sábado, 31 de janeiro de 2015

Trabalhador não-residente. Repito: NÃO-residente


A polémica da última semana foi protagonizada pela deputada Kwan Tsui Hang, veterana representante da Associação Geral dos Operários e líder da União para o Progresso e Desenvolvimento. A sra. deputada defendeu um aumento das taxas de acesso a cuidados de saúde por parte dos trabalhadores não-residentes, que segundo ela estão a aproveitar-se de um recurso destinado aos residentes de Macau e pago por eles através dos seus impostos. A sua principal preocupação prende-se com a especialidade de obstetrícia, pois do total de nascimentos na RAEM no último ano, 22% foram de mulheres não-residentes. A deputada considera que este número é excessivo, e que tem implicações directas quer no número de camas disponíveis, quer na qualidade dos serviços prestados às mulheres de Macau. Este tema, que já abordei de uma outra perspectiva, requer uma análise e um tratamento muito cuidadosos, pois mexe com questões do foro humanista. É preciso sempre deixar claro que não sou diferente da maioria dos seres humanos normais e com o mínimo de sensibilidade, identifico entre as minhas qualidades a compaixão, reconheço os méritos do mutualismo, enfim, situações de discriminação e tratamento diferenciado com base na origem, etnia ou condição social causam-me sentimentos de revolta e levam-me a pensar que de "humanos" temos apenas a classificação entre todas as outras espécies. Só que não posso embarcar na galera da indignação desta forma tão categórica, meus amigos. Já sei que este é um tópico que convida e desenvolver uma argumentação que nos deixe com a imagem de pessoa de bem, ou inspira a rasgos de prosa poética, inflama o espírito e tudo isso, mas não seria honesto da minha parte apoiar um julgamento de valor com base apenas na emoção. Se isso faz de mim uma pessoa má, peço desculpa.

Em primeiro lugar nada do que a deputada Kwan Tsui Hang afirmou é revestido de falsidade, nem ela tenta sequer manipular números e factos para validar os seus argumentos. Se a quiserem acusar de alguma coisa, pode ser de mais uma vez atribuír a má gestão dos recursos ao número de não-residentes, que não sendo residentes e por isso não podendo usufruír de muitos dos mesmos direitos que a maioria da população de Macau, são pessoas, e aqui estamos a falar de recursos que todas as pessoas necessitam, independente da sua situação legal. E isto aplica-se aos transportes e a todo o resto, incluíndo zonas de lazer. Em segundo lugar a sra. deputada foi eleita por residentes de Macau para ser a sua representante, e para o efeito ocupa dos lugares do hemiciclo ao mesmo tempo que tem na cidade um ou mais escritórios onde recebe os seus eleitores, escuta os seus problemas, e no caso de encontrar uma preocupação comum a muitos deles, procura levar o caso à apreciação do hemiciclo. Este é o busílis da questão: a deputada Kwan Tsui Hang não está especialmente preocupada com as suas consultas de obstetrícia, e apenas transmite um sentimento generalizado - se perguntarem a 10 residentes de Macau aqui nascidos e criados o que pensam das declarações de Kwan Tsui Hang, pelo menos 7 ou 8 concordam e assinam por baixo, e mesmo que não o fazem estão-se simplesmente nas tintas. Isto é, até o problema lhes dizer respeito, é lógico. Se nas palavras da deputada existe algo censurável é o facto de pedir que se aumente ainda mais as taxas, pois isso dá a entender erradamente que o problema do acesso aos cuidados de saúde em Macau tem a ver com os não-residentes.

É aqui que se devia ter em conta o que pensa a população de Macau, e é possível que ainda exista gente que não tenha percebido isto: estamos em Macau. A nossa perspectiva humanista e solidária das coisas é uma medida aplicável à realidade onde crescemos, onde aprendemos a cultivar estes valores. Sei que estou a chover no molhado, mas nunca é demais repetir que a China, e só a China, tem uma população maior que a Europa (Rússia incluída) e os Estados Unidos juntos. Os problemas da China e tudo o que tem a ver com a população têm uma dimensão que não se coaduna com a nossa indignação. Fosse tão fácil obter os mesmos benefícios que os residentes no que toca aos cuidados maternais e eventualmente obter o estatuto de residente "juris solis", e teríamos miríades de mulheres do continente em final de gestação a atravessar a fronteira e a vir dar à luz em Macau. Aliás esse foi um problema concreto em Hong Kong, que levou mesmo C.Y. Leung a fazer de uma das suas primeiras medidas o controlo da imigração do outro lado da fronteira nos casos de mulheres em situação pré-natal - e a população da RAEHK aplaudiu a medida. Mesmo em Macau o Hospital Kiang Wu tem uma ala especial para assistir parturientes não-residentes origináias do continente, onde cobra mais do que aos residentes. E assim chegamos ao ponto essencial: a deputada Kwan Tsui Hang não especifica de que tipo de não-residentes se está a referir, mas a julgar pelos números (1100 mulheres) a sua preocupação não será exactamente com as filipinas e indonésias que nos passam a roupa a ferro em casa, ou que de alguma forma contribuem para o progresso do território mantendo-se há vários anos em situação legal, sem que no entanto lhes seja dada a oportunidade para obter a residência e gozar dos mesmos direitos de outros que talvez tenham contribuído muito menos que eles - o grosso do problema estará com as imigrantes do continente chinês.

Os não residentes de Macau que têm filhos "que nasceram em Macau no hospital onde nascem os filhos de quem tem filhos em Macau" (?!), não casaram "no mesmo sítio onde casam as pessoas que casaram em Macau". O casamento é um privilégio reservado aos residentes, bem como outros benefícios são apenas reservados aos residentes, e Macau não é caso único no mundo onde isto acontece. Não conheço nenhum país ou território que permita que estrangeiros venham casar e ter filhos no seu território, e usar este facto para reclamar ali residência e gozar dos mesmos direitos de todos os outros residentes. Entendia se esta questão fosse discutida ao nível dos residentes não-permanentes, vulgo "yellow card", que usufruem de quase todos os benefícios dos residentes permanentes, e em muitos casos chegam nas mesmas condições dos TNR, com a diferença de virem requisitados, e não em busca da sorte. E de facto dá-nos pena observar as dificuldades por que passam alguns TNR, muitos chegados através de agências de recrutamento no seu país de origem, pagando pequenas fortunas e ficando à mercê de agentes pouco honestos. Contudo sabem bem ao que vêm, têm plena consciência de que a sua permanência depende do seu emprego e do seu "sponsor", e é disso mesmo que o "blue card" se trata: de um título de permanência. Sim, torna as pessoas meros utilitários, incentiva a exploração do trabalho precário, deixa-os vulneráveis e sem capacidade negocial, tudo isso, mas qual é a alternativa? Nada. E é mentira que "não podem ficar doentes", pois o contrato obriga a entidade patronal a comprar um seguro, mas se este não aceita que o empregado adoeça, isso não será culpa do sistema, pois não?

