sexta-feira, 13 de abril de 2012

Faz confusão


Passou recentemente no canal Jade de Hong Kong uma reportagem sobre cinco mulheres, de idades entre 28 e 40 anos, todas solteiras, em que se falava das suas escapadelas amorosas e daquilo que esperam dos homens. Fiquei deprimido, sendo que pelo menos duas delas eram até bastante giras (as restantes percebe-se porque são solteiras...), mas estão presas em conceitos arcaicos que infelizemnte ainda vigoram nesta sociedade chinesa de Macau e de Hong Kong, que se quer moderna. Penso que a China continental é até bastante mais liberal neste sentido do que estas regiões administrativas especiais, por mais estranho que isso possa parecee a um leigo sobre assuntos sínicos. Alguém de fora deve pensar que na China a sociedade é mais fechada e conservadora que em macau e em Hong Kong. Mas antes pelo contrário.

E o que esperam estas mulheres de um homem? Muitas delas um homem que não existe: trabalhador, responsável, fiel (ah, ah, ah) e que lhes dê toda a atenção do mundo, em regime de completa exclusividade. Em suma, que coma calado. Uma delas queixava-se que os homens "querem mulheres dóceis, sem personalidade". No shit Sherlock. É assim tão estranho que um homem prefira uma mulher dócil a uma chata? E isso da "personalidade" deve querer dizer "refilar por tudo e por nada", e quase sempre sem razão. Não admira que esta seja a tal que tem 40 anos, e continua "encalhada". De tanto escolher e esperar pelo príncipe encantado, um dia acaba por morrer sozinha e só se descobre o cadáver quando os vizinhos se queixarem do cheiro à polícia.

Quase todas concordaram que "as discotecas e os clubes nocturnos são um mau sítio pra encontrar homens", poeque lá estes procuram "sexo casual", e elas "preferem proteger-se". Não é novidade nenhuma para ninguém que os homens que frequentam locais de diversão nocturna procuram sexo casual, e diabos me levem, algumas mulheres também! Não há nada de errado com o sexo casual, ou o "one night stand" na sua versão inglesa, desde que ninguém seja obrigado a nada. Agora não percebo porque é que estas meninas foram a uma discoteca com a esperança de encontrar um homem para casar. Não há nada de errado também em ter vários relacionamentos, e é bastante difícil - utópico, até - querer acertar à primeira. E que mal há em ter vários relacionamentos, mesmo para as mulheres? Não vem escrito na testa com quantos homens dormiram.

Conheço pessoalmente casos de meninas que namoraram vários anos com homens que depois as deixaram, e não conseguiram "voltar a amar". Muitas delas estão já bem na casa dos 30 anos, e têm medo "de se entregar" novamente. Isto deve-se a um sistema de ensino e uma educação familiar que ensina que o sexo é procurado pelos homens e as mulheres são as "vítimas". É um conceito ultrapassado e bacoco de que o prazer sexual é exclusivo dos homens e as mulheres devem contentar-se em encontrar um homem que "cuide delas". Uma mulher que não se envergonhe em assumir a sua sexualidade é imediatamente catalogada de prostituta. Uma mulher que faça um aborto - e existem bastantes, só que é tudo dissimulado - é uma "desgraçada", uma "mulher fácil".

Isto tudo rodeado de imensa hipocrisia. Entre a sociedade chinesa, mesmo a de Macau, existem mulheres fáceis, homens prevertidos, violadores, pedófilos, pornografia, sexo casual, adultério, filhos ilegítimos, divórcios, tudo o que existe em qualquer outra parte. Só que para eles é tudo uma cosanostra, e o mais importante é a "face", ou seja, é melhor parece-lo do que sê-lo. Os abortos, os abusos, todos esses "crimes" ficam entre as quatro paredes de casa, e se mais alguém sabe é uma "desonra". Curiosamente os japoneses há muito que deixaram este tipo de preconceito e celebram o sexo como uma coisa bastante banal. É caso para dizer que enquanto os japoneses são a Madonna, os chineses ainda estão na fase Gandhi: longe de serem inocentes, mas com uma capa imaculada.

Entende-se que a sociedade chinesa tenha saído apenas recentemente de um contexto histórico complicado. Enquanto no Ocidente se davam os "sixties", na China acontecia a Revolução Cultural. Enquanto o Ocidente curtia o "disco sound", a China começava apenas a abrir-se para o mundo. É difícil exigir que os chineses se comportem como os europeus ou os americanos, mas era importante que a nova geração começasse a derrubar estes preconceitos. Foi uma pena que o sistema de educação tivesse sido entregue maioritariamente a católicos e comunistas, inimigos da liberdade, e que oprimiram estes agora jovens desde a mais tenra idade. Isto faz-me confusão. E permitam-me que fale também pelo prezado leitor: faz-nos confusão.

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito ben escrito, caro Leocardo. Infelizmente não posso concordar com tudo o que diz...acho que pelo menos as meninas chinesas fazem bem em proteger-se dos predadores nesta sociedade cada vez mais materialista. Os homens pelos menos não precisam de se preocupar, pois para o gasto ainda têm as outras. :)

Abraço.

Anónimo disse...

A mentalidade das mulheres de Macau é mais fechado porque além de Macau ser um sítio pequeno, elas nasceram aqui, têm cá a família, os amigos, etc. e não se sentem sozinhas. Muitas vão viver no estrangeiro e mudam completamente de atitude. É isso que as distingue das ditas "estrangeiras" que elas consideram mulheres "fáceis".

Leocardo disse...

Bem, claro que ficou muito mais por dizer do que simplesmente estes seis parágrafos. Obrigado pela contribuição.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Acho bem que tenha as suas opiniões e, tratando-se neste aspecto de um evidente liberal, vai com certeza transmitir os mesmos princípios aos seus filhos, sejam eles do sexo masculino ou feminino. Porque isso do "faz o que eu te digo e não faças o que eu faço" é coisa de incoerentes. :)

Anónimo disse...

Voltou forte e feio.