O Bairro do Oriente comemorou o seu 10º aniversário na última sexta-feira, dia 1 de Dezembro. 12 758 entradas, 2 275 043 visualizações, 31 521 comentários, são estes os números do blogue que foi (é?) o mais popular em Macau. Obrigado a todos, um grande bem haja, e lá continuarei a actualizar o Bairro, sempre que tiver tempo, e contra ventos e marés - que foram muitos, mas isso fica para outro dia. Um abraço do tamanho do mundo.
domingo, 3 de dezembro de 2017
Portugal no Grupo B
Portugal ficou no Grupo B da fase de grupos do mundial de futebol, a disputar no próximo ano na Rússia. A selecção nacional vai defrontar as suas congéneres da Espanha, Irão e Marrocos. Um grupo que em termos de proximidade geográfica fica muito a desejar para o sorteio de um mundial - a Espanha e Marrocos são nossos vizinhos, enquanto os persas (o Irão) são treinados pelo nosso conhecido Carlos Queirós. Mesmo assim, é um grupo que Portugal tem a obrigação de passar, e com o incentivo de poder encontrar um dos adversários do grupo A nos oitavos, que sairá do lote Rússia, Arábia Saudita, Egipto e Uruguai. Pode-se dizer, portanto, que qualquer coisa que seja menos que os quartos-de-final será uma desilusão.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Manson Grand Prix
Realizou-se no passado fim-de-semana mais uma edição do Grande Prémio de Macau, que é uma daquelas coisas que, ou se gosta, ou se ignora – ou pelo menos se tenta ignorar. A minha relação com este evento, o maior cartaz desportivo (?) do ano no território, é um misto de desencanto, comunhão amigável e indiferença. É assim um bocado como uma pessoa de quem não tínhamos uma boa primeira impressão, depois chegamos a desenvolver uma relação cordial de quase amizade, e que depois ficámos sem ver por uns tempos, e actualmente cumprimentamos mais ou menos timidamente.
Quando a cheguei a Macau julgava que o Grande Prémio era uma espécie de “monster meeting” depois de finda a época de Fórmula 1, onde os pilotos desta disciplina realizavam uma etapa extra-campeonato (vejam só a minha inguenidade!). Após o abismo dessa desilusão para o qual me encaminhei direito que nem um patinho, aprendi a aceitar o Grande Prémio e até pensei que gostava dele, como requerimento para me considerar um “local”, completamente “integrado”, mas depois percebi que era um amor por interesse que não tinha interesse nenhum.
Para quem não acha aquilo tudo “o máximo”, o melhor é aprender a manter a televisão desligada durante os quatro dias do Grande Prémio, ou melhor ainda, sair do território na quarta-feira à tarde e regressar no Domingo à noite. Mas isto é para quem pode, pois os que precisam de trabalhar na quinta e na sexta-feira encontram uma espécie de “muro de Berlim” construído em redor do circuito da Guia, e quase tão aborrecido de passar quanto o original (eu próprio não tenho muita razão de queixa, pois vivo e trabalho em “Berlim Ocidental”). E uma dúvida que ainda ninguém me conseguiu esclarecer: o que acontece à população que vive na Estrada dos Parses? É recolocada temporariamente, é indemnizada por ter lá os carros a rugirem-lhe à porta, ou é toda “aficionada” do “circo”? O Grande Prémio é a nossa versão revista, aumentada e um bocadinho mais poluidora do Carnaval brasileiro; em comum tem o facto de mal ter terminado esta edição, já se estar a pensar em preparar a próxima.
No mesmo dia em que caiu o pano do Grande Prémio de Macau, faleceu Charles Manson. E agora pode ser que o título deste artigo faça algum sentido. Não vou fazer aqui a apologia da violência e do horror como alguma forma de “arte marginal”, ou tentar relativizar os crimes hediondos cometidos por este indivíduo: Charles Manson não merecia estar vivo e muito menos solto. Posto isto, trata-se aqui de um génio, mas do mal. Um indivíduo que só precisou de passar 19 dos 83 anos da sua vida em liberdade para ter deixado uma ferida aberta na humanidade e de que ainda se fala 50 anos depois.
Manson conseguiu convencer um monte de gente de que “era Deus” através dos argumentos mais absurdos (e muito LSD, também) , e ainda teve uma carreira literária e discográfica na prisão, enquanto cumpria as 12 perpétuas a que foi condenado. A questão que urge perguntar é a seguinte: quem são os Mansons dos nossos tempos? E a que “família” pertencemos nós, também?
Adeuzinho que foste tarde, ó Charles Manson. E longa vida ao Grande Prémio de Macau, já agora.
Com "o meu dinheiro", não!
A inflação vai e vem, e os cheques foram ficando. Isto em termos leigos quer dizer mais ou menos que o Governo “dá” dinheiro à população, mas também cobra impostos – claro, nem poderia ser de outra forma. Aqui não se discute muito, ou de todo, no que são aplicados os impostos, talvez porque não tenhamos assim muitas razões de queixa, ou não hajam motivos de indignação nesse particular. Já em Portugal o caso muda de figura. Portugal é a capital mundial da indignação, e aquilo que o(s) Governo(s) faz(em) como o “o nosso dinheiro”, que é como quem diz, o dinheiro “dos nossos” impostos, não é excepção.
