domingo, 23 de março de 2008
Um mar de descobertas
Por Este Rio Acima (1982)
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Produção, direcção musical e orquestrações: Eduardo Paes Mamede
Arranjos: Eduardo Paes Mamede e Fausto
Duração: 76.29
Músicos:
Fausto - Voz e viola acústica
Pedro Caldeira Cabral - Alaúde, guitarra portuguesa, violas de gamba soprano
Júlio Pereira - Viola braguesa, viola acústica, cavaquinho
Xico Zé - Baixo
João Paulo - Piano, sintetizador
Jorge Nacimento - Acordeão
Zé Martins - Bateria
Pedro Casaes - Paus, palmas e coros
Pintinhas e Rui Júnior - Caixa popular, bombo, reco e triângulo
Lena, Zélia, Isabel, Toinas, Tozé, Rui Vaz, Ed - Coros
Fausto Bordalo Dias gravou Por Este Rio Acima em 1982, o primeiro disco de uma ainda inacabada trilogia "Lusitana Diáspora", que teve o seu segundo capítulo com Crónicas da Terra Ardente, em 1994. Por Este Rio Acima é um trabalho genial, o sexto álbum de Fausto, que o leva por terrenos que talvez não fossem os seus, dada a sua fama de cantor de intervenção, de marcada ideologia de esquerda. Mas o disco acaba por sair melhor do que se fosse encomendado pela Comissão Nacional de Descobrimentos. É um inspirado épico que descreve as aventuras das lusitanas gentes pelas mais improváveis paragens do mundo.
O disco bebe da "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto como inspiração principal. Estão lá todos os seus elementos presentes: a morte, a loucura, a saudade, as conquistas, tragédias e azares,o enjoo dos navegantes. Os temas passam por "estórias" da História, como O Romance de Diogo Soares ou A Guerra é a Guerra. A presença dos elementos da música tradicional portuguesa, mais fortes em De um Miserável Naufrágio que Passamos ou A Ilha, até à inspiração da música indiana em Por Este Rio Acima ou Porque não me Vês. Os temas que versam o desespero e a morte, Como Um Sonho Acordado ou Quando às Vezes Me Ponho Diante dos Olhos, mais os que marcaram uma geração como Navegar, Navegar ou O Barco vai de Saída e mesmo o fado, no sugestivamente intitulado Olha o Fado.
O disco sai inteirinho da cabeça do cantor, que conta com a produção e direcção musical de Eduardo Paes Mamede, e a competente participação de músicos como Júlio Pereira e Pedro Caldeira Cabral. Mais do que a qualidade, sente-se que os músicos se divertiram a fazer o disco, que é e será sempre um dos mais marcantes da música portuguesa. O melhor de Fausto? Certamente. Só quando o "cantor maldito" sai com as suas sentidas e cruas canções de amor consegue estar ao mesmo nível.
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