Seria o ideal que fosse criado um sistema que atribuísse a residência a TNRs que tenham permanecido legalmente no território e provem ter dado um contributo válido, e tenho defendido isso várias vezes. Nem seria muito difícil criar esta figura, mas aí está, existe falta de vontade política porque ao mesmo tempo seria uma decisão impopular, e o que vamos fazer? Abrir a cabeça das pessoas de Macau e meter-lhes lá dentro que indonésias, filipinas, vietnamitas e restantes trabalhadores migrantes também são pessoas? Kwan Tsui Hang fez declarações que só podem ser entendidas como populistas, porque sabe perfeitamente que não está nas suas mãos resolver um problema que lhe é transmitido pelos que apelam à influência que pode ter - é da sua competência dar eco a estas opiniões, goste-se ou não do tom em que se apresentam. No entanto tenho a certeza que a deputada nunca cometeria a ousadia de discriminar um residente permanente de acordo com a sua origem ou credo, pelo menos abertamente. O que é "perigoso" é sugerir o contrário, ou misturar algo odioso como Auschwitz a uma questão desta natureza. Essa é que é a verdadeira "pequenez". Às vezes fico a pensar se este desfasamento da realidade de Macau é apenas para efeitos melodramáticos, ou se é mesmo ignorância. Desconfio que são ambas: a primeira conscientemente, e a segunda nem por isso.


Aussie pride



A Austrália sagrou-se esta tarde campeã asiática de futebol, depois de vencer a Coreia do Sul na final por 2-1, na final da Asian Cup, disputada no ANZ Stadium, em Sydney. Ouviram bem: a Austrália foi campeã asiática. Mais palavras para quê?

Flying High Again

Foi culpa do Facebook (foi mesmo)


Darío Leites dos Santos "ressuscitou", por assim dizer, sem nunca ter morrido. O programador informático argentino de 44 anos foi em Janeiro de 2011 dar um passeio com os amigos perto do rio Uruguai, onde teria caído acidentalmente. A polícia procedeu a buscas pelo corpo, mas tudo o que encontrou foram algumas roupas, pelo que Darío passou a constar da lista de pessoas desaparecidas. Agora foi desvendado o mistério desse "desaparecimento": o programador e empresário encenou a sua própria morte para fugir às dívidas e foi viver para o Brasil com outra mulher, em Curitiba. Obteve uma nova identidade, e em 2013 conseguiu a residência permanente, e talvez entusiasmado com o sucesso do seu "golpe", começou a contactar os seus antigos amigos no Facebook, e a partilhar fotografias onde aparecia facilmente identificável para as autoridades. Fugir às dívidas já é o que é, mas a juntar a isso há ainda o facto da ex-mulher do golpista ter ido reclamar o seguro de vida do marido desaparecido, e a agência não só se recusou pagar por falta de certidão de óbito, como ainda apresentou uma queixa por suspeita de fraude, e Darío deixou-se cair na boca do lobo.

Os Meireles


O futebolista Raúl Meireles dedicou uma mensagem à mulher Ivone na rede social Instagram, por altura do 29º aniversário. Pelo que é possível entender, a relação entre ambos está para lavar e durar, o que saúda nos tempos que correm. O casal tem uma filha, Lara, que estranhamente não nasceu com qualquer tatuagem.


Venezuela violenta



Estas são imagens de um assalto a um supermercado na Venezuela, que demonstra como se tem deteriorado a situação da segurança naquele país. As câmaras de segurança capturaram o momento em que um dos assaltantes atira à queima-roupa sobre um cliente, que já no chão puxa também da sua arma e dispara cinco vezes sobre o ladrão. Ambos os atiradores perderam a vida.

Acorda Bayern, acabou-se a sesta



O Bayern de Munique, líder incontestado da Bundesliga e até ontem única equipa dos principais campeonatos europeus ainda sem derrotas foi goleado por 4-1 na deslocação do reduto do Wolfsburg. O jogo de ontem na Volkswagem Arena marcou o regresso do campeonato alemão, depois de um mês de pausa devido ao rigoroso Inverno teutónico, que aparentemente fez melhor ao Wolfsburg, adversário do Sporting na próxima ronda da Liga Europa e 2º classificado da Bundesliga, que agora fica a oito pontos do seu adversário de ontem. Os bávaros foram apanhados de surpresa pelo tridente ofensivo dos locais, composto pelo holandês Bas Dost e o belga Kevin van Bruyne, que marcaram dois golos cada, e o alemão Max Arnold, que fez duas assistências. Juan Bernat fez o golo de honra do Bayern, mas foi pouco para alegrar o seu compatriota Josep Guardiola, que vai ter que dar um safanão na sua equipa, que é para muitos a melhor do mundo, e deixá-los saber que está na hora de acordar.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Chamar a um cavalo de veado


Esta semana para o artigo do Hoje Macau escolhi um dos episódios mais deliciosos da riquíssima e antiquíssima história da China, e estabeleci um paralelo com a actualidade. É engraçado ver como muitas das diferenças que existem em termos de mentalidade entre o país do meio e a nossa civilização se devem a uma "adesão incondicional" à tradição por parte dos nossos simpáticos hospedeiros. Fiquem então com as aventuras de um eunuco de outros tempos, e tenham um excelente fim-de-semana.

Zhao Gou (趙高) foi um eunuco chinês que viveu no final do sec. III AC, servical da corte durante a dinastia Qin, a quarta e a mais curta das dinastias imperiais chinesas – e muito por culpa sua, também. Ambicioso, intriguista, corrupto e sedento de poder, Zhao era próximo do rei Qin Shi Huang (秦始皇), general que derrubou a já moribunda dinastia Zhou e subjugou os sete reinos combatentes, tornando-se o primeiro monarca a reinar sobre a totalidade do território chinês. Consciente da dificuldade que seria manter o seu reino unificado, procedeu a eliminação de tudo o que pudesse representar uma ameaça ao seu exercício absoluto do poder: retirou as terras aos grandes proprietários e regalias à alta burguesia, mandou queimar livros considerados subversivos e assassinar intelectuais, introduziu novas medidas de peso, volume e superfície, alterando outras já existentes, e fez uma reforma profunda no sistema judicial, aplicando penas mais duras e mais severas, e dando carta branca aos militares para executar as leis.

E era por essa razão que o monarca depositava a sua confiança em Zhao, entendido em leis e especialmente em castigos, sendo capaz de imaginar os mais cruéis e dolorosos, que fazia questão de aplicar a quem considerasse ser um obstáculo na sua escalada da hierarquia palaciana. Os imperadores da antiga China confiavam nos eunucos para desempenhar cargos oficiais de grande responsabilidade, uma vez que não havia o risco de usurparem o trono e fundarem eles próprios uma dinastia. Contudo alguns académicos defendem que Zhao podia não ser realmente um eunuco, apesar dos seus irmãos terem sido castrados como castigo pelos crimes de seu pai, pena comummente aplicada naquele tempo. Pode-se mesmo dizer que Zhao “tinha eles no sítio” no sentido figurado, ao ponto de se fazer crer que o mesmo se podia dizer no sentido literal. Apesar do empenho do primeiro rei Qin, a morte levava-o de surpresa após dez anos de reinado, apenas, e quem o devia suceder era o seu filho mais velho, Fuisi, que não morria de amores por Zhao. Temendo a retaliação dos que o odiavam e eram ao mesmo tempo próximos do herdeiro do trono, o eunuco encontrou forma de falsificar o testamento de Qin Shi Huang de modo a fazer o sucessor legítimo entrar em desespero e cometer suicídio.

