domingo, 30 de novembro de 2014

Bairro do Oriente - 7º aniversário


Jovens heróis de Shaolin - série completa



Para quem se recorda desta série que passou na RTP há 18 anos, fique sabendo que a mesma se encontra no YouTube na totalidade, e com legendas em português! Uma óptima notícia para todos os da minha geração (e não só), que durante a infância e a adolescência acreditavam que os chineses conseguiam voar. Deixo-vos aqui com o primeiro episódio da série, e depois é só clicar no vídeo, entrar no YouTube e ver os restantes. Divirtam-se!

Sem palheta







Sim, não é nenhuma novidade, mas para quem não conhece, aqui fica. "Sem palheta" foi uma iniciativa promovida há dois anos pela RFM, que convidou vários músicos portugueses para cantar temas em português, e não só. Destaco estes três: os Amor Electro a interpretarem "Lá vem o alemão", das Mamonas Assassinas; os Klepht com "Ga-gago", um clássico de Carlos Paião; e o grande Manuel João Vieira acompanhado de João Custódio em "Amapola", de Roberto Carlos. Depois é só clicar nos "links" da direita e ver o resto!

Premier League - 13ª jornada



Mais uma jornada da Premier League, com algumas mudanças nos lugares de cima, com os candidatos a "puxarem dos galões". O primeiro foi o Arsenal, que depois de uma série de resultados negativos foi ao reduto do West Bromwich Albion vencer pela margem mínima. Danny Welbeck selou aos 60 minutos a vitória dos "gunners", que vinham de duas derrotas por 2-1 frente a Swansea City e Manchester United.



Por falar em Manchester United, a equipa de Louis van Gaal parece ter finalmente encontrado a boa forma, somando a sua terceira vitória consecutiva. A "vítima" foi o Hull City, que caíu por 3-0 em Old Trafford, com golos de Chris Smalling, Wayne Rooney e Robbie van Persie. Noutros jogos da tarde de Sábado destaque para a derrota do Newcastle em Londres frente ao West Ham, depois de cinco vitórias consecutivas, e a vitória do Liverpool, que quebrou um ciclo negativo ao vencer em Anfield o Stoke City. Vitória também para o Queen's Park Rangers, que passou a "lanterna-vermelha" para o Leicester, ao bater os "foxes" em Loftus Road por 3-2, e empates a um golo nos jogos entre o Burnley e o Aston Villa, e na recepção do Swansea ao Crystal Palace.



Na noite de Sábado foi a vez do Chelsea de José Mourinho entrar em campo, fazendo uma deslocação que se previa difícil ao nordeste, ao Stadium of Light, para defrontar o Sunderland. A equipa da casa fez jus à condição de equipa com mais empates na Premier League, e impôs um nulo aos londrinos, que mesmo assim continuam a liderar confortavelmente a tabela.



E o Chelsea tem agora mais seis pontos que o Manchester City, que foi hoje a Southampton bater a equipa sensação do campeonato por 3-0. Foi a terceira derrota dos "saints" para a liga, reportando-se a anterior a 5 de Outubro, fora frente ao Tottenham. Yaya Touré, Frank Lampard e Gael Clichy foram os autores dos golos dos "citizens". Noutra partida deste Domingo o Tottenham venceu em White Hart Lane o Everton por 2-1.

Classificação (dez primeiros):

1 Chelsea 13 33
2 Manchester City 13 27
3 Southampton 13 26
4 Manchester United 13 22
5 West Ham 13 21
6 Arsenal 13 20
7 Tottenham Hotspur 13 20
8 Swansea City 13 19
9 Newcastle United 13 19
10 Everton 13 17

sábado, 29 de novembro de 2014

As mesmas faces de nenhuma moeda



Mais uma semana que termina, e nada como fechar com chave de ouro, com o artigo de quinta-feira do Hoje Macau. Fiquem atentos para o vídeo especial de comemoração do 7º aniversário do Bairro do Oriente! Bom resto de fim-de-semana.

Se há algo que os chineses valorizam e que não se pode quantificar, transaccionar, penhorar, depositar no banco a render juros ou esconder debaixo do colchão, isso é a “face”. Outros conceitos abstractos como a dignidade, o bom nome, e até a um certo ponto a própria honra, são negociáveis, e há ainda outros como a sofisticação e o requinte que se podem comprar ao quilo ou à dúzia – basta ter dinheiro, e como diz muito bem o povo anglo-saxão, “money talks, and bullshit walks”. Mas o que não se pode comprar mesmo é a face, dê por onde der: esta “face” não tem valor…facial, por mais paradoxal que isto pareça. Claro que ninguém, independente da sua nacionalidade ou grupo étnico gosta de ser humilhado, de ser tido como um cobarde ou um frouxo, desprezado por todos e a quem as crianças chamam nomes feios quando por ele passam, porque os pais lhes disseram que “não era preciso dar-lhe cara”. É normal, e trata-se apenas de uma característica inata desse “animal social” que é o Homem.

No Ocidente temos a noção de que os cuidados com a imagem e a preocupação em manter uma “ficha limpa” são um problema das figuras públicas: políticos, artistas, atletas de alta competição, em suma, todos os que ganham a vida não só fazendo o que fazem, mas também sendo o que são, ou o que aparentam ser. A nossa natureza humanista faz-nos ter uma leitura mais tolerante de algumas situações; se deparamos com um desgraçado a ser enxovalhado por alguém sem razão aparente, temos tendência para censurar o agressor, e até intervir no caso deste passar dos limites do razoável. Dificilmente se tem em conta o factor da “face” do agredido nessas circunstâncias. Todo o resto se insere no âmbito das nossas relações pessoais, e tem muito a ver com a importância que se dá à ideia do “eu” que queremos passar. Há quem opte por simplesmente ser quem é, e está-se nas tintas para o que os outros pensam, mas nem todos nos podemos dar ao luxo de ser um Marquês de Sade, um Luiz Pacheco ou um Manuel João Vieira, e há que pelo menos respeitar o protocolo, mesmo que não nos dê vontade de cumpri-lo – uma colher de sopa cheia de hipocrisia de vez em quando ajuda a aliviar essa “tosse”.

Os povos asiáticos, talvez devido à rigidez dos seus códigos de conduta a que não é alheia alguma superstição própria das civilizações ditas pagãs, levam isto da “face” muito a sério, como se de um assunto entre mortais se tratasse, mas com uma registo a ser mantido pelos deuses – contas do profano que entram na declaração de interesses patrimoniais do sagrado. Aqui encontramos no Japão o extremo deste fenómeno; herdeiros dos antigos “samurai”, para eles a honra é tudo, e a “face” a medida visível desse valor. Não surpreende portanto que muitas vezes um político ou um homem de negócios caídos em desgraça, e que assim tenham “manchado o seu nome e desonrado o nome dos seus ancestrais” – ou qualquer coisa mais ou menos deste tipo, em tons de melodrama dos bichos-da-seda – suicidam-se praticando “hara-kiri”, ou remetem-se ao exílio solitário de um ermitão, ou tomam outra atitude drástica e intraduzível para os parâmetros ocidentais. Com os chineses é diferente, e mesmo não sendo tão trágico ou sequer irremediável, é igualmente sério, só que funciona como um jogo. Na posição de espectador é interessante assistir, e chega até a ser divertido, mas convém estar atento , não vá o touro saltar a trincheira enquanto estamos entretidos a bater palmas e a gritar “olés”. Pensar que o “jogo da face” é um assunto estritamente sínico e que não nos diz respeito tem esse senão: transmite uma falsa sensação de segurança.

Passo a contar um episódio que aconteceu comigo, que ilustra bem não só a importância desse valor da “face”, mas também prova que não há face que esteja imune a levar uma bofetada, mesmo que no sentido figurativo. Estava num belo dia de trabalho a verificar documentos, quando deparo com um pequeno lapso da parte de uma colega que confundiu “Áustria” com “Austrália” – um equívoco mais comum encontrar noutros nomes de países, casos de Eslovénia/Eslováquia, ou Mónaco/Marrocos, devido à sua forte semelhança quando traduzidos para a língua chinesa. Aqui penso que foi a romanização, a causa da confusão. Fui muito diplomaticamente pedir-lhe que corrigisse a falha, que nem tinha assim tanta importância, e para que não se sentisse melindrada até revesti o caso de alguma ligeireza, falando de valsas e cangurus, enfim, uma ou duas graçolas parvas para que ficasse bem claro que não era grave. Ela reagiu dentro do normal, tudo bem, foi emendado o lapso e assim se passou mais um dia. Na manhã seguinte fui abordado por um outro colega, que com um ar intrigado me perguntou “o que se tinha passado”. Foi aí que me caiu o queixo de espanto ao saber que a tal colega do dia anterior foi contar aos restantes que a “humilhei”, pois fiz “publicidade do seu erro”, e para tal “levantei a voz”, e pior do que isso, “tratei-a pior que um cão”. E porquê? Tudo porque no momento em que lhe apontei o lapso estava outro colega naquela sala, e portanto ao ignorar esse facto, fiz-lhe “perder face”.

Para quem tem seguido nas últimas semanas esta série de artigos que tenho dedicado às pequenas diferenças que encontramos no convívio entre as culturas Ocidental e Oriental, recomendo que leia (ou releia) o texto publicado no dia 6 de Novembro, “Horror ao erro”, que ajuda a entender melhor a reacção da minha colega. No entanto ficou aqui evidente que a perda de “face” tem também uma componente química. Dois amigos que se conhecem há anos podem ter a liberdade de apontar os defeitos um do outro, no contexto de uma brincadeira normal entre compinchas, mas na presença de terceiros, especialmente se estes forem estranhos, torna-se completamente proibitivo, sob o risco de “perder a face”. É como ter carvão e salitre: juntos não reagem, mas na presença do enxofre como um terceiro elemento, produzem a pólvora. Nesta arte de proteger a face, às vezes não importa tanto a forma como é apresentado o desaforo, mas quem o apresenta, mas esse é o tema da próxima semana. Fiquem atentos!


