terça-feira, 26 de agosto de 2008

Chamem a polícia


K. é uma colega da minha mulher que conhecemos há pouco tempo. Baixinha, sorriso espontâneo, com aquela graça dos seus vinte e poucos anos. Quando a conheci algo chamou-me imediatamente a atenção. K. tem uma cicatriz no pescoço, quase de orelha a orelha, que é impossível de ignorar pura e simplesmente. Perguntei-lhe o que foi aquilo, se algum acidente de trânsito. Depois de alguma hesitação respondeu-me que não, que tinha sido vítima de um roubo violento. Há mais ou menos dois anos voltava tarde a casa, na Av. Horta e Costa, e foi assaltada por um indivíduo armado de uma faca, que depois de se aperceber que K. levava consigo apenas algumas dezenas de patacas, desferiu-lhe um golpe no pescoço. Isto em Macau, onde outrora se julgava impossível tal coisa acontecer.

Abrimos os jornais e damos com notícias de roubos a roçar o surrealismo. Lemos o caso da senhora que acordou e encontrou um ladrão ao lado da cama, a roubar-lhe os valores. Outra que ouviu os ladrões a abrir a porta de ferro, que fugiram depois de se aperceberem que havia alguém em casa. Os roubos a habitações durante o dia têm sido frequentes. Bandidos ágeis e esguios sobem pelos aparelhos de ar-condicionado, chegam a passar pelas grades e entrar nas residências. Os roubos na rua, à mão armada ou por esticão, têm aumentado.

Em geral, a criminalidade aumentou mais de 11% este ano em relação ao período homólogo do ano passado. Estamos na presença de ladrões profissionais, muitos da China continental, o que torna difícil localizar o problema. As autoridades sentem-se impotentes, mais preocupadas com o tráfico de droga (uma guerra que estão a perder), a criminalidade organizada (cada vez mais insignificante) ou esses novos "males", o crime informático (qual?), ou o tráfico humano (ó mãe, porque levaram o pai?).

O cidadão, esse, sente-se cada vez mais desprotegido e inseguro. E estupefacto, porque não. Macau sempre foi um oásis de segurança (palavras do outro, lembram-se?), e a população estava apenas habituada aos carteiristas, a pequenos crimes relacionados com o jogo ou a prostituição. Nada de crimes de ponta e mola, de "a bolsa ou a vida", e muito menos invasões ao domicílio com esta frequência.

De um modo geral, considero que a polícia em Macau até faz um bom trabalho. Funciona com mais ou menos eficiência e prontidão, não é difícil encontrar um agente, e tratam sempre quem os procura com cuidado e atenção. A investigação criminal (com as excepções que todos conhecemos) funciona bem, e é levada a cabo por indivíduos competentes e inteligentes. Só que não estavam preparados para esta nova onda de crime. Saiu-lhes grande, a encomenda.

É bom que as autoridades tenham identificado e assumido o problema, e que o combatam pela raíz, ou arrisca-se a ter na Segurança o novo parente pobre, o que efectivamente ninguém está interessado em que aconteça. E a propósito, quanto aos burlões, como é? Uma boa parte da população está muito bem informada destes "truques", e de como funcionam. Custa assim tanto aos que não caem no conto do vigário denunciar estes "artistas", de modo a que não façam mais vítimas? A participação da população é também fundamental, pois Macau é de todos. E era só o que faltava, uma polícia que tudo sabe e que tudo pode...

4 comentários:

  1. Macau anda a ficar como o Ocidente: com as prioridades todas trocadas. Deve ser por causa das pressões norte-americanas e europeias, sítios onde se gosta muito de "show-off", combatemos a droga e a prostituição e o tabaco e tal, mas os assaltos são normais (ouvi um alto responsável português a dizer isto mesmo: "os assaltos no ocidente são normais"). Macau que continue a dar ouvidos a esses mentecaptos que mandam no ocidente e que não trate os assaltantes como devem ser tratados, à paulada, se preciso for, que vai ver o que lhe acontece em pouco tempo.

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  2. isto comparado com Portugal não é nada,aqui em Portugal é muito pior,basta ler os jornais portugueses online,é so assaltos e mais assaltos

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  3. Sim, mas em Portugal sempre houve um problema com a criminalidade violenta, se bem que agora mais. Macau é uma cidade e as coisas nunca estiveram pior...

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  4. Em Portugal não houve sempre um problema com a criminalidade violenta. Esse problema só veio depois do dia 25 de Abril.

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