quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Vamuláver se nos entendemos...


Este é um vídeo que fez furor em Portugal, com quase 100 mil visualizações registadas no YouTube desde que foi ali colocado no passado dia 28. Nele vemos um indivíduo de etnia cigana, referido apenas pelo nome "Zezinho", visivelmente mal tratado depois de - segundo o próprio - um "encontro imediato" com a polícia. Devem ter passado alguns dias desde o incidente, mas é facilmente perceptível que as autoridades não quiseram largar o "Zezinho" sem lhe deixar uns "recuerdos" daquele momento de "convívio". Fazendo fé na versão do "Zezinho" - e não conheço outra - trata-se aqui de um manifesto caso de abuso de autoridade. Sim, pouco me importa que seja um indivíduo de etnia cigana, um banqueiro, uma dona-de-casa ou um turista norueguês. É grave, e nem o facto da situação ter ocorrido num bairro problemático dos arredores de Lisboa, a Ameixoeira, justifica uma intervenção desta violência.

Mostrei este vídeo a algumas pessoas de cá, de Macau, menos conhecedoras da realidade portuguesa, e as reacções que obtive foram de choque, com mais ou menos intensidade. Os (poucos) que soltaram uma risadinha fizeram-no como constatação do ridículo, da situação quase surrealista que lhes apresentei, um pouco como quem exorciza o mal, que certamente não gostariam que lhes acontecesse - nem isto, nem nada que se pareça. Em Portugal as imagens de pouco mais de 30 segundos foram partilhadas e comentadas nas redes sociais como "motivo de galhofa": "olha o Lelo, que grande lata, a dele", como se tivesse sido posto neste mundo como saco de pancada das pessoas "de bem". Em suma, o esterco do costume. "Ah mas ele trazia com ele uma faca", uma arma ilegal, portanto. Não se sabe até que ponto a faca que o próprio "Zezinho" admitiu ter comprado naquele dia "na feira da Ladra" seria ilegal, pois depende do tamanho da lâmina, que ele garantiu "ser pequena". É completamente irrelevante este facto, pois a suposta "arma" nunca teria sido descoberta se tivessem deixado o "Zezinho" em paz, e não consta que tenha acenado com ela às autoridades, ou que estas tenham intervido na sequência do ofendido ter feito uso da mesma. Há ainda quem tenha ficado indignado com o desplante do "Zezinho" por ter admitido que "estava a enrolar uma ganza", ou seja, um cigarro de cannabis, e parece mesmo que este foi o móbil de tanto disparate. Vejam esta sequência de comentários na página do YouTube:


Nota dez para o primeiro e último comentadores, um cabo de vassoura pela peida acima do ArrowBlade GTX (nome imbecil, aliás). Pois é, uma atitude inexplicável destas por parte da polícia leva a mil e uma dissertações sobre os problemas de integração da comunidade cigana, patati patatá. Há mesmo quem não aguente ficar dez minutos sem proferir inanidades. Muito bem, "ganzas" muita gente fuma, mas o mais importante aqui é a LEI, que é a única coisa que nos separa da barbárie. E haja quem a saiba aplicar, ao contrário dos agentes do Bairro da Ameixoeira, e a julgar por certas coisas que li a respeito deste caso, entregar a aplicação da justiça à populaça, era o mesmo que atirá-la à bicharada. Acontece que consumir "cannabis" ou qualquer outra droga, nem que seja "cavalo", directamente injectado para a veia, DEIXOU DE SER CRIME EM 2001!


Isso mesmo, conforme a lei 30/2000 (podem consultar o texto na íntegra clicando no "link") o consumo de substâncias ilícitas deixou de constituir ofensa criminal. Pois, já sabiam, não é? Mas como o tipo é cigano, e tal, "esqueceram-se". Que conveniente. Como podem ver ali no artº 2º da referida lei, "uma ganza" não excede "a quantidade necessária para o consumo individual durante o período de dez dias", pelo que este facto só constitui uma contra-ordenação leve, punida com...


...uma simples multa, ou nada, como vamos ver a seguir. Uma simples "ganza", se é isso que aflige a opinião pública mais asinina, não se enquadra no conceito de "tráfico" - não era um fardo de haxixe, nem o "Zezinho" estava a vender a "broca" a ninguém. Mesmo nos casos mais graves...


...há uma comissão e mais não sei quê, e que no limite ia dizer ao "Zezinho" qualquer coisa como "olha que isso faz-te mal", e "tem mas é juizinho". Em nenhuma parte da lei vem mencionado que "no caso do indivíduo ser de etnia cigana, aplique-se um enxerto de porrada que lhe deixe marcas visíveis durante vários dias". Ah, mas para certa "gentinha", a lei "não serve", pelo que sugiro que...


...EMIGREM! Olha e que tal para a Arábia Saudita ou um dos Emiratos, onde a posse de meia "ganza" dá direito a prisão perpétua? Ah espera lá, que aí não pode ser, pois estes são os amiguinhos xenófobos da Maria Vieira, a rolha do garrafão da xenofobia na sua versão islâmica. Pois é, ó Mário Costa, seu NOJENTO, pelos vistos a tua professora da primária não te chegou com as costas das mãos às ventas vezes que chegassem para APRENDERES A ESCREVER. Quanto aos restantes, o que dizer? Um misto de ignorância, ressentimento, frustração e estupidez, com uma dose q.b. de rusticidade à mistura. E ainda são capazes de argumentar com coisas do tipo "estes gajos andam a gozar com isto, e eu mato-me a trabalhar, e ando sempre teso no mau sentido" - NINGUÉM SE INTERESSA, PÁ, PROBLEMA VOSSO! Talvez se são f... e mal pagos é porque não sabem escrever, ou desconhecem a lei e aproveitam uma situação como esta para revelar essa ignorância e manifestar a vossa boçalidade. Permitam-me que me dirija a vossas cavalgaduras num paleio que entendem bem: PODIA TER ACONTECIDO CONVOSCO, OU COM OS VOSSOS FILHOS, SEUS IMBECIS! A ser verdade o que o tal "Zezinho" afirma, como vai a polícia justificar o injustificável? Ai ele estava a fazer "caras feias", é? Cuidado, não tenham o azar de dar de frente com um espelho qualquer dia destes, que se arriscam a ficar sem dentes. Gentinha miserável, esta.


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