(Imp)Revista da semana



Uma semana repleta de novidades, esta que tivemos em Macau. Uma das mais emocionantes tem a ver com o fim do monopólio da CTM no serviço de fornecimento de internet. Viva! Não sei se é motivo para festejar ainda, uma vez que já ouvimos esta conversa há quase um ano e meio, mas pode ser que sim, que seja desta: A CTM anunciou que pondera (finalmente) reduzir as tarifas e melhorar os pacotes. Isto só prova que o famigerado monopólio não existe por falta de alternativa ou pelo facto dos actuais concessionários estarem a providenciar um bom serviço; é assim porque é assim, serve os mesmos de sempre, e quem não gosta, não coma. Fique incomunicável.



Mais um que aparece para gozar com a nossa cara: o novo director do Hospital Kiang Wu diz que quer "limpar a imagem" daquela instituição, nomeadamente quanto ao que chama de "rumores" quanto ao hospital receber apoio financeiro do Governo da RAEm. Ou seja, vem-nos dizer que isto é mentira, que isto é uma falsidade ou ainda que isto é apenas uma ilusão. E de facto quem recebe este bodo é a Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu, e a generosidade é toda a Fundação Macau, portanto TECNICAMENTE é verdade. E tecnicamente somos todos parvos, senão vejamos...



Uma turista japonesa pagou 1500 dólares de Hong Kong por uma corrida de táxi entre a Torre de Macau e o COTAI, sendo-lhe passada uma factura de 157 patacas, por uma corrida que normalmente ficaria por menos de 100. Apresentou queixa, e mais tarde desistiu por precisar de regressar ao Japão. O mais curioso foi o taxista infractor ter admitido que "sim, e depois?", o gajo "comeu a pinha" à tipa e o que vão vocês fazer quanto a isso? Se ele tiver oportunidade faz o mesmo já amanhã. Engraçada foi a reacção de Andrew Scott, da associação dos não-sei-quê que fazem de "Ghostbusters" dos táxis no Facebook. O "my friend" pensava o quê, que os taxistas iam-se sentir melindrados com isso?



Aqui ao lado em Hong Kong terminaram finalmente os protestos do movimento Occupy Central, que duraram dois meses mas rapidamente perderam o "gás". Confrontos com as autoridades, actos de vandalismo, como atirar lexívia do topo do edifício, e a detenção de alguns dos elementos do grupo foram o último estertor daqueles que reclamam uma versão muito própria de "democracia". Democracia, pois então...



Já em Portugal continua na ordem do dia a detenção do ex-primeiro-ministro José Socrates, para mim uma das melhores notícias dos últimos tempos, pois vem pelo menos dar alguma esperança de que a impunidade não anda afinal à solta da forma tão animalesca que se pensa. O que não consigo entender é a forma tão grave com que certas pessoas reagem ao mediatismo da notícia, ao ponto de protestarem em nome da presunção da inocência, etc.,etc.. P'la 'môr de Deus, pá. Um carteirista que se faz a cem euros, um traficante que lucra duzentos com uma transação ou um chuleco que saca 500 por semana das miúdas são escumalha, mas este espertalhão que andou a fazer-se durante anos a MILHÕES aproveitando-se de um cargo para o qual foi eleito pelos portugueses merece um "tratamento justo"? Nem sei como ainda continuam a dar para esse peditório. Tenham paciência...

Haja dó



O comediante norte-americano Bill Cosby está a passar por um momento difícil da sua carreira, devido a alegações de abuso sexual. São nada mais nada menos que 14 (catorze) as mulheres que alegam que Cosby terá abusado sexualmente delas, e aparentemente o método utilizado seria sempre o mesmo: o comediante drogava-as, e de seguida tinha relações sexuais com elas quando se encontravam semi-conscientes. A notícia foi veiculada em meados deste mês, e desde então Cosby tem visto canceladas várias apresentações um pouco por todo o país. No vídeo vemos duas das alegadas vítimas de abuso, e em ambos os casos os factos terão ocorrido há mais de 30 anos (!). Não sou fã de Bill Cosby, nunca fui, e nem lhe acho o mínimo de piada, mas aqui parece evidente que o actor está a ser alvo de uma cilada: em 2006 uma mulher que diz ter sido abusada por ele apresentou queixa, e para evitar publicidade Cosby terá tentado chegar a um acordo (leia-se, pagar-lhe para retirar a queixa), e agora chegam os oportunistas do costume nestas situações. Digam-me o que disserem, nenhuma mulher espera tanto tempo para apresentar uma queixa deste tipo. E não me falem de "humilhação"; muito mais "humilhante" é a figura que estas duas tipas estão a fazer agora do que seria denunciar os alegados abusos à data que ocorreram.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Leocardo Matos contra os chuchas

Morreu o Engº Sousa Veloso





Faleceu esta manhã aos 88 anos em Lisboa o Engº Sousa Veloso, que durante mais de 30 anos animou (?) as manhãs de Domingo da RTP1 com o seu TV Rural. Sousa Veloso nasceu em 1926, licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa em 1954, e em 1960 foi convidado pelo Ministério da Agricultura para apresentar um programa sobre o mundo rural, como acontecia noutros países da Europa. Na altura um "modernaço", o engenheiro foi-se perpetuando no pequeno ecrã, e o "seu" TV Rural (era ele quem produzia, editava e montava o programa) esteve no ar até 1990, ficando conhecido pela frase com que terminava: "despeço-me com amizade, até ao próximo programa". Vamos recordá-lo neste vídeo que fez há quatro anos, falando das qualidades da "cannabis". O senhor engenheiro sabia do que falava. Até sempre, Sousa Veloso.


Fim da linha para o Benfica



O Benfica foi virtualmente eliminado das competições europeias desta época 2014/2015, depois de perder na Rússia frente ao Zenit S. Petersburgo por uma bola a zero. Os encarnados estavam obrigados a pontuar para continuar a ter aspirações à passagem aos oitavos-de-final da Champions, mas o golo do português Danny aos 79 minutos não só deitou tudo a perder, como ainda a vitória do Monaco na Alemanha frente ao Bayer Leverkusen a equipa de Jorge Jesus no último lugar do seu grupo, a três pontos do Zenit e sem hipótese de seguir sequer para a Liga Europa. Uma campanha muitos furos abaixo do habitual, a do Benfica este ano, que sob o comando de Jesus nunca tinha ficado pelo caminho nas competições europeias em Novembro. Recorde-se que os campeões portugueses foram finalistas da Liga Europa nas duas últimas edições da prova.



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O meu defeito é melhor que o teu



Fiquei perplexo com a reportagem da edição desta quarta-feira do Hoje Macau, que depois de ler três vezes consegui finalmente perceber que falava de empregadas domésticas filipinas. Não de trabalhares não-residentes (TNR) em geral, mas de empregadas domésticas filipinas. Depois da primeira leitura, que admito, foi um pouco apressada, julguei que o tema eram electrodomésticos defeituosos. Da segunda vez, já com mais atenção mas sem paragens para "assimilar" o conteúdo, pensei que afinal se falava de gaivotas larápias, aquelas que roubam os gelados das mãos dos bebés e as dentaduras das avózinhas. Mas não, eram as empregadas domésticas filipinas, o assunto da reportagem - um problema novo, sem margem para dúvidas. Grave, também, grave como o problema dos táxis ou da habitação. Um ai Jesus, estas empregadas domésticas. E logo das Filipinas, o que fica bem evidente apesar da peneira caduca com que se foi tentando às vezes tapar o sol - com que então "empregados domésticos", uh, dr. Frederico Rato? Os episódios relatados dão a entender que se tratam realmente de ajudantes familiares (nome oficial dado agora às empregadas domésticas) originárias das Filipinas, e talvez uma da Indonésia - a criança agredida é uma imagem mais associada com as indonésias, e contam-se episódios tenebrosos a este respeito aqui ao lado em Hong Kong. Curiosamente o entrevistado que se queixa da agressão da parte da empregada ao seu filho é um dos poucos que não identifica a nacionalidade da sua ex-assalariada. Agora que "não confia em mais empregada nenhuma", suponho que seja ele ou ela a passarem a roupa a ferro, a limpar a casa, a ir buscar a criança à escola, e a tomar conta da mesma quando tem compromissos aos quais o pequenote ou a pequenota não podem assistir. O mais provável é que encontre outra em regime de "part-time", pedindo "emprestada" a algum amigo - o que é ilegal, e é também uma parvoíce que assim seja. De facto podíamos ser nós a realizar as tarefas domésticas, porque não? Afinal os nossos amigos lá em Portugal vivem sem empregada e vão-se desenrascando. Nós é que somos uns sortudos. Uns acomodados.

Agora antes que perguntem o que me leva a tratar esta notícia com tanta "dureza" permitam-me que apresente primeiro as minhas "credenciais". Conheço filipinos desde que cheguei a Macau há 21 anos. Pode-se dizer que foi a primeira comunidade com que me comecei a juntar, uma vez que a nossa, a portuguesa, andava mais entretida a tratar do lugar onde se "encaixar" quando se desse a transição e demorei muito tempo a conhecer "malta da minha idade",e mesmo estes estavam quase todos de malas feitas. Sem dominar a língua chinesa, comecei a relacionar-me com filipinos, que me pareciam um povo acessível, divertido, e que de entre todos os restantes da região mais semelhanças tinham connosco. Têm aquele mesmo "fogo latino", a mesma descontração, sensibilidade e são religiosos, tementes a Deus, ou quem sabe ainda mais, conseguindo mesmo assim manter uma sobriedade em relação a esse aspecto que gostaria de ver mais entre os nossos. Como era ainda um jovem que nem 20 anos de idade tinha, não me "pus a jeito" para ser vítima dos mil e um esquemas pelos quais os filipinos ganharam má fama. Cheguei a viver com filipinos, tal e qual como os filipinos vivem, sentando-me à mesa com eles, escutando a sua música, vendo os seus filmes, e através dos seus diálogos aprendi a falar o seu idioma, o tagalog. A única diferença era o facto de viver sozinho num dos quartos, e em contrapartida pagava metade da renda. Esta é mais um mistério que deixa os portugueses em Macau a andar com a cabeça a roda: se alguns vivem mal com um salário de 12 mil patacas, como vivem os filipinos com um terço desse valor, ainda mais mandando quase a totalidade para o seu país? A resposta encontra-se na própria pergunta: nós viemos para aqui VIVER, a prazo ou em definitivo pouco importa, eles vieram para SOBREVIVER, enquanto prestam auxílio à família lá no seu país, que conta os dias até chegar o dinheiro que enviam no fim do mês por uma dessas agências "Door-to-door". Mas se queira que vos diga como viviam sem praticamente um tostão no bolso durante quase um mês inteiro? Iam vivendo, e não se queixavam, mas é desses expedientes que estamos aqui exactamente a falar, e não dá para entrar em detalhes, mas já lá vamos.

