas nem todos o sabemos fazer. A TDM vive de uma velha guarda que faz entretenimento seguindo uma escola completamente ultrapassada. Olhando para os canais de Guangdong, de Zuhai, até, podemos ver o quão para tráz a TDM está em termos de produção própria. Sim, provavelmente têm melhor equipamento, mas o que os outros fazem melhor é na concepção dos programas, não na qualidade da imagem, em si. Realizadores como Lars Von Trier, Steven Sodeberg (perdoem-me o erro na escrita do nome do homem) ganharam prémios internacionais a filmar com cameras Mini-DV, equipamentos de poucas dezenas de milhares de patacas. Sou fã de um canal que hoje existe pelo nome de RTP N. Esse Canal sucedeu o antigo "NTV", o Canal do "norte" de Portugal. Esse canal não tinha recursos, mas imperava pela criatividade: Constituido principalmente por malta "jovem" na área do entretenimento, o Canal apresentava Programas como a "Liga dos Últimos", sobre o futebol amador, e que actualmente faz furor em Portugal, ou o Discurso Directo, cujo programa consistia em uma hora de programa onde qualquer pessoa, em determinada localização da cidade do Porto, tinha a oportunidade de fazer o que quizesse em frente à camara estática lá colocada, dando lugar a momentos hilariantes. E até mesmo o genial programa, que não me recordo do nome, dos Taxis, em que o responsavel do programa fazia uma viagem de X a Y, e punha o taxista a falar durante o percurso. Estes são alguns exemplos de programas sem orçamento (uma camera, um operador, um apresentador), mas de grande criatividade e bem apelativos. Macau, a TDM deveria seguir esse exemplo: aceitar propostas de malta jovem com ideias, dando-lhes um pequeno orçamento para os poder concretizar, ou mesmo criar um intercâmbio com as universidades locais onde se ensina audiovisual, e não pensar sempre e apenas nas mega produções, como os Shows "incriveis" do forum para o Canal Chinês- não digo que não se deva fazer isso, atenção!- ou na cobertura dos grande Prémios e Jogos de X ou Y. É preciso dar espaço a que se façam coisas, a que se aprenda com as novas produções, e que se desenvolva toda uma engrenhagem que permita o desenvolvimento de novos, e cada vez melhores, conteudos: os nossos criativos não são inferiores aos de fora. É preciso lhes dar oportunidades!

    Voltando em específico ao Canal Português, devemos reflectir seriamente o que se pretende dele. Porquê? Porque o que ele actualmente é, é o reflexo do dinamismo da nossa comunidade. É um Canal sem objectivos, que procura "cumprir" com o dever de informar (que o faz bem, e nada mais. Não tem visão, não tem ambição, existe, apenas, porque "sim". É, por outras palavras, um canal ligado "à máquina", que não fará falta quando o decidirem "desligar". Macau carrega constantemente a bandeira de Região da China para a ligação para com os países da Lusofonia. Pois bem: um passo fundamental, é, sem dúvida, apostar na produção de programação e conteúdos em Português que sirvam para esse proposito, que aproxime a China da Lusofonia. E que outroCanal, com mais legitimidade, que a TDM, o único Canal em Portugês sediado na China? A TDM Portuguesa é um canal Lusofono na China com história, com tradição e contactos. Tem toda a legitimidade de ser um dos principais polos de produção de conteudos sobre a China e Macau para o mundo Lusofono, em Português. Esta é a perspectiva que se deve tomar, se se realmente pretende que Macau seja a tal "plataforma". Muitos dos que trabalham hoje na TDM já cá não estarão em 2050, quando acaba o "pacto" de 50 anos de estatus quo. Espero que esse não seja um motivo para o "desprendimento" para com as responsabilidades de definir o rumo de uma das mais importantes peças de comunicação entre a China e os paises lusofonos, e, numa perspectiva mais sentimental, num dos mais valiosos elementos de preservação da cultura local e das suas mais diversas manifestações.

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  6. Televisão De Merda são os teus cornos ó Anónimo das 22.44!

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  7. Ao anónimo da 11:57,

    O pior cego é o que não quer ver.

    Malta pequenina...

    Cumprimentos

    O anónimo das 22:44

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  8. Deixa-me de certa forma orgulhoso que alguém se lembre do «Sopa de fitas». Era eu o autor, realizador, editor, voz off e jornalista deste programa televisivo da TDM. Acreditem, é mesmo verdade: Era um autêntico multifunções.

    A TDM foi a minha casa durante oito anos e foi lá que aprendi a maior parte do que sei hoje, foi uma escola para a vida e onde conheci alguns dos melhores profissionais da área. Todos eles teriam lugar em qualquer televisão em Portugal. Eu cheguei à TDM com 17 anos e regressei a Portugal com 24. Comecei como assistente de realização, passei a realizador e depois de ter feito voz off para a estação fui convidado a fazer um programa de cinema na rádio - "AO SOM DA FITA". Depois veio o "SOPA DE FITAS", na TV, tudo isto enquanto continuava a realizar telejornais.

    Recordo também os relatos de futebol que fazia das transmissões directas da Premier League e Liga italiana, das reportagens que elaborei para o Telejornal...enfim, pouco me faltou fazer na TDM, que está no meu coração para sempre.

    A quem conheceu aquela realidade não é preciso dizer muito, mas para quem não conhece ou foi um mero espectador é importante frisar que apesar de os meios à disposição não serem tão bons como os de uma RTP, SIC ou TVI (muito longe disso), fizeram-se grandes trabalhos ali, autênticos milagres por vezes e orgulho-me de ter feito parte da história desta estação.

    Um abraço a todos.

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