Consciente de que apenas com o apoio incondicional dos militares poderia alargar a sua área de influência e eventualmente chegar ao trono, Zhao quis consolidar a sua posição dentro do exército, mas para tal necessitava de lealdade a toda a prova. Desta forma elaborou um plano genial: levou um veado até ao rei, que era então Qin Er Shi (秦二世) filho mais novo do primeiro, e que olhava para Zhao como um “mestre”, e apresentou o animal com sendo “um cavalo”. O rei duvidou de imediato, questionando a percepção do seu lacaio, dizendo-lhe que “estaria a ver mal, e que de facto aquele animal era um cavalo”. Zhao permaneceu firme, e sugeriu que se consultassem os oficiais presentes naquele momento na sala do trono, os mais influentes do reino. Alguns, ora por despeito, ora por ingenuidade, afirmaram que de facto o animal era um veado e não um cavalo. No entanto a maioria, ora por medo, ora porque entenderam o plano do maquiavélico eunuco, confirmaram ser de facto um cavalo. Perante isto o próprio ficou na dúvida, e no fim os que contrariaram Zhao foram eliminados, enquanto os restantes passaram no teste de lealdade. Daqui nasceu a expressão “Chamar cavalo a um veado” (指鹿為馬), que ilustra a interpretação errada de um facto com um propósito sinistro, ou uma finalidade oculta.

Transportando este conceito para os nossos dias, não nos custa muito aceitar que por vezes mais vale concordar com algo que nos levanta dúvidas do que iniciar uma discussão fútil e contraproducente. Mas tratando-se de um líder, teria que ser alguém bastante carismático para que obtivesse o apoio unânime dos seus subordinados, mesmo quando estivesse errado. Mas há erros e há erros, assim como existem mentiras que se podem contar ao serviço de uma causa maior e justa, e pequenas intrigas que podem tornar um pequeno mal-entendido numa grande tragédia. Penso que em Macau o personagem desta história, o pérfido eunuco Zhao, não teria que sujar tanto as mãos de sangue, tal é a quantidade de lacaios do rei que vê um cavalo quando olha para um veado, e nem é preciso submetê-los a qualquer prova. A sociedade harmoniosa que os nossos dirigentes tanto apregoam passa pelo estrito cumprimento das hierarquias ,que conforme se vai desenrolando o enredo desta intriga palaciana, deixará eventualmente o rei absoluto na soleira enquanto o resto fica com água pelo pescoço – até ao dia em que podem também eles ser o rei, é lógico. A dinastia Qin durou apenas quinze anos, tantos quantos esta que governa actualmente a RAEM. Será que algum dos oficiais ou eunucos do reino tem a consciência disso?


Liberdades, parte II: liberdade académica


Na última quarta-feira no campus da Universidade de Macau (UMAC), na Ilha da Montanha, um grupo de estudantes exibiu uma faixa onde se liam palavras de apelo a uma maior liberdade académica e menos pressão sobre os docentes daquela instituição de ensino superior. Esta manifestação teve lugar durante a apresentação do campus aos novos alunos do ano lectivo 2015/16, e foi organizada pela Associação de Estudantes (SU ou "Student Union" na sigla em inglês) eleita em Outubro e totalmente composta por jovens com filiação na Associação do Novo Macau (NM). Ainda ontem Bill Chou, vice-presidente daquela associação assinou um artigo dedicado ao tema no jornal "Human Rights in China", uma publicação "online" assumidamente anti-Pequim, bilingue e com o apoio de uma organização com o mesmo nome e com representação em Nova Iorque e outra em Hong Kong. Podem ler aqui a versão em inglês do artigo do ex-professor de Ciência Política da UMAC.

Neste artigo Chou aproveitou para tecer novamente duras críticas à direcção da UMAC, especialmente o reitor Zhao Wei, que a julgar pela troca de palavras entre ambos durante o último Verão não teve o apoio que esperava da "cavalaria". Se há alguém que pode ter razões de queixa de alguma marcação cerrada feita pelos democratas é o actual reitor da UMAC, que já em 2011 tinha Jason Chao e seus pares à perna, como se pode ver por esta notícia de Setembro desse ano, onde um grupo de signatários pede contas mais transparentes no orçamento no campus da Ilha da Montanha. Não restando dúvidas de que a figura de Zhao Wei é contestada pelos democratas e muitos dos estudantes, nada abona a seu favor o facto de Alexis Tam, recentemente apontado como novo Secretário da tutela responsável pela educação, ter vindo hoje a público dizer que está "chocado" com os alegados casos de assédio sexual que têm vindo a lume nos últimos tempos. Tudo indica que mais cabeças vão rolar na UMAC, é tudo uma questão de tempo, e entre os candidatos estão não só o próprio Zhao Wei, incontornável "condenado por suspeição", mas ainda o deado da Faculdade de Administração, Wong Kin Wai, que segundo consta terá deixado quatro casos de assédio ocorrer durante o seu turno de vigia à caserna.

Agora vamos imaginar que estes casos de assédio sexual e até a certo ponto a própria indignação em nome da liberdade académica são as Ruínas de S. Paulo. Muito bem, de frente parece indesmentível que temos aqui um belíssimo monumento, e todos concordarão que vale a pena bater o pé por ele, e ai de quem disser o contrário. Agora vamos olhar por detrás da sedutora fachada, e talvez não seja um deleite para as vistas o que vamos encontrar. Esqueçam por um minuto esta conversa do "assédio sexual", pois se fosse realmente tão grave como querem fazer crer chamava-se a polícia - não se deixem deslumbrar pelas luzes psicadélicas e mantenham os olhos no chão onde pisam. Sabendo Zhao Wei que ia comprar uma guerra de que dificilmente sairia vencedor, porque raio ia ele despedir Bill Chou pelas razões que viria a alegar? Não era de ontem, nem do ano passado nem do outro antes que as ligações do académico com o NM eram conhecidas. E depois, se ele aproveitava o tempo das aulas para fazer "campanha", algo de que nem um pevide da abóbora da prova vimos sequer? Não são os alunos da UMAC maiores e vacinados para ter o bom senso de distinguir o certo do errado? São estudantes universitários ou atrasadinhos mentais? Agora olhem para isto:


Reparem no ar vidrado de resignação do reitor enquanto os estudantes exibem a faixa onde se lê o apelo ao "fim da repressão política". Parece que ignora por completo a humilhação de que está a ser vítima no seu próprio território, enquanto é notório um certo desconforto entre as restantes individualidades presentes naquela cerimónia. Esta foi uma mudança de 180º na forma como se lidou com a situação em relação ao incidente de 21 de Junho durante a cerimónia de graduação. Zhao parece ter atingido a real dimensão do problema: trata-se de uma questão política, e ele não é um político, mas um académico - o seu papel aqui é o de cordeiro para sacrifício. Bill Chou prometeu retaliar, não fosse o caracter que compõe o seu apelido parte do caracter que designa "vingança". Então afinal quem apertou o gatilho e viu o tiro sair-lhe pela culatra? Só dá mesmo para especular, mas para quem quiser prestar-se a esse exercício de adivinhação, convido a contar as "cabeças": recuem ao início do caso Bill Chou e vejam qual o personagem que está em falta, "misteriosamente" desaparecido.

E realmente isto mais parece uma novela, e é possível que o quase sempre infalível Arnaldo Gonçalves, esse Nostradamus da análise política, tenha sintonizado a sua bola de cristal no Canal +, onde viu o académico Eric Sautedé, e agradou-lhe mais o idioma francês, mais musical, e a perspectiva de fazer de cruzado e lutar contra o infiel. E Sautedé aparece por mais do que uma vez no texto de Bill Chou, que na sua longa dissertação vai tecendo o mais variado tipo de considerações, umas com que nos identificamos, e outras que só ele entende do que se trata. O que parece um facto difícil de refutar é o apoio que os alunos da UMAC parecem dar à sua associação, e de como as promessas vazias e a retórica já gasta da nomenclatura talvez tenha convencido os seus pais, mas já não diz muito às novas gerações. Aparentemente de pouco valeu mudar a "fábrica de talentos" do segundo sistema para um espaço mais próximo do primeiro. Vamos ver que carta tira o agora hiperactivo Alexis Tam da manga para manter o "status quo" e apaziguar os espíritos.