As Filipinas são o 12º país mais populoso do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes a viver no país e uma diáspora que em 2007 era na ordem dos 12 milhões. Só na emigração o número de filipinos excede a população portuguesa, e nas Filipinas vivem sete vezes mais pessoas que em Portugal, Hong Kong e Macau todos juntos. É um país cuja História se cruza com a nossa,tendo ficado célebre a morte do navegador português Fernão de Magalhães às mãos de um chefe tribal que recusou a conversão à fé cristã. Foi também Magalhães que levou para Cebu uma imagem de Cristo enquanto criança, adorada em todo o país e especialmente na região de Vissayas - fomos nós que levámos o cristianismo para o maior país católico da Ásia, o único de maioria cristã. E é isto que queremos reduzir à empregada que roubou o relógio, pediu dinheiro emprestado e não pagou, e que mente ao ponto da mesma avó lhe morrer três vezes num ano para se ausentar ao trabalho? Depois da independência o país conheceu um período de relativa prosperidade, graças à sua enorme riqueza em recursos naturais, mas esse caminho foi abruptamente interrompido pela Guerra do Pacífico. Depois da derrota dos japoneses, que invadiram o país e cometeram tantos ou mais crimes horríveis que na China, as Filipinas passaram a ser um protectorado dos Estados Unidos. Isto foi bom e mau, inicialmente, e depois veio a provar-se ser um desastre. Bom porque nos primeiros tempos dois pesos compravam um dólar, os filipinos não aproveitaram essa vantagem e acomodoram-se, ao mesmo tempo que entrava em cena Ferdinand Marcos, a célula cancerígena que minou o país de corrupção até hoje. Quem ainda ousa dizer que "as Filipinas estavam melhor no tempo de Marcos não sabe do que fala; quando chegou à presidência em 1965 a dívida externa do país era de 360 milhões de dólares, e quando foi derrubado do poder em 1986 era de 28,3 mil milhões. Onde foi parar aquele dinheiro todo? Para as contas no exterior em nome de Marcos, da sua família e dos seus amigos, e que os filipinos AINDA HOJE estão a pagar com os seus impostos.

Penso que não será necessário dizer que foi também durante a presidência de Marcos que se começaram a dar os primeiros grandes fluxos de emigração. Em 1975 emigravam menos de 20 mil filipinos por ano, número que começou a crescer exponencialmente a partir de 1979, quando foram criadas as agências privadas de emprego, e hoje emigram mais de 1 milhão por ano. A actual diáspora situa-se nos 12 milhões, como já vimos mais em cima, e os rendimentos que enviam para as Filipinas constituem 13,7% do total do PIB. Agora preparem-se para se sentirem insignificantes: 80% do dinheiro que os emigrantes mandam para casa vem de três países, e nenhum deles é Macau. Nos Estados Unidos existem 3,5 milhões, na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos mais de 2 milhões, fazendo do tagalog a segunda língua mais falada nesses países, à frente do inglês, e só na Itália, pasme-se, existem 170 mil emigrantes filipinos. Não vejo os italianos tão preocupados com esse número como tanta gente em Macau com os 15 mil que cá temos, que são vistos quase como um "problema". E no contexto da Ásia os filipinos consideram vir para Macau trabalhar um prazer, pois talvez com a excepção de Taiwan e Hong Kong (e talvez Singapura), em todos os restantes países asiáticos são tratados muitas vezes abaixo de cão. De fora destas contas fica o Japão, onde é tudo "business" e o dinheiro aparece mais rapidamente. Que o digam os mais de 200 mil filipinos que lá trabalham. Macau é um território pequeno, onde os emigrantes podem usufruír de uma vida mais tranquila do que em outros grandes centros urbanos - mesmo Hong Kong, onde muitos só vêem a luz do dia ao Domingo quando têm folga, e é bem possível que se acomodem à RAEM, onde têm muito mais liberdade. Se existem abusos? Há abusos em toda a parte com todas as nacionalidades, mas sou capaz de garantir que aqui ainda é um dos locais mais seguros para quem está mais exposto a esse risco. Existem acusações fraudulentas de abuso, sem dúvida, e digam-me o que disserem, nos casos dos abusos sexuais, uma mulher que não queira MESMO ser usada dessa forma por um homem resiste, e caso se concretize então estamos na presença de um caso de violação. Se a ideia fosse obter contrapartidas e depois seja enganada, resolva lá como entender, sempre sem se esquecer que aqui existem leis, e castigos para quem não as cumprir. Acho graça às mulheres que acusam as empregadas de se "fazerem" aos maridos, esse anjinho casto que estava ali muito sossegadinho quando apareceu aquela "indígena" para o atacar.

Convido-vos para visitarem as Filipinas, mas o país real, não os "resorts", as ilhas que aparecem nos panfletos turísticos, e por amor de Deus evitem Manila, que é a "expo" de tudo o que de mau existe naquele país, desde o crime à corrupção, passando pelo exploração do sexo infantil. Vão até ao interior, ao fundo da realidade daquele povo, ao tal "bundok" que fiz referência no artigo da semana passada do Hoje Macau. Ali vão conhecer pessoas que não emigraram mas querem fazê-lo, vão conhecer mulheres ainda muito jovens com bebés de colo, e cujos maridos saíram do país para encontrar sustento, homens cujas mulheres trabalham também no estrangeiro, muitos deles já com outra mulher em casa para fazer as vezes da mãe dos filhos, e já que vos causa confusão como é que alguém consegue viver com algumas centenas de patacas por mês (ou nem isso) venham ver como se vive com nada, e já agora como aquelas 3 ou 4 mil patacas que para nós não são nada fazem ali milagres: alimentam, vestem e pagam os estudos a uma família inteira - ou às vezes duas - e vai chegando, isto é, senão houver algum "azar". Sim, de facto a maioria das vezes em que o pai, o irmão ou o cão precisam de uma operação, trata-se de mentira, pois se não for, eles tratam de ligar para o familiar lá em Macau vezes sem conta, e logo a partir das seis da manhã, que é quando começa ali o dia. Às vezes o problema não é assim tão grave, mas eles fazem questão de dizer que é, não por maldade, mas porque sabem que não há outra forma de obter esse dinheiro. Se estivermos a meio do mês, ou ainda a uma semana do vencimento, pode começar a surgir algum nervosismo, e daí para o desespero basta um telefonema que diga apenas isto: "o teu filho está internado, é grave e os médicos interrompem o tratamento se as despesas hospitalares não forem pagas". É aí que começa a valer tudo; algumas empregadas domésticas prostituem-se, e as que não podem ou não têm "estômago" para isso (às vezes acontece) penhoram objectos de valor, e caso não tenham nada que valha penhorar, contraem dívidas a compatriotas seus, e em última instância são capazes até de roubar. Este acto, o de "roubar", não é exclusivo dos filipinos, caso ainda não tenham dado conta desse pormenor. Agora queriam o quê, que elas vos contassem a história das suas vidas, sabendo que no fim dificilmente acreditariam nelas?

Se aceitarem este desafio, ficam a conhecer melhor a realidade destas gentes, e vão perceber também que muitos dos que ali estão, parecidos com aquela empregada a quem confiaram dez mil patacas e nunca mais a viram, que vos furtou o relógio ou levou 50 patacas que deixaram DE PROPÓSITO à mão de semear para testá-la, como se fosse um macaquinho amestrado, são pessoas que ali nasceram e cresceram, e nunca dali sairam. Inocentes como os anjinhos do Céu, e uma vez aqui chegados, tomando contacto com um mundo muito diferente do seu e com os compatriotas mais "sabidos" (é apenas natural que os procurem) adoptam os mecanismos de sobrevivência, que é algo que qualquer um de nós faria no seu lugar. Uns fazem-no bem, outros menos bem, outros ainda deslumbram-se e acabam desviados para maus caminhos, há um pouco de tudo, como em toda a parte: bons, maus e assim-assim. Entretanto continua a haver a tendência para os despersonalizar, vigiar, controlar, programar como se fossem um robô de cozinha. Se desaparece qualquer coisa, foi a empregada, ponto final,. Há pais que nem sonham por onde os filhos andam, com quem, ou se estão metidos em algum sarilho, mas insistem em plantar câmaras de vigilância pelos cantos da casa para saber o que andou a empregada a fazer entre as duas e meia e as três da tarde. Não estou aqui a dar sermões a ninguém, não me julgo uma autoridade no assunto nem estou a pedir para ser consultado cada vez que se analisam as pessoas quase de um ponto de vista antropológico, quais pigmeus da Papuásia em contacto com a civilização. Nada disso. O que procurei saber fiz para que pudesse entender melhor estas pessoas, sim, pessoas, e nem sei como por vezes cometemos a arrogância de os olhar de cima quando somos nós próprios um país de emigrantes. Eu fiz o meu trabalho de casa, só isso. Agora procurem também vocês a luz, antes de fazerem julgamentos em causa própria.

Um bolo de esponja, mas sem bolo, faz favor



Ainda pela Inglaterra, apresento-vos Rosie Skinner, de 19 anos. Não, não é um homem que pensa que é uma mulher ou vice-versa, é apenas uma adolescente normal, e como todas as adolescentes normais gosta de rir, cantar, sair com amigos, brincar com o cachorro, e comer esponjas de banho. Uh? Se eu queria dizer antes "bolo de esponja", este?



