quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Grande tédio


Está aí a 55ª edição do Grande Prémio de Macau. Agora vou dizer algo controverso, e se não me explicar muitíssimo bem sei que muita gente me vai cair em cima: não gosto do Grande Prémio. Pura e simplesmente, não gosto. E porquê? Não me interessa, não me agrada, não me dá tesão.

Sei que é um evento de grande monta no calendário automobilístico internacional, sei que é um grande cartaz turístico, mas epá, não gosto, pronto. Acho bem que se realize, acho bem que exista, que aconteça, que coza e que asse, mas longe, bem longe de mim. Isto porque sinto que o incómodo que causa é maior que as vantagens que traz. O trânsito, o barulho, a poluição, enfim, era mesmo bom que hoje e amanhã fosse feriado para que o cidadão comum e desinteressado pelo evento (e há muitos) não precisasse de se sujeitar a este incómodo.

Não censuro quem gosta, ainda bem que há quem goste, quem alimente o Grande Prémio, isto da mesma forma que não gosto do jogo nem dos casinos mas congratulo-me que haja quem jogue e ajude a nossa economia. O problema é que, como trabalho no NAPE, hoje tive que levar os miúdos a pé para a escola e depois fazer o resto do caminho, também a pé. O problema é que passei a tarde toda a ouvir os “vrrrum” que não me deixavam ouvir os próprios pensamentos. Depois descobri que afinal queria amendoins.

Tenho automóvel (e já tive moto), mas não percebo nada de mecânica, e chego a demorar quase duas horas para trocar um pneu. Sou daqueles gajos que quando abre a torneira quer ver água a sair, e não me interessa de onde vem. Não sou maluquinho de automóveis e nunca gastei um avo numa revista da especialidade. Quando era puto queria muito ter um Lancia Thema, vivia obcecado com este carro. Depois ganhei juízo e hoje tenho um Toyota idiota qualquer.

Gosto de Fórmula 1, pois, de ver na TV. Nunca percebi porque há pessoas que pagam balúrdios para “ver os carros passar”, como dizia a minha avó, e com razão. Mesmo aqui em Macau é um suplício. Paga-se uma nota para acordar de madrugada, ficar horas à espera das corridas que interessam, com o sol a bater na cara, e os comes e bebes custam os olhos da cara. É um bom negócio.

Quando era miúdo, pensava que o GP de Macau era uma espécie de festa da F1 em que os pilotos, na época Prost, Arnoux, Tambay, Lauda, Piquet, etc. faziam uma corrida qualquer especial (em Portugal fala-se pouco do GP de Macau), mas afinal não. Foi uma desilusão. O que me custa a perceber é o cardápio. Existe prova de WTC, Corrida da Guia, Corrida de Turismo, Prémio SJM, Prémio disto e daquilo, afinal qual é a diferença entre tudo isto?

Depois diz-se que o GP de Macau é a antecâmara da F1. Será mesmo assim? Então porque dos 10 últimos vencedores do GP de Formula 3 apenas um foi para a F1, e agora nem sequer lá está (Sato)? E se é verdade (e deve ser, mas eu não me lembro deles cá) que todos os pilotos da F1 passaram pelo GP de Macau, porque é que o Alonso, Raikkonen, Massa, Hamilton, etc não venceram aqui, enquanto outros que venceram (Di Grassi, Premat, Lapierre, por exemplo) nunca chegaram à F1? Sim, há os patrocínios, os campeonatos, etc. Há uma explicação qualquer para tudo isto, eu sei. Mas que isto desvirtua a “verdade desportiva”, isso desvirtua.

Depois o próprio circuito, elogiado em todo o mundo, faz-me torcer o nariz. Basta que um ou dois carros fiquem atravessados na curva Melco para que a corrida fique parada meia hora. Se há algo de realmente positivo nisto tudo é o entusiasmo com que quem trabalha no Grande Prémio (alguns há muitos anos, todos os anos) vive tudo isto, e o empenho que coloca no seu trabalho, apesar do amadorismo intrínseco que isso implica. É de louvar.

