segunda-feira, 14 de abril de 2008

Especulação pode acabar mal


A especulação imobiliária em Macau tem seguido um princípio bastante simples: “Constrói-se que eles aparecem”, publicava o Wall Street Journal na quinta-feira. O jornal norte-americano aponta como causa para a crescente especulação imobiliária no território uma oferta limitada aliada a baixas taxas de juro e a uma crescente procura sustentada pelo aumento dos rendimentos da próspera indústria do jogo que trouxe para Macau uma nova população expatriada com acentuado poder de compra e disposta a investir no imobiliário.

Mas o jornal económico alerta os investidores para levarem em conta o enquadramento geral antes de entrarem neste mercado especulativo do qual as empresas imobiliárias de Hong Kong poderão também não tirar os lucros que ambicionam.

A evolução do mercado regional é um dos sinais a ter em conta, segundo o Wall Street Journal, que refere que o mercado local pode sofrer uma queda acentuada se os muitos especuladores com interesses em Macau optarem por liquidar os seus investimentos por receio de uma depressão generalizada. Essa pressão descendente pode, por exemplo, ter origem num aumento da oferta na vizinha Zhuhai onde as habitações de qualidade estão a aumentar e o preço das propriedades é uma fracção do que se pratica actualmente em Macau.

Um eventual abrandamento económico na China é outro dos elementos de alerta, uma vez que o crescimento do território depende cada vez mais dos turistas e apostadores oriundos do continente e que a prosperidade local é dos factores que mais influenciam o mercado imobiliário.

Optimismo no sector

Apesar destas possibilidades, Marcos Chan, responsável pela prospecção nos mercados de Macau e Hong Kong da imobiliária Jones Lang LaSalle, permanece optimista. “No curto prazo assistiremos a flutuações e incertezas no mercado, mas no longo prazo é um mercado muito saudável”, refere. “Não existe excesso de oferta em Macau”, afirma Chan, acrescentando que ”o nível de juros cobrados é baixo, os rendimentos estão a aumentar, a população e a procura também. Os sinais são todos positivos”.

Nos próximos anos uma nova vaga de abertura de hotéis e casinos irá empregar cerca de 20 mil novos trabalhadores, refere Johnny Lai, director-geral adjunto em Macau da imobiliária Colliers International. A Jones Lang LaSalle estima que o número ascenda a 60 mil. Apesar da disparidade nas projecções, uma coisa é certa, a oferta de trabalho irá fazer aumentar procura de habitação e inflacionar os preços das propriedades.

Segundo Chan, o preço das habitações mais caras aumentou 29 por cento em 2007 e a rendas sofreram um acréscimo de 5 por cento apenas nos primeiros dois meses de 2008.

Mas tais aumentos podem revelar-se prematuros, apesar de positivos para os promotores imobiliários. O preço das habitações pode ser afectado por uma vaga de oferta ao longo de 2009 e 2010. Segundo a Jones Lang LaSallle, em 2009 serão concluídas 5704 habitações em Macau, mais do dobro das 2710 de 2008.

Para George Choi, analista do mercado de Macau para a Citi Investment Research de Hong Kong, as acções das empresas imobiliárias que investem em habitações de luxo devem ser evitadas. “Mesmo que ocorra uma nova vaga migratória em Macau, poucos dos novos residentes serão os grandes investidores com que os empreiteiros estão a contar”, refere Choi.

Segundo os cálculos de George Choi, apenas cerca de dois mil dos cerca de 87 mil estrangeiros que vivem em Macau podem aceder às habitações de luxo que entrarão no mercado nos próximos dois anos. Essa oferta será aproveitada pelos especuladores que, segundo Choi, são responsáveis por 28 por cento das transacções imobiliárias, quando em Hong Kong o valor é de dois por cento.

Mercado na mão de especuladores

Numa onda de pessimismo regional, esses especuladores podem retirar-se do mercado. Mas para a maioria dos residentes de Macau, a compra de uma dessas unidades poderia implicar que despendessem 70 por cento dos seus rendimentos com o pagamento da habitação.

“Estas pessoas terão dinheiro para comprar um apartamento em Macau?”, questiona Choi. Talvez por isso a sua empresa aconselha aos clientes a venda das acções das empresas Shun Tak Holdings e Polytec Asset Holdings, dois dos maiores construtores de habitação de gama alta no território.

Tal como Choi, a Morgan Stanley considera que a maior parte da procura tem como alvo habitação mais económica, um segmento de mercado em que poucos empreiteiros estão bem posicionados. Apesar disso a empresa está optimista quanto ao futuro do mercado de Macau e a avaliação que faz das acções da Shun Tak e Polytec é positiva.

A perspectiva macroeconómica ajuda ao optimismo da Morgan Stanley. Forte crescimento económico, crescimento demográfico de 5 por cento, aumento de 18 por cento nos salários e descidas nos juros para compra de habitação, sustentam a previsão de que o mercado imobiliário local continuará em alta.

In Hoje Macau

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