quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O homem que mordeu o polícia


Li uma notícia na página do “crime” no Jornal Tribuna de Macau que me deixou de cabelos em pé. Um idoso de 72 anos foi autuado por fiscais do IACM – e bem – por andar a remexer nas latas de lixo à procura de cartão. Depois de se ter recusado a identificar-se, os fiscais chamaram as autoridades. Confrontado pela polícia, o velho tornou-se violento, agrediu um agente com uma bengala e mordeu-lhe uma mão, ao ponto do polícia precisar de tratamento hospitalar. De certeza que a dentada foi feita com vontade, caso contrário o sr. agente não precisaria de recorrer aos Serviços de Urgência – a não ser que seja feito de tao fu. O idoso incorre agora de uma acusação de ofensa à integridade física.

Estes senhores e senhoras que andam “ao cartão” julgam-se os reis de Macau. Revolvem as latas de lixo, deixando o entulho espalhado pelo passeio até encontrarem algo que lhes sirva (e ainda refilam quando alguém se queixa por não poder passar pela via, que é pública), invadem os supermercados durante as horas de funcionamento para levar as caixas de cartão, pisam latas na rua, enfiam a cabeça nos latões, parecem ratos gigantes sempre prontos a poluir a rua que é de todos. Há quem sinta pena desta gente, que muitas vezes nem tem necessidade de fazer isto para sobreviver, ao contrário do que acontece noutros locais onde existe gente que tem mesmo necessidade disto para comer. O idoso alegou a seu favor que “é reformado”, e que anda ao cartão “para melhorar a sua qualidade de vida”. Ora eu também estou a pensar em começar a assaltar bancos para “melhorar a minha qualidade de vida”. Apetece-me comer lagosta, beber champanhe e contratar prostitutas de luxo todos os dias, mas infelizmente o meu rendimento não chega para tal.

É tudo mesmo uma questão de dignidade. Isto são normalmente velhos desocupados que têm uma pensão que lhes chega para viver, mas como não têm nada para fazer, então entretêm-se com actividades que “dêem dinheiro”, mesmo que isso implique enfiar a cachola no lixo dos outros e ver o que se aproveita e que possa vender, nem que seja por cinquenta avos ao quilo. Chegam mesmo a andar ao estalo uns com os outros por causa de algum latão de lixo mais recheado. São o arquétipo da avareza e da sujidade. E faz favor de sair do caminho, ou arriscam-se a actos de semi-canibalismo, como aconteceu com o sr. polícia, coitado, que provavelmente precisou de levar uma vacina contra a raiva.

É interessante que independente da quantidade de cheques, subsídios, auxílios e outras vantagens que são dados a quem tenha um BIR – mesmo que seja velho, sujo, carunchoso ou moribundo – não chegue para satisfazer a ambição de alguns. Como podemos ter uma cidade limpa e decente se pela calada da noite temos estes agentes da reciclagem que deixam merda por todo o lado, quando alguns dos nossos simpáticos cidadãos até se dão ao trabalho de acertar nas latas do lixo quando despejam os sacos? Não há narinas que resistam, nem sapatos que não se arrisquem a dar um pontapé na porcaria que estes gajos deixam pelo caminho.

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