Tem bom aspecto, e quem se a Rosie também gosta do bolo, mas o que lhe fez perder a cabeça são as esponjas, aquelas que toda a gente menos eu e milhões e de outras pessoas usam no banho. Rosie diz que come esponjas desde os cinco anos de idade: "Eu sempre adorei cheiro de uma esponja molhada. Eu ficava imaginando como seria sentir aquele gosto húmido na minha boca". Elá! Existe aqui um grande potencial lesbo-erótico, pá! Só que infelizmente, não é bem assim: "Eu gosto da textura, é como comer um bolo. Eu poderia comer uma esponja com cerejas no topo, um dia”, diz divertida, concluíndo que “Se eu estiver passando por um dia estressante, gosto de fazer um lanche com uma esponja para relaxar". Do mal ou menos, pois as esponjas são 100% poliuretano de espuma de borracha, não é tóxico nem engorda, e arrisco mesmo dizer que tem zero calorias. O problema é que tendo borracha na sua composição, a esponja não é digerida e fica acumulada no estômago, o que podia ser útil, para lavar a loiça do jantar, ou dar banho à paredes do bucho, sei lá? Mas não, e aos 13 anos Rosie foi operada depois de sentir dores e retiraram-lhe um pedaço de esponja do tamanho de um sapato. "Tens que deixar a esponja, rapariga", disseram-lhe os médicos.

Como o Patriarche não tinha programas de reabilitação para esponjómanos, Rosie começou a "ressacar", e voltou a "dar na esponja". Só que agora vai "apenas" nas duas esponjas por dia, que corta aos pedacinhos, mastiga e cospe fora. Linda menina. Agora quem tiver ficado baralhado e começa a ficar curioso quanto ao sabor das esponjas, fique a saber que este é um transtorno raro (mas não assim tão raro) que se caracteriza pelo apetite por coisas ou substâncias não comestíveis. Esta condição é conhecida por Alotriofagia, ou simplesmente "pica" (se for ao Brasil convém aprender a dizer Alotriofagia), palavra do latim que designa a pêga (isto está cada vez melhor), um pássaro que comia o que via. Podia ser pior que esponjas, pois existem casos em que os alotriofágos comem vómito, fezes, urina, muco (sim, burriés do nariz) ou vidro. Deixem a Rosie ser feliz, que ela não pediu para ser assim, e o melhor é esquecer tudo e passar uma esponja sobre o assunto. Mas pelo sim pelo não, certifiquem-se que levam a esponja de volta.

Hoje vou de...



Ryan Wigley tem 22 anos, e é rabeta. Não, esperem: é fufa. Não, nada disso, tem namorada, portanto é só esquisito e alguém lhe devia dizer que é parecido com um jovem Jim Steinman, e que isso "é mau" porque é um visual que se deixou de usar lá para 1970 e coiso. Parece que nem uma coisa, nem outra, nem outra - só acertei na parte da aparência foleira de retrossauro. Acontece que Wigley é "bigénero", o que significa (caso não esteja a fazer toda a gente de parva), que é "ficha-tripla", "cotonete", "multiusos", "Head & Shoulders" e todas os outros eufemismos para designar este tipo que nada mais faz senão cumprir com um dos princípios mais válidos do cristianismo: a partilha, dar e receber. Nada de especial, e já que mencionei a religião, fica aqui uma dúvida: se o sexo fosse uma crença, e não sendo ele hetero nem homossexual, ou sequer bissexual (pelo menos é o que diz), será um "agnóstico" do sexo? Sendo eu agnóstico, mas do que não introduz membros genitais masculinos na boca e no ânus, sentirme-ia ofendido (sim, como sou agnóstico não tenho nenhuma moral que me regule, e por isso posso fazer as minhas próprias) e para mim ele é apenas uma daquelas retretes dos restaurantes que só têm uma casa-de-banho.



Medicamente falando, sofre de um transtorno bipolar, completo com dupla-personalidade, que o leva a assumir uma indentidade masculina e outra feminina "conforme os dias" - às vezes acorda homem, outras mulher. Se existe um melhor pretexto para se voltar a debater a importância dos sonhos, desconheço, mas também nunca me deu para pensar muito no assunto. Wigley é britânico, o que chega a ser o menos surpreendente de tudo isto, e adoptou um nome para a sua versão feminina: Ria. Uns dias é Ryan, noutros Ria, e qual deles o mais assustador. Um dia estava a navegar no Facebook com a conta de Ria, e mandou um pedido de amizade a uma rapaz gi-rí-ssi-mo. No dia seguinte, já como Ryan, viu um pedido de amizade na rede social, vindo de...Ria! Se este tipo nos está a "enrolar", temos que reconhecer que é um grande artista. Senão é um narcisista, qualidade que junta a psicopata. Mas o melhor é não me exceder, pois Ryan, que começou a sofrer esta "confusão" aos 13 anos, tem a sua sexualidade (?) reconhecida pelas associações transgender. A última coisa que eu quero neste mundo é ofender estes "semi-frios". As minhas humildes desculpas aos "siameses empacotados".



Agora o mais extraordinário é que o Ryan consegue arranjar namoradas! Bem, as relações não duravam muito tempo, pois nos dias em que aparecia aos encontros como Ria, as parceiras viravam-lhes as costas, com o argumento de não gostar de músicos de "glam rock". Mas finalmente apareceu Krystal Greggs, uma mocinha de 18 anos que conheceu na festa de um amigo (mocinhas: cuidado com os "amigos") e adicionaram-se um ao outro no Facebook. No dia seguinte "Ria" contactou Krystal, que reconheceu o novo amigo, mas pensou que ele fosse apenas "travesti" nas horas vegas. Agora que sabe que tem um namorado "especial", diz que não se importa, mas fico um pouco na expectativa quando acorda de manhã, "e não sabe se ao seu lado está o Ryan ou a Ria". (recordo que a moça tem 18 anos; ou tem uns pais bastante liberais, ou é orfã). Um dilema, de facto. Se for o Ryan e acordar com o pau feito, óptimo, se for a Ria, sempre podem fazer a manicure uma da outra. Agora se for a Ria nos mesmos moldes do Ryan no que toca ao líbido, bem, a reportagem não resolve essa dúvida, e minha curiosidade resume-se a isto: se fizessem um filme a explicar, eu não via.

Porto vence Grupo H, Chelsea "ajuda" Sporting



O FC Porto garantiu ontem o 1º lugar do Grupo H da Liga dos Campeões ao vencer na Bielorrússia o BATE Borisov por esclarecedores 3-0. Os golos apareceram todos na segunda parte e "falaram castelhano"; assim o mexicano Hector Herrera inaugurou o marcador aos 56 minutos, para nove minutos depois o colombiano Jackson Martínez confirmar o seu estatuto de artilheiro, assinando o segundo golo. O espanhol Cristian Tello encerrou as contas aos 89, e no final a festa foi a dobrar: o Shakhtar Donetsk perdeu na Ucrânia por 0-1 frente ao Athletic Bilbao, e vai na última ronda ao Estádio do Dragão com cinco pontos de desvantagem, o que vale por dizer que a equipa de Julen Lopetegui garantiu o primeiro lugar do grupo.



No Grupo G o Sporting venceu o Maribor por 3-1, deixando o sonho da qualificação a apenas um ponto. Carlos Mané abriu o activo aos 10 minutos, e Nani fez o 2-0 aos 35. Parecia tudo resolvido, mas um lance infeliz protagonizado pelo defesa Jefferson, que aos 42 minutos introduziu a bola na sua própria baliza levava as equipas para o descanso separadas apenas por um golo. Foi preciso esperar até ao minuto 65 para Slimani fazer os adeptos locais respirar de alívio, e de Gelsenkirchen chegavam também boas notícias: o Chelsea goleou o Schalke 04 por 5-0, garantiu o 1º lugar e pode-se dar ao luxo de empatar com o Sporting na última ronda, resultado que apuraria a equipa de Marco Silva para a fase seguinte.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um dia de raiva (recado a Raimundo)



Uma notícia que fez eco na passada semana foi a da detenção de dois irmãos por suspeita de fogo posto. Os suspeitos, residentes de Macau e de nacionalidade francesa, terão ateado fogo a um sofá, que depois deixaram a arder junto ao andaime de bambu de uma obra situada entre a calçada do Bom Jesus e a Travessa do Colégio. Chamadas ao local por uma testemunha, as autoridades encontraram alguma hostilidade da parte dos suspeitos, que não só assumiram a autoria do crime (palavra forte, mas dura lex, sed lex) como ainda se mostraram pouco receptivos a colaborar com a investigação. Foi pena que reagissem desta forma, pois podia ser que o seu acto fosse entendido não como de puro vandalismo, ou sequer de rebeldia, mas antes de protesto, e com uma boa dose de simpatia por parte da opinião pública. Não se soube mais nada do caso desde que ambos foram apresentados ao Ministério Público na terça-feira, e o facto de terem aparecido encapuzados em imagens da edição do TDM News desse dia, dava a entender que o caso era grave. Contudo logo no dia seguinte vi um deles na loja de onde terá sido elaborado o plano, na Calçada da Paz, o que dá a entender que a medida de coacção terá ficado pelo termo de identidade e residência.

Apesar do nome sugestivo, é tudo menos "paz" que ali encontra o actual arrendatário do local onde em tempos se encontrava o "Meow Space", uma espécie de "orfanato" para gatos. Pierre-François Métayer, conhecido do público macaense pela série de filmes "Cantonese in One Minute", transmitida há alguns anos pela TDM, é o arrendatário de que vos falo, e penso que toda a gente sabe que é um dos suspeitos deste caso de fogo posto. Pierre alugou o espaço há alguns meses, com o intuito de abrir uma escola onde ensinaria línguas, teatro, e outras (detesto esta expressão) "artes performativas". Quem conhece o trabalho de Pierre-François Métayer sabe que se trata de um talento em bruto, e quem não conhece pode ficar a conhecer aqui, na sua página pessoal, pelo que o projecto prometia - fosse isso possível, caso a obra mesmo ali ao lado assim deixasse. Desde o primeiro dia que o francês, o inglês, o chinês ou o teatro têm como som de fundo o martelo pneumático, todos os dias, todo o santo dia, com início pontualmente às oito da manhã e fim às seis da tarde. Menos aos Domingos. Um dia Métayer cansou-se de viver no mesmo fuso horário da obra, terá cometido um acto desesperado, ou lembrou-se de uma forma radical de protestar - desconheço a sua verdadeira intenção e isso cabe à justiça determinar.

