segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Só cá faltava o rei


Um dos temas de que se falou bastante no fim-de-semana em Portugal foi o centenário do regicídio, ou seja, o 100º aniversário do assassinato do penúltimo rei de Portugal, D. Carlos, no Terreiro do Paço em Lisboa, dois anos antes da implantação da República. O evento e a sua importância criou cisões entre esquerda e direita, foi rejeitado um voto de pesar na AR, o exército não foi autorizado a participar nas comemorações e o presidente da República inaugurou uma estátua do rei.

Gostava de deixar claro que considero o regicídio uma tragédia. Qualquer assassinato de qualquer chefe de estado é reprovável, nem há nada que justifique o derrame de sangue. Foi assim que os portugueses se sentiram há cem anos, certamente, e é assim que se sentem hoje. As homenagens que dizem ter sido feitas aos assassinos de D. Carlos são altamente reprováveis e só se justifica que tenham sido feitas numa espécie de sentido de humor macabro inserido na época carnavalesca.

Posto isto, considero também descabidas as comemorações exacerbadas do centenário do regicídio. Sou de direita, temente a Deus e não sei que mais, mas sou também republicano e laico. Para mim o lugar dos políticos é na política, dos professores na escola, dos padrecos na igreja, dos véus islâmicos nas mesquitas, e dos reis no exílio. Pode ter sido rica a nossa história, e devemos à monarquia muito daquilo que somos hoje. Tivemos reis corajosos, cobardes, aventureiros, loucos, geniais, e por aí fora. E temos a História de Portugal para lembrar tudo isso.

Os reciclados sentimentos pró-monárquicos podem ser justificados, quiçá, por laivos de desagrado com o actual estado da também nossa quase centenária República. Mas então e este rei que é agora tão ardentemente lembrado, que reinava lado a lado com a fome num país miserável, com uma elevada taxa de analfabetismo e trabalho infantil? Mas a primeira república também não foi melhor, claro. Só que eu, não sei porquê, degenero do faduncho fatalista lusitano que teima em comparar algo mau com algo pior ainda.

E no fundo do que se trata esta tal monarquia? Talvez o facto de termos todos nascido na República (menos a dona Maria de Jesus, que tem 117 anos, e outros que já não se lembram) nos leve a sentir uma atracção mística, uma curiosidade magnética, uma vontade de tentar perceber o que será ser governado por alguém que não fez NADA a não ser ter nascido. Pois é, um rei ou uma rainha não são escolhidos por ninguém, apenas nasceram. Maior mérito do rei para chegar ao trono? Ter nascido. Quem votou nele? Ninguém.

Mas isto não fica por aqui. O debate continuará daqui a dois anos quando se fizer o balanço dos primeiros 100 anos de república. E que viva a República!

5 comentários:

  1. sou católico...padrecos...

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  2. Onde é que eu disse que sou católico?

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  3. Caro Loecardo,
    O lugar do Rei é no exílio? Porquê? Não pode a família real deposta viver no seu País mesmo que este agora seja uma república? Essa nem os neo-carbonários hoje se atrevem a defender . . .

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  4. Era uma força de expressão. O mesmo que eu queria dizer com "professores nas escolas" ou "padrecos nas igrejas". Não quer dizer necessariamente que o raio de acção destes se delimitasse ao local onde exercem a sua profissão, e como os reis (pelo menos o nosso) partem para o exílio quando se dá a república (ou pior, atente-se ao caso da França)... Em todo o caso não era para ser tomado à letra.

    Cumprimentos

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  5. Caro Leocardo,

    Alinhar num regime político que nasceu do assassinato de um Chefe de Estado e do Príncipe Regente de 21 anos...não há qualificação possível.
    Para o meu agrado, encontrei dois antigos Governadores de Macau, hoje de grande responsabilidade nas cerimónias oficiais dos 100 anos do Regicídio.

    Revolucionários são o cancro de uma sociedade

    Saudações,

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