sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Os blogues dos outros
Nesta história em redor da venda das actuais instalações da Livraria Portuguesa, impressiona o desprezo com que o Governo Português trata do assunto. Ao invés de procurarem estimular o sentimento lusófono por estas bandas, adoptam uma postura de “aqueles gajos que estão para lá que se entendam”. A prioridade parece ser impingir os Magalhães aos compinchas Chavez e Kadaffi. Nunca a Cultura e a Língua deveriam estar sujeitos aos meros interesses de mercado. Passe o exagero, qualquer dia o que restará da presença portuguesa em Macau serão os pseudo-pastéis de nata que aqui são vendidos.
El Comandante, Hotel Macau
Os “homemsexuais” (na velha expressão que o povo cunhou), sejam eles bichas ou gays, têm afinal a mesma opinião da Igreja Católica (“IC”) no que aos temas mais polémicos diz respeito. De facto, a IC, volvidos tantos anos a apregoar a interpretação metafórica e alegórica do Livro Sagrado, vem agora dizer, pela boca do Cardeal D. José Saraiva Martins, que há que atender à interpretação literal das Escrituras. Se a Bíblia fala de Adão e Eva (e não de Adão e Ivo), é porque os “homemssexuais” não têm espaço bíblico, são anormais e não têm nada que casar. Casamento é para os heterossexuais! Ponto. Ora, por sua vez, os tais “homemsexuais”, a par da IC, são os maiores defensores do casamento heterossexual (coisa que nem os heterossexuais defendem, pelo menos os que não são padres). É que, meus amigos, sem os casais heterossexuais a procriar em barda, falta a matéria que será o objecto da próxima luta do lobbie da "Opus Gay": a miudagem. Sem miudagem, não há cá adopção para ninguém. E, a não ser que recebam a graça divina de procriar entre si, os “homemsexuais” estão lixados! O que será uma chatice, pois até o próprio Bloco de Esquerda vai ter de inflectir e meter-se na droga. É que começam a faltar temas que interessem aos bloquistas. E essas merdas das questões económicas dão trabalho e são uma maçada.
VICI, MACA(U)quices
Lembro-me agora que na última vez que estive em Hong Kong deparei com uma manifestação da seita Falun Gong, que protestava contra as perseguições de que tem sido alvo pelas autoridades de Pequim. Ora, a bandeira da organização é uma suástica cercada por quatro ying e yang (as polaridades do equilíbrio), inscritos sobre um círculo açafrão. O laranja, que entre nós só se vende com a Fanta ou com o PSD, é a cor da pureza monacal com que os religiosos se cobrem. Como são diferentes as culturas, como é rica a diversidade humana. Por favor, quando vierem à Tailândia, não façam qualquer reparo à suástica. Se o fizerem, terão uma multidão em fúria defendendo um dos seus mais estimados e reverenciados símbolos.
Miguel Castelo Branco, Combustões
O crescimento da esquerda nas mais recentes sondagens é uma boa notícia para o PCP e o Bloco de Esquerda, que têm feito uma pertinaz oposição ao Governo de José Sócrates. Mas é também algo que poderá forçar ambos os partidos a mudar a sua natureza, deixando de ser forças que se esgotam no protesto para se assumirem como eventuais parceiros de uma coligação governamental. Na hipótese, cada vez mais provável, de o PS ficar longe da maioria absoluta nas legislativas, tanto o Bloco como os comunistas poderão ser potenciais parceiros de uma coligação com Sócrates. É para isso, aliás, que o PCP pede votos aos portugueses de eleição em eleição: para “alterar a correlação de forças políticas e levar o PS a praticar uma política de esquerda.” Palavras que seriam absurdas se não traduzissem uma vontade sólida de vir a ser governo. A alternativa seria a continuação das “políticas de direita”, de que se queixam em simultâneo comunistas e bloquistas, com uma hipotética coligação PSD-CDS ou com a reedição do “bloco central”, sob a inspiração do actual modelo alemão de “grande coligação” entre democratas-cristãos e sociais-democratas em Berlim. Assumirão PCP e BE o ónus do regresso da direita ao poder? Será para isso que um número crescente de portugueses manifesta a intenção de votar nestes dois partidos?
Pedro Correia, Delito de Opinião
Ofereço um doce especial das iguarias conventuais da minha terra, ao leitor que adivinhar qual é o director de jornal que ao ser contratado exigiu que lhe fosse antecipadamente paga a indemnização a que teria direito, caso um dia viesse a ser dispensado pela entidade patronal. Exigiu e foi aceite. Agora não vale desmaiar: foi-lhe pago 1 milhão de euros.