Tenho visto bastante disto, quer em comentários em artigos de opinião na imprensa, quer nas redes sociais (especialmente aí), e é claro que o factor da simpatia partidária não é despeciendo para explicar desta nova tendência para cada português se tornar especialista em fiscalidade – há uma tendência para cada um puxar a brasa à sua sardinha, portanto. Olhemos para o exemplo de requalificação da zona da Mouraria, em Lisboa, que inclui a construção de uma nova mesquita, num total de três milhões de euros – dos “nossos impostos”, lá está, e que equivale a menos de um euro por contribuinte. Aqui pesa a notória antipatia pela confissão maometana (leia-se islamofobia), que leva a que certos grupelhos apelem ao argumento da “ida ao bolso” dos portugueses para criar a ideia (errada) de que sem mesquita, o dinheiro seria aplicado noutra coisa qualquer, ou revertia directamente para a carteira de cada contribuinte. Curiosamente ninguém se importou muito com outras obras que, isso sim, podem ser considerados elefantes brancos. O Estádio de Aveiro, por exemplo, construído para a organização do Euro 2004, custou 60 milhões de euros na altura, e foi utilizado cinco vezes desde então. E não, não pode ser utilizado para se fazerem ali piqueniques, por muito que “o vosso dinheiro” o tenha pago.
E não é apenas nas obras públicas que se reclama pelo dinheiro “dos nossos” impostos. O canal público de televisão também tem sofrido com esta nova escola de pensamento, que atribui a cada português o super-poder de achar o que deve ser feito ou não com “o seu dinheiro”. Se a RTP (a agradeço desde já ao canal público pela RTPi, que aqui a milhares de quilómetros de distância nos aproxima mais das origens) passa um programa que não é do agrado de alguns, toca a sacar do argumento dos impostos, refilar, barafustar e bater com o pé, quando o mais fácil seria simplesmente mudar de canal. Os fiscalistas de trazer por casa preferem dar a entender que por cada programa que um português não gosta, foi “do próprio bolso” que o pagou. Claro que aqui o contraditório não existe; ninguém vai gostar de um programa e dizer “sim senhor, isto é o que eu chamo de uma aplicação bem feita do dinheiro dos meus impostos!”, pois não?
Esta ideia mesquinha e errada de que um português está a pagar do seu bolso por coisas de que não gosta ou que não lhe interessam pode servir para tudo e mais alguma coisa. Por esta lógica, uma estrada que liga o interior ao litoral do país pode dar muito jeito a quem vive nas povoações mais remotas, mas lá está, porque é que EU tenho que pagá-la, se não me serve para nada? E se o tio Zé dos Nabos, de Carrazeda de Ansiães, apanhar uma bebedeira de caixão à cova, ao ponto de precisar de ficar internado no INEM durante dois dias, com o MEU dinheiro? Eu não sou obrigado a pagar pelas bebedeiras do tio Zé dos Nabos, pois não? Ou será que sou, tal como ele é obrigado a pagar pelas minhas? Mais contenção amigos. O tal dinheiro é de todos, é verdade, e obviamente que desejamos uma aplicação sensata do mesmo. Mas alto lá, e para concluir, “olhem que não é bem assim”. Não caiam no conto dos vigários que pensam que sabem o que deve ser feito com o tal “dinheiro de todos”.
Um século
A Rússia pré-revolucionária não era o que se pode chamar um lugar recomendável; existia fome, desigualdade, injustiça, em suma, vivia-se num regime semi-feudalista. O mesmo se pode dizer da China, onde a República Popular foi fundada mais de trinta anos depois, e destes dois exemplos, os maiores deles, podemos depreender que o comunismo não apareceu onde estava “tudo bem”, e os povos viviam em prosperidade até à implantação da utopia socialista. Não deu certo, é verdade, mas durante algum tempo deu-se voz aos oprimidos, e até se retirarou algo de positivo, quer em termos de direitos laborais, que na área do progresso científico. Nos tempos que vivemos sabemos o que falhou, onde se errou, e certamente que não ousaremos repetir. Mas será mesmo assim?
Não foi apenas por culpa própria que o comunismo fracassou. Podemos dizer que não resultaria de qualquer jeito, mas para isso também contribuiram a força dos seus antípodas, o grande capital, o imperialismo, e é preciso não esquecer que tivemos pelo meio uma guerra que supostamente devia ter acabado com todas as guerras, e não foi isso que aconteceu. Assistimos cada vez mais a uma tendência para o extremismo, para a rejeição daquilo que nasceu das cinzas da agressão nazista: o Estado Social. A lei do mais forte tem o seu lugar na teoria evolucionista, mas o Homem moderno tem o dever não só de apontar no sentido do progresso e da geração de riqueza, mas também a de cuidar dos mais fracos, dos mais pobres e dos desfavorecidos. Não podemos ser todos iguais, é verdade, mas tentemos pelo menos não criar o fosso que permitiu que um projecto como foi o comunismo internacional medrar. Da próxima pode ser algo bem pior.
PS: Mais um massacre nos Estados Unidos na última segunda-feira, quando um indivíduo armado entrou numa Igreja do Texas, disparando aleatoriamente, provocando 27 mortos e mais de 30 feridos. Não vou aqui desenvolver o que penso sobre a tal segunda emenda da constituição norte-americana, que contempla o direito a qualquer cidadão de ter porte de arma, e nem é necessário; num país onde só no ano passado aconteceram 3,85 mortes violentas relacionadas com armas em 100 mil habitantes, 30 vezes mais do que países como a Alemanha, Japão ou Reino Unido, o problema parece demasiado óbvio. Só não vê quem quer.
O Bar do Temporal
Artigo de 26 de Outubro do jornal Hoje Macau.
O ano de 2017, agora a dois míseros meses de findar, fica marcado em Portugal pela tragédia dos incêndios, marcado pelo elemento do fogo. Aqui no nosso território à beira-China plantado foram outros os elementos que contribuíram para a nossa pior memória dos últimos dez meses: a água, na sua vertente transbordada, e o ar, na sua versão de ventos ciclónicos. Foi o tufão Hato, que literalmente “sacudiu a cabana”, aos mais vários níveis. Como epílogo tivemos no final da semana passada o relatório do “Bar do Temporal gate”, publicado pela ASAE local, e que nos deixou saber detalhes do que se passa um pouco pelo mundo dos comes e bebes. Alguns deles sórdidos. Mas o que é o Bar do Temporal?
