terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
E beber? Ajuda?
Um homem embriagado causou um incêndio na noite de ontem na Praça de Ponte e Horta, em Macau. Anteontem em Hong Kong um outro homem que bebeu uns copos a mais atacou um taxista e alguns transeuntes. O ministro das finanças japonês Shōichi Nakagawa demitiu-se depois de aparecer aparentemente inebriado numa conferência de imprensa. A culpa é do alcool? Ou de quem o bebe, ou melhor, não o sabe beber?
Não sou um grande adepto de bebidas alcoolicas, para ser franco. Tomo ocasionalmente um copo de vinho às refeições, e como sou apenas humano, aprecio uma cerveja bem geladinha no Verão com um pratinho de pipis, caracóis ou tremoços. Claro que já apanhei bebedeiras de caixão à cova, e já cheguei a fazer figuras tristes. Mas orgulho-me de pertencer ao grupo dos "bêbados alegres". Nunca me deu vontade de agredir ou chatear ninguém.
Apesar dos inúmeros malefícios que o alcool traz à saúde, beber com moderação e de vez em quando pode ser um passatempo agradável, e trazer benefícios à saúde. Os anti-oxidantes presentes na uva bebida em forma de vinho (sinceramente, quem gosta de sumo de uva?) podem reduzir em 30% o risco de doenças cardíacas no homem (na mulher, nem por isso). Mas falamos aqui de um copo de vinho, cerca de 12 cl diários. Cuidado com os excessos. A cerveja, diurética, e a sua levedura não fazem mal nenhum, contando que se beba menos de meio litro diariamente.
O alcool é responsável pela cirrose, aumenta o risco de certos tipos de cancro (colon, rectal, da mama), aumenta a produção de triglicémios causando obesidade e hipertensão. Nos diabéticos o alcool é perigosíssimo, uma vez que provoca a hipoglicose, pelo que se recomenda que nunca seja bebido de estâmago vazio. As bebidas refinadas (licores, bebidas "brancas" e os cocktails) são as piores. Um rum com coca-cola contém 240 calorias, um vodka com laranja perto de 250, um banana daiquiri 230 e uma Pina Colada quase 300 calorias! Eu pessoalmente guardo os cocktails para as férias, no resort, à beira da piscina.
Depois há os aspectos sociais do alcool. O alcoolismo é realmente um problema, e muitos alcoolicos não o sabem que são. O haloalcano (substância que provoca os efeitos inebriantes do alcool) aumenta a euforia, a sensibilidade, provoca a desidratação (as famosas "ressacas" não são mais do que isso) e oxidação. Não há nada mais degradante para o cérebro que o consumo frequente de bebidas alcoolicas. O alcool dilata as estruturas celulares que transportam cálcio para o cérebro, levando a uma actividade cerebral anormal, prejudicando a forma como as células comunicam. Daí as habituais "perdas de memória".
Quem não "aguenta" o seu alcool não deveria ser autorizado a beber. Existem os efeitos mais ligeiros e até um pouco cómicos, como o discurso arrastado, a urinação em público, os disparates que se dizem. Menos engraçados são os efeitos preversos: a confrontação física, a violência doméstica, e pior que tudo, os acidentes. O alcool é o maior responsável pela sinistralidade rodoviária e a morte nas estradas, bem como um dos maiores responsáveis por acidentes de trabalho. A um outro nível bem preocupante, influi directamente no desempenho sexual, e pode provocar impotência prematuramente.
Em Macau existe pouca informação, educação até, sobre os efeitos preversos do consumo excessivo de bebidas alcoolicas. Não existem programas de desintoxicação, e a lei que regula a venda de bebidas alcoolicas a menores é deficientemente aplicada, levando cada vez mais jovens a abusar do alcool em tenra idade. O consumo excessivo continua associado às classes mais baixas. Não é raro encontrar cidadãos inebriados a jogar mahjong em algumas partes da cidade, e o letal vinho de arroz (o tal que custa dez patacas o litro) é bastante consumido por trabalhadores da construção civil, que por falta de uma forma de ocupar o tempo livre, aliviam o cansaço e chamam o sono inebriando-se da forma mais rápida e barata possível.
Não quero aqui fazer o papel de higienista nazi que aponta para os males do tabagismo ou do alcool. Todos nós, maiores e vacinados, temos o direito de entrar num supermercado e açambarcar o estoque inteiro de Gin (prefira Saphire Bombay) ou de whisky (Glenffidich, Four Roses). Festa é festa, e dias não são dias. Eu próprio, quem me tira o ocasional champanhe (leia-se champanhe, não Raposeira) com morangos tira-me tudo. Muitas vezes não resisto a um Drambuie depois de uma farta refeição e o respectivo café (já agora uma cigarrilha de vez em quando nunca fez mal a ninguém, depende da ocasião e companhia). Mas sobretudo é preciso lembrar que a moderação é o segredo para se poder apreciar todos os frutos proibidos desta árvore da vida. E lembre-se: beber mais alcool não faz de nós mais homens.
O Saphire Bombay é bom mas o Hendrick's é o melhor de todos.
ResponderEliminarO álcool potencia aquilo que somos mas tentamos não mostrar. Se se for violento por natureza, é certo que vai haver porrada quando se bebe demais. Se, pelo contrário, se tratar de uma pessoa pacífica e sociável, essa sociabilidade vem ainda mais à superfície sem que daí advenha qualquer tipo de problema. Há, de facto, pessoas, que até dá gosto ver beber de mais porque ficam engraçadíssimas, como disse o Leocardo. Portanto, não se ponha as culpas da violência para cima do álcool, que a culpa é de alguns que o bebem. E só alguns (acidentes à parte, claro, que isso o álcool potencia em todos). O vinho é a bebida da verdade!
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