segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Ó tempos, ó moral
Lembro-me bem do tempo em que frequentava algumas discotecas “da pesada” em Macau. Gloriosos tempos de solteiro, em que o dia se confundia com a noite, que era cheia de surpresas e loucas aventuras. Recordo-me de encontrar entre a fauna nocturna gente jovem, gente bonita, gente que não via durante o dia. As meninas chamavam-se particularmente a atenção. Entre os seus 16 e 20 e tal anos, impecavelmente bem vestidas, maquilhadas, com curvas mais perfeitas que muitos top-models, que deixavam qualquer homem de boca aberta. Como dizem os franceses, eram só para olhar, não para tocar.
Eram as meninas das tríades, sempre acompanhadas pela chungaria. Até um olhar menos bem intencionado podia ser a morte do artista. O que faziam estas meninas para ganhar o pão? Pensava eu. Provavelmente nada. Ao contrário das mosquinhas mortas que encontramos todos os dias nas repartições, nos casinos ou nos bancos, não precisavam de expôr a pele aos raios ultravioletas do dia. A sua única função era serem e permanecerem deslumbrantes.
Quando li a notícia daquela pêga italiana (o que querem que eu a chame?) que quer leiloar a sua virgindade por um milhão de euros ou mais, fiquei chocado, mas não surpreendido. Quando cheguei a Macau alguém me disse que muitas das meninas adolescentes do território vendiam a virgindade, especialmente em Hong Kong, a quem pagasse mais. O conceito mui pragmático a atirar para a rameirice é simples: para quê sacrificar algo de tão valioso (ou irrelevante, depende do ponto de vista) a um palerma apaixonado qualquer se há por aí alguém disposto a pagar por isso? Não interessa que se entreguem às mãos de um possível maníaco, com intenções menos ternas.
Já aqui referi o exemplo do enjo kosai, prática cada vez mais em voga na região, e basta olhar para este website para perceber que nem Macau fica de fora da moda deste tipo de “encontros imediatos”. Quando o vil metal fala mais alto que se lixe a moral e os bons costumes. É preciso dar o corpo ao manifesto, literalmente. Alugam casas, quartos de hotel (dos baratuchos), dão uma de "menina independente", às vezes à revelia da família, amigos ou namorado, que só ficam a saber quando se dá uma tragédia.
Depois há o caso das actrizes da região que se prostituem para poder manter o seu estilo de vida luxuoso (o escândalo Edison Chen foi um bom exemplo). São por demais conhecidas histórias de modelos, cantoras ou actrizes do Sudeste Asiático que viajam até países árabes onde os petro-milionários realizam autênticos festins à sua custa, em que realizam práticas sado-masoquistas e mesmo sodomitas, e que pagam exorbitantemente.
A prostituição em Macau, localizada sobretudo na zona da Av. Almeida Ribeiro até ao Porto Interior (e em cada vez mais hotéis, bares ou moradias noutros pontos da cidade), tem como autoras mulheres originárias principalmente da China, que vêm para o território voluntariamente para se prostituírem. Os casos das que são enganadas ou obrigadas a fazê-lo fazem capa de jornal, e valeram à RAEM o estatuto de “local onde se pratica tráfico humano” ao lado de países que nada têm a ver com a nossa realidade. Estes casos são uma gota no oceano imenso da prostituição em Macau. Basta dar uma voltinha pela Av. Almeida Ribeiro até ao Largo do Senado à noite para perceber isto.
Um estudo realizado há mais ou menos um ano nas regiões de Cantão e Hong Kong demonstrou que 40% das mulheres “não querem trabalhar”, e que “preferem arranjar um marido rico”. Isto fere de morte as conquistas das pobres mulheres que durante séculos tentaram lutar contra o machismo e o preconceito que as impedia de trabalhar e ganhar tão bem ou mais que os homens, como se verifica hoje em dia, pelo menos nos países civilizados. Só faltava mesmo que quisessem deixar de votar e encontrassem antes “um homem rico que votasse por elas”. A tendência deste mundo cada vez mais estranho e alienado é esta. O sexo vende, a carne é fraca, e tem um preço. Tudo tem um preço.
considera incorrecta a designacao de "pêga italiana ", pois estando ela leiloandoa virgindade, so pode ser pêga, depois de concretizado o negocio, sobre o caso Edison Chen, nao creio que seja prostituicao, pois tudo indica que eles fizeram por prazer e nao por dinheiro...
ResponderEliminarPois é, é daquelas coisas que fazem "por prazer" no início de carreira. Depois quando se tornam famosas acaba-se o prazer...
ResponderEliminarEu, se tivesse muito dinheiro, também distribuía algum pelas melhores meninas que encontrasse. Passava um bom bocado a comer um belo naco, e elas ficavam com o que queriam: dinheiro. Estes negócios são daqueles que aproveitam a todos.
ResponderEliminarDiscordando, contudo, do acto de vender a própria, ou virgindade alheia, não me dignifica enquanto mulher, o tom paternalista com que o Leocardo se refere a essa mesma virgindade. Não é um tesouro e por isso mesmo, não vale dinheiro algum, ou pelo menos não deveria valer. Já agora, também pensa assim em relação à virgindade masculina?
ResponderEliminarNada mais do que machismo dissimulado.
Desculpe, mas em que parte do texto eu digo que "tem valor"? Tem o valor que cada um lhe quiser dar.
ResponderEliminar"...para quê sacrificar algo de tão valioso (ou irrelevante, depende do ponto de vista)..."
ResponderEliminarExacto, é ambíguo. Em todo o caso já esperava uma reacção deste tipo, principalmente quando se fala da prostituição feminina. Falaria da masculina, também, se a houvesse por estes lados. Se há, está bastante dissimulada.
ResponderEliminarCumprimentos
O leocardo moralista!!! Hum!!! Será Hipocrisia?
ResponderEliminarQuem me dera a mim também ter tido a hipótese de ter perdido a minha virgindade por um milhão, nem que fosse de patacas.
ResponderEliminarNão me diga que pagou mais que um milhão...
ResponderEliminarEheheh gostei dessa ;)
ResponderEliminarNão paguei, mas também não recebi. O problema é esse. E agora tenho de trabalhar, como vocês todos, o que é uma chatice.
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