terça-feira, 5 de agosto de 2008
Labore et Parole
1) Andaram agitadas as águas pela Assembleia Legislativa estes dias, em que se discutiu a nova Lei Laboral, cujo nascimento tem sido um parto difícil. Dos dois lados da barricada os sectores ditos pró-laboral e pró-patronato, ou seja, os empresários que ocupam a maioria dos assentos na AL. Consciente da urgência de deixar aprovada uma Lei Laboral moderna e adaptada à realidade actual do território, que substitua a actual que tem quase 20 anos, o Chefe do Executivo reuniu-se com os deputados-empresários, alguns dos quais ele próprio escolheu, e fez saber que é imperativo que não se adie mais a aprovação deste diploma. É por isso que a Lei já foi aprovada, para desespero de alguns, e só é pena que mais uma vez se tenha assistido a todo este folclore que rodeia esta votação, que é o debate “na especialidade”. Mas estes deputados estão contra o quê, afinal? Que os trabalhadores tenham mais direitos e regalias? Mais dias de descanso? Defendem o quê? A escravatura? Depois fica tudo preso por detalhes e discussões fúteis: as gorjetas, as horas extraordinárias, as compensações. Agem mesmo como se lhes estivessem a ir directamente ao bolso. Ung Choi Kun, em mais uma intervenção “triunfal” trouxe a debate a questão das massagistas das saunas (!?), e de como “não é justo” que a entidade patronal pague horas caso as meninas (e quem disse que a profissão de massagista é exclusiva das meninas?) fiquem mais tempo “a pedido do cliente”. Ora aqui está uma questão importantíssima da qual eu nunca me tinha lembrado, e que diz respeito a uma significante fatia da população. O salário mínimo volta a ficar de fora. Era mesmo muito bom que na próxima legislatura houvesse quem quisesse deitar a mão neste estado de coisas, alguém que quisesse contribuir para o desenvolvimento sustentado e humanizado de Macau, e que o fizesse com o espírito para o qual existe a AL: servir a população e os seus interesses. Tenho esperança que sim, que será melhor. Pior é bastante difícil.
2) À margem de tudo isto o deputado Au Kam San apresentou a sua indignação pelos acontecimentos do passado dia 18 de Julho, aquando da manifestação "a favor dos direitos humanos" em que o deputado do Novo Macau Democrático participou. A manifestação não foi autorizada pelas autoridades, contou com a participação de meia dúzia e mal o organizador Lei Kin Yun, um veterano destas andanças, acendeu uma tocha, um agente da autoridade apagou-a com um extintor de incêndio (como se sabe em Macau cada polícia carrega consigo um extintor, não vá o diabo tecê-las...) e deteve Lei. Au Kam San não foi, contudo, detido. Isto da imunidade dos deputados dá para tudo, e não apenas para não ter que responder em tribunal perante acusações de corrupção eleitoral. Agora Au apresentou queixa no Ministério Público contra a PSP, e aquilo que considera abuso da autoridade, e aproveita para mandar umas farpas à China, que considera "um país aquém de merecer respeito". Chui Sai Cheong ficou tão indigando quanto anafado, e pediu a Au que retirasse a sua intervenção, o que não veio a acontecer. No meio destas cogitações entre profissionais do protesto e as autoridades (na respectiva ordem de um para cinquenta, a maior escolta policial jamais feita a qualquer cidadão do território), o povo encolhe os ombros e está-se nas tintas. Não que não queiram saber de democracia ou de direitos humanos, mas com estes artistas...
Uma aproximação simplista ao tema, mas como dizem os ingleses, "right on the money". A lei não agrada nem a gregos nem a troianos, aos primeiros porque lhes tira benefícios e aos segundos porque não concretiza por completo os seus anseios. Mas sempre é melhor que nada. E eu que pensei que não ia ser aprovada de todo.
ResponderEliminarCaro Leocardo
ResponderEliminarA manifestação não foi organizada nem tão pouco promovida pelo Novo Macau Democrático.
A manifestação foi organizada por Lei Kin Yun.
O Novo Macau Democrático não se associou ao protesto e Au Kam San participou a título individual.
Ouvidor Arriaga
Tem razão, e fez-me recuar até à imprensa daquele dia, quando já estava de férias. Obrigado pelo reparo.
ResponderEliminarA manifestação não foi organizado pelo NMD só no papel, que este Lee Kin Yon vai aparecer numa das listas dos democratas às eleições para a AL. Vale uma aposta?
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