domingo, 17 de fevereiro de 2008

Adeus, Dolmio


Hoje é um dia triste. Um dia negro na história da cozinha doméstica. Escrevo estas linhas com o coração nas mãos. Já não há tomate pelado Dolmio no supermercado Pavillions. Faço uma descrição do tipo PJ "desapareceu de casa de seus pais": era uma lata baixa, papel branco, com o desenho de dois tomates bem vermelhinhos, um aspecto envelhecido e abertura fácil. Agradece-se a quem tenha informações onde pode encontrá-la, que comunique este blogue.

Para perceberem bem a gravidade da situação, basta lembrar as vezes que tiveram que usar tomate pelado nas vossas receitas. A Compal e afins oferecem uma lata de tamanho industrial com uns tomates ovais embebidos de água (sim, aquilo não é molho) de tomate, que mais parecem testículos ensanguentados. Quantas vezes serviram aos amigos uma caldeirada em que aparece aquele farrapo ali no meio do prato? Já imaginaram as coisas horríveis que eles dizem quando viram as costas? Pensam que isto não tem importância? E quantas vezes as receitas exigem "polpa de tomate sem caroços"?

O tomate pelado Dolmio era tudo isto. Cortadinho, sem caroços, embebidos em polpa de tomate daquela bem deliciosa, nem doce, nem demasiado ácida. Apenas soberba. E tudo isto por apenas oito patacas! Até parece engano. O tomate pelado Dolmio está para o cozinheiro pobre como a pirataria está para o musicómano pobre. Será que se aperceberam do engano e retiraram o produto de estoque? Duvido. Esta terra é mesmo assim, habituamo-nos às coisas boas e de repente elas desaparecem.

Quando deparei com a ausência do divinal tomate da prateleira onde estão também o divinal vinagre balsâmico de Modena (o único vinagre que devia ser permitido por lei), a mostarda de Dijon da marca AMORA e ainda a jardineira de pickles da marca Polli, senti o mesmo que sente um pai que tem quatro filhos que ama muito, e que se apercebe da ausência de um deles. O simpático filipino, ao ser questionado pela ausência da preciosa Dolmio, apontou-me para o tomate pelado da Ferbar como alternativa. Só lhe disse "it's OK", para evitar dizer um palavrão. Vai ser com saudade e os olhos lavados em lágrimas que vou comer a língua de vaca estufada esta noite. Hoje é mesmo um dia muito triste.

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