quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Faz favor! Queria um T4, com kitchenette e varanda
Um dos maiores problemas em Macau é a aquisição de habitação própria, como se sabe, e quem não teve o discernimento de investir no maravilhoso mercado imobiliário quando surgiu a oportunidade. Quem não comprou casa antes do grande boom de 2005 viu a tarefa mais dificultada, e nos dias que correm uma “casa nova em condições” não custa menos de quatro ou cinco milhões de rufas. A malta jovem e até recém-licenciada da classe média ganha entre dez e vinte mil patacas, na sua maioria. Basta calcular quantos anos demora a pagar, digamos, 10 mil patacas mensais numa casa que custou cinco milhões: mais de 40 anos – uma vida!
Há ainda os estrangeiros, os portugueses em particular, que estão sujeitos aos aumentos das rendas. Muito por culpa própria, uma vez que alguns deles vivem em Macau há décadas e nunca se lembraram de adquirir uma habitação própria. E nem a desculpa das hipotecas a vinte ou trinta anos serve, uma vez que não há nada mais fácil do que vender uma casa em Macau. Encontra-se um comprador em poucos dias. E depois há quem não fique contente com um simples apartamento; alguns querem uma sala do tamanho de um campo de ténis, um terraço, uma kitchenette (u-lá-lá), um jardim e sei lá mais o quê. Torna-se complicado quando se tenta viver num território de 30 km2 como se estivessemos em Cascais ou em Vilamoura.
O mercado imobiliário em Macau está sobretudo dependente dos ditames de Hong Kong e da vontade dos cidadãos endinheirados da China continental. Os primeiros consideram que Macau “é um mercado a ser explorado”, uma vez que o preço do metro quadrado “ainda é mais baixo que na RAEHK” (estamos lixados), enquanto os últimos não se importam de pagar três ou quatro milhões por um vão de escada, desde que com isso possam adquirir o direito à residência no território através do investimento. Este investimento é encorajado pelo governo da China continental, dentro da estratégia da inclusão progressiva da RAEM no seio da RPC, que como se sabe, se concretizará em definitivo em 2049.
Em Macau lembro-me de dois períodos baixos: a crise asiática de 1997 e a crise da SARS, em 2003, ambas com origem em Hong Kong. Foram autênticos "crashes" do imobiliário, com pessoas a vender ao desbarato e poucoas outras a comprar. Soubesse eu o que sei hoje, tinha comprado então quatro ou cinco apartamentos, vendia-os em 2006 e tornava-me milionário. Mas nem eu nem a população em geral temos uma bola de cristal, e a tendência é que se desinvista em tempos de crise. Os asiáticos são em geral muito pessimistas. Lições da História. Uma nova crise – e que o Buda nos livre – faria cair o preço do metro quadrado em mais de metade em poucas semanas.
Na situação actual a única solução é a tal da “habitação social”. Quando ouvimos falar em habitação social vem-nos a cabeça a imagem dos bairros problemáticos dos arredores de Lisboa ou da margem sul do Tejo, mas em Macau estes “bairros sociais” são como uma benção para os jovens que desesperam por adquirir uma casinha para pôr lá as suas tralhas. A habitação social em Macau consiste num x número de prédios construídos para enfiar lá os tesos. Gente boa, honesta e trabaladora, mas tesa. O atraso do cumprimento do número de fogos prometido pelo executivo tem sido o cavalo de batalha dos democratas de Ng Kwok Cheong. Sem querer justificar o injustificável, isto explica-se de uma forma muito simples: enquanto o mercado estiver em alta e a facturar, mais difícil se torna ser caridoso. Afinal toda a gente tem a liberdade de vender, comprar, revender e especular.
O pior é que quando alguém dá, toda a gente quer, e torna-se difícil distinguir quem precisa realmente de uma casa, ou quer “mais uma casa”. É por isso que se discute o prazo do ónus de revenda da habitação social – será que a malta quer mesmo uma casa para viver ou apenas “entrar no jogo”? Na minha humilde opinião esse período nunca deveria ser inferior a 12 anos. Não é uma casa para viver que querem? Regular o mercado seria um tiro no pé do próspero desenvolvimento económico. Quem me vai dizer que a minha casa vale apenas 500 mil quando tenho um comprador de Zhuhai que me paga dois milhões? No território dos patos bravos na hora (uma versão do “empresa na hora”, mas com patos bravos) mandam as leis do mercado.
"dentro da estratégia da inclusão progressiva da RAEM no seio da RPC"
ResponderEliminarabra-se a fronteira 24h..
Enquanto o pessoal perde tempo com direitos humanos, e religioes, e sufragios universais, e "industrias criativas", vai-se esquecendo do grande cancro da sociedade, que sao os intermediarios, nomeadamente as agencias imobiliarias.
ResponderEliminarA comparação do anónimo anterior é infeliz. Uma coisa não substitui a outra e as pessoas não têm que batalhar todas no mesmo assunto.
ResponderEliminarO imobiliário é um dos grandes cancros de Macau, talvez o maior, mas não é por isso que vamos esquecer todos os outros assuntos. E quem lhe diz que o problema se resolvia rapidamente se andássemos todos a falar do mesmo? O problema só se resolvia se o governo de Macau tivesse a vontade e a coragem de agir nesta matéria como o de Singapura. Mas não tem e, muito provavelmente, nunca vai ter.
Egoisticamente falando, ora aqui está uma boa notícia para mim que para o fim do ano que vem tenho a intenção de ir embora e vender o meu apartamento que comprei mesmo no limiar dos aumentos (Janeiro de 2006) e precisamente porque não estava dispostoa a encher a gula dos senhorios com rendas altíssimas.
ResponderEliminarSe houver outra crise, eu compro!
ResponderEliminarMuito gosta a esquerda de regular, regular, regular, regular, ordenar, determinar. Cheios de regrinhas estes senhores da liberdade.
ResponderEliminarTu compras é o karalhinho.
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