Apesar de não poder concordar com a atitude à margem da lei dos dois irmãos, não posso deixar de sentir também alguma simpatia pela sua evidente irritação. Como já tinha deixado patente no "post" de há uma semana que dediquei ao incidente, consigo ouvir o barulho das obras do 18º andar do prédio onde vivo, e imagino o que deve sentir quem mora mesmo ali ao lado. A própria Alliance Française, cuja sede se encontra mais acima da Travessa do Bom Jesus já manifestou também o desagrado com a situação. E não serão só os franceses que se queixam; é preciso não esquecer que Macau mudou muito nos últimos anos, há pessoas que trabalham por turnos e dormem de dia, durante o horário em que a lei do ruído permite aquele chinfrim. Não é possível fazer obras sem barulho, é lógico, mas a questão é apenas esta: serão mesmo necessárias TANTAS obras, todos os dias, o ano inteiro? Acabam obras aqui, algumas ficam incompletas, começam outras ao lado. Dois blocos à frente têm início outras obras, estas de renovação, e quem sabe se desnecessárias. Acabam essas, começam outras, e entretanto retomam-se as primeiras. É obras que nunca mais acabam, obras a dar com um pau. Com um pau não, com uma pua numa rocha de granito, ou algo que produza um som estridente.

Durantes os dias após o incidente, foi curioso observar as reacções nas redes sociais, e todas pareciam ir no mesmo sentido: reprova-se o acto, mas sente-se empatia com a causa, e parece estar-se de acordo que existem por aí obras "a mais". Não consegui deixar de estabelecer um paralelo com o que aconteceu e o filme "Falling Down", ou em português "Um Dia de Raiva", do realizador Joel Schumacher, um dos grandes sucessos do ano de 1993. O personagem desse filme, interpretado por Michael Douglas, "rebenta o último fusível" depois de mais um daqueles dias em que o inferno são os outros, e entra inicia uma escalada de fúria irrascível, com consequências imprevisíveis. A mim parece-me que o "inferno" a que se sujeitam os residentes de muitos bairros de Macau, constantemente massacrados com obras, barulhos, passeios esburacados, desvios, etc. podia ser relativamente amenizado (já que pedir para parar com esta verdadeira mina de ouro que é a construção civil seria pedir muito) houvesse um pouco mais de planeamento, e já agora de fiscalização. Fica então o recado para o próximo secretário da tutela, o Engº Raimundo do Rosário.

Moncorvo quer Faneca a cantar



Este deve ser um dos títulos mais estranhos que alguma vez dei a um artigo - estará no top-10, com toda a certeza. Isto explica-se facilmente: António Faneca é um comerciante de Torre de Moncorvo, distrito de Bragança, Portugal, que foi há um mês condenado a três anos e meio de prisão efectiva por tentativa de homicídio. A decisão judicial não agradou aos Moncorvenses, que exigem a libertação do seu conterrâneo, que é segundo eles "um bom homem, pacífico e querido da comunidade". Sim, eu sei que um grupo de populares a ostentar cartazes onde se lê "O António Faneca para a rua" dá a entender que se trata de algum presidente da junta mal amado, mas aqui "rua" é a alternativa à choldra, onde o Faneca vai passar os próximos três anos e meio. Dois, se se portar bem, algo de que duvido que aconteça.

Os factos reportam-se a Agosto de 2013, quando durante as festas populares do Carvalhal, António Faneca abordou o grupo que animava um arraial, pedindo-lhes "para cantar". Estes recusaram, e Faneca "muito desportivamente" partiu para cima da banda, com a intenção de os agredir. Edgar Lopes (em cima, à direita), amigo do agressor e testemunha ocular dos factos, tentou separar a briga, "majo xô António lebanta um pé pra lhe dar um puntapé, não é, e um deles chegurou um pé e o xô António cai pra traje, e eu a tentar xegurar o xô António e ele caíu e eu caí praxima dele e lebantei-me logo...majele tem uma pixtola no bolcho pra ninguém lhe bater quando tá no chum, porque ele num che pode lebantar, purque pejaba chentichinquenta quiloche naltura, né, e daí ele deu um tiro para o ar, mas shempre contra pra...pró outro lado, não é?". Lógico! Quem é que no seu perfeito juízo pesa 150 quilos e ainda ousa andar por aí desarmado??? Só algum maluco, ora "echa"!

Outra amiga do Faneca, uma tal Berta Vieira, diz que "o sr. António teve a infelichidade de ter dado um tiro ó ar, e...aqui a nocha juxtiça...'baseou-se' que ele é um homem perigoso, num é, e nós estamojaqui pra demonstrar o cuntrário" (sic). Pois é, meu amor, só que parece que "o ar" não gostou e foi apresentar queixa. Entre outros testemunhos que dão conta da natureza pacífica do Faneca, está o advogado Nélson Sousa (em baixo à esquerda), que recorda que "não há instituições intocáveis", e que o tribunal "é uma instituição soberana", que está a aplicar a lei "pelo povo e para o povo", mas...mas o quê? Mas "tem que ouvir o povo", e "não se pode aplicar uma lei em nome do povo, quando o povo não concorda". Nem mais, ó gravatinha! O povo é quem mais ordena, ou "a luta continua", como se ouvia entre as palavras de ordem que gritavam os populares que exigiam a libertação do Faneca. E recordo que tudo se passou em Trás-os-Montes, ontem, dia 24 de Novembro de 2014, e não no Alentejo em 24 de Abril de 1974.

E andam aí os média a perder tempo com o Socrates, quando em Torre de Moncorvo há uma família "de três gerações e completamente integrada" que sofre enquanto o seu patriarca se encontra detido numa prisão em Bragança, acusado de um crime que não cometeu. Tentativa de homicídio...por acaso dão prémios Nobel por "tentativa de Literatura"??? Tudo o que o pobre homem de 150 quilos queria era cantar à revelia do alinhamento do grupo que animava o baile, um direito que assiste a qualquer cidadão. Depois de ter sido empurrado enquanto tentava "disciplinar" um dos elementos desse grupo com um pontapé - afinal era a sua HONRA que estava ali em jogo - deu um tiro para o ar, para "acalmar a situação", e assim "evitar uma desgraça". Ah justiça, que andas pelas ruas da amargura...

Cruzeiro campeão do Brasil


Cruzeiro vence Goiás e é tetracampeão brasileiro by LANCETV

O Cruzeiro Esporte Clube sagrou-se este Domingo campeão do Brasileirão, o campeonato brasileiro também conhecido por Série A, ao vencer no Estádio Governador Magalhães Pinto em Belo Horizonte, Minas Gerais, o Goiás por duas bolas a uma, mantendo os sete pontos de vantagem sob o perseguidor mais próximo, o S. Paulo, que venceu fora o Santos por 1-0. Ricardo Goulart e Everton Ribeiro marcaram os golos que fizeram a festa do terceiro título do conjunto mineiro, e o primeiro desde 2003. Destaque ainda nesta penúltima ronda do Brasileirão para o despromoção do Botafogo; o clube carioca somou a sua quinta derrota consecutiva no reduto do Chapecoense de Santa Catarina, e caíu para a Série B, o que tinha acontecido pela última vez em 2002.



Premier League - 12ª jornada



Mais uma ronda da Premier League, benéfica para o Chelsea de José Mourinho, que viria a ampliar a vantagem na liderança para seis pontos. Os "blues" foram os primeiros a entrar em campo no Sábado, e "despacharam" o West Bromwich Albion por 2-0, com golos de Diego Costa e Hazard, aos 11 e aos 25 minutos, respectivamente. Os visitantes ficaram reduzidos a dez unidades a partir do minuto 29, após expulsão de Claudio Yacob, mas os londrinos ficaram-se pelos dois golos, quem sabe já a pensar na partida desta noite na Alemanha, frente ao Schalke 04.



O Manchester City segurou o terceiro lugar ao vencer em casa o Swansea City por 2-1. No entanto os campeões precisaram de suar perante os galeses, que se adiantaram no marcador aos 9 minutos pelo marfinense Wilfred Bony. O montenegrino Stevan Jovetic empatou dez minutos depois, mas a reviravolta só ficaria consumada aos 62 minutos com um golo de outro marfinense, Yaya Toure. Noutras partidas de Sábado o Everton venceu o West Ham por 2-1 em Goodison Park, e pelo mesmo resultado o Burnley foi vencer ao terreno do Stoke City, somando a segunda vitória consecutiva. Melhor está o Newcastle, que bateu o Queen's Park Rangers em St. James Park, somando o quinto triunfo seguido e ascendendo temporariamente ao quarto posto, enquanto Leicester City e Sunderland, duas equipas do fundo da tabela, empatavam sem golos no reduto dos primeiros.



O jogo grande de Sábado estava guardado para a noite, no estádio Emirates, onde Arsenal e Manchester United reeditaram mais um clássico do futebol inglês. Os "red devils", que fazem agora uma travessia do deserto após a saída de Alex Ferguson no final da época 2012/2013, começam a dar um ar de sua graça sob o comando de Louis Van Gaal, e venceram por 2-1, com os golos todos a serem marcados no segundo tempo. Kieran Gibbs marcou na própria baliza para os visitantes aos 56 minutos, e o internacional inglês Wayne Rooney fez o segundo aos 85. Foi já nos descontos que o francês Olivier Giroud reduziria para os "gunners", que com esta derrota caem no oitavo lugar da classificação, enquanto o Manchester United alcançou o Newcastle na quarta posição.



No Domingo o Liverpool, que vinha de duas derrotas consecutivas, procurava o caminho da recuperação em Selhurst Park, reduto do Crystal Palace, mas voltaria a ser derrotado por 3-1. A equipa de Brendan Rodgers até começou bem, com o avançado irlandês Rickie Lambert a marcar logo aos dois minutos. No entanto os locais viravam o jogo a seu favor, com golos de Dwight Gayle aos 17 minutos, Joseph Ledley aos 78 e Mile Jedinak aos 81. Na outra partida de Domingo o Tottenham foi vencer ao terreno do Hull City por 2-1, e já ontem o Southampton foi a Birmingham empatar a um golo com o Aston Villa.