Como o próprio nome indica, o Bar do Temporal é procurado pela sua clientela apenas quando chove muito, ou sopram rajadas com uma intensidade maior que o normal. Durante o resto do tempo até dá para esquecer que ele existe. A motivação é simples; o Bar do Temporal decide se a malta vai dali para casa para ouvir o vento a assobiar pela janela, ou se vai bulir, o que nesse caso costuma ser uma chatice. As críticas aparecem com frequência, nomeadamente no que diz respeito à forretice do bar, que teima servir em copinhos “de três”, enquanto a sua congénere de Hong Kong, o Stormy Weather Pub, saca muito mais facilmente dos generosos copos “de oito”. Teorias da conspiração não faltam, e entre essas há uma que fala de interferências externas, nomeadamente da parte de uns tipos que até não gostam de beber, mas mamam. E muito!
Em tempos idos, o Bar do Temporal não se apresentava como uma carreira atractiva para baristas, sommeliers e técnicos de atendimento à mesa locais, pois apesar de pagar o mesmo que outros estabelecimentos do género, era mais parco no departamento dos brindes e outras ofertas – tudo isto alegadamente, entenda-se. Contudo, e com o virar do século, o Bar do Temporal ganhou um novo élan, pois ali não se fala de política (que é sempre uma coisa muito chata), e a estabilidade do tempo meteorológico que se verifica durante grande parte do ano ajuda a passar o tempo cronológico com menos stress. Tudo estava (mais ou menos) bem até um belo (ou não) dia de Agosto, que não podia ter sido o pior para o Bar do Temporal enganar-se na dose, e servir as bebidas erradas. Com a mostarda e a água do rio a subir-lhe ao nariz, a já muito impaciente clientela chateou-se a valer, demitiu-se o manager do Bar do Temporal, e veio ao terreno a ASAE dos costumes.
E o que encontrou, esta espécie de ASAE, só que de colarinho? Muita coisa que uns já suspeitavam mas não tinham a certeza, e que outros já sabiam mas não queriam dizer. Aparentemente existiam dificuldades de comunicação entre o manager e os barmen, com o primeiro a ignorar as sugestões dos segundos, e a confeccionar os cocktails à sua maneira. Diz-se ainda que o referido manager escolhia música a tocar do bar muitas vezes da sua casa, o que não lhe permitia detectar o ambiente nocivo que isto provocava. Não despeciendo é o comportamente da sua assistente, que mantinha uma capelinha junto do balcão, e quando fazia as suas orações perturbava os empregados, que acabam a despejar os whiskeys metade no copo, metade na mesa. Um relatório contundente. Actualmente o Bar do Temporal está sob a gestão do antigo responsável pelo Bar das Tabuletas. Será que vão soprar ventos bonançosos de pequena vaga no Bar do Temporal? Só o tempo o dirá. E o tempo, também.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Re-retorno
Como os leitores mais atentos (se é que os há) podem ter reparado, fiz uma pausa sabática de mais de um mês aqui no blogue. Por nenhuma razão especial, foi simplesmente para me actualizar intelectualmente; ler uns livros, ver uns filmes, em suma, fazer um pequeno "reboot". Mas o blogue está de volta, pelo menos para já, só que como devem compreender, entre os afazeres profissionais e a escrita, não me sobra muito tempo para o resto.
Amanhã vou fazer uma pequeno "update" dos artigos do Hoje Macau das últimas semanas, e na sexta-feira o Bairro do Oriente comemora o seu 10º aniversário - sim senhor, ah, já viram? Não estou planear em fazer em nada de especial, mas espero pelo menos assinalar a efeméride. Obrigado mais uma vez a todos os que estão aí desse lado, e desculpem qualquer coisinha.
زيت الزيتون Azeite
Ana Malhoa tem um vídeo novo, este que vemos aqui em cima, e que se chama "Ampulheta", e que já tem mais de 250 mil cliques em menos de uma semana. Normal, atendendo à popularidade da artista, que ao contrário do que fazem os seus detractores (e há bastantes) vou evitar chamar de "azeiteira". Não gosto, acho do mais foleiro que há, mas pronto, não como. Ninguém me obriga a visualizar os vídeos ou a escutar a música da Ana Malhoa, que leva já quase tantos anos de vida quantos de carreira, e é pessoa que trabalha imenso, além de ser igualmente uma excelente profissional - diz quem a conhece. Posto isto, este vídeo chamou-me a atenção devido a uma série de comentários que li na publicação online do jornal Blitz, que lhe deu destaque, e dos quais selecionei alguns, para que se tenha uma ideia do "problema":
E pronto, a Ana Malhoa resolve dar uma de odalisca, veste-se de semi-arabesca, vai filmar para um "deserto" (que na verdade é uma pedreira), e salta logo a histeria islamófoba da "invasão do Islão". Onde diabo está aqui a Ana Malhoa a "ofender", ou a "promover" o Islão ou outra coisa qualquer? É a Ana Malhoa, cum raio! Eu imagino o sofrimento das pessoas que padecem desta maleita quando se deparam com coisas destas; entortam a boca, piscam compulsivamente de um olho, e pimba! não resistem e vão desabafar nas redes sociais, aprestando-se a fazer estas figuras tristes. Se forem ver a contabilidade dos "likes" no vídeo da cantora, vão verificar que são poucos mais que os "dislikes", o que é pouco habitual para a artista em questão. Ou a Ana Malhoa é realmente uma pessoa acima destas parvoíces, e nesse caso tiro-lhe o chapéu que não uso, ou deu um passo em falso em matéria de "marketing". Seja como for, daqui a uns tempos todo a gente se esquece. E ainda bem.
