segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Unga Tiro na Iscuridâm
Foto: Ou Mun
Aparentemente a acção do agente da PSP que disparou cinco tiros para o ar na manifestação do último 1 de Maio fez escola em Macau. Na manhã de Domingo um funcionário da Direcção de Coordenação e Inspecção de Jogos (DCIJ) disparou "um tiro de aviso" para o ar à saída da discoteca D3, na Doca dos Pescadores.
Mais um problema de saias na origem do incidente, conta-se. Um menina na casa dos 20 anos ter-se-á queixado de assédio por parte de um amigo do funcionário em causa, um macaense de cerca de 50 anos, e terá chamado o marido, um tailandês. O marido, furioso, chegou acompanhado de três compatriotas e gerou-se uma confusão. Até que o funcionário da DCIJ, qual John Wayne ou Clint Eastwood, terá colocado água na fervura (eh eh), disparando para o ar, e resolvendo o problema.
A notícia fez imediatamente eco na imprensa em chinês do território e de Hong Kong. Claro. Os primeiros pelam-se cada vez que "um macaense" mete a pata na poça, e os segundos dão pulinhos e batem palminhas quando há tiros em Macau (e aquela imagem no cantinho do ecrã da TV mostrando as Ruínas de S. Paulo com buracos de bala a escorrer sangue?). Não sei se a bebida ou o lado de macho latino apimentado de americanóide débil mental terá tido influência neste desfecho, mas este é o tipo de atitude que não pode passar incólume.
Fala-se de legislação que permite aos funcionários do DCIJ andarem armados, da possibilidade de legítima defesa e por aí fora. A questão da posse de arma, por muito legítima que seja, perde toda a razão quando se dispara para o ar para resolver uma rixa de bar. Quanto à segunda, os meus amigos juristas podem confirmar que o pressuposto essencial para a legítima defesa é a existência de perigo actual e iminente, o que dificilmente se consegue justificar, uma vez que nenhum dos alegados agressores se encontrava armado. A questão do funcionário estar ou não em serviço parece-me obtusa. O que queria a DCIJ duma discoteca às seis da madrugada?
É por isso que não podemos tolerar mais situações deste tipo. Porque se quem tem uma arma é quem fala mais alto, então bem podemos arrumar a trouxa e esquecer o primado do Direito, a formação jurídica, a produção legislativa, a democracia em geral. Chama-se o Travis Bickle, o Zeca Diabo e o Lucky Luke para governar, e toca a tornar isto num autêntico faroeste. Tenho dito.
bah! Faroeste? Nao se deve lembrar dos ultimos anos da administracao portuguesa quando um tal de Panakoi foi detido. Que saudades dessas emocoes fortes!
ResponderEliminarCerto. Mas agora é suposto estar tudo bem, ou não?
ResponderEliminar«Até que o funcionário da DCIJ, qual John Wayne ou Clint Eastwood, terá colocado água na fervura (eh eh), disparando para o ar, e resolvendo o problema»?
ResponderEliminarConvenhamos que nem em Hollywood alguém se lembraria de colocar água na fervura antes de disparar para o ar. Das duas, uma: ou a colocação de água na fervura resolve o problema e não é preciso disparar para o ar, ou o melhor és esquecer a água e passar logo ao tiro.
Pessoalmente, não sou adepto dos tiros e menos ainda dos disparos para o ar: não é seguro que resolvam o problema e, pior ainda, pode ir a passar algum avião da Air Macau e o problema até se avoluma...
Claro que estava apenas a ser sarcástico. O que quis dizer foi que a forma que o funcionário encontrou para "colocar água na fervura" foi disparando para o ar. Claro que isto na maior parte dos casos tem um efeito perverso.
ResponderEliminarQuanto à segunda parte do seu comentário, só lhe posso dizer que concordo plenamente. Nestes últimos 2/3 dias muitas personalidades e a opinião pública em geral tem-se questionado sobre esta dialéctica "polícia/ladrões", ou seja, quem normalmente anda armado. Macau ainda não é Las Vegas por muito que se vá parecendo. E muito menos Chicago dos anos 20.