Classificação (dez primeiros):

1 Chelsea 12 32
2 Southampton 12 26
3 Manchester City 12 24
4 Manchester United 12 19
5 Newcastle 12 19
6 West Ham 12 18
7 Swansea City 12 18
8 Arsenal 12 17
9 Everton 12 17
10 Tottenham Hotspur 12 17

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Os pontos nos "is"



Em boa hora, é o mínimo que se pode dizer no que ao "timing" diz respeito, da entrevista de Jorge Neto Valente à Rádio Macau, transmitida no último Sábado. Numa altura em que se preparam alterações no Governo, e em que Chui Sai On faz finalmente mudanças radicais na equipa que tem sido a "espinha dorsal" dos três primeiros executivos, nada como escutar alguém com muitos anos de Macau, e figura familiar aos círculos da governação, fazendo o balanco dos 15 anos de RAEM que se completam no próximo dia 20 de Dezembro, e perspectivar o futuro próximo, nem e que seja apenas dos próximos cinco anos - o dr. Neto Valente pode ser um conhecedor profundo da realidade local, mas nao é um oráculo. Estive em Bangkok desde sexta à noite até hoje à tarde, e soube da entrevista através das redes sociais. Escutei-a ontem depois de ter lido alguns comentários que foram sendo feitos entretanto, e é com um sentimento misto que não me resta senão dar razão ao presidente da Associação dos Advogados de Macau em quase tudo o que foi dito. Fico com um sabor agridoce na boca, pois mesmo quando gostaria de dizer que está enganado quanto a alguns aspectos da realidade de Macau em que não concordo no grau e no género, mesmo aí dou-lhe o benefício da dúvida, e valha-nos existir esta voz que nos vai avisando de certos perigos de que muito boa gente não da conta, mesmo sob o risco de ser impopular.

Foi difícil mas foi; depois de inúmeras tentativas frustradas, consegui dissociar a opinião do dr. Neto Valente da evidente má vontade que demonstra contra o sector dito pró-democrata que vai sendo a única oposição política em Macau, e infelizmente a única alternativa para quem quiser ser ouvido em Macau, mas não alinha com a nomenclatura. Dizer que se criou um fosso entre a governação e a opinião pública é o mesmo que comparar o muro de Berlim ao muro com arame farpado que o sr. Gonçalves levantou nos limites do seu pomar para impedir que os putos reguilas da vizinhança se fizessem às suas laranjas. Parece que o problema do dr. Neto Valente é simplesmente político: aqueles são os adversários, e como é de esperar em qualquer batalha política que se preze, há que lhes "chegar a roupa ao pêlo" - mesmo que de vez em quando "escorregue" e cometa desabafos do tipo "são pessoas que não representam ninguém". O problema aqui é que representam cada vez mais gente, e começam a fazer notar-se nas universidades, onde são cada vez em maior número. Temos um grupo que se diz a favor do sufrágio universal, resume a "democracia" a isso mesmo, e depois? De um lado ficamos com o poder, que não quer ouvir falar de democracia porque isso "é mau"- sobretudo para eles, aparentemente - e do outro lado uns tipos que propõem o sufrágio directo como princípio da democracia, e pelos vistos tambem como o seu meio e fim. Como fica Macau com a condicionante de ser uma região administrativa especial da da China é mais difícil de explicar; sufrágio universal, pois, mesmo a sangue frio e sabendo que uma parte importante do eleitorado vota em quem lhes paga, é uma ideia, mas e a partir daí, e já sem retorno, como é? Parece-me uma aposta demasiado arriscada, especialmente se tivermos em conta que não estamos desesperados.

Isto leva-me ao ponto seguinte: como estamos nós aqui em Macau? Nada mal, em comparação a outros lugares da região, e até do mundo, como aliás salientou o dr. Neto Valente. Não podendo discordar de todo da análise que faz, não posso também concordar, pelo menos em muitos aspectos, mas o causídico ganha aos pontos, e já vamos ver porquê. Neto Valente sublinha o facto de "não se verem mendigos em Macau, como se vêem noutros países", e que "dorme na rua quem quer". Parece-me uma visão algo redutora, esta, e qualquer pessoa com bom senso entende que ninguém dorme ao relento por opção. De facto Macau está dotado de instituições que garantem que no mínimo não fica ninguém sem um tecto para passar a noite, considerando este como ponto de referência da mais humilhante condição da existência humana. Há pessoas que preferem dormir no passeio a procurar estas instituições, ora por medo de serem institucionalizadas e dessa forma perderem a liberdade, ora devido a um qualquer transtorno de ordem psiquiátrica, ou por outros motivos que não a falta de opção. Existe também muita pobreza envergonhada, bem como muita indiferença; não é toda a gente que tem coragem para estender a mão a pedir ajuda, mesmo que esteja desesperadamente necessitado. Essas são questões que o dr. Neto Valente não teria tempo para elaborar com mais detalhe naquela entrevista, claro, nem é ele (nem a maior parte de nós) uma Madre Teresa para assegurar que toda a gente tem um prato de sopa quentinha e uma cama onde se deitar. Com o que não posso estar de acordo é com uma certa perspectiva miserabilista que muita gente advoga, de que "temos muita sorte", que "podia ser pior", e outras pérolas do género. Vamo-nos cingir à frieza dos números: Macau tem o quarto maior PIB per capita do mundo. Não sou eu que o diz, mas o Banco Mundial. Aqui está:

                          2010     2011      2012       2013

Luxembourg  102,679 111,913 103,859 111,162
Norway           86,096    99,091   99,636 100,819
Qatar               71,510    88,861   92,633   93,352
Macao, China  53,046   67,062   77,196   91,376
Switzerland     70,174    83,270  78,929   80,477
Australia         51,825    62,081  67,436   67,468
Denmark         56,411    59,912  56,364   58,894
Sweden           49,377    56,724  55,039   58,269
Singapore       46,570     52,871  54,007   55,182
United States  48,358    49,855  51,755   53,143
Canada           47,465     51,791  52,409   51,958
Austria            45,017     49,485  46,792   49,054

Portanto temos aqui os 12 países e territórios com o maior PIB "per capita" do mundo, com valores em milhares de dólares anuais, números que podem ser verificados aqui. Macau surge no quarto lugar com um rendimento de 91,376 de dólares anuais por cada residente, e dividindo este número por doze e convertendo à denonimação local, dá-nos 60,917 patacas por mês. Por mês? Quem ganha 60 mil patacas por mês? Menos de 5% da população activa, tenho a certeza, e já estou aqui a incluir empresários por conta própria. Não estou a querer dizer que com isto que cada residente devia auferir um rendimento desta natureza, e sabemos que estes números "gordos" se devem às receitas do jogo, e que a esmagadora maioria de nós nada contribuíu nesse sentido. Também sei que os habitantes do Qatar, que no PIB conseguem estar à nossa frente, nascem já com uma participação nos chorudos lucros do negócio do petróleo daquele país, e sem terem feito um buraco no chão. Não faço ideia de como se vive no Qatar, mas tenho umas luzes sobre como se vive na Suíça, na Austrália ou no Canadá, tudo países atrás da RAEM nesta lista, e vive-se bem melhor que aqui, sem margem para dúvidas. Este é o meu único "porquê", dr. Neto Valente: tudo bem, é ilusório aspirar a uma distribuição equitativa da riqueza, se bem que um bocadinho de equilíbrio ia resolver muitos problemas, mas será um disparate ambicionar a viver melhor, ou pelo menos ao nível dos países com menos dinheiro que Macau?

Olhando com mais atenção para aquela tabela, verificamos um verdadeiro "salto" entre 2012 e 2013, com os rendimentos brutos "per capita" a subirem na ordem dos 20 pontos percentuais. E o que se viu desse aumento? Foram resolvidos os problemas estruturais com que o território se debate, e que se têm vindo a adensar? O problema da saúde, e da qualidade da mesma, como o dr. Neto Valente apontou e bem? Ou como também foi referido pelo presidente da AAM, o que foi feito em matéria de obras públicas nos últimos anos, e o que beneficiou a população com isso? E é quando fala da área que melhor conhece, a Justiça, que Neto Valente põe finalmente o dedo na ferida: a falta de preparação. Não é só nos tribunais e nos serviços públicos que isto é notório, mas um pouco por toda a parte, e de facto mais do que a velha desculpa da "falta de experiência", que ao fim de 15 anos já começa a deixar de ser "justificação" para passar a servir de "desculpa esfarrapada". De facto há cursos que não servem para nada, e que só resultam num número excessivo de licenciados que não cobrem as lacunas em termos de quadros especializados de que a RAEM tem falta. Mas é sem dúvida no Direito, a "dama" que o entrevistado defende, que reside a maior preocupação, pois de facto a matriz portuguesa de onde deriva a jurisdição de Macau é a trave-mestra que sustenta todo o resto. Sem este suporte nada mais é garantido, e qualquer investimento que se faça para garantir este valor pecará sempre por escasso. Nisto estamos 100% de acordo.

Agora onde Neto Valente ganha aos pontos por falta de comparência do adversário é nas críticas que lhe podem ser imputadas. É que uma pessoa com o calibre do dr. Neto Valente pode-se quase dar ao luxo de dizer o que muito bem lhe apetecer, pois conta com o apoio, ou pelo menos a deferência de quem tem no mínimo dois palmos de testa. Entre os comentários que li no Sábado houve vários que nem vale a pena aqui mencionar, mas pelo menos um que prova aquilo de que falo: "o dr. Neto Valente diz que não há pobreza em Macau, por isso não vive na mesma cidade que nós". Isto vai além da má vontade, ou de alguma antipatia que se nutra pela pessoa de Neto Valente, e transborda a panela da burrice e da iliteracia. Tenho a certeza que o presidente da AAM não anda por aí a contar se o número de mendigos justifica que se afirme que em Macau há pobrezinhos, mas ele NUNCA disse que não existia pobreza. É esta dificuldade em ler, sim, nem se trata de interpretar mas de LER o que está escrito que deixa Macau neste atraso estrutural. É esta gente com horizontes pequeninos, pequeninos, para quem basta ter dinheiro no bolso e fica tudo bem, enquanto que ler, andar informado e encher a cabeça de conhecimento é apenas "perder tempo", que vai servindo de pedra amarrada na perna e que nos vai puxando para o fundo do mar. Esses que ainda se dão ao luxo de dizer mal da vida (quem nem lhes corre mal) e ainda se queixam dos governantes, são até capazes de ter alguma razão, no fundo: têm o que merecem. Se calhar é de propósito, é "mesmo assim". Não sei se são estes os "ignorantes e idiotas" a que Neto Valente se refere na última parte da sua entrevista, mas talvez fosse preciso mais do que recrutar profissionais de saúde: é preciso também mais gente que pense e que raciocine.