Sinceramente tenho saudades dos tempos em que as pessoas eram saudavelmente ignorantes. Lembram-se das Doce, e do seu "Homem das Arábias", que no início dos idos anos 80 nos deixavam a cantarolar "Ali-Babá, bá-bá-ali"? Que bom que era, quando falar de árabes era sinónimo de mil e uma noites, do Aladino e do génio da lâmpada. Ai, suspiro. Hoje, enfim, é disparate em cima de disparate, e um simples véu é mote para conversas sobre "terrorismo", "opressão", e toda a loja dos horrores. Haja paciência. É só para concluir:
Foge, Roberto Leal! Vem aí o Daesh!
O melhor pior anúncio de sempre
Este é possivelmente o pior anúncio da história da publicidade. É tão mau que chega a ser encantador, e ganhou um estatuto de culto no Brasil, de onde é originário, mais precisamente do Estado de Minas Gerais. Esta é uma empreitada que é tão má em todos os aspectos, mas de uma maneira tão equilibrada que chega a ser uma forma de arte. Se Ed Wood Jr., considerado o pior realizador de cinema de todos os tempos, tivesse feito um anúncio, seria este, com toda a certeza.
Nele vemos um casal interracial deitado numa cama, trocando carícias pós-coito (aparentemente), e ficamos com a ideia de que se trata de um anúncio de contraceptivos, ou quem sabe "lubrificantes", como o título do vídeo sugere. Sim, de facto são lubrificantes, mas já lá vamos. A fêmea do casal desabafa com o parceiro que "foi a uma loja de cosméticos", e ao contrário do que prometia "o comercial", ali os preços eram "um absurdo". O parceiro responde-lhe que não acredita em publicidade, e é por isso que troca o óleo do carro na "Patos Lubrificantes", e sai de lá com o carro "uma maravilha". É que lá na Patos Lubrificantes, "eles não fazem propaganda, não", o que pode ajudar a explicar a tragicomédia que foi este anúncio: eram marujos de primeira viagem.
Em primeiro lugar a explicação quanto a este nome tão curioso, "Patos Lubrificantes": é uma oficina de manutenção de automóveis localizada em Patos de Minas, uma cidade de MG, que parecendo que não, ainda tem cerca de 150 mil habitantes. E para que não restem dúvidas que não se trata de uma brincadeira...
...aqui está ela, a oficina da Patos Lubrificantes, na Rua Major Gote, nº 2200, Patos de Minas, MG. Espero sinceramente e para o bem dos seus clientes que eles entendam mais de carros do que de publicidade. Mas voltando ao anúncio, mais precisamente àquilo que lhe dá um toque de surrealismo...
...o cenário. Quer dizer, qual foi o génio que se lembrou deste quadro para fazer um anúncio de uma oficina de automóveis? É que aquela conversa podia ter decorrido...sei lá, em qualquer outra localização existente, que seria sempre menos estranha que esta? Será que tinham um orçamento tão reduzido que aproveitaram o intervalo da rodagem de um filme pornográfico para poupar nos actores? E aqui uso a palavra "actores" muito livremente - aqueles jovens estão nitidamente a ler as suas falas (e pela primeira vez, a julgar pela entrega). Se esta é uma "escola" qualquer de publicidade, é completamente nova, e única.
Seja como for, o vídeo propriamente dito tem 260 mil visualizações no YouTube, mas o vlogger Filipe Neto incluiu-o na sua lista de "Comerciais mais bizarros", e "captou" mais de 3 milhões de espectadores (que bom para ele, será que lhe pagam?). É bizarro, sim. E é maravilhoso, também. Fico feliz por puder ter testemunhado uma coisa destas no meu tempo de vida.
E já agora, e para terminar, um pequeno conselho. Se estiver em Patos de Minas e tiver problemas com o óleo do carro, já sabe onde ir - ao Patos Lubrificantes, claro - mas se a avaria for eléctrica, não hesite...
...e vá à Eletropatos, elétrica para autos. Fica na Rua Piauí, nº 507 - Cristo Redentor, Patos de Minas, MG. E estão ver como se faz publicidade, e sem precisar de meter ninguém na cama de um motel?
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
Un dia que durarà anys
27 de Outubro de 2017 - dia da declaração da independência da República da Catalunha.
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
sábado, 14 de outubro de 2017
(In)declarados
Parece ter chegado a um aliviante impasse, a situação na Comunidade Autónoma da Catalunha, depois do seu presidente Carles Puigdemont ter vindo ontem declarar a “independência suspensa” da região, o que em termos práticos significa que se regressa a estaca zero, ao momento antes do anúncio do referendo do último 1 de Outubro. O diferendo entre Madrid e Barcelona já é novidade nenhuma para ninguém, divide as opiniões, por vezes de forma mais apaixonada do que seria normal, mas por enquanto não, não vamos ter a reprise da Guerra Civil espanhola, ninguém vai ser encostado a um paredão e fuzilado, não vão haver terrores brancos, vermelhos ou de outra cor qualquer. E ainda bem, digo eu. A tal independência fica agora “suspensa”, qual “jamon” ibérico num fumeiro da fronteira com a França (pessoalmente prefiro o salmantino). Parece que numa Europa onde as tensões ideológicas parecem subir cada vez mais de tom, este é um refrescante passo atrás no que toca à questão catalã.