Liberdades, parte I: liberdade de imprensa


A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sua sigla inglesa) divulgou esta semana o relatório da situação quanto à liberdade de imprensa na China, e deu nota negativa às duas RAEs de Macau e Hong Kong. Deste lado do delta do Rio das Pérolas a IFJ fala ainda da prática de "auto-censura" pelos parte dos profissionais da imprensa em línguas portuguesa e inglesa, o que originou uma reacção do presidente da associação que os representa (AIPIM), João Francisco Pinto, que considera o relatório "incompleto", e "não reflecte a totalidade da situação em Macau", acrescentando que nem ele nem ninguém da associção foram consultados pelos autores do estudo. O jornalista contou à Rádio Macau que a AIPIM apresentou uma proposta de adesão formal à IFJ, que depois ter adiado a decisão alegando "estar a investigar a idoneidade do requentente", nunca deram uma resposta. Contudo a opinião generalizada é de que na China a imprensa continua sob a apertada fiscalização do estado, e que a imprensa em língua chinesa de Macau e Hong Kong sofre mais pressões da parte dos meios políticos do que a estrangeira.

Penso que não estarei a ser injusto ou a atentar contra o bom nome de ninguém se disser que a opinião generalizada que a população tem dos media de Macau é negativa. Sim, e se eu falo pela população é porque escuto o que ela diz, e até hoje nunca ouvi da boca de ninguém uma opinião que não vá no sentido de dizer que o Governo controla os meios de comunicação social, e vigora a ideia de que a independência dos media na RAEM é praticamente nula. Aqui o poder político não precisa sequer de exercer qualquer tipo de vigilância: basta ver quem compõe o quadro da direcção da televisão pública, ou a intimidade (para não dizer promiscuidade) entre o jornal mais lido do território e alguns elementos importantes ligados ao Governo. Isto é e sempre foi assim - Macau não tem um mercado para que um jornal consiga sobreviver exclusivamente do número de cópias vendidas, ou que a televisão subsista à conta da publicidade, que como é sabido, simplesmente não existe. No entanto este "casamento" entre aquele que há foi em tempos chamado "o quarto poder" e o primeiro já conheceu melhores dias; os quatro incidentes referidos no relatório da IFJ são motivo mais que suficiente para que não se possa fazer uma apreciação positiva da situação, por muito incompleto que o relatório esteja.

Em relação à imprensa em língua portuguesa, e deixo de lado a inglesa, cuja realidade ignoro quase na totalidade, vou abordar a questão de um ponto de vista comercial, e só isso. Portanto, se um jornal é um produto pelo qual é pago um preço para o adquirir, isso faz de mim um consumidor, e por inerência confere-me o direito de dar a opinião sobre a qualidade do bem pelo qual paguei. Compreendo muito bem que os meios ao dispôr dos jornais em língua portuguesa não são os mesmos que os dos grandes títulos na maior parte dos países, onde a publicidade ou os grandes grupos de empresários garantem a liquidez que os torna independentes, no todo ou em grande parte, do poder político. Talvez assim se justifique que em Macau um jornalista esteja em casa ou a beber um copo com os amigos pelas 10:30 ou 11 da noite, altura em que no continente americano, europeu e africano se faz a actualidade que no dia seguinte vai ser notícia nos media dos países dessa região do globo. Em Macau andamos meio-dia adiantados quanto aos fusos, e meio-dia atrasados em matéria de informação - até à chegada da internet, é claro. Aceito quando João Francisco Pinto diz "nunca ter sofrido pressões", e já não é o primeiro a dizê-lo. Mas sabemos que lá por ele não acreditar nelas, que las hay, hay, e se fala a título pessoal, é lógico que só poderia produzir esta afirmação. Com toda a certeza que não ia aproveitar o tempo de antena que lhe é reservado para dizer que "sim, existem pressões", e depois apelar ao público que "o salvem, por amor de Deus". Fez o que tem que fazer, enfim.

Entendo tudo isto, o que não consigo entender é uma certa arrogância e distanciamento que os profissionais da imprensa em português insistem em manter, e a forma como tantas vezes se julgam os donos da razão. Há coisas que estão à vista de qualquer pessoa que tenha dois olhos na cara para ver e nas imediações destes mais dois ouvidos para ouvir. Numa época em que a informação nos chega em catadupa através das redes sociais era importante a imprensa assumir o controle da qualidade da informação, e já que este novo concorrente alimenta-se do contacto com o público e deste retira, seleciona e publica o que por vezes pode ser entendido como "facto", mesmo que careçam de legitimidade no capítulo das "fontes" (coisa que a imprensa ainda alega em seu favor, mas não é bem assim), a imprensa acreditada poderia muito bem usar isto em seu favor, em vez de ficar a mastigar o azedume e depois retaliar com opiniões e interpretações absurdas de realidades que os menos aptos para o efeito identificam imediatamente como sendo desonestas, e impregnadas de ressabiamento. Mais uma vez: uma mentira premiada continua a ser uma mentira, e ao usar um espaço reservado à opinião e sinalizado como tal para produzir afirmações do tipo "a meu ver fulano tal é um criminoso" não iliba o seu autor ou autora de estar a fazer uma acusação grave. Existe um choque de egos inflados que não ficam bem a ninguém, nem às crinças de colo das mais birrentas, quanto mais a gente que se presume ser inteligente e bem informada.

Agnes Lam concorda com o relatório no que toca à prática da auto-censura, e a docente da UMAC vai mais longe ao afirmar que esta evidência é cada vez mais perceptível. E quem sou eu para duvidar, se o próprio dr. Neto Valente afirmou num documentário sobre os 15 anos da RAEM que os jornalistas locais praticam a auto-censura, no contexto de que em Macau não existe censura propriamente dita, ou uma figura que faça a escrutínio prévio da informação antes que seja divulgada ao público. O que existe, no meu entender, é algo ainda mais evoluído que a simples auto-censura. Para muitos jornalistas, especialmente os que só têm a experiência de trabalhar em Macau ou que o fizeram pouco depois de iniciar a carreira, existe um automatismo, uma prática reiterada que os leva a filtrar o que podem escrever e sobre quem podem escrever. Auto-censura implica não divulgar uma coisa que se sabe, mas que pode vir a causar dissabores no caso de ser tornado do conhecimento público. Ora se só o jornalista sabe do que se trata, e acaba por não tornar público, quem somos nós para assumir que ele sabe alguma coisa de todo? Podemos confrontá-lo com a verdade, com algo que sabemos de antemão que ele sabe mas que não divulga receando represálias, mas isso é uma questão pessoal, e não estamos dotados de poderes telepáticos para garantir que ele realmente tem conhecimento de algo importante que prefere não nos deixar saber, quanto mais para afirmar que ele fez uma ponderação cuidadosa quanto à forma de lidar com essa informação sensível a que alegadamente teve acesso?