Podem ouvir aqui a entrevista do dr. Neto Valente.

O muito que mal me chega



Estive fora durante o fim-de-semana, e regressei ainda há pouco de Bangkok, mas a poucos minutos de sair de casa na sexta-feira tive a oportunidade de ver esta reportagem da autoria de Sandra Azevedo para o Canal Macau, intitulada "Viver com pouco", que reflecte - ou devia reflectir - as condiç­ões precárias em que se encontram alguns trabalhadores não-residentes (TNR) em Macau. A reportagem foi transmitida na sequência da actualização de uma notícia que dizia respeito ao acidente que vitimou quatro TNR na Rua do Tarrafeiro, e que indirectamente me diz respeito - quem leu o artigo de quinta-feira do Hoje Macau entendeu certamente porquê. Não fiquei "arrasado" com a notícia de uma amiga próxima sofreu uma morte horrível, e deixou orfã uma criança de nove anos. Não me pesa nos ombros o facto de não ter conseguido recordar um momento mau ou sequer menos feliz que passei com essa pessoa, pois não existiram, que é algo que faço com todos os que me são próximos, na tentativa de obter sentimentos mistos que tornem a minha dor mais suportável. Em retrospectiva, e passados agora que estão quase duas semanas depois da tragédia, tenho tudo mais ou menos arrumado no baú dos degredos, guardado lá no canto do sótão da alma, e no qual só mexo na hora de lhe juntar mais uma memória amarga. O que não consigo suportar é que de lá retirem peças que depois utilizem para um propósito maléfico, como foi o caso. A reportagem da TDM contou-nos aspectos da vida de três TNR: um chinês do continente, uma indonésia e uma filipina. Esta última, que reconheci de imediato, fez soar o alarme para a enorme injustiça que estava aqui a ser cometida. Esta Rodily Vilches é uma farsa, e apesar de não ter na altura todos os dados relativos à peça, e estar de saída para o aeroporto, posso agora com mais calma demonstrar que esta criatura é um péssimo exemplo do que é a vida difícil dos TNR em Macau.



A reportagem da TDM não é recente, nem foi feita a propósito da tragédia da noite do dia 11 para o dia 12 de Novembro, como eu pensei na altura em que estava de saída para o aeroporto, mas "do ano passado". Este facto ter-me-á passado despercebido na altura, mas foi mencionado não só no TDM News, do mesmo dia às 23 horas, como pela própria Rodily Vilches no dia seguinte na sua conta do Facebook, naquilo que parecia ser um assomo de "humildade": "vejam como eu já fui um dia; tenham pena dos pobres TNR, coitadinhos". Acontece que esta era a "sua situação real", portanto. Era mesmo? E seria assim tão grave? Vamos já saber.



A reportagem foi colocada no YouTube em 24 de Outubro de 2013, e segundo a descrição, é de 27 de Setembro, ou terá ido para o ar nessa data. Nela vemos o drama que é a vida de Rodily, como partilha a sua habitação miserável com mais alguns dos seus compatriotas, de como passa por dificuldades em gerir o pouco que ganha, "mandando quase tudo para a família", sendo o que lhe resta "insuficiente para fazer face às despesas mais elementares, como comer". É de partir o coração, e o ar dramático com que conta a sua história também ajuda, como podem verificar aqui, nas imagens. De ir às lágrimas, fosse realmente verdade.



E o Canal Macau da TDM poderia mesmo ter chamado a si o mérito de salvar uma alminha da miséria, senão vejam isto: um mês depois da reportagem, a 14 de Outubro, temos uma espécie de bilhete de identidade, um "cartão de visita" próprio de um modelo. Quem teria ficado tão bem impressionado com aquela situação de caristia? Terá valido a pena toda a fominha, que eventualmente deu a Rodily um "corpinho de modelo", mesmo depois dos 30 anos?



Ooops, afinal parece que não foi bem assim, pois a 10 de Junho de 2013, Rodily anuncia na rede social que "começou a trabalhar como modelo", em regime de "freelance". Isto portanto três meses antes da reportagem da TDM.



Ora, um mau começo, pode ser? Não é isso que aparenta a 5 de Julho, menos de um mês depois, data deste "photo shoot" - "very professional oh yeah". Não foi de propósito que não omiti o nome do fotógrafo, pois este Richard Kasica é um célebre arruaceiro que tem um historial de iludir empregadas domésticas e outras TNR de que têm hipóteses de seguir uma carreira como modelo, passando assim dos trapos do chão e da mesa dos restaurantes aos mais finos tecidos das grandes marcas que desfilam nas "passerelles" da "haute côuture" mundial. Oui, oui. E em troca apenas precisam de tirar fotografias de graça que o caridoso Kasica publica em diversos "websites", juntamente com outra informação pessoal, e depois é só esperar que as chamem para "trabalhos" no mundo da moda. Uma mina de ouro por explorar, e que ainda não chegou ao conhecimento das grandes marcas, certamente.



Mas a ilusão vem de longe, de muito longe. Reparem como em Maio de 2012, quase um ano e meio antes da reportagem que nos deixou saber que conta tostões e é muito pobrezinha, Rodily auto-intitula-se "Macau top model". Sabiam? Depois não digam que aqui não se aprende nada. Com ela partilham desta "fantasia" outras empregadas domésticas trintonas, e agora acreditem se quiserem, nem todas com uma aparência tão razoável como esta "pobrezinha".



Com que então a "questão" é só essa? Ora, a resposta é simples: é só ligar para Paris e comunicar ao pessoal da Louis Vuitton, da Prada ou da Channel que neste momento a sua "top model" se encontra com um problema de liquidez tão grande que o simples facto de comprar umas sandálias da Manolo Blahnik "fazem alguma diferença". Haja vergonha na cara desta gente.

O problema aqui, meus amigos, é que nos deixamos impressionar com muito pouco - ou neste caso com "muito", que dá a entender ser pouco. A comunidade portuguesa, especialmente a que faz parte de uma certa "inteligenzia" que sai dos bancos da faculdade de um país como Portugal, que apesar de tudo ainda é do chamado "mundo desenvolvido", tem o terrível hábito de olhar para o que tem, dividir isso por um terço e achar qualquer coisa abaixo desse número "miserável". Existem de facto TNR em situação difícil, e nem todos pedem ajuda à Cecília Ho ou às restantes entidades que supostamente os devem ajudar. O problema é que alguns têm uma coisa que a Rodily Vilches desconhece e que ainda nenhum dinheiro consegue comprar. Chama-se "dignidade".

Só sei que...já foste



O ex-primeiro-ministro português José Socrates foi detido ontem de manhã ao chegar ao aeroporto de Lisboa, vindo de Paris. Esta detenção surge na sequência de uma série de outras feitas no âmbito do caso dos "vistos Gold", que envolve 11 personalidades do Estado Português, alegadamente envolvidas em ilegalidades na atribuição de vistos a empresários chineses. Aparentemente o caso do ex-PM não estará relacionado com este, mas com "transações bancárias avultadas", denunciadas pela Caixa Geral de Depósitos. Estranhamente a imprensa aguardava Socrates à chegada ao aeroporto, o que dá a entender - e isto sem querer especular - que o próprio saberia que ia ser detido, e indo um pouco mais longe, poderá ter sido aconselhado a entregar-se. Num país de brandos costumes onde alguém do calibre de José Socrates não é detido debaixo deste circo mediático sem mais nem menos, é caso para dizer "onde há fumo, há fogo". O juíz Carlos Alexandre decide hoje a medida de coacção a aplicar ao chefe do Governo entre 2005 e 2011.

Hamilton campeão seis anos depois



O britânico Lewis Hamilton sagrou-se ontem bi-campeão mundial de Fórmula 1 ao vencer o GP de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Com a pontuação a valer o dobro, uma inovação introduzida esta temporada para a derradeira prova do mundial. Hamilton precisava apenas de terminar em 2º lugar, caso o seu companheiro de equipa da Mercedes vencesse a corrida. O alemão obteve a "pole-position", mas problemas mecânicos levaram-no a terminar no 14º lugar, deixando o caminho aberto a Hamilton, que voltou a festejar o título seis anos depois de o ter feito em 2008, ao volante de um McLaren. Esta foi a primeira vez que um piloto é campeão com um carro de escuderia e motor Mercedes desde Juan Manuel Fangio em 1955. Filipe Massa, em Williams-Mercedes, foi segundo em Abu Dhabi, à frente do seu companheiro de equipa Valtteri Bottas. Daniel Ricciardo, em Red Bull, foi quarto, Jenson Button em McLaren terminou em quinto, à frente dos dois Force-India, de Nico Hülkenberg e Sergio Perez, respectivamente. O tetra-campeão Sebastian Vettel, de saída para a Ferrari, foi oitavo, à frente de Fernando Alonso, que sairá da escuderia italiana para dar o seu lugar ao alemão. Kimi Raikkonen, também em Ferrari, fechou os lugares pontuáveis.

Classificação final (condutores):

LEWIS HAMILTON - 384
Nico Rosberg - 317
Daniel Ricciardo - 238
Valtteri Bottas - 186
Sebastian Vettel - 167
Fernando Alonso - 161
Felipe Massa - 134
Jenson Button - 126
Nico Hülkenberg - 96
Sergio Perez - 59
Kevin Magnussen - 55
Kimi Raikkonen - 55

Construtores:

Mercedes - 701
Red-Bull - 405
Williams-Mercedes - 320
Ferrari- 216
McLaren - 181
Force-India - 155


Ronaldo continua a somar, Messi recordista



C. Ronaldo continua a somar e seguir na Liga Espanhola, tal como o "seu" Real Madrid, que obteve a nona vitória consecutiva ao vencer no reduto do Eibar por 4-0. O português marcou aos 43 e aos 83 minutos, este último de "penalty", e leva já 20 golos marcados com 12 jornadas disputadas. James Rodríguez abriu o activo aos 23 e Benzema a "picou o ponto" aos 69, deixando o Real com 30 pontos, mais dois que Barcelona e mais quatro que Atletico Madrid. Os "colchoneros" beneficiaram da derrota do Valência no "derby" contra o Levante, por 1-2.



