segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dani dixit


Sempre fui um grande fã de Dani. O simpático cabo-verdiano que veio para Macau há já 25 anos (incrível! veio com 10 anos?) supreende não só pela excelente forma e sobriedade que exibe, bem como o facto de não ter papas na língua quando fala do tema que lhe é mais querido: o futebol. Dani alinhou pela Académica de Coimbra antes de partir para Macau integrar o ambicioso projecto de António Assumpção, o Negro Rubro, e por cá foi ficando. Tornou-se professor de Educação Física, constituíu família e é o "lider" (entre aspas, mas tenho a certeza que é o seu filho mais querido) da comunidade originária de Cabo Verde residente em Macau.

Dani é um exemplo para os jovens. Um amigo do seu amigo, um homem que se mantem numa forma impecável apesar da idade já ditar os seus trâmites. Não fuma, não bebe, faz desporto. Não há anúncios televisivos da treta que paguem um exemplo assim. Cumprimento-o sempre que o vejo na rua, tem sempre uma palavra amiga. Não é um elitista ou uma figura desse "jet-set" rasca que por aí se arrasta, tem sempre um sorriso e uma palavra amiga para todos. Não usa fato e gravata. Fato sim, mas de treino. É um homem que ama o que faz, que leva a sério a máxima "mens sana in corpore sano".

Depois de ter conquistado um sem número de títulos no futebol do território (alguém ganhou mais?) e de ter pendurado as chuteiras, Dani regressou aos relvados por graça e por amizade com a equipa da Casa do FC Porto de Macau, que disputa o campeonato de futebol da II divisão de Macau. Foi da situação do futebol do território que Dani veio esta noite falar ao programa TDM Desporto. E como pode ser frustrante falar do actual estado do desporto-rei em Macau para alguém que já o viu em melhores dias, que já conheceu pessoas com vontade de dar a volta a este estado de coisas e que acabou a pregar no deserto ou a voltar as costas para conhecer relvados mais verdes.

É o velho fado da formação, ou da falta dela. Da falta de técnicos de qualidade (os tais cuja única formação passa por assistir a jogos da Premier League inglesa), do desinteresse reinante. Não desinteresse no futebol em si, já se sabe que a população de Macau adora futebol, mas daí a perceber alguma coisa de futebol, vai uma diferença e pêras. Nos últimos dez anos ou mais, têm-se formado jovens para perpetuar a sina dessa anedota que é a selecção de Macau, que perde por 10 com as reservas da selecção de operários de Cantão (passo a hipérbole), e já nem a desculpa do amadorismo cola à parede pegajosa da desgraça.

Dani falou sobretudo de aspectos técnicos, foi frontal, disse a verdade, custe a quem custar. Às vezes a verdade dói, ou sinceridade a mais é má educação, mas é assim que as coisas são, e já era altura de alguém dar um murro na mesa e dizer "o rei vai nu" sem mais floreados de qualquer espécie. Gostei especialmente da piada "Macau ganha 1-0 ao Bangladesh e depois perde com o Banglaonze" (nem eu me lembraria desta!). Se calhar é só um erro de casting. Se Macau jogasse sempre contra Guam, Filipinas, Brunei, Samoa Americana ou Mongólia, podia ser que desse algumas alegrias aos cinco ou seis espectadores que se sentam no Estádio da Taipa. Agora contra a terceira equipa dos sub-20 do Japão, nada a fazer.

A solução era (ou ainda é, se alguém se lembrar) de formar uma selecção jovem, com jogadores de Macau que demonstrassem disponibilidade para trabalhar no duro além dos seus empregos (o futebol em Macau não dá de comer a ninguém, apesar do dinheiro que é coisa que não falta), que não tivesse medo de pôr o pé ou de levar uma bolada nos tomates. No princípio iam continuar a perder por 10 - nada a que já não estejamos habituados - mas iam progredir, iam começar a perder por menos, e iam tornar-se cada vez mais competitivos, o que não se alcança a jogar duas ou três vezes por ano, só com os "disponíveis". Sei que pouco interessa que Macau perca por dois, por cinco ou por vinte. Mas se não interessa mesmo nada, que tal pensar em fechar a loja? Não? Então vamos a eles.

6 comentários:

  1. Líder da comunidade cabo-verdiana!!! O filho mais querido. Nem pensar. Esse lugar é ocupado pelo Mário Évora. Pergunte.

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  2. Como cidadão de Macau, Macaense e alguém que teve a felicidade de poder ter jogado com o Dani (contra, no caso), devo dizer que ele merece todos os elogios aqui enviados pelo Leocardo, e muitos mais, seja ele o "lider" da comunidade Cabo Verdiana ou não (sinceramente, sempre que se lança essa dos "lideres, vem-me sempre à cabeça o Kim Jong Il).

    Dani é um cavalheiro. Uma "ave rara" (sem benfiquismos, atenção!) por entre as comunidades Lusofonas do território...

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  3. È preciso lembrar que MACAU é uma cidade,não é um país e so tem meio milhão de habitantes e o futebol é amador.Assim não há milagres.A selecção de Macau é do nível de uma equipa da 4ªdivisao ou da distrital de Portugal.

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  4. A grande responsabilidade cabe sempre ao instituto de desporto, entidade que subsidia o desporto local, as associacoes de todas as modalidades do território tem pouco dinheiro e a politica de IDM sempre foi muito pouco organizada, nao interessa só dar dinheiro interessa saber se a modalidade cresce ou nao.

    Quando vem alguém de fora a Macau o IDM subsidia com dinheiro e muito chin $$$ por sinal, só para garantir a organização do evento, não estou contra, mas deveriam subsidiar o desporto local com mais ou pelo menos com o mesmo orçamento que tem os eventos internacionais como Open de golfe, ténis de mesa, voleibol, Karting, entre outros. Deve-se preparar atletas locais para tal.

    O Instituto de desporto que orcamente cá na cidade os atletas de Macau, inclusive para se prepararem no estrangeiro, treinarem com outros atletas de qualidade, promover o desporto local e deixar esses investimentos internacionais que nem sequer a população está interessada em ver. Se estivessem nesses eventos os filhos ou netos os estádios iriam estar cheios de gente.

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  5. A quem é que o Dani se referiu quando disse no programa da TV -"treinador da FIFA" a treinar míudos e nem sequer sabe dar um pontapé na bola??
    É fácil.

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  6. Eu concordo com muita coisa, boas verdades que o dani disse.
    Eu fui treinador de futebol cá em Macau, faz já muitos anos, porém ainda não havia o Instituto de Desporto, e na parte do futebol as coisas corriam bem melhor que nos dias de hoje, havia amor à camisola, e havia boas equipas, os Militares, PSP, PMF, FLORA e outras.
    Porém tudo muda, umas para melhor outras para pior.
    A melhor sorte ao Amigo Dani agora envergando a camisola do Porto.

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