Foi transmitido esta noite no canal 1 da TDM o debate entre os candidatos às eleições para a AL, José Pereira Coutinho, da Nova Esperança, e Casimiro Pinto, da Voz Plural – Gentes de Macau. O debate, moderado pelo jornalista José Carlos Matias, esteve longe de ser excitante, e ao contrário do que seria de esperar, não foi uma batalha pelo voto de nenhum tipo de eleitorado específico.
Pereira Coutinho apresentou-se com a “bagagem” dos quatro anos de experiência que leva como deputado no hemiciclo. No seu tom habitual, Coutinho lembrou o seu esforço em prol dos direitos dos trabalhadores, dos jovens, dos mais pobres e dos excluídos. Casimiro Pinto parece tentar chegar aos “jovens macaenses”. Apenas isso, como ele próprio referiu por mais de uma vez. A maior preocupação de JPC não se prende com a sua eleição, que parece garantida, mas com a eleição da sua nº 2, Rita Santos, que sera “mais uma voz” da Nova Esperança na AL. Casimiro Pinto diz que um bom resultado seria “vencer, ser eleito” o que não só se afigura impossível, mas revela alguma ingenuidade.
Entre os temas debatidos, destaco o do papel do deputado. Pereira Coutinho marcou pontos; os deputados eleitos pelo sufrágio directo têm o dever de fiscalizar o desempenho do Governo. Casimiro Pinto considera que os deputados têm o dever de legislar, e para tal “trabalhar em conjunto com o Governo, numa plataforma de diálogo”. Ora para isso estão lá os outros todos. Diálogo é bom mas é necessário que existam vozes fracturantes, principalmente vindas de uma comunidade, neste caso a portuguesa e a macaense, que são cada vez mais uma minoria em Macau.
Depois a questão do sufrágio universal. Casimiro Pinto defende que em 2013 o número de deputados seja aumentado em seis, para trinta e cinco, e que a maioria, dezoito, fossem eleitos por sufrágio directo. Não era mau, mas e que tal se fossem todos eleitos pelo sufrágio directo e universal? Não seria assim que o orgão legislativo da RAEM representava a vontade da população? Isto falando em linguagem democrática.
Depois a eleição para Chefe do Executivo. Em tom de desafio, Casimiro questiona porque não se candidatam “democratas” a cargo de chefe do executivo, ou se pelo mens não manifestam vontade de se candidatar. Não me agrada quando Casimiro, e não só, se refere aos democratas das duas regiões administrativas da RP China como “chamados democratas”. É lógico que os candidatos a CE têm que ter a benção do Governo Central. Não por teimosia ou falta de vontade de levar a cabo a tal democratização, mas simplesmente porque é necessário um CE que possa dialogar com a China sobre as questões de Macau e Hong Kong sem que a discordância entre os pontos de vista sejam um obstáculo ao progresso das regiões em causa.
Isto é algo que mesmo os sectores pró-democracia se esquecem algumas vezes: Macau e Hong Kong gozam de um elevado grau de autonomia, mas a eventual democratização depende do que possa ser feito na própria China nesse mesmo sentido. Os democratas são mesmo democratas, que se batem pelos valores da democracia de raíz ocidental, mas mesmo com o sufrágio directo e universal para o CE, não estão interessados nesse lugar, pois não lhes interessa trabalhar parao Governo Central. Esta é uma questão que gostava de abordar com mais cuidado num post futuro.
Voltando ao debate, concordo com Casimiro Pinto que existe discriminação em relação a pessoas que não dominam o chinês. Na administração, no dia a dia, no acesso à informação e à progressão nas carreiras e no acesso ao emprego. Coutinho insiste que o artº 42 da Lei Básica (Os interesses dos residentes de ascendência portuguesa em Macau são protegidos, nos termos da lei, pela Região Administrativa Especial de Macau. Os seus costumes e tradições culturais devem ser respeitados) deve ser legislado. Os dois de acordo, portanto.