Se apoio a realização do Grande Prémio de Macau? Claro que sim, tem toda a minha poia. Cai sempre bem num território onde há casinos, jogo e tudo mais. Faz lembrar Monte Carlo, só que sem o glamour, a limpeza, os príncipes ou as estrelas de cinema. Os putos ficaram felizes da vida, pois amanhã não têm escola. Desejo um excelente fim-de-semana aos aficionados do desporto automóvel. Eu cá fico a ver na televisão.

13 comentários:

  1. Ó pá, Zé, eu acho...

    Estas pérolas que se ouvem na TDM da boca daquelas avestruzes raras que só aparecem no Grande Prémio (suponho que o futebol não seja tão bem pago) já ninguém critica?

    Nem o traqueijo da menina do telejornal Inglês que não sabe que o cunho de show não se deve transportar para um relato noticioso e pergunta aos ouvintes, What about you? Se estava à espera de feedback, deveria passar o nº telefone em rodapé. Ah, claro, mas aquele bloco de 15/20 min que intitulam de TDM News ninguém vê, a não ser no zapping para ver se a novela já começou. Isso sim, vale a pena. Há apenas dois momentos altos na TDM no meu dia, a novelinha, claro está, como boa amante de histórias de cordel, e a excitação do primeiro minuto do telejornal para ver a gravata que o tal Jorge Silva traz nesse dia.

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  2. Leocardo, concordo com o que escreveu neste post. Agora quem não vai gostar é o seu "grande amigo" João Severino ("...era uma figura ímpar no GP de Macau, dando-lhe uma vida e um significado ao ponto de ainda hoje se sentir que há ali um espaço que ficou por preencher."). Que grande poia!

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  3. Concordo que João dava um significado especial ao GP de Macau, agora não percebo pq é que ficaria zangado com o simples facto de eu ter dado uma opinião. Cumprimentos.

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  4. Bela posta,

    E morar num edifício ao lado do circuito (numa das curvas) e ter que levar com treinos e corridas de motas pelas 7:30 da manhã?!?!? de lambretas? Para quê? Para quê encher o dia com corridas que não interessam a ninguém.

    Isso de encher o calendário é que chateia no grande prémio. O resto aguenta-se.

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  5. Não consigo perceber porque é que, volta e meia, há quem tenha necessidade de tratar, de forma pouco correcta, quem faz comentários na TDM. É graças ao esforço de pessoas que, em muitos casos, não são profissionais, que se vai podendo ouvir português no meio da China, no ano de 2008.
    Não me parece que aquilo que ganham pelos comentários sejam a principal razão de aceitarem os convites que lhes são endereçados.
    Considero que seria bem mais interessante tentar perceber a política de administração da TDM em relação ao canal português - e isso é algo que ultrapassa comentadores não profissionais e jornalistas que trazem até nós o que podem, nem sempre com as melhores condições técnicas para o fazerem.
    Não trabalho na TDM nem faço comentários, mas por vezes dou por mim a pensar que quem critica em tom menos sério, do ponto de vista intelectual, televisão, rádio e jornais em língua portuguesa, deveria tentar imaginar uma RAEM sem eles, em que as informações passassem apenas em cantonês.
    Em Macau, os portugueses são uns privilegiados - não há local do mundo fora de Portugal, com excepção dos países onde a língua veicular é a portuguesa, com tanta informação em português (e com a mesma qualidade) como na RAEM.

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  6. Pois eu, que já assisti ao vivo 2x, não me importava nada de estar aí outra vez.

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  7. Caro Leocardo

    Você tem a razão de milhares de residentes que em Macau não toleram o ruído das motos e carros durante quatro dias. Muita gente me dizia que as suas férias no exterior eram sempre durante o Grande Prémio. E nunca me zanguei com elas. Uma coisa é gostar de corridas, outra é concordar com corridas pelo meio das residências, algumas delas onde se encontram pessoas muito doentes ou em convaslescença. Compreendi durante anos todos esses lamentos. Posso adiantar que cheguei a propôr à Comissão Organizadora que terminasse com as corridas de motas e que o evento se restringisse a Sábado e Domingo. Contudo, se o G.P. existe e se tem os seus apaixonados por que razão não se há-de continuar a apoiar um acontecimento que traz milhões de patacas à economia de Macau?
    Abraço

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  8. Assim como o GP, há muitas outras coisas que dividem as opiniões. É por isso que num ambiente tolerante e democrático se deve respeitar o evento (nem que seja pela tradição) e "aguentar" os dois ou três dias em que se realiza. Nada tenho contra o GP, como disse, até sigo pela TV, e considero-o um evento importante no calendário turístico e desportivo de Macau, agora para falar bem temos muita gente, para apontar os senãos, poucas.

