quarta-feira, 5 de novembro de 2008
A lenda das duas árvores
Em tempos vivia na aldeia de Mong-Há um homem muito sábio, proprietário de algumas terras, chamado Lou Wong. Sendo um homem muito sábio, todos o procuravam e colocavam-lhe questões de todo o tipo. Perguntavam-lhe qual a melhor altura para fazer as colheitas, e Lou Wong sorria, e depois respondia. Perguntavam-lhe se os ventos traziam fortuna ou bom casamento, e Lou Wong sorria, e depois respondia. Perguntavam-lhe o melhor caminho para o Templo de Kun-Iam, e Lou Wong apontava com o dedo e respondia: “É mesmo ali, estúpido”.
Lou Wong tinha uma filha, A-Kam, a luz dos seus olhos. À medida que muitas luas passavam, A-Kam crescia a olhos vistos, o que vale por dizer que a certa altura a moçoila era já boa como o milho, roliça, rabinho empinado, na pujança dos seus vinte e tal anos. Os restantes habitantes da aldeia do Mong-Há avisavam o sábio Lou Wong para a eventualidade da A-Kam um dia levar com o tarolo e dar de frosques. Lou Wong sorria e debitava mais filosofia de taberna chinesa: “a A-Kam ainda não está preparada; ainda tem muito que aprender sobre as estações, de como cheirar o Inverno e a Primavera, de como sentir os ventos e as tempestades”.
Para Lou Wong trabalhava um rapaz chamado A-Heng. A-Heng tinha chegado lá um dia a Mong-Há, esfomeado, sujo e cheio de piolhos, vindo de alguma aldeia pobre da China. Lou Wong tratou-o quase como um filho, dando-lhe tecto, comida e roupa lavada (bem, na altura, digamos que lhe deu a roupa mais lavada que se podia arranjar…), e como forma de retribuição, A-Heng trabalhava que nem um cão. Lou Wong confiava a A-Heng as melhores terras para trabalhar, ensinava-lhe a não tirar da terra mais do que ela podia oferecer, e como resultado, as colheitas eram sempre fabulosas.
Mas A-Heng não conseguia tirar os olhos de A-Kam, e A-Kam retribuía os olhares. Os dois jovens estavam, portanto, apaixonados. O povo avisava Lou Wong, que ignorava, reafirmando que a menina “não estava preparada”. Certo dia A-Kam e A-Heng encontraram-se debaixo da ameixoeira, e o rapaz segurou as mãos finas e delicadas da menina com as suas mãos grossas, frias e hirsutas. Trocaram olhares, disseram um monte de palermices um ao outro e depois pimba, em linguagem literária, A-Heng encheu A-Kam do seu amor. Em linguagem mais simples, aconteceu entre os dois desalmado chavascal.
Passados uns tempos, o ventre de A-Kam estava redondo como uma colina na Primavera (ena!), e quando Lou Wong soube, a sua sapiência transformou-se em ira, e mandou chamar A-Heng. Chamou-lhe todos os nomes, de ingrato a traidor, e lembrou-o de como o tinha acolhido e ajudado, e que não merecia aquilo dele, etc, etc. A-Heng lembrou o patrão que ele e A-Kam “estavam apaixonados”, e que a menina levava agora no ventre o neto de Lou Wong. O velho, que tinha tanto de sábio como de besta, espumava pela boca e não queria ouvir A-Heng.
Disse-lhe que criou a filha como se fosse uma princesa, e que A-Heng, um “pedinte”, nada tinha para lhe oferecer. Como resolver o problema? Lou Wong, que tinha uma costela japonesa, rogou uma praga a A-Heng, disse-lhe que o expulsaria e que nunca mais alguém lhe ofereceria uma tigela de arroz que fosse, e que a sua morte era a única saída honrosa. Desiludido com tudo isto, A-Heng voltou a encontrar-se com A-Kam debaixo da ameixoeira.
Contou-lhe o que o pai dela lhe tinha dito, e a menina, ingénua e burra, pensou que talvez se se matassem os dois, o seu amor perduraria para sempre, lá no infinito, onde não haviam pais e patrões. E então, e apesar de não existirem ainda bandas de heavy-metal, fizeram um pacto de suicídio. E assim foi, partiram para o paraíso onde podiam à vontade (esta foi subtil…).
Lou Wong, quando soube, ficou posesso. Os seus gritos e lamentos ecoaram por Mong-Há por anos e anos. Entretanto passaram muitas Primaveras (detesto esta expressão; em Macau não há Primavera) e foram construídos mais templos, mais casas, e os habitantes de Mong-Há passaram a poder dormir descansados.
Ainda hoje perto do templo de Kun-Iam existem duas árvores no local onde A-Meng e A-Kam decidir perder a vida. Os transeuntes interrogam-se (mentira, ninguém quer saber) porque são os ramos daquela árvore entrelaçados, e tão fortes que nem o mais forte dos machados consegue cortar. São as árvores do amor dos dois jovens. Talvez um dia as Obras Públicas as cortem.
"...roliça, rabinho empinado..."?!
ResponderEliminarEntao chinesa nao era concerteza.
nao e'as obras publicas que cortam as arvores e'' o IACM e os seus capangas dos jardins e vias.
ResponderEliminarPor exemplo:
voce e'comerciante e tem uma arvore publica no passeio publico á frente do seu negocio privado, faz um requerimento pro IACM paga 15 mil patacas e eles que sao muito bem mandados vao logo la'no dia seguinte e cortam a arvore publica que incomoda o negocio privado.
e'assim que funciona aqui as instituicoes publicas, sempre a favorecerem os investimentos privados, nao sabias?! ficas a saber aqui no site do IACM
http://www.iacm.gov.mo/admin/fa_main_p.htm
vai ao jardins e zonas verdes n.22 e 24 (estes f..p..a)
"Lamentamos, mas o blogue em terrasdooriente.blogspot.com foi removido. Este endereço não é válido para blogues novos."
ResponderEliminarÉ isto que aparece quando clico no link para o blogue A Conquista da China. O Leocardo não acha que é altura de o retirar da sua lista?
Existem outros blogues "mortos" na lista. Um dia quando fizer uma limpeza, removo-os.
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