sexta-feira, 26 de junho de 2009

O factor filipino


O estranho incidente (mal-entendido, como foi explicado) com o candidato filipino da lista "Voz Plural, Gentes de Macau", Rodantes di Tuejano não deixa de ser curioso, e ao mesmo tempo sintomático.

Pela primeira vez a comunidade portuguesa e macaense do território se lembra daquela que é actualmente a segunda maior comunidade, depois da chinesa. Hoje há mais de 10 mil filipinos em Macau, mais que o dobro dos que existiam durante a administração portuguesa.

Nesses tempos a comunidade filipina cingia-se às empregadas domésticas, na sua maioria ao serviço dos portugueses. Actualmente continuam as empregadas, mas juntaram-se comerciantes, profissionais liberais e outros que se integraram na vida da nova RAEM, ao serviço de casinos e outros lugares outrora impensáveis.

Quando se pensava que a comunidade se desintegraria com o handover e a saída dos portugueses, ganhou um novo fôlego, ganhou asas e voou. Podemos ver hoje espalhados um pouco pela cidade supermercados, kerinderias (pequenos restaurantes de take-away), cabeleireiros, de tudo um pouco.

Se há dez anos ou mais os filipinos estavam dependentes da comunidade portuguesa, e conviviam mais de perto connosco como forma de poder angariar com isso vantagens, hoje são mais independentes. Continuam a nutrir por nós uma espécie de simpatia típica dos povos latinos, mas sinceramente não nos vêem como os amos que outrora eramos considerados.

Basta passar pela Rua dos Cules e a Rua da Alfândega para perceber o que é a comunidade filipina. A qualquer hora do dia podemos perceber a azáfama da comunidade e a forma como se implantou no local aquilo que se chama de "Pequena Makati", o centro financeiro de Manila (com as devidas distâncias, é claro). Filipinos bebem cervejas na rua, comem halo-halo, sentam-se à porta dos prédios a conversar, enchem os inúmeros cybercafés existentes, organizam-se e fazem pela vida. Têm a capacidade de ocupar lugares públicos para assinalar os seus dias festivos, e até já têm um consulado-geral a funcionar no território de forma permanente.

Ao escolher um filipino para nº 7 da lista, a VPGM faz bem. Angariar os votos dos (muito poucos) cidadãos filipinos recenseados é melhor que nada, e sempre é uma forma de conseguir uma aproximação que já tardava. O caso da confusão à volta da inclusão do nome de Tuejano na lista só pode ser entendido como um sinal de boa sorte, um baptismo de fogo. Assim como os chineses acreditam que um incêndio no dia da inauguração de uma loja é bom agoiro. Vamos esperar que sim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ó Leocardo, não seja inocente. E já agora, o Tuejano não se chama Tuejano, chama-se Quejano...

Leocardo disse...

O jornal dizia Tuejano, e eu não conheço o senhor em causa. E porque diz que sou "inocente"?

Cumprimentos.