terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Salvem a Livraria Portuguesa


A Casa de Portugal de Macau lançou ontem uma petição online com vista a sensibilizar o Governo Português quanto às intenções da Fundação Oriente de alienar as instalações da Livraria Portuguesa de Macau. A petição é dirigida à Presidência da República, ao Primeiro Ministro, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao Ministério da Cultura e aos grupo partidários representados na Assembleia da República. A petição foi notícia na imprensa portuguesa, e consta do seguinte:

Pretende o IPOR, instituição detida em 51% pelo Estado Português através do Instituto Camões, vender a fracção autónoma constituída por cave, loja e sobreloja, sita numa das ruas mais centrais e de maior movimento da cidade, na continuação do Largo do Senado, que adquiriu à Administração Portuguesa de Macau pela irrisória quantia de cerca de 900,000.00 patacas para nela instalar a Livraria Portuguesa bem como uma Galeria que ao longo dos anos foi utilizada para exposições, conferências, colóquios, apresentações de livros, etc.

A venda preconizada e defendida pela Fundação Oriente permite uma receita de uns cinquenta e tal milhões de patacas, mas priva a comunidade de língua portuguesa, e não somente os portugueses, de um espaço essencial, único, cuja propriedade ainda é de uma instituição portuguesa e, maioritariamente, do Estado Português.

Em troca, o IPOR pretende entregar, novamente sem concurso, a exploração da Livraria a outro particular, instalando-a, eventualmente, num prédio estreito sem condições nem dignidade e distribuída por quatro andares sem elevador, numa zona menor da cidade, e servindo-se disso para argumentar que não está em causa a continuidade da Livraria Portuguesa. O que não é verdade!

Há ainda a considerar que ao deixar de dispor de instalações próprias para passar a operar em instalações arrendadas, fica assim sujeita à incerteza das flutuações do mercado imobiliário, nomeadamente ao aumento de rendas e eventual cessão do contrato.

As entidades que tinham a seu cargo a dinamização da presença cultural portuguesa - o IPOR e a Fundação Oriente - foram deixando de promover quaisquer actividades em Macau, justificando tal com dificuldades de índole financeira.

A Casa de Portugal em Macau, que tem vindo a desdobrar-se em iniciativas que vão desde a organização de exposições, debates, ciclos de cinema, abertura de oficinas para o ensino de artes, informática, audiovisual, etc, procurando preencher o vazio deixado por essas instituições e manter a presença da nossa cultura, parte indissociável da identidade de Macau que a República Popular da China tem mostrado prezar, não pode assistir sem uma profunda revolta a esta visão redutora e economicista das entidades que mais obrigação tinham de zelar pela nossa cultura e pela nossa língua.

Assim, apelamos a todos os amigos de Macau, da Cultura e da Língua Portuguesa que juntem a sua à nossa voz, para que um protesto sonoro chegue a Lisboa a tempo de travar este atentado à presença e cultura lusófona em Macau!


A petição conta já com mais de 700 assinaturas, e você pode assinar também, aqui. Vá lá, não custa nada.

18 comentários:

  1. Com essa conversa até eu assinava!

    ResponderEliminar
  2. Um assunto de grande importância para a comunidade portuguesa residente em Macau e não só.
    Sempre fui um critico construtivo contra a IPOR, que ao longos de tantos anos, pouco ou nada fizeram de revelo em prol dos portugueses em Macau.
    Já postei a minha assinatura e seria de louvar quer todos os leitores deste maravilhoso blog do amigo Leocardo o façam também.

    ResponderEliminar
  3. Pois, se não venderem e ficar na mesma...ganha-se muito com isso. o actual papel da livraria portuguesa tem sido maravilhoso e insubstituível. baaaa.

    ResponderEliminar
  4. Os portugueses residentes em Macau sabem bem que deixaram de ter as costas quentes e cada vez contam menos com a benevolência de padrinhos e patrões de Portugal, que perderam a vontade de apostar deste lado. Agora temos de nos desenrascar e felizmente não faltam padrinhos chineses. Se esta petição terá algum impacto, veremos. O que importa é há gente a protestar contra o patrão que virou papão! O desdém de que somos alvo e a revolta que sentimos justificam que assinemos aos milhares!