De facto a questão da Catalunha é demasiado complexa para se chegar a um consenso. A região pertencia à antiga coroa de Aragão, em conjunto com actual comunidade autónoma com o mesmo nome, a comunidade valenciana, as ilhas Baleares, a Sardenha, a Córsega e o sul de Itália. Com o fim deste reino, em inícios do século XVIII, os chamados “países catalães” foram integrados na coroa de Castela, mas isto nunca foi pacífico. A última vez que a Catalunha declarou a independência foi em 1934, por Lluís Companys, uma espécie de Puigdemont da época, que seria julgado e executado seis anos mais tarde pelo regime franquista, depois do fim da Guerra Civil. A opressão exercida por Franco parece ainda bem presente na memória dos povos que compõem a Espanha actual – e porque não haveria de estar, uma vez que nem passaram 50 anos desde a morte do “caudilho” galego – e a Catalunha não foi excepção. Franco proibiu a língua catalã, entre outras medidas na tentativa de uniformizar a nação espanhola, e só a partir da constituição de 1978 os catalães voltaram a ver reconhecida a sua identidade.
Ao contrário dos bascos, que enveredaram pela luta armada, os independentistas catalães optaram antes pelo endoutrinamento, levando ao aparecimento de uma geração que pouco ou nada quer ter a ver com Madrid. O argumento económico não é também despeciendo, uma vez que a Catalunha contribui com uma boa parte do PIB de Espanha, um argumento que, e sejamos honestos, não é fácil de digerir no contexto de um território debaixo da mesma bandeira, e tão vasto como é a Espanha. O próprio parlamento catalão é o reflexo desta divisão; os independentistas do “Juntos pelo sim” ocupam 62 dos 135 assentos, e precisam da “muleta” do CUP (Candidatura de Unidade Popular), que detém 10 lugares, para formar uma maioria que lhes permita governar. Quanto ao referendo que Madrid proibiu e reprimiu, e cuja adesão e a própria forma como foi realizado não nos deixa saber realmente qual é a vontade do povo catalão, há um dado a reter: o da abstenção. É desonesto afirmar que os catalães que não participaram do referendo não estão interessados na independência, e a tal “maioria silenciosa” da qual uma parte saiu às ruas no início desta semana declarando a sua lealdade a Madrid, pode não ser uma maioria, de todo.
A muitos de nós, portugueses, encanta o romantismo da causa da independência catalã – deve ser a nossa costela da padeira de Aljubarrota a falar mais alto. Chegou-se mesmo a estabelecer um paralelo entre a actual situação na Catalunha e a restauração de 1640, pelo menos no que concerne à legalidade e à constitucionalidade da iniciativa separatista; Portugal também se declarou independente à revelia da vontade de Castela. Outros há ainda que não viam com bons olhos o nascimento de uma terceira nação ibérica, e curiosamente vi gente que esteve do lado do Brexit a manifestar-se contra a “terra lliure” catalã, como se existissem cisões que se justificam mais do que outras (a própria União Europeia opôs-se desde a primeira hora às intenções separatistas da Catalunha). Nas redes sociais as posições extremaram-se, os ânimos exaltaram-se, amigos desamigaram-se, pintaram-se os piores cenários, choveram acusações de parte a parte, enfim, uma indigesta butifarra. Não há necessidade, então? A gente pode trocar ideias e pontos de vista divergentes, sem tornar isto num Real Madrid – Barcelona…
Portugal no mundial da Rússia
A selecção portuguesa de futebol qualificou-se na última terça-feira para o mundial de 2018 na Rússia (sim, eu sei, tenho andado "very busy"), ao bater em casa a sua congénere da Suíça por 2-0, na última jornada do Grupo B da zona europeia de qualificação. Portugal só tinha perdido na ronda inaugural com os mesmos suíços, e pelo mesmo resultado, e de uma campanha completamente vitoriosa de ambas as partes, os nosses rapazes acabaram por obter a qualificação directa através de um melhor "goal average" sobre os helvéticos. Num jogo em que as bancadas do Estádio da Luz estiveram repletas de celebridades - com destaque para a rainha "pop", Madonna - Portugal fez uma primeira parte sofrível, mas que teve um final feliz graças a um autogolo do defesa Johan Djorou. No segundo tempo a equipa de Fernando Santos evidenciou a sua superioridade sobre o adversário, e além de ter marcado um segundo golo por intermédio de André Silva, ainda viu Cristiano Ronaldo falhar uma oportunidade na cara do guarda-redes suíço. Valeu a vitória, que era o essencial, num grupo em que Portugal e a Suíça foran bastante superiores à oposição, terminando ambos com 27 pontos, mais que o dobro dos pontos do terceiro, a Hungria, que só somou 13. A Suíça ainda pode chegar à fase final do mundial através do "play-off". Portugal qualificou-se pela sétima vez na sua história para um mundial, e pela quinta consecutiva, e não falha um torneio internacional desde 1998. Uma geração bem habituada, esta dos adeptos das cores da selecção lusa.
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Provedor do leitor
Bem vindos a mais um Provedor do Leitor, que demorou por motivos de eu ter mais que fazer. Assim, no post Uma estátua, da última sexta-feira, recebi alguns comentários, dos quais destaco dois. Primeiro este:
Hmm...sim, isto dava pano para mangas, mas mantenho-me fiel à elucubração que deixei no post. Só queria deixar claro ao estimado anónimo que não me chamo "Gomes". O meu nome é Luís Crespo. Posto isto...
No mesmo post recebi um comentário de um elemento do "Escudo Identitário", negando a ligação deste grupo ao PNR. Fiz o que me sugeriu, apresentei-lhe as evidências que me deixaram a pensar que de facto tinham alguma ligação de extrema-direita, e eles insistiram que não, não têm - que bom para eles, sinceramente. De resto, gostava de salientar a simpatia e a diplomacia com que me responderam, por muito que eu não concorde com os ideias deste espectro político. Finalmente...
Ah ah ah ah!, deveras. Recebi este comentário da visada no post Perguntar não ofende, do último dia 3, e ao mesmo tempo...