Isto também me leva a pesar na balança mais um aspecto importante, que é o do acesso à informação por parte dos media portugueses, que ficam à mercê do Gabinete de Comunicação Social, e não raramente dependem de traduções, por vezes tardias e nem sempre fiéis à versão original. No entanto têm um mérito que é ao mesmo tempo uma futilidade, e a que já fiz referência neste artigo: têm a liberdade de fazer capas com notícias que a imprensa chinesa simplesmente ignora, pois mexem com personalidades influentes da vida do território. Fica bem ao governo apresentar este exemplo de "liberdade de imprensa" na hora de prestar contas às autoridades internacionais, e demonstrar assim que em Macau existe "espírito crítico". Podia existir, sim, e eles nem se importam que se fale mal, ou que se questione a competência deste ou daquele titular de um alto cargo, desde que o alcance seja dentro dos limites do que é actualmente, e que não cause a confusão no grosso da opinião pública, que ora está controlada, ora fica indiferente. A missão do jornalista reveste-se de mais ou menos responsabilidade conforme o meio onde se encontra, e se existe de facto a harmonia e a paz social que o Governo tantas vezes apregoa, tanto faz que diga bem ou mal dele, pois a opinião pública estará demasiado entertida a gozar os bons tempos para se importar com que a imprensa diz. Agora se os tempos são difíceis e o jornalista abdica da isenção inerente à sua função para assumir o papel de cúmplice, também lhe serão pedidas explicações, se chegar essa a hora.

O Património volta já (desculpe o incómodo)

Vídeo da semana

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ai malvado, que me morreste


Em tempos de crise como a que temos agora na Europa e em Portugal nos países do sul é normal que alguns cidadãos mais vivaços recorram a certos expedientes para que a travessia da tormenta seja menos penosa, ou em alguns casos a necessidade fala mais alto, e por vezes o instinto de sobrevivência sobrepõe-se ao orgulho próprio, e em casos extremos à dignidade da pessoa humana. Enquanto se discute estes dias se os gregos são uns coitados, vítimas dos mercados predadores que se alimentam de mão-de-obra semi-escrava, ou se na verdade são uns mandriões que agora se deitam na cama que fizeram, há quem continue atento às manobras dos espertalhões que não perdem uma oportunidade para lucrar das brechas do sistema: as agências de seguros.

Se a Grécia merece outra oportunidade ou se deverá ficar à mercê dos delírios (ou não...) populistas do seu novo Governo, tanto faz, para as seguradoras o mais importante é que o povo não vá morrer de propósito só para lhes estragar o dia - é preciso não esquecer que na hora de burlar, foram elas tiveram a ideia e vocês cairam que nem patinhos, e portanto assim não vale. Ele há seguros e seguros, seguradoras e seguradoras, agentes e agentes. Não podemos afirmar que existe neste negócio gente sinceramente preocupada com o nosso bem estar, que nos queiram deixar tranquilos, mas existem apólices que são obrigatórias, portanto não é por falta de trabalho que se justifica a agressividade de agentes de seguros.

Qualquer seguradora que se preza oferece no mínimo seguros por acidente que possam resultar na morte ou incapacidade parcial ou total e permanente do seu cliente, e nos casos mais flagrantes, como são acidentes aéreos, ataques terroristas ou algo que tenha impacto mediático, não colocam obstáculos na hora de acionar o prémio. Outras agências menos escrupulosas vendem feijões mágicos, incluíndo planos que prevêm desde unhas encravadas até queda de cabelo - o importante é que o palerma compre - e na hora de pagar são capazes de alegar que fulano morreu, ficou tetraplégico, cego ou marreco de forma premeditada, ou fraudulenta.

É o que diz agora o director dos Serviços de Sinistros da Mapfre Portugal, José Armínio, acrescentando que "as técnicas de fraude andam sempre um passo à frente", pelo que se tornam cada vez mais difíceis de detectar. Não que isso faça qualquer diferença para as seguradoras, para quem tanto faz se estão na presença de uma tragédia ou de um esquema fraudulento, pois é norma fazerem o possível para não accionarem a apólice. É uma mudança radical de discurso do momento em que dizem maravilhas do plano que tentam impingir aos potenciais segurados, passando de um tranquilizante "não precisa de se preocupar com nada" para um desconfiado "o que é você pensa que leva daqui?".

Este senhor José Armínio, gato que já deve saber o que é ficar "escaldado", fala-nos de situações em que os benificiários recorrem a baixas fraudulentas para evitar despedimentos, e que nos casos mais extremos há quem corte os dedos da mão para receber o prémio do seguro. O olho clínico para detectar a fraude deve ter feito deste profissional uma pessoa muito desconfiada e amarga, alguém que deve ser visto como um ogre - como é que se chega perto de uma família onde um dos seus membros sofreu um acidente que o deixou debilitado ou diminuído e se insinua que ele pode estar a mentir? E quem é que se lembra de cortar um dedo ou parte dele a para pagar uma conta ou atender a uma emergência de última hora? Sei lá, já nem digo nada, tal é a maneira como este mundo louco não cessa de me surpreender - e já diz o velho ditado: "é preciso um patife para apanhar outro patife".

O mundo da gente


Um cartograma interessante, que nos mostra como seria o mundo se a população de cada país fosse proporcional ao seu território - certamente que as possibilidades de haver sopa que chegasse para todos era muito maior. Assim teríamos a China a ocupar a grande maioria do território que hoje pertence à Rússia,  e  a Índia a estender-se por uma porção mais larga da Ásia Central. O Japão, Filipinas e Indonésia manteriam a sua integridade territorial insular, enquanto a Austrália "encolheria" graças aos inóspitos areais que a compõem praticamente desde costa a costa. Nas Américas o mesmo se pode dizer do Canadá, que praticamente desaparece do mapa mundo. O 2º maior país do mundo em área é apenas o 37º mais populado, ocupando os últimos lugares no "ranking" da densidade populacional mundial. Enquanto isso Estados Unidos, México e Brasil mantêm praticamente a sua integridade territorial, assim como praticamente toda a Europa, que seria certamente muito mais encolhida se não fosse pela imigração dos países do chamado "terceiro mundo". E neste "nem ata nem desata" está incluído o nosso país Portugal, que até nestas coisas consegue ser deprimentemente previsível.

Não tenho tempo (dito por Vítor de Sousa)



Sabes, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar contigo.
Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer.
Nunca joguei contigo dominó, damas, xadrez, ou batalha naval.

Eu percebo que tu me procuras, mas sabes meu filho, eu sou muito importante e não tenho tempo.
Sou importante para números, convites sociais e toda uma série de compromissos inadiáveis.
Como largar tudo isto, para ir brincar contigo. Não, não, tenho tempo. .

Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver e ficaste ao meu lado. Lembras-te?
Não te dei atenção e continuei a ler o jornal.
Porque afinal, afinal os problemas Internacionais são mais sérios do que os da minha casa.

Nunca vi os teus livros não conheço a tua professora.
Nem me lembro qual foi a tua primeira palavra.
Mas, tu sabes, eu não tenho tempo.
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito, se eu tenho outras grandes coisas a saber.

É incrível: como tu cresceste! Estás tão alto! Nem tinha reparado nisso.
Aliás, eu quase que não reparo em nada.
E, na vida agitada, quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão.
Porquê. Porque a televisão é importante e Informa-me muito.

Sabes, meu filho, a última vez que tive tempo para ti; foi numa noite de amor com a tua mãe.
Eu sei que tu te queixas eu sei que tu sentes a falta duma palavra, duma pergunta amiga, duma brincadeira, dum chuto na tua bola.

Mas eu não tenho tempo. Eu sei que sentes a falta de um abraço e de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque, ao fundo da rua, comprar um Jornal, uma revista:
Mas sabes há quanto tempo eu não ando a pé na rua?
Não tenho tempo.

Mas tu entendes, eu sou um homem importante. Tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas.
Meu filho, tu não entendes nada de comércio.

Na realidade eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste porque as poucas vezes que falamos, é um monólogo: Só eu é que falo.