    Abraço

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  9. Se morarem em Alfama no Sto António é a mesma coisa. Fujam para não terem que aturar uma noite bebados e barulho.

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  10. Francis tem muita razão. Mónaco também ficou famoso com o seu GP e também há quem não goste do barulho. Mas há GP. Gostei de ler o Severino e a sua humildade e franqueza. Já visitei o seu blog e é o máximo.

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  11. Este último anónimo é o alter ego do João Severino. O estilo de escrita não engana, uma vez mais. Ele bem tenta disfarçar, mas há ali uns tiques de escrita que acabam por o denunciar sempre.

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  12. Caro Leocardo, a sua "posta" foi um tanto ou quanto "inclinada" e injusta quando questionou o GP enquanto ante-camara de Formula 1. Pois bem, como não vê as corridas, não sabe bem do que fala. Analisemos de forma breve a actual grelha da Formula 1:

    1- Hamilton. Não ganhou o GP de Macau? É verdade, mas ganhou a Primeira Manga, num ano em que competia com Rosberg e Piquet JR, entre outros.
    Sabe porque não ganhou? Porque se estampou contra o Rosberg. Acredite, porém, que quem manda na Formula 1 esteve cá nesse fim-de-semana procurando novos talentos, como esteve cá este ano e estará nos anos que vem.

    Mais?

    Kazuki Nakajima- 3 lugar no primeiro ano de participação. Muito bom resultado, num ano em que Kobayashi deu "Show", e teve o azar e sair em frente na curva do Lisboa. (Kobayashi é piloto de testes da Toyota F1 e corre na GP2). Esse resultado catapultou-o para piloto de testes da Williams, sendo actualmente um dos pilotos principais.

    4- Vettel. COm 17 anos (ou 16?) foi terceiro na sua primeira participação no GP de Macau.

    5- Kubrica- Eterno segundo em Macau. Corre hoje para a Sauber BMW.


    Agora, falava do Di Grassi. Pois bem, está neste momento (nestes dias?) a fazer testes para a Honda F1.

    É verdade, o dinheiro conta muito, e alguns dos vencedores do grande prémio de Macau nunca tiveram a oportunidade de correr na Formula 1. Mas o "topo" do desporto automovel não se resume à formula 1. Falava do Premat: que eu saiba, Premat é um dos campeões das 24 Horas Le Mans Series, e levou a equipa Francesa a ganhar o A1 GP.

    Aqui, caro Leocardo, não é como o Monaco, que é uma pista lenta de poucas ultrapassagens. Aqui se testa o verdadeiro talento dos pilotos em carros sem metade dos apoios electronicos da formula 1. E aqui se reunem os chefes de equipa do desporto automóvel de todo o mundo e das mais variadas modalidades, procurando encontrar um piloto talentoso e de futuro para a sua equipa. Independentemente da economia e dos muitos milhões envolvidos, no desporto motorizado ainda conta o talento. E, aqui, quem ganha, ou acaba nos três lugares cimeiros, tem de necessariamente ser talentoso.

    Agora percebo que isto não lhe tenha passado pela cabeça. Não conta apenas vencer aqui. Repare que a maior parte desses putos ganhou lá fora qualquer coisa ou acabaram os seus respectivos campeonatos em posições de topo. Aqui juntam-se campeões e vencedores de todo o mundo para disputar uma só corrida onde se confrontam para provar o seu talento. Existem gerações e corredores mais fortes que outras. No ano do Senna, estava cá o Berger e outros quantos nomes da F1 dessa geração. No ano do Schumaker, a luta até há última volta foi contra Mika Hakinnen, e encontrava-se no pelotão desse ano pilotos como Eddie Irvine...

    Longo comentário, mas achei injusta a forma como menosprezou o GP...

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  13. Fala quem sabe. Obrigado pelo seu comentário.

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