...este outro, do post Vergonha! Nojo!, da última sexta-feira. Ora bem, esta senhora, que andou a pedir mais mortos em Pedrógão Grande para os usar como arma de arremesso contra o Governo, e que nas últimas eleições autárquicas levou um MELÃO de todo o tamanho, devia olhar ao espelho antes de fazer estas tristes insinuações - como é aliás seu apanágio:
Depois desse ENORME sucesso que foi criar uma "plataforma cívica" nas redes sociais na sequência da tragédia de Pedrógão, e que em quatro meses teve a adesão de menos de 3 mil pessoas, desatou a publicar vídeos que ninguém vê - 15 pessoas interessadas nas "mentiras do Costa"? Eu tenho mais que o triplo dessas visualizações com as palhaçadas de segundos que publico no YouTube. Eu tenho 42 anos, e não preciso de publicar uma "carta aberta" parva dirigida à Mariana Mortágua ou a mais ninguém para me dar a conhecer (Comprou o seu primeiro carro com o seu dinheiro aos 23 anos? Ah, valente!), e tives durante a minha juventude certas experiências, como quase toda a gente teve, mas não cheguei a esta idade a falar sozinho. Isto para que se veja quem é que está aqui "queimado". No seu caso deve ser por culpa da tinta no cabelo.
E é só. Muito obrigado pela atenção.
domingo, 8 de outubro de 2017
As insinuações da Parrachona
Fernando Duarte Rocha, marido da actriz Maria Vieira, voltou à carga na página de Facebook da mulher - se não foi ele, PAGO para ver ela assumir isto que aqui está, e o que vem a seguir. Desta vez a "Parrachona" pegou numa notícia a propósito de uma exposição de arte no Brasil, "cozinhou-a" à sua boa maneira fascista e nazi, e "imaginou" uma mirabolante teoria da conspiração em que "a esquerda", em conluio com "os regimes islâmicos", visam a "normalização da pedofilia". Mais uma vez o Bloco de Esquerda, um espinho na pata deste triste personagem, volta a ser seu alvo preferencial. Mas quanto à tal exposição de arte no Brasil, vamos ver o que aconteceu, concretamente. Como diria um conhecido dirigente desportivo português, "o que passou-se"?
Se quiserem podem ler aqui a notícia do Estado de S. Paulo, que explica o incidente, e do qual destaco estas passagens:
"Em nota divulgada no Facebook, o MAM ressalta que a criança estava acompanhada da mãe e que a sala onde ocorria a performance estava "devidamente sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística". O museu também garante que o trabalho, entitulado "La Bête", não tem qualquer conteúdo erótico".
"A criança parece mostrar curiosidade enquanto engatinha pelo tatame, vendo uma mulher adulta tocar os pés do artista. A mulher a incentiva a participar, a menina ri, toca rapidamente os dedos dos pés dele, e volta à plateia diante de sorrisos do público".Ora bem, apesar de eu próprio considerar que aquela é uma mãe irresponsável, e que a exposição não se inclui naquilo que eu considero arte, ou sequer bom gosto - mas e depois? - esta é apenas minha opinião! Há quem considere isto "interessante", ou reconheça-lhe valor artístico, enfim. O que eu não entendo é como é que dá para politizar essa desgraça que é a pedofilia, e a partir desta exposição urdir aquelas conclusões para lá de delirantes. E já agora, quem disse que a pedofilia é um exclusivo das esquerdas, dos islâmicos, ou de outra parte qualquer?
Este é Milo Yannoupoulos, homossexual, ex-editor da Breitbart e conhecida personalidade da alt+right norte-americana, já algumas vezes elogiado pela Parrachona, que o considera uma espécie de "farol para a comunidade LGBT", devido às suas posições anti-islâmicas. Yannopoulos foi apanhado neste entrevista (vejam a partir dos 3 minutos) a defender as relações entre adultos "de 30 e 40 anos" e crianças de 14 ou 15, considerando-as "uma coisa normal", para choque do entrevistador. E esta, hein? E agora, pode-se tirar daqui que conclusão, além de que este indivíduo é um doente? E ele representa toda a sua laia, a direita, ou sequer parte dela? Claro que não! Que parvoíce.
E para terminar mais este pudim indigesto servido pela Parrachona, há isto:
E para terminar mais este pudim indigesto servido pela Parrachona, há isto:
Well, well, well. A quem é que o Fernandinho se referia, exactamente? Acho isto bastante estranho, uma vez que os defensores desta autêntica pouca vergonha louvam a "Maria Vieira" pela sua frontalidade, e por "não ter papas na língua". Então porque não concretiza aquelas insinuações carregadas de veneneno, de azedume, de insídia? É mesmo disto que o meu povo gosta? Duvido muito. Já passou do prazo de validade, esta farsa que nunca devia ter começado. Felizmente para as pessoas de bem e infelizmente para a Parrachona, este caminha a passos largos para o abismo. Que ele próprio cavou, claro.
Não corra, Andorra!
Foi com a cabeça no jogo decisivo da próxima terça-feira na Luz contra a Suíça que Portugal entrou ontem no Estadi Nacional em Andorra-a-velha, e de lá saíu com uma magra vitória por 2-0 contra a modesta selecção da casa. Tal como se esperava, Andorra defendeu com unhas e dentes, com o objectivo de não sair goleada, mas Portugal só conseguiu os dois golos que lhe garantiram os três pontos no segundo tempo, depois da entrada de Cristiano Ronaldo, que desbloqueou a muralha defensiva da equipa adversária. Fernando Santos deixou o nº 7 no banco, em virtude deste ter um cartão amarelo e poder falhar o jogo de terça caso fosse novamente admoestado. Depois de uma primeira parte sem brilho e sem golos, com André Silva muito desinspirado lá na frente, o jogador do Real Madrid entrou para o lugar de Gelson Martins, e inaugurou o marcador aos 63 minutos. André Silva ainda se viria a redimir, apontando o segundo já nos minutos finais do encontro.
