segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
A minha Pátria é uma língua de vaca à Portuguesa
Ouvi hoje na Rádio Macau a presidente do Instituto Português do Oriente (IPOR) falar da eventualidade de existirem cortes no orçamento este ano. A Fundação Oriente vai fechar a torneira, e "racionalizar" os custos com o IPOR e a Escola Portuguesa de Macau (EPM). Resta saber agora o que a FO, criada e enriquecida com dinheiro de Macau, pensa fazer com a EPM.
Sem querer aqui discutir a qualidade do ensino da Língua Portuguesa no IPOR, até porque a minha "inside agent" há muito que abandonou o curso, parece-me indiscutível que pelo menos alguns daqueles profissionais têm bastante qualidade, são formados no ensino da língua e, mais importante do que isso, da gramática. Que complicada é esta gramática que fomos inventar. Quando a minha cara metade pedia ajuda nos trabalhos de casa, era um sarilho para lhe explicar o que era o Pretérito e o complemento e o artigo indefenido e mais o diabo a sete. A sério, para ser professor de português é preciso estudar a valer.
Mas nos últimos dois anos tem sido cada vez mais difícil que professores qualificados venham para Macau ensinar português, segundo a própria Maria Helena Rodrigues. Macau continua a ser "longe" e sinceramente o desinteresse da República pelo território começa a enjoar. No futuro os portugueses nem vão saber onde Macau fica, e em alguns casos se sequer existe. Longe vão os tempos em que se aprendia na escola primária que Portugal era constituído por Portugal Continental, Madeira, Açores e Macau. Ah e lá viamos Macau, tão pequenino, enfiado algures na longínqua Asia Oriental.
Mas de regresso ao IPOR. O instituto chegou a não ter mãos a medir com a quantidade de alunos inscritos. Inscritos, sim. Interessados em aprender português...bem, não sei. Alguns queriam ter "umas luzes" que os ajudassem a lidar melhor com algumas situações que encontram no dia a dia, e no caso dos funcionários, que os ajudasse a fazer um leitura, vertical que fosse, de um ofício, documento ou outra coisa qualquer escrita na língua do poeta zarolho. Poucos são os casos de chineses que correram cheios de fervor lusófilo, aprender e descobrir esta língua, dominá-la e amá-la, fazer poesia com ela.
E fizeram mal, acho. Não estou a tentar aqui puxar a brasa à minha sardinha, mas a língua portuguesa é o maior património que deixámos da nossa presença em Macau. Isso mesmo, e vou mais longe: mais importante do que um "kwai-lou" aprender chinês, seria a um chinês aprender português. A nossa lingua faz toda a diferença. "Património" não é aquilo que os gajos de Hong Kong convencionaram chamar cada vez que vêem um casebre em Macau a cair aos bocados e pimba, perguntam logo “como é que vocês conseguem manter o património?”. Património por excelência é a nossa língua. Se forem ver nem o espanhol conseguiu toda esta penetração nas Filipinas, e muito menos o neerlandês na Indonésia.
E o que faz Portugal para manter a presença da nossa língua viva? Nada. Desde há alguns anos, quando Macau deixou de ser a galinha dos ovos de ouro que paga campanhas eleitorais e serve de centro de estágio para alguns dos “boys” do PS, o território como que desapareceu do mapa da esfera lusitana. E isto não se trata de uma questão de quem está no poleiro, tenho a certeza que o PSD – apesar da sua respeitável “Casa de Macau” – ia ter a mesma atitude putativa com a RAEM. Chegam a cometer desplantes absolutamente incríveis, como o de não mandar da República nem um representante do Estado português nas últimas comemorações do 10 de Junho.
carissimo, isto continua a servir de centro de estágio para alguns dos “boys” do PS, andam bem disfarcados mas e' ve-los esperando calmamente por um lugar na metropole, uns ate' foram e dps voltaram, cambada...
ResponderEliminarO PSD nunca falhou, agora o PS é que fez gala em não mandar ninguém... cambada
ResponderEliminarConfesso que não estou completamente dentro do assunto relativamente à questão da Escola Portuguesa, o que sei é o que leio nos jornais.
ResponderEliminarNo entanto, não posso deixar de referir do ponto de vista de um português residente em Macau que se interessa pelos assuntos da nossa pequena comunidade, que é absolutamente confrangedor ver o estado de pobreza e degradação (não só material) a que chegou esta escola.
É humilhante estar constantemente a ler este tipo de noticias, onde aparece sempre a figura da escola quase que a pedir esmola por todo o lado sem qualquer estratégia para atingir (ou pelo menos tentar) a auto-sustentabilidade.
É humilhante que se fale há tanto tempo em transformar a EP numa escola internacional, isso sim algo que a meu ver responderia às verdadeiras necessidades de Macau, onde o português assumiria um papel complementar a essa formação, mas que nada passe do papel.
