segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Tudo menos santos


A semana que passou ficou marcada por uma série de acontecimentos que mancharam o bom nome e reputação das Forças de Segurança de Macau. Primeiro o caso dos polícias "armados até aos dentes" (com armas de brinquedo...), depois o caso dos agentes detidos por corrupção na zona norte da cidade. Antes de continuar queria rememter para o excelente artigo de Alexandra Lages na edição de hoje do Hoje Macau, intitulado "Polícias abertos à corrupção", onde se faz uma análise superficial mas concisa sobre as motivações que levam ou podem levar os agentes da autoridade a pisar a ténue linha azul que tão bem defendem, e que nos separa do submundo do crime.

No que me diz respeito, não tenho qualquer razão de queixa das FSM. Estiveram sempre lá quando precisei deles, fui sempre bem tratado pelos porfissionais da segurança, e pasme-se, nunca levei uma multa de trânsito ou repreensão que fosse. Aparecem normalmente onde a sua presença é necessária, e se críticas há a esse respeito, é preciso não esquecer que não são omnipotentes nem omnipresentes. No que diz respeito à polícia de Macau, quando se compara com a restante no Sudoeste Asiático ou mesmo em Portugal, ganham aos pontos.

O trabalho de um agente da autoridade que tem a função de zelar pela segurança pública é muitas vezes mal compreendido. Claro que há dias em que não fazem absolutamente nenhum, a não ser passar horas de pé a patrulhar a cidade. Congratulo-me de não vivermos numa cidade onde fosse necessário "polícias e ladrões" passarem os dias aos tiros. Fico sinceramente feliz quando vejo um agente a fazer o seu turno. É sinal evidente que o sistema funciona, que a ordem pública está assegurada, e quiçá um dia em que consigam ler pensamentos, consigam prevenir todas as formas de crime antes que este aconteça.

Quanto à situação profissional dos polícias, aí o caso muda de figura. Um polícia, um agente da autoridade que arrisca todos os dias a vida (assim como qualquer pessoa que anda armada por motivos profissionais) e que para isso até mantém uma forma impecável (cortesia da excelente escola das FSM), e para tal recebe pouco mais de dez mil patacas, não se pode sentir feliz. Consigo pensar assim de repente em muito mais gente completamente inútil que ganha o dobro, ou mais. Os polícias são seres humanos como qualquer outro, e o facto de usarem um distintivo e uma farda azul não os tornam impermeáveis às tentações.

Um polícia também sente, também se cansa, também fica doente. Tem contas para pagar, em muitos casos tem uma família, filhos na escola, uma mulher que às vezes chateia quando ele chega à casa. Alguns agentes trabalham por turnos, com horários erráticos que muitas vezes lhe perturbam o sono. Ninguém chega a casa às quatro da manhã, janta e dorme a seguir para ir depois trabalhar às quatro da tarde de ânimo leve. Sofre pressão, sabe que pode precisar de tomar uma decisão em segundos, lida muitas vezes com os piores elementos da nossa sociedade, alguns dos quais não queremos conhecer ou reconhecer sequer que existem.

Depois estes casos de "corrupção" são o que são, e valem o que valem. O que o CCAC não parece conseguir perceber é que este "mal" está tão enraízado na nossa sociedade que parte da própria sociedade para outras ramificações. Muitos cidadãos, bem ou mal educados, ainda pensam que podem "comprar" uma saída de uma situação de ilegalidade ou infração. Duvido muito que se consiga acabar ou reduzir drasticamente a influência da cultura do "lai si", das cem patacas enfiadas no bolso da frente para que se "feche os olhos" e assim se evite pagar uma multa de montante superior. Enfim, muitas vezes é fácil apontar o dedo a quem tem o papel de autoridade porque isso nos faz sentir superiores.

A chegada dos casinos veio abrir um novo mercado para os profissionais da segurança, muitas vezes contratados somente pela experiência adquirida do que propriamente pela competência ou qualidade. É natural que um agente da autoridade se sintra frustrado sabendo que está a fazer o mesmo trabalho (ou mais) com menos contrapartidas económicas. Se quisermos mais polícias com um grau mais elevado de educação, que "saiba distinguir o bem do mal", temos que lhes acenar com um cenário convidativo, com a perspectiva de uma carreira motivadora. Entretanto vamos continuar a ser tudo menos santos. Tal como os srs. agentes.

2 comentários:

  1. Leocardo, fico contente de saber que sua experiencia com a polícia de Macau seja boa. A minha, infelizmente, nao é. Quando precisei deles nao fizeram nada (até disculparam uma vez a um gajo que batia numa mulher na rua sem ninguem fazer nada até que eu telefonei). Minha experiencia é que sao inexperientes, arrogantes e injustos. Que gostam de fazer a caça ao kwai lou e olham para outro lado quando um chinês faz qualquer coisa (cuspir, fazer inversao de marcha no meio da rua, estacionar mal, etc), para se pouparem os gritos e o escandalo do chinês - muitas vezes daquel com "dupla matricula" e, claro, intocável. Enfim, estes ultimos casos sao só mais uma consequencia do rumo que segue Macau.
    Quando uma pessoa nao pode confiar nas forças de segurança do seu territorio é melhor fazer as malas. Eu as tenho quase prontas. Já gostei mais de Macau.

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  2. Estou plenamente de acordo com o cometário do Anónimo das 0.28, talvez eu pudesse adiantar algo mais, mas por respeito o não farei aqui.

    Como todos vós sabeis eu servi nas Forças de Segurança durante 25 e como tal muita coisa vi, na maioria má, e por aqui me fico.

    Acrescentarei somente que a culpa se deve à anterior administração, os polícias de Macau sáo maioritárimanete chineses e os de Hong-Kong igualmente, mas vejam-se as diferenças.

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