quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O ralo do capitalismo


Nada tenho contra os judeus. Antes pelo contrário, simpatizo com a cultura, a comida e o povo de Israel em geral, ao contrário de uma grande parte do mundo, que os odeia, alguns sem saber bem porquê. Querelas de tempos idos, da idade média, em que os judeus, banqueiros da época, praticavam aquilo que se chamava “usura”, e hoje os bancos praticam mas chama-se “juros”. O tempo foi criado por Deus, e portanto mal dos pobres judeus que cobravam uma quantia extra pelo dinheiro que emprestavam. Escusado será dizer que não obrigavam ninguém a lhes pedir dinheiro emprestado.

Não acredito na tal “conspiração sionista” em dominar o mundo, mas se fosse verdade, consigo pensar assim de repente em outros grupos bem piores. Enquanto não temos um mundo mais “kosher”, penso também nos chineses, odiados também um muitas partes do mundo porque têm aquele terrível hábito (para algumas pessoas) de querer trabalhar, ganhar dinheiro, e não chatear ninguém. Em Macau verifica-se facilmente este pragmatismo e apego ao vil metal. Basta observar o que aconteceu ontem com a corrida aos bancos que queria passar a perna aos sofridos depositantes – isto em termos leigos.

A tal deputada dos kai-fong já veio dizer que o Governo “devia fiscalizar a internet e os SMS” e blá blá blá que era lá que estes rumores começavam, noticiava hoje o Ou Mun, que adora dar voz a estes radicais populistas, advogados da censura e inimigos do progresso. Quer dizer começam um dia a pintar os rumores nas paredes e lá tem o Governo de inventar umas paredes à prova de tinta. Os rumores até tinham pés e cabeça desta vez. Corria o boato de que a instituição bancária tinha uns investimentos na tal Lehman Brothers (ou irmãos Limão) e na AIG, a braços com umas falências e mais não sei quê. Isto temperado com a conjuntura internacional e pimba, toca a ir tirar de lá o dinheirinho antes que seja tarde.

E quem os pode censurar? Se repararem a maioria das senhoras que se encontravam ontem nas bichas eram domésticas, desempregadas, empresárias por conta própria, a quem não lhes falta tempo para ficar de pé quatro ou mais horas para salvar o dinheirinho que foi ganho com tanto sangue, suor e lágrimas. Em alguns casos poupanças de 20 ou 30 anos, feitas a comer o pão que o diabo amassou, pois é assim que foram educados.

Algumas destas pessoas usam as mesmas roupas anos a fio, consideram uma refeição de 50 patacas “muito cara”, nunca foram ao cinema ou tiveram férias fora de Macau (em alguns casos nunca tiveram férias, ponto), remexem o lixo se tiverem a certeza que encontram uma pataca no fundo, e só são generosos no Ano Novo Chinês, e mais por uma questão de superstição do que outra coisa qualquer – valha-lhes isso para sair da rotina da forretice. E passam estes ensinamentos em jeito de manual de sobrevivência, com cada vez menos resultados, diga-se em abono da verdade. São tão apegados ao dinheiro que se esquecem de viver.

O pior que se pode fazer a um chinês de Macau é ir-lhe ao bolso. Se lhes pedirem para se manifestarem a favor da democracia ou dos direitos humanos, dizem que não, que isso não lhes interessa. Já no outro dia um grupo de pouco mais de uma centena deles considerava fazer uma manifestação depois de ter sido enganado (por culpa própria) na compra dos tais selos comemorativos dos JO de Pequim. Penso mesmo que se um dia um maluco qualquer estilo Richard Branson desata a lançar notas de um avião, vai haver uma tragédia, tal é a avidez.

Pouco adianta que a Autoridade Monetária (que teve uma conduta exemplar neste caso, garantindo os activos das instituições bancárias do território) desminta e lhes assegura que no pasa nada. A AM é para estas pessoas uma realidade distante e burocrática, e mais ainda são as cogitações dos mercados financeiros além mar. Com o mal dos outros podem eles muito bem. Podem garantir-lhes a pé juntos que ninguém toca no seu querido dinheirinho, que eles já passaram demasiadas privações para acreditar em histórias da carochinha. Já estão vacinados.

Curiosamente a tia da minha mulher também foi passar a tarde de ontem na bicha para o Banco Luso. Perguntei-lhe se não confiava nas instituições. Ela disse que sim, claro, mas que “não lhe apetece bater com a cabeça para aprender”. E quem pode censurá-la, por não querer ver o seu dinheirinho pelo ralo do sistema capitalista abaixo?

5 comentários:

  1. Eu também consigo pensar em grupos bem piores: o Bilderberg, por exemplo, que é muito mais influente e entra-nos muito mais pelo bolso dentro do que muita gente julga.

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  2. Só cá faltava a extrema-direita anti-semitista...

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  3. Espero que o anónimo não se refira ao meu comentário. Seria de uma ignorância confrangedora.

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  4. o leocardo deve trabalhar na DSAL porque a olho nu o Leocardo consegue ver quem e desempregado e quem nao e, nao precisa de inqueritos...a fota e altamente ilucidativo de lavagem de dinheiro que nao condiz com o texto

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  5. O Leocardo vive e trabalha em Macau há 16 anos e já viu muita coisa e conheceu muita gente para conseguir estabelecer um padrão. É por isso que fala com tantas "certezas" (certezas absolutas poucos têm). A fotografia foi tirada do Google através das palavras chave "money+drain", condiz pelo menos com o título.

    Cumprimentos.

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