Portugal chega à última ronda do Grupo B da zona de qualificação europeia - nitidamente o mais desequilibrado - a depender de si mesmo. Os suíços fizeram o que lhes competia e bateram a desapontante selecção da Hungria por 5-2, mas graças ao maior "goal average", basta à nossa selecção vencer na Luz para garantir o primeiro lugar. De recordar que Portugal foi na Suíça por 0-2, numa partida disputada logo na primeira ronda da qualificação.
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Vergonha! Nojo!
Sim, 64, estes dois estarolas - para não lhes chamar coisa pior - "foram a votos" ostentando o número de mortos nos incêndios de Pedrógão Grande. O número oficial, portanto, que não é aquele que estes "anjinhos" queriam, pois andaram MESES a falar em CENTENAS DE MORTOS, ficando mais tarde satisfeitos com "cerca de uma centena", e agora, que vêem a sua canalhice definhar, contentam-se com "64, ou mais". Não há palavras para descrever o esgoto que esta gente é. Por detrás desta falta de verticalidade está uma tal de Cristina Miranda, como podem ver em cima na imagem. A assalariada da pulhice chegou mesmo a criar um movimento:
Este, quem em 4 meses de existência conseguiu menos que 3 mil seguidores. Até a extrema-direita, skinheads, neo-nazis e afins conseguem mais do que isso, e em menos tempo. Olhe, paciência, se pensou que um dia acordou para o lado que interessava a mais alguém. Será que teve educação moral e cívica, ao ponto de entender que não se deve capitalizar com o sofrimento e a dor alheias? E já agora...
Obrigado por me ter seguido, que assim fico dispensado de a notificar. Não que isso me rale, pois ao contrário de si, escrevo descomprometidamente, sem ambições políticas de espécie alguma, e sem que me paguem um centavo que seja. E por falar nisso, desconheço se é professora de "franciú", mas certamente de Matemática não é:
Com que então "este era o sonho" de Catarina Martins. Ai foi ela que "engoliu sapos" - precisa que lhe recorde mais uma vez que apesar das campanhas negras que encetou e da baixeza de carácter que demonstrou, o PS ganhou em Pedrógão? "Derrota dos outros"? Se acha que a CDU ter perdido dez câmaras e o PSD ter perdido nove para o PS "é a mesma coisa", então está mais desfasada do que eu pensava. E sim, o BE "deu um salto" nestas eleições, mesmo que pequeno:
O BE foi o único partido a subir além do PS, e a sua coordenadora teve a humildade de admitir que não cumpriu um dos objectivos, que era impedir as (muitas) maioria dos socialistas. Mesmo assim obteve mais 50 mil votos e mais quatro mandatos que em 2013, e com a eleição de Luís Robles na CM de Lisboa, "arriscam-se" a mandar na capital, ao lado de Fernando Medina. Por muito que a senhora tente, os seus argumentos são patéticos, e evidenciam desespero. Dedique-se antes a fazer o que sabe, que é ensinar sei lá o quê, que para isto vê-se logo que não tem jeitinho nenhum. E passe bem, se conseguir. Deve ser difícil ser quem é.
Uma estátua
Esta é estátua dedicada ao Padre António Vieira, inaugurada em Junho último no Largo da Trindade, em Lisboa, e que está a causar uma celeuma a todos os títulos desnecessária, e triste. Acontece que ontem, feriado do 5 de Outubro, o SOS Racismo, encabeçado por Mamadou Ba, resolveu organizar uma manifestação contra a estátua, com o pretexto de que o Pe. António Vieira era um "esclavagista", e um "racista". Antes de mais nada, vamos discorrer sobre esta alegação, que não sendo inteiramente falsa, é no mínimo um anacronismo. Em primeiro lugar o padre António Vieira, um dos maiores vultos das letras em português, era um homem inteligente, pio e bom, foi contra a escravização dos indígenas brasileiros, contra a perseguição dos judeus, MAS era a favor da escravatura dos negros no Brasil, tendo sido inclusivamente a favor da repressão do Quilombo dos Palmares, uma comunidade de escravos negros feitos livres na colónia portuguesa. Contudo...
...a escravatura negra era a posição da Igreja Católica na altura - e convém relembrar que estávamos em pleno século XVII, e o Pe. António Vieira manteve-se fiel a essa posição, que tem um fundamento bíblico criacionista, nomeadamente no livro do Génesis. Tudo tem a ver com uma fábula que dá conta da "traição" de Cam (ou "Cham", ou "Cão"), o filho mais novo de Noé, logo após o Dilúvio, conforme consta no primeiro livro do Antigo Testamento, dos versículos 9:20 e 9:27:
Isto em termos leigos, é mais ou menos assim: depois do Dilúvio, Noé plantou uma vinha, bebeu do seu fruto, e ficou embriagado, adormeceu, e deixou as suas "vergonhas" expostas. Cam, seu filho, em vez de salvaguardar o pudor de seu pai, chamou os irmãos e escarneceu dele. Posto isto, Noé lançou uma maldição sobre Cam e sobre Canaã, filho deste. Canaã é, segundo a Bíblia, o "pai" das pessoas de pele escura, e assim sendo, "seja-lhe Canaã (e seus descendentes) como servo".
