quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Diz-me onde vives


Tenho um amigo que casou e se mudou para o Cadaval. Para onde? Tive que pesquisar, parece que fica lá para Leiria. Mas para nós é como se ele tivesse deixado de existir. Quem vai viver para o Cadaval? Cadaval rima com canibal e Carnaval. O dicionário diz-nos que “cadaval” é um “local onde há ou houve cadavas, depois de queimada”. O que raio são “cadavas”? Sei o que são “cadáveres”, agora…cadavas? Cadavas são “as partes da árvore que ficam de pé, depois da queimada”. Sim senhor, as árvores morrem de pé no Cadaval.

A mesma coisa se passa com quem resolve viver na Grande Lisboa. Como é quase impensável comprar uma casa no centro da cidade, os nossos compatriotas mudam-se para localidades com nomes verdadeiramente atrozes. Por exemplo no conselho de Loures temos Fanhões, Prior Velho, Moscavide (vide a mosca), Unhos (o masculino das unhas), Sacavém, dedicado a alguns portugueses que viveram em Macau, que “sacaram e voltaram”, e o pior de todas, a Bobadela. Quando se vê uma gaja gira na discoteca, que já bebeu um ou dois whiskeys a mais, diz-se logo “olha a buba dela!”. Agora responder à questão “onde vive?” com um “na Bobadela”, isso não.

No conselho da Amadora temos as fêmeas do buraco e do Brandão: a Buraca e a Brandoa. Temos a Mina, onde os brasileiros preferem ir, e a pior de todas a Reboleira. Imaginem o que vai pela Reboleira. Tudo ali a rebolar! A própria Amadora livrou-se da sua antiga denominação que envorgonhava qualquer amadorense: a Porcalhota. Mesmo assim lembro-me de uma piada que o Herman fazia há alguns anos com a Amadora: “fica ao lado da profissional”. É boa, essa.

No conselho de Sintra, temos algumas das mais célebres cidades dormitório. Cacém e Queluz (como quem procura um isqueiro, “qué luz?”), que juntas devem ter meio milhão de habitantes. Temos Mem Martins, Terrugem, e o pique da desgraça, a Massamá. Como se traduz a Massamá? O que quer isto dizer? Que se está mal de massas? Que o pão saiu mal devido à fraca qualidade da massa? Em tagalong (Filipino) “massama” significa “más companhias”. Como se explica a um inglês ou um Americano que se vive na Massamá? “I live in the bad money” ou “I live in the bad dough”. Mau demais.

Cascais agracia-nos com uns nomes bem chiques, como Estoril ou Carcavelos, onde toda a gente gostava de morar. Depois estraga tudo com a Parede, onde pousam as moscas, e Alcabideche. Imaginem este diálogo num elevador: “o meu amigo vai subir ou Alcabideche?”. Acham ridículo? Pois a mim já me aconteceu. Ainda hoje me doem os maxilares de tanto rir desta graçola tão bem bolada.

Depois Oeiras (que faz lembrar “alheiras” e “olheiras”) tem localidades como Carnaxide, Barcarena (lembram-se da musiquinha dos Los del Rio? Oooohhhh….barcarena!), Linda-a-Velha, que se refere provavelmente a Maria de Lurdes Modesto ou Simone de Oliveira, Queijas, que não chega a ser um queijo, e a pior de todas, a Cruz Quebrada. Que diabo, quem vai viver para a Cruz Quebrada? Cruz…quebrada…no mínimo alguém gostava de ir viver para uma cruz em bom estado de conservação.

Subindo mais um pouco em direção ao meu amado Ribatejo, em Sobral de Monte Agraço (já tem um parque infantil!) temos a Sapataria, em Torres Vedras temos A-dos-Cunhados, Matacães e Ventosa, em Vila Franca de Xira (já de si um mau nome) temos a Vialonga (que nunca mais acaba) e Cachoeiras, e já na Azambuja temos o Vale do Paraíso (que nome mais convidativo) e Maçussas, um nome provavelmente de inspiração Africana. Em Alenquer há uma Meca, onde alguns muçulmanos terão ido parar por engano, uma Carnota, Triana (queriam chamar-lhe “Tirana” mas colaram mal as letras), Olhalvo, e, estão sentados? Pereiro de Palhacana! Em Arruda dos Vinhos há um Arranhó, e na Lourinhã uma Marteleira.

Eu nem devia estar a falar muito, pois afinal no meu conselho de Ourém temos lá a Gondemaria (que eu chamava “Guatemala” quando era chavalinho), Rio de Couros (onde as mulheres mentem, dizendo que são de outro lugar qualquer), Casal dos Bernardos, que são uns gajos impecáveis, e Espite, que é como os velhos dizem “Sprite”.

Na margem sul, onde muitos dos lisboetas decidiram assentar arraiais, a situação não muda muito de figura. Assim depois de ter nascido e crescido perto da capital pode orgulhar-se de escrever nos seus cartões de visita que viva na Cova da Piedade (em Almada), em Sarilhos Grandes (Montijo) ou na sua irmã Sarilhos Pequenos (Moita), na Coina (Barreiro, cuidado com a grafia), no Penteado (Palmela) ou em Fernão Ferro (no Seixal). Aliás este último devia-se casar com Mem Martins, e se tivessem uma filha ficava qualquer coisa como Rita Sofia Martins Ferro. Era bestial, não era?

5 comentários:

  1. k comentário mais parvo...

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  2. Eu tenho um amigo que reside em Macau mas que é natural do Cadaval, vila esta que conheço menos mal, pois já lá estive algumas vezes.

    Mas em Évora, minha cidade natal, existe o Palácio dos Duques de Cadaval.

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  3. Realmente, este post faz-me lembrar uma coisa que se dizia na minha terra, por sinal próxima da terra do Leocardo-àqueles que falavam num discurso muito profuso mas com pouco nexo, dizia-se que tinham fome de conversa...

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  4. Mais uma vez, isto não é uma tese de doutoramento.

    Cumprimentos.

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