sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Os blogues dos outros
A informação caiu nas redacções como que para animar as hostes da crise económica. "Portugal vai ter mais 71 super e hipers este ano". Ora aqui está um filme visto ao contrário. O realizador ainda não leu o guião. O problema não é a construção de mais 10, 40, 70 ou 100 supermercados. O que é vital para a sobrevivência de todos nós é saber se a crise que nos foi oferecida pelos exploradores do capitalismo selvagem terá alguma vez, no futuro, a possibilidade de permitir que continuem a existir alimentos para todos. Segundo os especialistas, corremos o risco de ver o planeta sem alimentos suficientes para dar de comer a toda a gente. Podem abrir os hipers que quiserem, mas seria bom certificarem-se primeiramente com segurança se não vão ficar, dentro de pouco tempo, com os estabelecimentos às moscas...
João Severino, Pau Para Toda a Obra
Uma das condições para a saída da actual crise financeira é o rápido diagnóstico da dimensão das perdas do sector bancário. Foi, assim, na Suécia onde uma reacção rápida do Estado controlando o sector permitiu uma crise forte, mas breve. O contrário aconteceu no Japão onde os bancos demoraramanos a assumir as suas perdas reais, condenando o país a uma longa recessão.Nos EUA, as notícias de risco iminente de duas dos seus maiores bancos, o Citigroup e o Bank of America, colocam a nacionalização de parte do sector bancário na ordem do dia. Contudo, a questão tem sido colocada através dacriação de um banco público, o Aggregator, que assumisse os todos os maus empréstimos da banca comercial com a contrapartida de participações no capital dos bancos privados. Nacionalizam-se os prejuízos e deixa-se aos privados a parte lucrativa remanescente. Porque não inverter a presente lógica perversa dos mercados financeiros e proceder-se à nacionalização de todo o sector, transformando os bancos em entidades de serviço público?
Nuno Teles, Ladrões de Bicicletas
Ontem à noite, num programa de televisão (não refiro qual é para não fazer propaganda), assisti, quase incrédulo, à maior tentativa de linchamento moral que me lembro de ter visto alguém fazer a um político. Partindo, ainda por cima, de um político-comentador (com perdão aos leitores pela cacofonia) que adora elaborar juízos morais sobre os outros. Estas palavras, felizmente, não ficaram sem uma resposta firme e categórica. Apesar dessa resposta, senti repulsa na minha contingente qualidade de telespectador do programa, que não volto a ver. Os linchamentos não podem ser justificados a coberto de nenhum desígnio político, seja ele qual for.
Pedro Correia, Delito de Opinião
Hoje tive grande dificuldade em ligar os nomes às coisas ao tentar informar-me sobre a luta de batidores que se trava no PSD. Se não deixa de ser pertinente perguntar o que é o PSD - um partido que nunca existiu ideologicamente, que muda em função do mercado de opiniões - mais difícil será encontrar o motivo que leva o país a perder tempo com pessoas que impunemente se apresentam como Paulos na Estrada de Damasco. Há anos, fez-se campanha promocional pelo "novo Cavaco", na iminência do 70º ou 89º congresso. Durante semanas, pontual como o quartzo, lá surgia o candidato a líder salvador, um homem redondo e aborrecido com a capacidade de expressão de um boião de iogurte, apresentado como "gestor de sucesso" - como se o facto de ser gestor o libertasse da prestação de provas. Depois, como falhou em telegenia, desapareceu e voltou aos negócios. É assim o PSD.
Miguel Castelo-Branco, Combustões
De enaltecer e louvar a reacção do PSD ao caso Freeport, envolvendo José Sócrates, não procurando daí retirar benefícios políticos: à justiça o que é da justiça, à política o que é da política. Não deve a política antecipar-se ao que a justiça não concluiu. Neste campo, aparte uma ou outra excepção que confirma a regra, a atitude do PSD tem-se pautado sempre por alguma moderação, ao contrário dos hábitos de outros partidos, nomeadamente do Partido Socialista. Para não ir mais longe, recordam-se todas as violentas e continuadas campanhas do PS para a demissão de Paulo Portas de Ministro da Defesa, no caso Moderna, toda a campanha contra Carmona Rodrigues, ou contra Fontão de Carvalho, mesmo antes de serem constituídos arguidos ou contra Santana Lopes, seja pela atribuição de casas da Câmara ou da urbanização do Parque Mayer. Quando se trata de obter benefício político, qualquer indício tem servido para o efeito. Esquecendo-se do provérbio de que ninguém pode dizer que desta água não beberei. A mesma água que friamente serviu a outros está agora a bebê-la, bem amarga, até à última gota!... Oxalá Sócrates possa brevemente ultrapassar esta difícil situação, com honra para si próprio e sem indignificar país!...
Pinho Cardão, Quarta República
Cândida Almeida conseguiu ontem utilizar meia dúzia de variações à volta do tema do suspeito e do arguido, numa tentativa de retirar José Sócrates da categoria dos suspeitos. Teriamos então “arguido”, “suspeita”, “suspeitas fundadas”, “suspeitas graves”, “fortes suspeitas”, “suspeito” e “consta do processo”. Obviamente, um “suspeito” não é necessariamente um “arguido” e “constar o processo” não implica que se é “suspeito”. Até aqui tudo bem. Mas depois podem existir “suspeitas” sobre pessoas que não são “suspeitos”, mas apenas pessoas que “constam do processo”. Depois há as “suspeitas fundadas” ou “suspeitas graves”, essas implicam que a pessoa que “consta do processo” passe a “suspeito”. O Engº Sócrates não é “suspeito”, embora “conste do processo”. Mas, por vezes, Cândida Almeida tropeçava na sua própria trama e lá dizia que há “suspeitas” contra Sócrates (não confundir com “suspeitas graves” ou “suspeitas fundadas”), apesar de ele não ser “suspeito”. Há ainda as “suspeitas inglesas”, um conceito que permite considerar que as suspeitas implícitas na carta rogatória não são “suspeitas” genuínas como aquelas que a gente tem cá na terra.