Em relação à Lei Sindical, Coutinho ganha pontos. Casimiro Pinto acha que a proposta de Pereira Coutinho é radical, semelhante à Lei Sindical “de Portugal nos anos 70”. Por esta lógica, a Lei Laboral só pode ser alterada salvaguardando os direitos dos empregadores em deterimento dos trabalhadores. A Lei Laboral, como está, é uma vergonha, e precisa de ser alterada radicalmente.
Quanto à questão da mão-de-obra estrangeira, gostei de ouvir o candidato da Voz Plural – em Macau há falta de mão de obra estrangeira, principalmente qualificada. O exemplo é que não foi o mais feliz: o concurso da Miss Macau, inteiramente produzido por pessoas de Hong Kong. Ora o concurso Miss Macau é uma bosta e não interessa nem ao Menino Jesus.
Quanto à questão da língua portuguesa, ambos os candidatos defenderam bem a sua dama. Pereira Coutinho lembrou os últimos quatro anos, em que fez uso frequente da língua de Camões no hemiciclo, enquanto Casimiro Pinto, que é preciso não esquecer é um tradutor-intérprete, defende o uso da lingua de forma assídua em todas as instâncias e esferas de influência. Pareceu-me bem.
Não se pode dizer que tenha havido um vencedor neste debate. Ambos mostraram-se bem preparados e à vontade, o que no caso de Pereira Coutinho já seria de esperar, e no caso de Casimiro Pinto foi uma agradável surpresa. A propósito, recordo os leitores que existe uma sondagem no lado direito do ecrã onde podem votar em questões relacionadas com o acto eleitoral do próximo Domingo. O Bairro do Oriente continuará a fazer a cobertura das eleições, abordando temas de interesse. Amanhã vou falar dos democratas.
18 comentários:
O Miro defende 18 deputados eleitos directamente porque não quer mexer nos indirectos nem nos nomeados, já que nos indirectos está o promotor e financiador da lista, Leonel Alves, e nos nomeados está outro apoiante da lista, Philip Xavier. Primeiro os amigos e depois os princípios.
o Coutinho defende o sufragio eleitoral directo para a eleicao do chefe do executivo ja em 2014 para agradar ao seu amigo chan meng kam, que quer la chegar num instante. com sufragio directo universal e a predisposicao desta gente para vender votos, teriamos aqui o chefe do executivo desta terra que queremos proteger. o coutinho nao poe os principios no inicio, ou tentem la perceber como é que o gajo sacou cinco mil votos na areia preta e iao hon em 2005, tendo la posto os coutos uma vez, no penultimo dia de campanha... nao ha almocos gratis, pah
Pois não, pah. Não há almoços grátis, pah. Por isso é que o Miro vai receber uma prenda pelo sacrifício de se candidatar, pah.
esta sondagem parece algo distorcido da realidade...
A malta da 14K anda toda a votar no Bairro do Oriente. Até a votação na Rita/Agnes/Melinda é a que agrada à 14K.
São as duas muito más , mal por mal é preferivel o Pereira Coutinho.
Aliás não há uma lista que se aproveite nestas eleições incluindo as chinesas, mas isto é normal em Macau.
O tradutor cantor devia ter pedido ao seu mentor apoiante (Leonel Alves)mais umas lições??? de politica, aquela sobre a Lei Sindical é de mais, álem de tradutor e cantor, agora virou papagaio do patrão!!
Há um artigo no jornal Hoje Macau dia 11/09/2009 sobre estas duas listas, que o Leocardo devia ler antes de elogiar estes artistas principalmente o cantor tradutor Casimiro lider da Voz Plural.
Em Macau brinca-se com a politica.
A politica de Macau é uma palhaçada e no meio de tantos palhaços, o Miro até nem é aquele que mais me faz rir.
Bom bom era ver a comunidade portuguesa, macaense (ou raio que o parta) unida em vez do "bota abaixo" do costume.