Eu quero silêncio. Quero sossego e tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente.
Tens a mania de saltar para os braços dos outros. Filho, eu não tenho tempo para te abraçar.
Não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.

Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética, racionalismo? Tu sabes quem é Descart e Kant?

Como é que eu vou parar para falar contigo? Sabes, filho. Não tenho tempo.

Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência.

Porque, até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo. E, na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar pelo menos...Ver-te.


Pelado, pelado, nu com uma mão no bolso



Este vídeo foi posto a circular na internet na terça-feira à hora de almoço, hora dos Estados Unidos, e mostra uma tentativa frustrada de assalto a uma agência de venda de automóveis - ou mais ou menos isso. Foi em Indianapolis, no estado do Indiana, quando um homem começou a agir de forma suspeita num "stand" de venda de carros. No momento em que chegam as autoridades o homem já está "maduro" e pronto para colher e levar na cesta para o xadrez, mas não sem antes completar a sessão de "strip" que havia começado pouco antes. Pelo comportamento e pela linguagem, o meu prognóstico é que o indivíduo se encontra sob o efeito de cristais de anfetamina, provavelmente de um elevado grau de pureza. Se quiserem acreditar que ele é apenas "maluco", isso é lá com vocês, e essa é a versão "oficial". Ah a versão oficial...cada vez mais um sinómino de conformismo e acomodação.

Doçuras



Vou encontrar
Aquilo que procuras
Para te dar
E receber ternuras

Doçuras, doçuras

Se eu não achar
Aquilo que procuras
Vou aguentar
As tuas amarguras

Doçuras, doçuras



Dieta de homem


Jessie Gallan, de 109 anos, é a mulher mais velha da Escócia, e atribui a sua longevidade a nunca ter tido homens. Gallan passou uma infância difícil, dormindo apertada entre as cinco irmãs e um irmão numa pequena cama de palha na fazenda de dois quartos de seus pais, e tanto na adolescência como já na vida adulta, evitou sempre a companhia do sexo oposto, que segundo ela "só traz problemas". Gallan tem menos sete anos que a japonesa Misao Okawa, a pessoa mais velha do mundo com 116 anos, que ficou viúva aos 31, e nunca mais casou. Além disso, um estudo realizado o ano passado entre centenários nos Estados Unidos demonstra que a maioria destes decanos passa mais tempo com a família e amigos, em vez de ficar em casa com o marido. Bom, temos aqui pelo menos dois casos a favor desta teoria da abstinência, portanto pode ter um fundo de verdade. Ou pode ser uma maquinação do "lobby" das fufas, quem sabe? Fica ao vosso critério, meninas.

Pézão de meia


Ira Keys, um americano do Texas, tinha 17 anos quando começou a guardar todas as moedas de 1 cent (1 centavo, 0,01 dólares) que lhe vinham à mão, seguindo os conselhos do pai para que "fosse sempre poupado, e guardasse algum dinheiro para as emergências. Pelos vistos teve uma vida mais ou menos tranquila, sem crises de finanças, e agora aos 81 anos resolveu ir ao banco depositar o seu "pé de meia": 81600 moedas, num total de 816 dólares, portanto. A épica tarefa levou a que o depositante tivesse que descarregar os 226 quilos de moedas faseadamente, e foi preciso quase todos os funcionários do banco para a contagem demorar "apenas" pouco mais de uma hora. Ira Keys diz que agora vai começar outra colecção idêntica, o que só lhe fica bem. Não acredito é daqui a 65 anos repita a façanha, mas pronto, o sonho comanda a vida...

Causa maior, amor estranho


Agora que se volta a falar em Macau dos direitos dos animais, e algumas associações defensoras dos indefesos quadrúpedes, peludos, penados, rastejantes, saltitantes, esvoaçantes e afins vêm a público criticar a proposta para a famigerada e eternamente adiada lei que os visa proteger, resolvi fazer o meu habitual "teste de laboratório", de modo a perceber melhor como vamos nisto de relações inter-espécie. Para o efeito recorri, como faço sempre, ao sítio "Direitos dos Animais", do Brasil, que se pode considerar uma medida revista revista e aumentada da nossa afeição pelos animais, e em geral do julgamento que fazemos em relação a esta problemática e à forma como devemos legislar de maneira a manter um equilíbrio harmonioso na sociedade - cada macaco no seu galho (salvo seja). Antes de apresentar as minhas conclusões, gostaria de apresentar alguns casos que demonstram a preparação (ou a falta dela) de algumas pessoas para viver numa sociedade tolerante, civilizada e regrada. Vejamos:


O primeiro caso, que já tinha feito referência noutro artigo dedicado a esta intrigante definição de "zoófilia", diz respeito a um alegado estupro e morte de uma burra em Pernambuco. Tal como já tinha referido ontem, é impossível determinar se o autor desta hedionda e bizarra violência terá primeiro gozado das virtudes da asínica vítima, ou se procedeu primeiro ao seu abate para depois então agravar o já por si reprovável acto de bestialidade com outro de necrofilia. E agora perguntam vocês: "como sabia o proprietário do animal que este foi vítima de estupro? Viu? E se viu, porque não impediu? É suspeito...". Que nada, pá, ora essa, a resposta é muito simples: o dono da burrita encontrou preservativos usados junto do local do "crime". E depois deste, ahem, "achado macabro", o que fez ele? Filmou o cadáver da bichinha durante quase dois minutos e levou as imagens até à delegacia como "prova". Ei-las:



Não se deixem enganar pelo título do vídeo, pois desenganem-se se pensam que vão assistir a imagens de expressão do amor físico entre o homem e a besta de carga seguido de "burricídio", e muito menos quaisquer imagens de violência, apesar do "site" avisar para "cenas fortes": a única coisa que ali vemos é uma burra inerte amarrada a uma árvore; dizem-nos que está "morta", mas podia muito bem estar a dormir a sesta ao sol, nada ali nos conveceria do contrário. Durante o tempo em que o proprietário da pobre burrita esteve na delegacia, o criminoso voltou ao local do crime, e segundo o lesado "atirou para longe os preservativos usados e mudou a posição da corda com que a burra morta estava presa à árvore". Porquê? Sei lá, será este um caso para o Inspector Monk?


Por muito bizarra ou surrealista que uma notícia desta natureza possa parecer, nada fica mais próximo da realização completa do absurdo do que os comentários dos leitores da página "Direitos dos animais". Reparem como um simples caso de bestialidade e violência contra um animal, uma burra, cometido no interior do Brasil é entendido como um prenúncio do fim do mundo - isto segundo a leitora Ana Cecília, que deve estar descontente com a sua vida como bípede racional (?). Interessante o comentário de uma tal Amélia Rennise, que de coração nas mãos interroga-se "até onde pode chegar a maldade humana". A Amélia nao deve ver os noticiários, e muito menos ler um livro ou outro de vez em quando, mas só para ficarmos conversados, dou-lhe um exemplo: nos anos 40 do século passado aconteceu algo que ficou denominado por "holocausto" que provocou a morte não a uma burra apenas, mas a milhões de pessoas que foram depois cremadas e feitas em sabão, não sem antes terem sofrido torturas em alguns bem piores que as da burra - e sem preservativo. Entretanto o leitor Márcio Vicente da Silva produz um pensamento tão profundo que resume anos de pesquisa sobre a evolução das espécies: "o ser 'humano' consegue ser a pior de todas as espécies". Se existisse um Prémio Darwin, era ele o primeiro laureado. Só não entendo é porque não se demite da espécie que tanta repugnância lhe provoca. Finalmente a extasiada deste grupo, a leitora Joyci Magni, que começa por dizer que o violador-burricida é "filho do capeta", e a seguir sugere que "alguém lhe faça a ele o mesmo", e que se "filme" todo o processo, "só para ver a cara do idiota". É isto que fere de morte a credibilidade destas associações: pouco importa que sejam compostas por uma maioria de gente inteligente, bem intencionada e sóbria, que haverá sempre um ou outro "terrorista" que leva a que as pessoas pensem duas vezes antes de lhes dar ouvidos.