João Severino, Pau Para Toda a Obra
Sobretudo o ar sisudo do ser de cabeleira loura é um eloquente retrato dum país em que no Carnaval se discutem coisas sérias como a liberdade de expressão e o poder do ministério da Educação sobre os professores e nos restantes dias fazemos de conta que é Carnaval e ninguém leva a mal cursos por fax, licenciamentos à medida, denúncias de que o SIS pressiona magistrados, os negócios da CGD…
Helena F. Matos, Blasfémias
O debate, ontem, no Prós e Contras foi um belo momento político, cívico e cultural. Os que se opõem ao casamento homossexual (ou entre pessoas do mesmo sexo, satisfazendo o preciosismo jurídico) entraram vencidos e saíram derrotados. Nem de outra forma poderia ser; tanto pela profundidade e complexidade da questão, que não dominavam, como pelo ar do tempo, que os domina. As declarações finais, de Isabel Moreira e de Miguel Vale de Almeida, foram particularmente felizes e complementares, num composto de intencionalidade emocional e assertividade intelectual – e até taxativas nisso de apelarem àquele mínimo de bom senso que suporta a existência mesma de uma dada comunidade. Posto que a homossexualidade não é crime nem doença, como o século XX ocidental acabou por estabelecer, decorre que a igualdade antropológica obriga à igualdade de direitos.
Valupi, Aspirina B
A CENA É CONHECIDA, e o que se passou ontem em Torres Vedras foi apenas uma penosa variante: Está um grupo de amigos a contar anedotas, e a certa altura um deles dá nas vistas porque, ao contrário dos outros todos, permanece sisudo. O que se passará com ele? Estará doente? Já conhecerá as piadas? Nada disso; pura e simplesmente ele, privado de senso-de-humor, não as percebe. Nessa altura, um dos presentes faz o que sempre se deve evitar em circunstâncias semelhantes: desata a explicar as anedotas, perante o ar atento do infeliz que, em vão, dá o seu melhor para as entender. A situação provoca uma nova onda de gargalhadas - agora já não a propósito das anedotas, mas sim à custa da outra "anedota" que ali está a fazer a triste figura.
Carlos Medina Ribeiro, Sorumbático
Das gazetas: "Ministério Público proíbe sátira ao Magalhães no Carnaval de Torres Vedras". Fico agradado em saber que o Ministério Público zela pela segurança e pela protecção dos cidadãos, ao ponto de inspeccionar os "conteúdos" ofensivos da acção educativa do Governo, no notoriamente subversivo Carnaval de Torres Vedras. Já agora, lembro ao Ministério Público que existe um sketch dos Gato Fedorento em que se goza despudoradamente com o Magalhães, e se ouvem crianças inocentes a dizer "gaijas" e "gaijas nuas", e ainda por cima se caricatura despudoradamente o Senhor Primeiro-Ministro. É favor agirem em conformidade.
Victor Abreu, Jantar das Quartas
Que há liberdade de expressão, que se podem satirizar os políticos e as suas políticas e propostas. Já se percebeu que José Sócrates não consegue viver com a oposição parlamentar sem ser mal-educado (talvez isso seja uma constante na sua personalidade, não sei que felizmente não o conheço, de qualquer forma fica mal em televisão), sabíamos que Sócrates também não gosta de manifestações que não idolatrem a sua pessoa e até manda a polícia espantar tais ingratos manifestantes, ficamos agora a saber que até com brincadeiras de Carnaval se amofina. E a independência do Ministério Pùblico está bem e recomenda-se, claro.
Maria João Marques, Farmácia Central
Mais tropas norte-americanas para o Afeganistão significa que, mais dia menos dia, virá um pedido de ajuda de Washington para que a Europa também assuma a sua quota de responsabilidade. Aí se verá o encanto europeu para com esta nova Administração.
Carlos Manuel Castro, Palavra Aberta
O Café Aliança, um dos Cafés mais antigos do país, situado na «baixa» de Faro, foi encerrado, esta semana, por decisão judicial, na sequência de uma acção de despejo por falta de pagamento das rendas. Com mais de cem anos, o Aliança resistiu à voragem do final dos anos sessenta, como resistiram o Majestic, do Porto, o Santa Cruz, em Coimbra ou a Brasileira do Chiado, em Lisboa. Resistiu à ASDAE há dois anos quando decretou o encerramento por deficiências «técnico-funcionais», mas não resistiu à actual crise. O Café Aliança guardava a memória dos «famosos» que por lá se sentaram: Marguerite Yourcenar, na década de 60; Simone Beauvoir, nos anos 40; Fernando Pessoa, que aqui se reuniu com os futuristas algarvios. O poeta António Aleixo, ali ia vender cautelas. José Apolinário, presidente da Câmara de Faro, declarou que quer «salvaguardar o património histórico e material do Café Aliança». Mas não disse como pensa fazê-lo. É nestas situações (de litígios privados), sobretudo quando toca à defesa do património e da memória colectiva, que os poderes públicos não sabem agir e falham desastradamente.
Tomás Vasques, Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos
Os "suspeitos que não são suspeitos" do caso Fripór andam a comer o pão que o DIAP amassou.
João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária
Obrigado, caro Leocardo.
ResponderEliminar"Nesta história em redor da venda das actuais instalações da Livraria Portuguesa, impressiona o desprezo com que o Governo Português trata do assunto".
ResponderEliminarÉ verdade, impressiona. Mas, infelizmente, não surpreende. E já agora, El Comandante, escreva "governo português" assim, com minúsculas, que não merece mais.