quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Trânsito duro de roer


É durante as férias escolares que me lembro como é difícil andar na rua em Macau. É depois do regresso às aulas altura de perceber como é cada vez mais complicado conduzir. O Verão foi marcado por acontecimentos de deixar a boca à banda.

Uma vez apanhei um autocarro perto de casa, com os miúdos, e desconhecendo o percurso das carreiras (não sei nem me interessa) perguntei ao motorista, no meu melhor cantonense, se aquele número "passava perto do Jardim Lou Kau". Olhou para mim como se estivesse a falar grego, e depois começou a abanar a cabeça. Não como quem diz "que não passa", mas como quem diz "desaparece daqui". Entrei na mesma, e passei o resto do caminho a insultá-lo. Se não percebeu, melhor para mim. Esta é a qualidade dos motoristas que temos; não informam, tratam os passageiros como gado, e permitem que os autocarros encham muito além da sua capacidade. Depois as concessionárias choramingam pela renovação da concessão.

É mesmo tortuoso ser peão em Macau. Cidadãos alienados que não respeitam as passadeiras, que mandam mensagens nos telemóveis enquanto andam na rua, velhos a tentar bater o recorde da marcha Praia Grande-Largo do Senado em uma hora, passeios estreitíssimos, obras por toda a parte. O calor que se faz sentir não ajuda nada (é impressão minha ou Setembro ainda é mais quente que Agosto?). Não surpreende que hajam cidadãos que queiram arriscar atravessar nos sinais vermelhos para peões do que ficar a torrar à soleira.

Depois pega-se no carro, perde-se a paciência. Ainda estou à espera do pagamento do arranjo do meu bólide daquele simpático senhor que transportava tubos de alumínio no motociclo e fez-me um risco de quase um metro na porta. Os motociclos são sem dúvida o grande problema. São aos milhares a circular diariamente pela cidade. Já repararam que não há notícias de roubos de motociclos? Devem-se ganhar - e recuperando uma expressão antiga - na farinha Amparo.

Há motociclistas de todas as raças e formas de vida: estudantes, operários, peixeiros que carregam os baldes azuis na traseira, cavalheiros que levam o cão (!), tudo. Já perdi a conta aos acidentes de motociclo a que assisti este ano, felizmente nenhum com gravidade. Perdem o controlo da viatura, fazem um zigue-zague e pimba!, bunda no chão. Levantam-se com um ar envorgonhado e sorriso como quem diz "estas merdas acontecem, pá" e seguem o seu caminho. Estacionam nos passeios, à porta dos cafés, dos serviços, dentro das lojas, nos pátios, nos fontanários, onde haja um buraquinho. É por isso que o código de estrada que tanta polémica deu o ano passado é surrealista. É como fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha.

Finalmente os carros. Todos os dias pergunto: onde tiraram estes gajos a carta? Enfiam-se à má fila, apitam ao que não devem (pessoas a sair de táxis, peões a atravessar na passadeira) mas mantêm-se estranhamente passivos a situações que requerem, passo a expressão, um pouco de "tomates" (cargas e descargas, obras). Já aprenderam a usar o cinto, mas continuam a falar o telemóvel enquanto conduzem (a velha história do "tempo é dinheiro"), e precisam de uma vez por todas de aprender a respeitar a prioridade. Reeducação é urgente. E finalmente uma dúvida a que ainda não consegui encontrar resposta: a que horas é a hora de ponta, afinal?

Saio de casa às 8 e chego sempre ao trabalho antes das 8:30, e apanho sempre pouco trânsito, mas é por volta das nove que se dá o caos. Será esta gente que sai de casa às 8:45 para chegar ao trabalho às nove? E quem já circulou na zona do NAPE depois das sete da tarde também fica a pensar a que horas são as saídas. E como vai ser depois com o metro ligeiro? Pior é impossível...

7 comentários:

  1. o metro ligeiro só vai servir para levar turistas das portas do cerco aos casinos.

    nao vai resolver coisissima nenhuma.

    ResponderEliminar
  2. mas comparados com cidades metrolpolitas isso ja nem e nada...

    ResponderEliminar
  3. e nem sequer falou nao poluicao que os carros e motociclos fazem(voce como maior parte das pessoas nao ligam muito a isso).

    solucao:
    - aumento em 500% do imposto de circulacao,(voce dira'q so'andaram os ricos, pois que seja, serao sempre menos a cicularem)
    - subsidiar a compra de bicicletas e bicicletas a motor electrico.
    - criar parques de estacionamento para bicicletas e retirar os estacionamentos para carros e motociclos (dificultando o estacionamento destes veiculos, vai quase que obrigar os cidadaos a optarem pela bicicleta onde existira' sempre estacionamento)
    - as duas companhias de autocarros se quiserem ver as suas licencas renovadas, vao ter que comprar autocarros nao poluentes, como os electricos, hidrogenio ou vapor de aguas, (tem de aprender a nao poluir)

    e ja agora alguem do mais alto da suas responsabilidades (tipo cehfe do executivo) proiba por completo a construcao de metro ligeiro (isto sim ira' matar macau e encher os bolsos a uns quantos; entretanto o gabinete do metro vai preparando tudo o processo muito caladinho pra q a populacao e os demais intervenientes da cidade nao reparem)

    ResponderEliminar
  4. Ando a pensar no mesmo, está um calor insuportável. Quando fui de férias acho que mesmo assim estava melhor.

    Os motoristas do autocarro são de facto antipáticos e pouco prestáveis. E os cidadãos que usam os mesmos não primam nada pela boa educação. Até já os vi a cortar as unhas.

    ResponderEliminar
  5. Eles cortam as unhas em todo o lado...

    ResponderEliminar
  6. Até os meus colegas de gabinete cortam as unhas. Mesmo ao meu lado!

    ResponderEliminar
  7. E mesmo cortando-as, alguns aparecem cá com cada unhaca...

    ResponderEliminar