Ora ainda bem que chegámos a esta encruzilhada da Justiça onde se mistura os direitos dos animais, a religião e a pena justa a aplicar aos eventuais agressores. A leitora Meire Melhan diz-se "sem palavras", mas encontra consolação no facto do "maldito" que fez "esta barbárie" ir para um certo sítio, e convida-nos a ver qual sítio, piscando o olho sorridente, como quem está cheia de certezas do que diz. Depois vemos uma ilustração de uma das muitas imagens associadas com Satanás (uma das mais comuns e insonsas, por sinal) que nos diz: "ei você quem maltrata animais, estou te esperando aqui no [Inferno]". Está feita a reserva, portanto. A leitora Susana Teodoro Ferreira vai mais além e remete-nos aos tempos da bíblica arca, que segundo a Bíblia era uma espécie de barco gigante onde o patriarca Noé juntou "um animal de cada espécie" antes que Deus lançasse o dilúvio que acabou com a toda a vida no planeta - e fez isto porque "nos ama", não se esqueçam. A Susana discorda do plano original do criador, que devia "deixar só os animais na arca". Não vou entrar agora aqui em discussões sobre a veracidade dos contos bíblicos, mas gostaria que alguém me esclarecesse: o tal Deus de que falam é o mesmo que se pelava por sacrifícios de cordeirinhos inocentes, e mandava os judeus pincelar as paredes das suas casas com o sangue dos mesmos durante a Quaresma? Esse Deus? Ah....adiante. Depois de mais uma sugestão de "violentar o FDP", temos um enigmático "Deus me livre", da autoria de uma tal Arlete Inês Berscz. Deus a livre do quê, exactamente? De ser estuprada? Ou se ser estuprada com preservativo? 

Agora um caso mais sério (se os há): um major da Polícia Militar em Alagoas foi a casa da uma vizinhas e disparou sobre o seu cão, tudo porque no dia anterior o cão do oficial brigou com este,  quando os dias se encontraram na rua, na hora dos ixis. O cão sobreviveu, mas após uma operação complicada e dolorosa foi-lhe removida a mandíbula inferior. O major foi processado, e a meu ver muito bem, e isto ultrapassa o mero conceito de direitos dos animais: este tresloucado, com licença de porte de arma poderia muito bem ter disparado sobre uma pessoa. E se fosse uma criança que tivesse - ou por traquinice, ou acidentalmente - magoado o cão do tipo? O que vos vou mostrar a seguir não faz qualquer sentido, e já vão ver porquê.


No Tribunal da Praça Pública temos Vilma Souza a dar o mote, com uma linguagem bastante "tauromáquica", desafiando o militar que agora se meteu num grande sarilho a "pegar um homem e não um animal". Bem, entendo que a senhora esteja fora de si, e é possível que seja apenas histérica, menstruada, na menopausa ou tudo isso ao mesmo tempo, mas pense bem: entre pegar um touro com meia tonelada e um baixote de 50 quilos, o que era melhor como castigo? Nem quando querem ser maus, injustos e sádicos estes fanáticos têm sucesso. Chiça! Depois temos mais sugestões idiotas de pessoas que damos graças por não terem qualquer poder de decisão na sociedade, como "fazer o mesmo para dar o exemplo", ou "triplicar as penas", e depois isto:


Vamos começar por baixo: Ana Cristina da Silva sugere que o major "deveria apodrecer na cadeia"; este é o problema das causas: quanto mais uma pessoa se dedica a uma, mais tudo o resto lhes começa a parecer acessório. Para este caso, no qual não encontro qualquer referência à reincidência do major, uma pena de prisão seria um castigo exagerado, mas não conhecendo os detalhes, fica sempre no ar a dúvida e não censuro quem quiser pensar o contrário, mas..."apodrecer"? Fátima Sabino traz um pouco de sobriedade à discussão, anunciando que o major pagou as despesas do tratamento do cão, e foi ainda condenado a contribuir para ONGs que se dedicam à protecção de animais, o que considero razoável. Contudo há quem pense que só isto não chega; Joyci Magni, a tal que em cima queria que o violador da burra fosse violado e filmado para "ver a sua cara de sofrimento" confirma aqui que é uma sádica, pedindo a identificação completa "do idiota", e acusa a lei de ser curta, pois seria justo "que lhe fizessem o mesmo". Agora reparem na primeira entrada, lá em cima, da autoria de outra personagem que já tinhamos ficado a conhecer, a Meire Melhan. Aqui em vez de uma ilustração do demo, resolve matar a cãozinho, que como vimos naquela notícia, não morreu. Mas reparem na rapidez de execução: "como está o cãozinho/morreu/maldito major". Dá até a entender que ela quer "fazer a folha" ao major, e o cão é apenas um alibi. Depois ela podia sempre alegar que pensava que o bicho tenha mesmo ido desta para melhor.


Este tipo de militância pelos direitos dos animais tem por hábito atraír gente menos honesta, que fica facilmente a perceber que há quem não olhe a despesas para internar um cão no quarto privado mais caro do Cedar's Sinai em Nova Iorque. Mas reparem nestes "trambiqueiros" tão trapalhões, que vieram com tanta sede ao pote que se esqueceram do essencial, e já vamos ver o quê. Assim temos a Daniela Picorelo a berrar (pelo menos penso que é isso que escrever tudo em maiúsculas significa) que um casal algures nos arredores de S. Paulo foi "vítima de dois incêndios criminosos", onde "perderam tudo", mas mais importante do que isso, "morreram 35 animais". Bom, para os defensores dos direitos dos animais pouco importa que tenham perdido tudo, e se os animais já morreram os activistas podem até atirar-se para o chão a chorar, mas pilim, que é bom, nadica. Nem para o funeral dos bicharocos. Mas atenção, sobraram dez cães, inexplicavelmente, e se os donos até aguentam a fominha, já os amigos de quatro patas vão derreter o coração dos generosos zoófilos, que podem depositar uma contribuição na continha lá em baixo, ou ainda "contribuir com ração, mantimentos .e assistência jurídica". Contem outra - claro que as pessoas vão mandar dinheiro, a UNICEF não vai lá levar as latas de comida de cão nem ninguém manda um advogado, que porra. Mas oiçam lá, um incêndio desta envergadura deve ter sido notícia na imprensa generalista, não? Diz que sim, e deixam lá um "link" que nos leva a isto:


E antes que ,me digam que vi a notícia em versão para "desktop" ou vice-versa, não cola: não há sequer a referência numérica para aquela notícia em particular. Uh uh, Jornal de Piracicaba, tudo bem, mas ajudava em termos de credibilidade ter lá qualquer referência à tragédia, nem que fosse: "hoje este jornal está de luto pela morte trágica dos 35 cachorros do sr. Jurandir e da D. Leandra". Nem isso. Mas quem são estes curiosos personagens? 