    ResponderEliminar
  5. Gostaria de começar por responder ao anónimo do "Baaaa". Respondendo ao seu sarcasmo no comentário da Livraria "ter o seu papel fundamental e insubstituivel", infelizmente, ele funciona porque ao longo da sua existência sempre houve uma grande falta de visão e de noção estratégica para a sua viabilidade e colocação no mercado. Siga-me neste raciocinio: Situada num país onde dezenas, quiçá centenas de milhares de pessoas estudam português, é absolutamente rídiculo estes mesmos estudantes não saberem da sua existência, do seu espólio e de não a tornarem um local de visita obrigatório. Aliás, e não é preciso ser-se nenhum génio para o perceber-não acha que se houvesse um intercâmbio entre a Livraria e as instituições Chinesas onde se aplica o ensino em Português, estimulando seminários, partilhas de dados, preços atractivos e locais para consultas de materiais da livraria, e ao mesmo tempo se aplicasse uma política onde o Espaço (privilegiado)onde se encontra na cidade desse lugar a seminários de interesse para tanto a comunidade Portuguesa local como a chinesa, para as Escolas Luso Chinesas locais e como complemento aos cursos onde o Português é utilizado, não estariamos certamente a falar de uma Livraria onde se falaria de Lucros? Aliás, aquele excelente espaço e localização não poderia muito bem adoptar o formato da Fnac, por exemplo? Um local de confraternização, dando a esplorar a zona do café a algum dos senhores da restauração local, criando um espaço intimo para estudantes (da escola portuguesa e mesmo das escolas chinesas) para "mergulhar" neste espaço de cultura Portuguesa?

    O que revolta na Livraria Portuguesa é que ela simboliza toda a falta de visão não só do IPOR mas de um País que é pequeno demáis para o seu espólio Cultural. Preocupado demais com as crises dos Homossexuais e com o Freeport, e a olhar para o seu umbigo... Não é de estranhar que o novo slogan turistico do país seja "Europe's West Coast". É evidente. Para as gentes de Portugal, esse país não é mais do que a costa genérica da Europa- uma praia, portanto. Portugal mais e mais revela-se como um país demasiado pequeno, inculto e ingénuo para acompanhar o mundo moderno, Global, e todo o mundo lusofono que criou.

    ResponderEliminar
  6. Por isso mesmo, caro Anónimo, o sarcasmo de Pandora, o modelo actual não corre bem para a língua portuguesa! Demasiado inerte! A seguir será concerteza necessária uma nova petição para que se possa melhorar a LP, pois como está, não está muito bem, está comigo?
    Esse sim, é o problema, não o edifício, a meu modesto ver.
    O interesse terá que ser local, de toda a comunidade daí de Macau, pois até agora ninguém se revoltou com a falta de actividade da LP, e não vai ser na "Metrópole" nem no " Grande Continente" que se vão preocupar.
    Just Pandora's vision.
    Cumprimentos!
    (possa a discussão seguir além do edifício)

    ResponderEliminar
  7. Ao Anónimo da 1:04:

    Ainda ninguém realmente se questionou se não será esse o verdadeiro papel que a Livraria Portuguesa irá ter no futuro. Um espaço com uma verdadeira livraria, um centro da cultura portuguesa, com uma galeria, um café, um espaço de leitura e outro de tertúlia e conferências. E para além disso, o mundo aberto às outras culturas.
    Ninguém pensou nisso, na verdade. Ninguém na verdade pensou que a Livraria Portuguesa pode estar a dar um passo à frente. Independentemente se é gerida por particulares, pelo estado português ou por alguma associação. Se é aqui ou ali...
    Isso não importa, o que eu quero é uma LIVRARIA!

    ResponderEliminar
  8. Aos anónimos 1:14 e 2:28.

    Daqui fala o anónimo 1:04. Estamos identificados? :)

    É evidente que o conceito da Livraria Portuguesa actual está caduco. Porém, e era isso que queria também dizer com o post inicial,mas que com o entusiasmo do momento, me esqueci de concluir o raciocínio, é que este tema não é o mesmo que aqui discutimos. A questão do espaço é igualmente importante.

    Não sei se são do conhecimento do quanto custou o edifício da Livraria. Que me lembre, nas notícias dos jornais dizia-se que seria 900 000 patacas, ou seja, praticamente dado ao IPOR. Agora, 10 anos após a transição, o IPOR vende-o por 60 Milhões. Pois bem. Imagine como o cidadão de Macau, Chines e mesmo Macaense, verá este excelente "golpe". Lá está, os Portugueses a vender o Património de Macau que lhe foi dado para fins culturais ao "Highest Bidder". Calculo que o próximo passo será a venda da residência consular ao grupo Melco para fazer lá mais uns Mocha.

    Ok, não olhemos para o grande negócio da Fundação Oriente e do IPOR, mas sim da sua localização. Não sei se repararam, mas, em termos de localização, a Livraria, actualmente, encontra-se no nosso equivalente ao "Mayfair", do Monopólio- ou seja, a zona mais cara do ponto de vista comercial, e o mais central possivel ( Milhões passam por aquela rua por mês). Qual outro local na cidade permitiria o mesmo fluxo de potenciais clientes?

    Acho curioso que queiram lavar as mãos da administração do IPOR no que concerne o estado actual da Livraria Portuguesa, colocando a culpa nas "pessoas que não querem saber". Pois não seria o IPOR, ou quem é responsavel pela gerência da Livraria Portuguesa que a deveria tornar mais apelativa? Não deveria ter o IPOR ter procurado fazer tudo aquilo que sugeriram (e bem)?