É humilhante passar todos os dias pela rua da actual escola, e olhar para aquelas paredes e janelas em estado deplorável, e aqueles florais cheios de pó e lixo.
É humilhante ver o constante clima de conflito entre as várias partes em relação a tudo o que diz respeito à escola (aprendizagem do chinês, mudança de instalações, orçamento da escola, etc)
É humilhante ver os nossos alunos continuarem a ter de estudar e praticar desporto numa escola a uns poucos metros de vários dos maiores casinos de Macau, rodeados de poluição dos carros em volta do recinto, ter de esperar pelo autocarro rodeado de jogadores e empregados dos casinos.
Às vezes quando passo à porta da escola, noto o olhar espantado dos turistas da China quando saem do Lisboa e olham para aquele edificio e leêm a placa à entrada. Devem perguntar como será possivel haver ali uma escola, ainda por cima portuguesa.
Isto para mim é tudo uma vergonha. Podem concordar ou não comigo, mas ninguém tira-me o sentimento de frustração e desalento em relação a isto tudo.
É «mas ninguém me tira o sentimento», se faz favor!
ResponderEliminarObrigado corrector, e peço desculpa pelo lapso
ResponderEliminarJP, concordo plenamente consigo. Isto é tudo de um amadorismo e uma falta de visão absoluta...
ResponderEliminarQual a estratégia da escola portuguesa a longo prazo?
Como vai enfrentar o problema da diminuição do número de alunos de ano para ano?
Qual a situação actual em relação à mudança das instalações?
Alguém que esteja por dentro do assunto podia ajudar a responder?...
Sobre este tema, vale a pena transcrever um 'post' de José António Barreiros escrito há dias no seu blogue 'A Revolta das Palavras', sob o título «A língua de Camões.
ResponderEliminar«Quando cheguei a Macau, há vinte anos, nem os polícias na rua falavam português. Estávamos na recta final para entregar Macau à China. Macau era «território chinês, sob administração portuguesa». A partir da Declaração Conjunta admitiu-se, por razões políticas, o bi-linguismo como forma oficial de convivência das duas culturas. Gastaram-se milhões em traduções, no ensino do português, na difusão da literatura de Portugal. Floreseceram fundações, entre elas a Fundação Oriente. O seu presidente, Carlos Monjardino, proclamou agora, segundo o revela a agência Lusa, esta frase redonda: «Em Macau, onde as pessoas estão num contexto de utilização do cantonense (dialecto do sul da China), que têm de aprender mandarim (língua oficial chinesa) e inglês há cada vez menos margem para aprender ainda o português». Esta frase visou explicar que «mesmo não sendo muitos, a Escola Portuguesa tem vindo a perder alunos». Só na escola a Fundação diz ter investido 8,7 milhões de euros.
Aquilo que era presivível, está a suceder, apesar dos discursos de então.
Terra de intriga, havia quem ironicamente chamasse a Macau a zona do bifidismo. Com mais naturalidade se fala o português em África, sem que os portugueses disso se dêm conta, ou nisso gastem um chavo de jeito.»
Em resposta ao comentário de JP, o Anónimo das 6:44 pergunta pela «estratégia da escola portuguesa a longo prazo».
ResponderEliminarA resposta é simples: Portugal tenciona utilizar a mesma estratégia que aplicou no antigo 'Estado da Índia', já anteriormente testada na comunidade luso-descendente de Malaca...
Caro J.C.,
ResponderEliminarÉ BEM!
MUITO BEM VISTO!
O que vale é que pelas outroras lusas terras do Oriente, a nossa (portugueses do Oriente) lealdade não cessa com o abandono das autoridades.
Os traidores de Portugal perceberam há muito que na Ásia, descolonizar nunca será solução, mas sim a debanda, porque as nossas gentes, sempre que tivermos oportunidade de escolha, só teremos uma, Portugal.
Os traidores debandarão, nós permaneceremos.
Saudações,
VRC
A propósito dos portugueses no Oriente, deixo os meus dois posts: http://guimaraes2-observador.blogspot.com/2007/07/portuguesismos.html e http://guimaraes2-observador.blogspot.com/2007/07/portuguesismos-2.html
ResponderEliminarCaro Guimarães,
ResponderEliminarSe não me levar a mal, irei reproduzir os seus dois postais na íntegra no meu blogue e no Jornal de Coruche,para ser compilado no II volume do livro "Crónicas da Nação". O que é preciso é fazer os cegos verem o heroísmo dos portugueses do e no Oriente.
Segundo comentário q recebi de um jovem português
"(Portugal) sem dúvida a melhor Nação do mundo! E quando os portugueses deixarem-se de m*#d*s e voltarem a ter ambição e orgulho naquilo que são, Portugal voltará a estar no topo do mundo!"
Eu acredito.
Saudações,