Na primeira mensagem lia-se que o sr. Jurandir era "gari" (lixeiro). Acredito, mas acaba aqui a minha crença no resto do "papo furado". Ficou inválido depois de uma queda, e para piorar as coisas tem ainda cancro dos intestinos, diagnosticado com um "timing" espectacular, como já vamos ver. Do que se vê na imagem em cima, eu diria que tem ar de malandro, mas as aparências aqui iludem mas de uma forma parva e patética. A D. Leandra "é cega" - dizem. Se estamos a falar daquela senhora na imagem em baixo ao meio, só ficaria convencido se tivesse duas crateras no lugar dos olhos, pois a cara inchada e o nariz torto podem ser resultado de um par de valentes tabefes na tromba aplicados pelo sr. Jurandir. Os cães podem ser uns cães quaisquer, e um frigorífico vazio só comove se vier acompanhado de uma criança etíope faminta a olhar para ele com olhinhos de cachorro-morto. Mais uma vez fica demonstrado que estes são amadores da burla, e dos piores.


Mesmo assim uns quantos activistas pelos direitos dos animais mais caridosos (ou burros) dão-lhes o benefício da dúvida, mas não antes pedirem o esclarecimento de algumas dúvidas - é lógico, se vão pagar querem saber o que estão a pagar. Aqui é que a porca torce o rabo, pois não só fica por explicar o que estão eles a fazer com 10 cães em casa, se "perderam tudo", como ainda ninguém engole o argumento de que "a polícia não quer ajudar". Estamos aqui a falar do Brasil, não da Somália. A persistência da tal Daniela Picarelo, que supostamente estaria apenas a divulgar a notícia soa a desespero - de quem já perdeu a parada. Agora o cúmulo do ridículo: o personagem do Jurandir primeiro lamenta-se  de que "não está a chegar nenhuma ajuda", e a seguir, fazendo-se passar pela esposa (a tal que é cega, lembram-se?), ficamos a saber que o pobre homem foi diagnosticado  com cancro nos intestinos nesse mesmo dia, depois do médico "ter olhado para uma colonoscopia que ele levou", e que "vai passar por exames pré-operatórios em Fevereiro e ser operado em Março. Em primeiro lugar deixem-me dizer que a senhora domina muito bem o teclado em "braille",  e depois gostaria ainda de elogiar a frieza do "seu" Jurandir, que perante aquele cenário lembra-se de levar a colonoscopia ao médico. Já estou a imaginar a cena:

"- Ai Juradji, meu bein, oia qui disgraça, qui eu num posso porky sô ceguinha..."

"- Aê, que saco, né mêmo? Oia, fica cê aê nesse teu mundo di treva né, curtchindo o odô a cachorro quentji, qui eu vou levá a chapa qui tchirei do cu pó dotô vê i volto logo."

E pouco depois voltou a casa com a notícia de que tinha cancro dos intestinos, e apesar do casal não ter "nada, nada, nada" de coisa nenhuma, tem exames pré-operatórios marcados para Fevereiro e operação para Março. Isso é que á optimismo, pá! Além da vossa evidente babaquice, meus caros, esqueceram-se do mais importante: quando vão pedir grana aos amigos dos animais, que tem que ter o cancro é o cachorro, e não o dono. Que bisonhos.


No caso anterior vimos o exemplo de um conto do vigário mal executado por dois trapalhões, mas nem sempre os amigos dos animais podem ter tantas pistas de que se trata de um abuso da sua boa vontade .  E reparem na quantidade de notícias que dão conta do sofrimento dos bichinhos: jovens que amarram foguetes a um cão, galinhas fervidas vivas, homem que manda fora um sofá com o cão embutido, e tudo no espaço de dois dias, e no mesmo país! Onde é que anda essa gente a executar todas estas maldades? No meio da rua em plena luz do dia? É no mínimo suspeito, e se conseguirem enxugar as lágrimas a voltar à razão, vão concordar comigo. Mas então os defensores dos direitos dos animais são assim, só más notícias que os levam ao desespero, depois ao donativo e sempre, mas sempre ao ódio pelo autor das agressões. Nada disso! Vejam só:


E pronto, aqui está. Para o "Direitos dos animais", é "civilizado" quem tiver um porco com 300 quilos a viver no seu apartamento, a dormir no sofá, a defecar no meio da sala e rebolar nas próprias fezes. E não digam que estou a tentar ser engraçadinho, porque é isso que os porcos fazem. E não vale a pena perguntar-lhes a razão, porque eles não entendem: são irracionais, não entendem que é errado chafurdar no próprio cocó. Os animais agem por instintos, e conseguimos identificamo-nos com alguns desses instintos, mas não com outros. As pessoas que tratam o cão como se fosse um filho, o que diriam se tivessem mesmo um filho e o vissem a farejar o cu de outra criança, a mascar os testículos ou a beber água da retrete? Talvez tenham faltado a essa aula, mas na escola primária ensinam-nos a distinguir animais domésticos de selvagens, de aviário e de quinta, só para mencionar os principais. Os domésticos podem viver connosco, os selvagens, como o nome indica, na selva, e os restantes nos mencionados aviário, caso das galinhas, e na quinta os porcos ficam mais precisamente num local conhecido por pocilga. Isto:
                                                                                 

Se este local que vemos na imagem não vos faz lembrar o vosso lar, para um porco é aquilo que ele chama "casa". Tem um aspecto muito diferente daquela imagem acima desta, mas é aqui que um porco de 300 quilos pertence. Ah e por falar em 300 quilos...


E eis a conclusão com chave de ouro. Em cima lemos uma Bernardete Jardim aliviada pelo facto do porquinho "não ir parar à panela", a seguir o "Abrigo Ana Francisco" diz que "ama porquinhos", e na quarta entrada vemos uma Edina Aberle com pena do porquinho, porque está muito gordo coitadinho, e devia fazer um regiminho, ui ui, e que tal comprar ração "light" para ele, contratar um "personal trainer" e consultar um nutricionista. Quem sabe se ele lhe diz que devia cortar o bacon.  Leram bem, "cortar o bacon", e não "cortar no bacon", porque meus amigos, a única coisa para que um porco serve é para ser comido. O porco não engorda porque o homem quer que ele engorda, mas porque come que nem um...porco, vêem onde quero chegar? O porco não tem a noção de linha, de higiene de conforto e todas essas coisas que são um exclusivo, e repito mais uma vez, dos animais racionais. Um porco que está ir para a matança não tem consciência desse facto, nem se começa a recordar da infância quando está prestes a levar uma facada na garganta. Nem o porco, nem as galinhas, nem as ovelhas, nem os atums - são animais irracionais.

Eu próprio defendo uma legislação que proteja os animais da brutalidade e da tortura, não sou hipócrita, como animais, mas é lógico que todos os animais que sejam destinadas ao consumo dos humanos devem ser processados de um modo salúbre, prático e directo, sempre evitando o mais possível o seu sofrimento. Agora atribuír qualidades humanas aos animais e tratá-los como tal, exigindo que se apliquem aos humanos infractores castigos mais duros do que o mal que eles fizeram ao animal, isso nunca. Penas de prisão, sim, mas em casos extremos e que evidenciem uma perversidade especial e coloquem em risco o bem estar social ou até a segurança pública. O que estas senhoras não entendem - e reparem que até aqui nesta página brasileira é muito raro aparecer um homem - é que este tipo de fanatismo e posições radicais nada abonam a favor das pessoas sérias e sóbrias por detrás destas associações, e inibe outras pessoas com bom senso de se juntarem à causa, ou de contribuirem de algum jeito - quem quer ficar a associado a pessoas que acham civilizado viver com um porco em casa, e ainda lhe recomendam uma dieta? Mais uma vez notam-se poucas ou nenhumas melhoras neste aspecto. É pena.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Mentalidade Retrógrada