No Nou Camp o Barcelona "despachou" o Sevilha por 5-1, na partida que marcou a queda do recorde de melhor marcador de sempre do campeonato espanhol, que tinha quase 60 anos e pertencia a Telmo Zarra, do Athletic Bilbao. O avançado basco tinha apontado 251 golos entre 1940 e 1955, e foi agora ultrapassado pelo argentino Messi. O "pulga" apontou um "hat-trick" e contabiliza agora 253 golos, uma média de 0,88 golos por jogo. C. Ronaldo, curiosamente, tem 197 golos em 176 jogos, a melhor média de sempre, com 1,12 golos por jogo.

Taça fácil para os "grandes", Braga vence "derby"



Sporting e Benfica passaram facilmente para os oitavos-de-final da Taça de Portugal ao golearem respectivamente o Sp. Espinho e Moreirense. Os leões foram ao norte golear os "tigres" - assim a conhecida a equipa da Costa Verde - por cinco golos sem resposta. Contra um adversário que ocupa o último lugar do Grupo C do Campeoanato Nacional de Seniores, Fredy Montero destacou-se ao apontar dois golos, enquanto o médio João Mário, o espanhol Capel e o japonês Tanaka (de grande penalidade) fizeram o gosto ao pé.



O Benfica recebeu outro primodivisionário, o Moreirense, e apesar de se esperarem maiores dificuldades, os encarnados tornaram tudo fácil, ao chegarem aos 22 minutos a vencer por 3-0. Jonas bisou, com golos aos 3 e 7 minutos, e Salvio fez o terceiro aos 22, para quatro minutos depois Cardozo reduzir para os nortenhos. As contas ficaram fechadas em 4-1 com Salvio a bisar também, aos 56.



Naquele que era considerado o "jogo grande" desta ronda da Taça, o Sp. Braga foi ao reduto do seu vizinho e rival, o V. Guimarães, vencer por 2-1. Rafa Silva e Felipe Pardo marcaram aos 39 e 41 minutos pelos arsenalistas, deixando os locais a "correr atrás do prejuízo", e só aos 72 conseguiram reduzir de grande penalidade, por André André.

Noutras partidas destaque para o Oriental, da Liga de Honra, que foi o tomba-gigantes desta ronda, ao derrota no Campo Engº Carlos Salema, em Marvila, o primodivisionário V. Setúbal, por uma bola a zero. As restantes equipas da Superliga passaram com mais ou menos dificuldades, e o P. Ferreira protagonizou a maior goleada ao esmagar em casa o Atl. Riachense por 9-0. O Belenenses também goleou, vencendo fora o Trofense, lanterna-vermelha da II Liga, por 5-0. Nacional e Rio Ave venceram ambos em casa por 2-0 o Ribeirão e A a Oliveirense, respectivamente, e pelo mesmo resultado o Marítimo foi à Tapadinha derrotar o Atlético. Penafiel venceu em casa o Aves pela margem mínima, enquanto o Gil Vicente precisou de recorrer ao desempate de pontapés da marca de grande penalidade para derrotar o Varzim, após um empate a uma bola depois de 120 minutos. Outros resultados: Santa Maria 2-1 Santa Eulália; Vieira 0-1 Freamunde; Famalicão 4-0 Fafe; Feirense 0-2 Chaves; Vizela 2-2 Operário Lagoa (4-2 g.p.).

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Os sonhos e as cinzas



Artigo de quinta-feira do Hoje Macau.

O incêndio que tirou a vida a quatro trabalhadores não residentes a semana passada na zona do Porto Interior tem sido o mote para um debate mais alargado sobre outras questões, e tem dado pano para os mais variados tipos de mangas, golas e decotes. Abstive-me de falar deste tema por uma razão muito simples: uma das vítimas era minha amiga, que posso mesmo considerar íntima, e a proprietária da loja que ficou em ruinas é também alguém que trato sem grande cerimónia, apesar da barreira linguística. Vivi até há alguns meses a poucos metros do local da tragédia, era visita frequente, quase como se fosse “da casa”, e apesar de me ter afastado – sobretudo por razões de logística – não pude deixar de ficar emocionado, mais até do que é habitual, no meu caso. Decorridos oito dias, e praticamente tida como certa a possibilidade de ser ter tratado de um trágico e lamentável acidente, gostaria agora, de cabeça mais fria, elaborar sobre alguns pontos do muito que se tem dito e escrito sobre o caso, e já agora permitam-me um pequeno desabafo: tenho lido e escutado muita merda.

Primeiro, como já referi, conhecia bem o local do sinistro, e posso garantir, digam o que disserem, que não se tratava de nenhum covil para onde eram atirados trabalhadores não-residentes (TNR), obrigados a viver em condições desumanas, como chegou a ser dado a entender – ninguém era obrigado a morar ali, sequer. Ainda não reuni a coragem para contactar a dona da loja para lhe transmitir uma palavra de carinho nesta hora de desespero, pois além de perder o negócio, perdeu a sua melhor amiga. A vítima deste desastre, e de que ambos lamentamos a partida, mantinha com ela uma relação que ia muito além do vínculo laboral que as ligava: eram quase como irmãs, e isto é algo que pode ser confirmado por vizinhos, amigos e conhecidos. A loja nem era o mais importante, pois era alugada, e na última mensagem que recebi da vítima, no último dia do mês passado, estariam a preparar-se para encerrar o negócio, e ela própria tinha planos para regressar ao seu país já em Janeiro. O facto de se tratar de uma loja de pronto-a-vestir, estarem em mudanças e possivelmente existirem sacos com roupa no chão ajuda a explicar a rápida propagação das chamas, mas não explica tudo. Se formos analisar o caso do ponto de vista da segurança, basta olhar para os prédios com cinco ou menos andares construídos há vinte ou trinta anos para concluir que grande parte da população dorme todos os dias em cima de um barril de pólvora. Não há fiscalização obrigatória das condições em que se encontram estes edifícios, onde a única saída é a mesma porta por onde se entra, e quem tem grades nas janelas ainda se pode dar por satisfeito, pois em muitas destas moradias não entra qualquer luz natural. Sobre o estado das instalações eléctricas, basta olhar para o estado do quadro das campainhas logo à entrada do prédio para perceber que se está aqui a brincar com o fogo.

Mas de um modo mais abrangente, estas mortes tão inusitadas quanto horríveis serviram para reacender o debate sobre as condições de vida dos TNR, as dificuldades destes em encontrar alojamento, e já na esfera do surrealista, o problema do preço da habitação em Macau. Não entendo que cabimento tem incluir na equação da especulação imobiliária pessoas que na maior parte dos casos vêm para o território trabalhar com o único objectivo de enviar a quase totalidade do vencimento que auferem para o seu país de origem, onde em muitos casos há bocas que dependem exclusivamente desse dinheiro para comer, vestir e estudar. O que não encaixa em algumas cabecinhas auto-intituladas pensadoras – e que disso têm tanta cagança – que consideram “desumano” que hajam oito, dez ou doze pessoas a morar debaixo do mesmo tecto, é que nem toda a gente está em Macau à procura de conforto. Nem todos entendem conceitos como “qualidade de vida”, que para estes passa por morar num apartamento com uma sala do tamanho de um campo de ténis, e depois conjecturam sobre “onde vai isto parar” quando lhes aumentam a renda de 12 para 15 mil patacas, mas não ponderam ir morar para uma casa mais pequena, onde pagariam metade desse preço, ou menos – mesmo aqueles que vivem sozinhos.

Há quem não consiga imaginar-se a viver com mil patacas por mês; como é isso possível, se é o que gastamos em quase nada – basta ir jantar fora dois dias seguidos. Porque é esse o valor que damos a mil patacas, enquanto nas Filipinas, por exemplo, chega para dar de comer a uma família de quatro durante um mês. Claro que não estou a falar de Manila e arredores, nem das Boracais, Puerto Galera, ou Bibó Puerto carago, ou outro destino de férias. Falo do interior, daquilo que eles chamam de “bundok”, o país real, onde mil patacas é um salário médio, e onde a palavra “desemprego” é uma forma erudita de descrever uma situação banal: não há trabalho, há que sobreviver, pôr comida na mesa e depois de cada refeição pensar de onde virá a próxima. Ali, de onde é originária grande parte dos TNR das Filipinas que temos em Macau, também é comum encontrar mais que uma família a partilhar o mesmo chão, e digo “chão” porque é no chão que dormem, deitam-se antes das dez da noite e acordam com o sol no dia seguinte. Colchões, almofadas e ar-condicionado são luxos que só vêm encontrar em Macau. Se já lá estive para saber se é assim? Por acaso já, e também já vivi com filipinos em Macau, seis na mesma casa, oito aos fins-de-semana, às vezes mais, quando aparecia alguém que pedia para passar lá uma noite, e improvisava-se um cantinho qualquer na sala. E isto foi durante mais de um ano, entre 1995 e 1996, e tal como hoje, há vinte anos também viviam vários no mesmo apartamento.

Seria muito desaforo da minha parte dizer que não se cometem abusos, que não há TNR explorados, maltratados e enganados. Há, claro, e há ainda os que sabem muito bem para aquilo que vêm, outros que no fim do mês tiram do salário o suficiente para pagar as contas e mandam o resto para casa. Como vivem? Assim, através da camaradagem de outros, umas vezes isto corre bem, outras mal, ou de expedientes como o sub-arrendamento. É ilegal? Mandem-nos ter formação jurídica. Só não esperem é que estejam lá os senhorios a inspeccionar quantos passam lá a noite. Se lhes aumentarem o subsídio de residência, pode ser até uma medida justa, mas o mais provável é que mandem esse dinheiro extra para a família, e não o invistam em “melhores condições de habitação”. E reparem que falamos de filipinos e indonésios, que juntos não devem ser sequer metade do total de 150 mil TNR em Macau. São certamente o elo mais fraco, os excluídos desta economia pulsante alimentada pelos lucros dos casinos, certo? Certo, se não contarmos com os operários da China continental, que depois de um dia nas obras só querem mesmo uma cama para se estenderem, e pouco importa que seja um beliche num quarto que partilham com mais sete ou oito, e casa-de-banho comum. A isto chama-se “sobrevivência”, um teste que uma querida amiga não conseguiu passar, para ver agora a sua derrota ser usada como bandeira pelos motivos errados. Triste, triste…