Isto é grave, é sério, é pesado, mas tem que ser contextualizado à época, e falamos aqui do século XVII, quando a Igreja Católica era (ainda mais) conservadora. O sr. Mamadou Ba, que suponho ser uma pessoa inteligente, devia ter estes aspectos em conta. A estátua do Largo da Trindade celebra o lado humanista e o génio literário do Pe. António Vieira, e não a sua faceta de esclavagista e apoiante do cativeiro dos negros, que considerava ser para eles "uma benção de Deus". O problema - e aqui deve ter existido alguma fuga de informação - foi que a suposta manifestação foi impedida por elementos da extrema-direita, vulgo "skinheads", ou "neo-nazis":
Estes são elementos do Escudo Identitário, um grupo mais ou menos recente com ligações ao PNR, e que se aproveitou do protesto do SOS Racismo para aparecer (têm apenas cerca de 400 seguidores no Facebook), e com isso ganhar pontos, além de visibilidade. Confrontado com a situação, eis o comentário de Mamadou Ba nas redes sociais:
Não, meu caro, a estátua não é uma "inaceitável provocação", mas serviu de pretexto para que a extrema-direita aparecesse. Se a ideia era demonstrar que existe uma "insurgência" de grupos xenófobos e racistas, parabéns, conseguiu isso. O problema é que as opiniões quanto a esta iniciativa dividem-se, e com o fiel da balança a pender para a reprovação. Recomendava-lhe que fosse menos impulsivo, e que estudasse um pouco mais de História. Sim, a escravatura foi um episódio lamentável, mas convém olhar para a frente, e investir as suas energias nas causas certas. E creio que aí concordará comigo quando digo que ainda há muito por fazer no que toca às consciências. Mas o Pe. António Vieira? Por favor, não vá por aí.
Youtuber
Esta é a canção vencedora do concurso "Portugal Juniores", que se realizou ontem - "Youtuber", interpretada por Mariana Venâncio. Portugal vai participar pela terceira vez no Festival Júnior da Eurovisão, depois de dez anos de ausência, e mais valia ter continuado assim. Já me chamaram "festivaleiro pimbalhão" e outras coisas por eu gostar do Festival da Eurovisão, mas este certame reservado a crianças entre os 10 e os 15 anos é algo que ainda não consegui entender muito bem. Boa sorte para a Mariana, de qualquer das formas.
Curiosidades sobre o mundial de sub-17
Arranca hoje e até ao próximo dia 28 a 17ª edição do mundial de sub-17, e que se realiza em seis cidades da India. A Nigéria, vencedora das duas últimas edições, vem procurar o sexto título, e vai encontrar uma oposição de peso, desde os campeões sul-americanos Brasil, à Espanha, campeã europeia, e outras selecções com nomes menos sonantes no futebol sénior, mas que a este nível conseguem por vezes surpreender. Vamos a uma pequena análise do torneio, referindo algumas das suas curiosidades mais interessantes.
Portugal não tem grandes tradições nesta prova, e assim mais uma vez não se conseguiu qualificar. Contudo há um português na competição, e é nem mais que o treinador da equipa da casa, o nosso conhecido Luís Norton de Matos, que foi indigitado selecionador dos sub-17 da India em 1 de Março deste ano, depois de ter trabalhado em Portugal pela última vez no União da Madeira. Espera-lhe uma tarefa complicada, pois os jovens indianos estão no grupo A, com os Estados Unidos, Colômbia e Gana, equipas com muito mais experiência nestas andanças.
Sangue luso-angolano há também na selecção da Inglaterra, com este jovem promissor dos quadros do Manchester United, Angel Gomes, filho de Gil Gomes, que se estiverem recordados, foi campeão do mundo de sub-20 por Portugal em 1991. A Inglaterra conta com alguns nomes de peso para além de Angel, como são os casos de Jadon Sancho (Borussia Dortmund) ou Steven Sessegnon (Fulham). Recorde-se que a Inglaterra é actual campeã mundial de sub-20, e tem obtido excelentes resultados ao nível da formação.
Outro nome português, e também de apelido Gomes: Claúdio Gomes, um jovem de 17 anos de origem guineense das escolas do Paris SG, e que vai capitanear a selecção francesa. Outro nome a ter em conta nos gauleses é o avançado Willem Geubbels, que já fez a sua estreia pela equipa principal do Lyon, apesar dos seus 16 anos.
Um dos cabeças de cartaz da competição é sem dúvida Timothy Weah, filho do antigo internacional liberiano e vencedor do Balon D'or, George Weah, e de quem já falei neste artigo. Apesar de alinhar actualmente pelos sub-19 do Paris SG, Timothy aparece neste mundial a representar os Estados Unidos, país onde nasceu. Certamente que se se confirmar o seu talento, a França estará interessada numa eventual mudança de aliança por parte do jogador.
A Coreia do Norte participa neste mundial pela 5ª vez, e pela segunda consecutiva. Na equipa norte-coreana há seis jogadores de apelido Kim, e o treinador chama-se Kim Yong-su. Além da equipa da casa e dos norte-coreanos, os restantes representantes do continente asiático são o Irão, o Iraque e o Japão. A Nova Zelândia e a Nova Caledónia, esta última uma estreante, representam a Oceânia, enquanto que o Niger também faz a sua primeira participação como representante do continente africano, em conjunto com a Nigéria, Gana, Guiné e Mali.
quarta-feira, 4 de outubro de 2017
terça-feira, 3 de outubro de 2017
Perguntar não ofende
Gostava de saber o que é que a Cristina Miranda pensou da vitória do PS em Pedrógão Grande, depois de ter andado MESES a fazer propaganda anti-Governo e a pedir mais mortos no incêndio (ver este post, de Julho último). Eu dizia-lhe para ganhar vergonha na cara, mas acho que a tinta azul que a madama usa no cabelo afectou-lhe o cérebro.
E a criatura ainda estrebucha, fazendo um "surf" virtual na onda de ressabiamento com os resultados das últimas eleições. É para isso que lhe pagam, já que o salário de professora de "franciú" (não, não é de Ciência Política, Economia ou Filosofia: é "franciú") não lhe chega. Um dia chegamos a sonhar que somos alguém e toda a gente nos lê e escuta. Outro dia acordamos e somos uma Cristina Miranda qualquer desta vida. Chapeau.