quarta-feira, 19 de novembro de 2008
A ocasião faz o burlão
Uma visita à padaria pode ser uma grande aventura. Quando tinha 13 anos saí de casa às 7 da manhã com os cem escudos com que comprava todos os dias os 10 papo-secos que se consumiam lá em casa. Estávamos em Janeiro, e o nevoeiro não deixava avistar um palmo à frente do nariz, e a rua estava deserta. Perto da padaria, que ficava a 5 minutos a pé de casa, apercebi-me que tinha perdido a nota com a imagem do Bocage, e voltei a casa para pedir outra à mãe. Tudo o que ela me disse foi "vê lá se não perdes esta". Ah, as memórias da adolescência.
Bem. Li na imprensa de Macau que uma menina, também ela adolescente, mas de 15 anos, saíu da sua casa na Av. Horta e Costa em direcção à padaria. Pelo caminho foi interceptada por um homem de aproximadamente 20 anos, que falava Mandarim. A menina, uma patriota e boa aluna, percebeu tudo o que o homem lhe dizia. Tinha vindo de Taiwan e alegava que os seus cartões de crédito "não funcionavam em Macau", e pediu-lhe que deixasse ligar para a família, que lhe mandaria dinheiro através da conta...da menina.
Isto já era razão mais que suficiente para gritar e procurar o primeiro polícia à mão de semear, mas a menina anuiu ao pedido do homem, deixou-o fazer o telefonema e de seguida passou-lhe para a mão o cartão ATM, onde vinha indicado o número da conta. Com o cartão na mão, o homem desatou a correr. Mais tarde o homem ligou-lhe para o telemóvel e pediu-lhe o código pessoal, uma vez que "a família já tinha transferido o dinheiro". Foi aqui, e só aqui, que a menina achou que havia "algo de estranho" e contou ao pai, que comunicou o incidente às autoridades.
Temos aqui portanto, o caso da menina burra e do ladrão mais burro ainda. Na semana passada na Taipa, num truque semelhante mas mais bem elaborado, outro burlão pediu seis mil patacas emprestadas a uma outra menina, promotendo que a família lhe transferiria o dinheiro para a conta mais tarde. Duas horas depois de não ter mais notícias de família nenhuma, fez queixa à polícia.
Macau pode ser a capital das burlas e muitos incidentes deste tipo são registados, mas serão os nossos cidadãos assim tão crentes e ingénuos? E como é que uma miúda de 15 anos anda com um cartão multibanco assim sem mais nem menos? Se um dia passar um cartão para os meus filhos, quero primeiro certificar-me que não caiem nestas esparrelas. Ou melhor, se estão realmente preparados para assumir essa responsabilidade. Macau sã assi...
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