terça-feira, 30 de junho de 2009

A gripe e o estigma


Já foram confirmados 26 casos da gripe suína, ou gripe A, causada pelo vírus H1N1 no território. Hoje foram detectados mais seis casos, todos num infantário da Rua do Campo. Com este número de casos, Macau entreou definitivamente no mapa da pandemia. Ao contrário da epidemia da SRAS, à qual Macau passou incólume, a gripe veio para ficar. Com esta tendência de aumento de novos casos, podemos esperar centenas de casos, infelizmente. O que mais me preocupa com toda esta situação é o estigma que ainda existe à volta desta gripe. A memória da SRAS ainda está bem presente, e no início o cenário era aterrador, e há quem tenha feito comparações descabidas com a gripe espanhola de 1918, que se estima ter dizimado 5% da população do planeta.

É normal que se façam estas comparações e se pense no pior cenário quando ainda se conhece pouco de uma doença, ou quando ainda não existe uma forma de prevenção 100% eficaz. Em primeiro lugar, isto é apenas uma gripe. Sim, é verdade que já matou 311 pessoas em 13 países, mas a esmagadora maioria dos mais de 70 mil infectados já está de volta aos seus afazeres normais, como se nada fosse. Além disso, a maioria das mortes estão ligadas à conjugação de uma série de factores, que não fazem desta gripe mais letal do que a comum gripe sazonal. Aqui os números falam por si. Não é a peste negra, não é uma maldição e não deixa mazelas que se carreguem para o resto da vida. Não quero dizer com isto que se deva deixar de combater a pandemia ou simplesmente encolher os ombros e pensar "se acontecer, aconteceu". Todo o cuidado é pouco, mas isto não nos impede de viver uma vida normal.

Todos os dias vejo e ouço casos de pessoas que entram em pânico se apanham uma simples constipação (muito comum com este regime de chuva + ar-condicionado), de pessoas que não consultam o médico a não ser que a situação seja insuportável (febres altas e sintomas evidentes), e de pessoas que se afastam de alguém simplesmente porque espirra. Um simples espirro basta para que se apontem dedos acusatórios e bitaites do tipo "porque é que não usas a máscara?". Eu próprio espirro várias vezes por dia (quem conta?) e no estou nem estive doente. A única coisa boa que saíu de todo este alarme foi a frequência cada vez maior com que se faz agora a limpeza em edifícios públicos e residenciais. Pelo menos os fabricantes de produtos de limpeza e de máscaras ganham com tudo isto.

Outra parvoíce que ouvi nos últimos dias foi que "é preciso ter cuidado com os filipinos", visto que foi neste grupo étnico que se verificaram os primeiros casos, ou em pessoas que regressaram das Filipinas. Mas surpresa das surpresas, nas Filipinas foram registados menos casos que na China, Japão, Tailândia ou Austrália, sto falando apenas da região Ásia-Pacífico. Ninguém está completamente imune à gripe, e o vírus não escolhe raça, cor ou nacionalidade. É preciso estarmos todos unidos para combater esta pandemia, e para evitar que as consequências sejam desastrosas a todos os níveis. Precisamos de estar mais atentos às crianças e aos velhos, cujo sistema imunitário é susceptível de sofrer mais com a gripe - qualquer gripe. E toca a mudar esses hábitos de higiene, se for esse o caso.

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