João Miranda, Blasfémias
O caso Freeport vai conhecer alguns dias de alívio, pelo que recomendo ao Sol, à TVI, ao Zé Manel e ao Pacheco que recuperem a não menos apelativa suspeita de paneleirice. Deixo aqui uma pista em forma de pergunta, inspirada na escola jornalística do Mário Crespo: existe algum DVD onde se veja Sócrates no truca-truca com o Diogo Infante? Se existe, queria pedir o favor de não mo mostrarem. Mantê-lo em segredo será um elementar acto de justiça; mas isto é apenas o meu critério, não quero ferir susceptibilidades. Aliás, se der para encontrar um outro DVD – ou mesmo VHS, que se lixe, a vizinha do 4º andar tem um leitor desses a funcionar ranhosamente, aproveito e vou lá a casa ver o filme; e ainda levo uma garrafa de ginja, é só do que ela bebe, a estouvada – com duas bifas, daquelas mesmo muito corruptas, bifas com fotos no Hi5 e cadastro na Praia da Oura, a dar à língua em zonas de protecção especial de bordas indefinidas, e pelo meio levantando a cabeça só para culpar Sócrates por não passar dum rabeta que as deixou ali abandonadas sem outro modo de ocupar o tempo, eu gostaria de pedir emprestada essa prova incriminatória por 2 ou 3 dias. Em nome da verdade nua e crua.
Valupi, Aspirina B
Em 1980, ano de eleições legislativas, era então Francisco Sá Carneiro primeiro-ministro, a Oposição resvalou para a «luta policial» (em vez da luta política). O Diário, jornal do PCP, foi o primeiro a lançar a campanha das alegadas dívidas de Francisco Sá Carneiro à banca (à mistura, envolveram a sua vida pessoal e privada ao barulho) e insistiu no tema até à exaustão. Em meados de Agosto, na RTP – não haviam mais canais e tinha acabado de estrear o colorido – Sá Carneiro defendeu-se do «combate larvar» que lhe moviam. Em Outubro, a AD obteve a segunda maioria absoluta.
Tomás Vasques, Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos
Enquanto o PSD espera obter proveitos do caso Freeport e mantém uma postura supostamente responsável, José Pacheco Pereira usa o seu blogue e o programa Quadratura do Círculo para lançar suspeitas recorrendo à manipulação dos factos. Triste papel o reservado a Pacheco Pereira, o papel sujo.
Jumento, O Jumento
Quem escreve sobre religião tem que explicar ciclicamente que criticar ideias não é atacar pessoas. Em princípio, deveria ser bem simples: dizer que «Deus» não existe, que as «aparições» de Fátima são um disparate ou que o Islão é liberticida não deveria ofender ninguém. Quem crê em «Deus» não é automaticamente um tolo, quem acredita nas «aparições» de Fátima não tem que ser um cretino, e ser islâmico não acarreta ser um fascista ou um fanático bombista. Infelizmente, muitos religiosos sentem-se pessoalmente ofendidos quando as suas ideias são criticadas. E se compreendo que a religião é importante para quem é profundamente crente, tenho dificuldade em entender que queiram resguardar da crítica o que não é mais do que ideias. Eu não me sinto ofendido quando me dizem que a democracia é um desastre, que a laicidade é opressão ou que a ciência é perigosa. Não concordo, e respondo. Porque todos erramos. Quando defendo a democracia, a laicidade ou a ciência, posso errar ou não me explicar bem. E os argumentos só melhoram quando criticados. Ou será que a religião é tão frágil que não sobrevive à crítica?
Ricardo Alves, Diário Ateísta
pó. pó de gesso, pó de talco, porte pago, pó d'arroz, pó lifónico, pó-pó, poste, popota, póstumo, poligâmico, pórompompom, pólvora, pote, pó dos livros, pós modernos, pó de ser, pós traumático, pórompompero, posta de pescada, pólicarpo, porta, pólipo, pobre, porcos e maus, pommes frites, podes crer. ainda falta limpar tanto pó. pó caralho.
João Gaspar, Last Breath
Ou nunca nunca nunca, com sotaque rousseau, que é como me sinto neste faroeste mais português do que a própria pátria, como sói acontecer em terras de emigrantes. Por exemplo, aqui há pães “tipicamente portugueses” que nunca vi em Portugal. E depois — a Internet. Eu gosto de Internet, juro. Mas o universo parece ter sido criado especialmente para a “alma americana”. A ver se explico: o sonho de podermos fazer tudo — tudo o que seja funções sociais, transacções, assuntos vários — sem ter de comunicar em pessoa com ninguém é um sonho americano por excelência. Porque este país, à excepção (digamos) de Nova Iorque, que não conta, é anti-gregário. Mind your own business. Aqui, na zona de Cape Cod (Fall River, New Bedford, Providence et alia) duas em cada três pessoas são portuguesas, ou melhor, descendentes de. Ou anda lá perto. E neva sobre o mar.
Rui Zink, Rui Zink versos livro
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