    Suponhamos que o IPOR se comprometia a comprar outro espaço (que dúvido). Alguma vez se situará num local com o mesmo fluxo de potenciais clientes?

    Como cidadão de Macau, devo dizer que sinto receio por estas iniciativas de apoio e mudança para melhor apoiadas e ministradas em conjunto com a Fundação Oriente. Não consigo evitar de pensar o pior: A Livraria é vendida, o espólio passa a um privado com o apoio do IPOR e da Fundação Oriente, que se comprometem a apoiar a nova Livraria durante, digamos, 20 anos, e, depois, fazem o mesmo que fizeram à Escola Portuguesa: tiram-lhe o tapete.

    Digo-vos isto: vende-se aquele edifício, e uma coisa, ao menos, é certa: a comunidade (e o Governo Português) perde credibilidade e será manchete nos jornais chineses pelos piores motivos.

    ResponderEliminar
  9. No fundo ninguém quer saber da LIVRARIA.
    (Mas quem lê LIVROS hoje em dia?)
    O cerne da questão é apenas a negociata e a perda de face!
    Passo a perguntar: Quando é que crescem?

    ResponderEliminar
  10. Uma informação saudável.
    Quando em Macau o número de portugueses era bem eleveda, refiro-me aos anos 60 e antes, não havia padrinhos nem fundações que vieram sacar as massas a Macau, mas havia uma livraria a POlidoro, que se situava onde hoje é a sede dos Serviços de Turismo, no Largo do Leal Senado.
    Havia o liceu, a Escola Comercial, as escolas primárias e infantis, e escolas que ministravam português quer na Ilha da Taipa quer em Coloane.
    Sempre houve livros portugueses à venda, a preços bem mais acessiveis que hoje.
    Não podemos é depender de quem só quer ter o poder, o fundador da Fundação Oriente sentou-se na cadeira e só a largará quando se for desta para melhor.
    Se lerem os estatutos da fundação poderáo ver que ela nunca cumpriu com os seus regulamentos, no concernante a Macau.
    Enfim!...

    ResponderEliminar
  11. Porque não têm uma visão futurista da Livraria? Como está não agrada a ninguém. Sim, um café, tertúlias, ponto de encontro, um sítio onde se "bebe" um pouco de cultura, com pessoas `a frente disso com quem se possa ter dois dedos de conversa, isso sim, me parece algo mais ajuizado.
    Pandora's way: to be optimistic, ou em Português, olhem prá frente, pá. Confluência de culturas, muito mais convidativo do que uma conservadora livraria. O sítio é importante, mas também o Fernando é famoso para todos, bem longe do centro e não deixa de estar cheio de visitantes, e mesmo sem aceitar cartão de crédito.

    ResponderEliminar
  12. Eu já assinei a petição, evidentemente, se bem que duvido que as nossas vozes consigam fazer alguma coisa contra gente que venderia a própria mãe, se lhe pagassem bem por ela.

    ResponderEliminar
  13. Sim, O IPOR tinha a obrigação de melhorar a LP. O caro Anónimo tem razão. Estava concedida a um privado que não fazia o melhor por ela.
    Pandora apenas aguarda que todos estes tópicos provoquem discussão entre o IPOR e todos. Porque eles estão realmente no "MUTE".
    Mandasse eu e a LP não saía do sítio, mas punha lá alguém mais competente a gerir, talvez mais receitas surgiriam.
    Palavra de Pandora.
    Boas noites.

    ResponderEliminar
  14. Eu comparo o Fernando à Livraia Portuguesa, ao primeiro vão os turistas e alguns parolos, na segunda vão os que são obrigados, estudantes,a comprar livros, e alguns leitores endinherados.
    É isso.Turtúlias, agora? ponto de encontro? l[a no Ipor tem isso bem como na Casa de Portugal, mas veja quem as frequenta.
    Em Macau sempre houve uma separaçãoo dos portugueses incriv[el e imcompreensiva.
    Quem ficou a viver em Macau sempre foi descriminado, até pelo Governo Central.
    Enfim temos aquilo que deixámos fazer, não vale a pena agora chorar lágrimas de corcodilo.

    ResponderEliminar
  15. Mas quem é a identidade privada que vai gerir a livraria, algum amiguinho?
    Não deveria ser a Casa de Portugal?

    ResponderEliminar
  16. É tudo uma questão de financiamentos, negócio.
    Não há mais valias nem para o Estado Português nem para Macau.
    O que levou a Língua Portuguesa ao Oriente já não tem o mesmo peso: religião e comércio.
    Seria preciso dar importância ao português para que o interesse reaparecesse.

    ResponderEliminar
  17. Ah, mas com o comentário que deixei não quero dizer que discordo da Livraria.
    Claro que concordo, claro que a Língua Portuguesa deve ter o lugar merecido.
    Mas a realidade é dura e difícil de vencer...
    Apoio todas iniciativas deste género.

    ResponderEliminar