Acabo de ouvir o debate na rádio. O Leocardo foi "simpático" ao dar o "empate" aos dois. Na minha modesta opinião, o Coutinho deu "KO" ao Miro. Em português, o Miro ainda precisa aprender muito para se meter no "ringue" com o Coutinho.
Mas fiquei com esperança na afirmação do jovem, a de que realmente eles (a Voz Plural)estão para ficar. Espero que esta promissora "Nova Geração" seja de palavra e prove a mim e aos restantes scepticos que independentemente do resultado destas eleições, nestes 4 ou 5 anos que aí vem, nos mostrem trabalho, desenvolvam actividades, apresentem propostas como associação. Gostaria que me provassem que são um projecto de futuro e não algo que apenas surge antes das eleições a cada 4 anos com um nome diferente. Agora ainda estão verdes, e não terão o meu voto, mas espero que nestes 4 anos que se seguem, me provem que são capazes e que estão para ficar. Aí sim, terei em consideração esta lista.
Pois eu voto já na Voz Plural.
Votas na tal lista abrangente que vai criar uma associação de jovens macaenses? O Carlos Morais José é que tem razão: não bate a bota com a perdigota.
Será que os jovens filipinos vão poder filiar-se nessa associação? E os jovens portugueses não macaenses? E os jovens chineses? Alguém explicou isto ao candidato filipino? E aos candidatos chineses? E aos candidatos tugas?
O termo "macaense" pode ser muito abrangente, como se viu no Encontro da Comunidade Juvenil Macaense deste ano. Havia nomes como o de um Christopher Michael Barradas, que só fala inglês e nunca viveu em Macau. Portanto, criar uma associação de jovens macaenses pode ser também uma criação abrangente (embora eu próprio espere que não seja tão abrangente como o caso de que falei) em que se incluam todos os que vivem em Macau e que comungam de uma cultura macaense, independentemente da etnia. Embora, isso sim, não deva incluir ninguém que não se identifique com as especificidades de Macau. Nesta perspectiva, a adesão à tal associação deveria ter mais a ver com o sentimento do que com raças. Não me parece que haja qualquer contradição entre o apregoado multiculturalismo da lista de Casimiro Pinto e a sua vontade de criar a tal associação de jovens macaenses.
sim, sim, diz isso à APIM e à Santa Casa. Tão abrangentes que são.
Não é a APIM que manda no D. José da Costa Nunes? E não é qualquer criança (independentemente da etnia) que queira aprender português bem-vinda a esse infantário? Isso é capaz de ser abrangência.
A APIM recebeu e continua a receber dinheiro para manter o D. José da Costa Nunes a funcionar como infantário de língua portuguesa. Depois mistura as contas, junta as despesas do infantário com as da associação e usa os apoios ao infantário para subsidiar as actividades da associação. É a chamada abrangência de contas, ahah.
A APIM é tão abrangente no infantário que até queria arrendar a ala nova à Canadian School e ficar com as crianças só na ala velha. Mas continuava a mamar os apoios todos. Era pela abrangência com a língua inglesa, ahah.
A língua inglesa foi ideia do Instituto Inter-Universitário de Macau. A APIM, sabendo do problema de decréscimo de alunos, obviamente concordou. E eu também acho uma excelente ideia, precisamente porque, sem beliscar o ensino do português, pode acabar por chamar mais gente ao infantário, e não só portugueses e macaenses. Será mais abrangente, portanto (uma vez mais).
O último anónimo não percebeu o que eu escrevi ou fez de conta que não percebeu. A ala nova ia passar para a Canadian School. Deixava de ter qualquer relação com o D. José da Costa Nunes. As crianças do infantário não iam lá aprender nada. Essa intenção da APIM não tinha nada a ver com o projecto do Ruben Cabral para a introdução do inglês no ensino curricular do infantário. Não misture as coisas e não tome os outros por parvos.
macaenses nunca estiveram unidos, andam mostrar que são nobres,pisar os que não são....
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